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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.4 Estudos in vitro e in vivo de substâncias utilizadas como medicação intracanal em diferentes associações

2.4.2 clorexidina gel 2% como medicação intracanal

A clorexidina têm sido utilizada na Endodontia tanto como substância química auxiliar à instrumentação dos canais radiculares (White et al., 1997; Leonardo et al., 1999; Ferraz et al., 2001; Gomes et al., 2001; Dametto, 2002; Ercan et al., 2004) quanto como medicação intracanal (Barbosa et al., 1997; Siqueira & Uzeda, 1997; Lindskog et al., 1998; Lynne et al., 2003; Gomes et al., 2003; Zamany et al., 2003; Siqueira et al., 2003). A clorexidina é uma molécula com carga positiva que se liga à superfície bacteriana carregada negativamente por ação eletrostática. Quando em baixas concentrações, a clorexidina interfere na síntese de ATP das bactérias (ação bacteriostática). Em altas concentrações, provoca a ruptura da membrana bacteriana (ação bactericida). Apresenta, portanto, uma ação antibacteriana de amplo espectro (Pécora, 2004). Outra propriedade inerente a esta solução é a substantividade ou efeito residual, de

forma a manter uma concentração mínima no meio por um período de até 7 dias (Dametto et al., 2002).

Delany et al. (1982) examinaram a ação antimicrobiana, in vitro, da solução de Gluconato de clorexidina 0,2% como agente irrigante e medicação intracanal sobre a microbiota do canal radicular. Utilizaram dentes humanos desvitalizados recém-extraídos. Realizaram a avaliação do crescimento bacteriano pela inoculação de suspensão de raspas de dentina sobre o ágar. Observaram que ambas as formas de utilização da clorexidina promoveram uma redução significativa do número de bactérias.

Heling et al. (1992a) avaliaram, in vitro, o efeito antibacteriano da solução de Gluconato de clorexidina aquosa 0,2% e clorexidina 2%, como medicação intracanal, em incisivos de bovinos contaminados com S. faecalis, no Sistema de Liberação Lenta (SRD). O SRD consistiu de tiras com glutaraldeído, como veículo, e 1,2mg de clorexidina 2% como agente ativo. Posteriormente, era diluído em solução salina e introduzido no interior do canal radicular. Observaram, através da análise microbiológica da dentina removida das paredes do canal, que ambas as formas de medicação foram efetivas até a profundidade e 0,5mm, nos períodos de 25, 48 horas e 7 dias.

No mesmo ano (1992b) Heling et al. estudaram a eficácia antibacteriana do Gluconato de clorexidina 2% no sistema SRD e do hidróxido de cálcio, como medicações intracanal. Avaliaram a desinfecção dos túbulos dentinários, em dentina bovina contaminada com E. faecalis e, por meio da turbidez do meio BHI, observaram a infecção secundária dos sistemas de canais radiculares. Observaram que a clorexidina foi mais efetiva que o hidróxido de cálcio na eliminação de Enterococcus faecalis dentro dos túbulos dentinários. Ao contrário, o hidróxido de cálcio não mostrou ação antibacteriana nem para descontaminar a dentina nem para previnir infecção secundária.

Barbosa et al. (1997) compararam in vivo e in vitro a atividade antimicrobiana do PMCC, solução de Gluconato de clorexidina 0,12% e 0,2%, e pasta de hidróxido de cálcio como medicação intracanal, em dentes unirradiculares humanos necrosados e com lesão periapical. Os canais radiculares que forneceram culturas positivas uma semana após o preparo químico-mecânico e medicação intracanal com PMCC foram preenchidos novamente com uma das três substâncias testadas. Para cada medicação testada, a coleta das amostras bacterianas foi realizada após 7 dias. A atividade antimicrobiana in vitro foi avaliada por 48 horas para aeróbios e aneróbios facultativos e por 7 dias para anaeróbios estritos, por meio do teste de difusão em ágar. Os resultados mostraram que todos os medicamentos foram efetivos para reduzir ou eliminar a microbiota endodôntica. Concluíram que o PMCC e a clorexidina 0,12% e 0,2% foram efetivos sobre todos os microorganismos e que a eficácia do hidróxido de cálcio restringiu-se apenas aos A. israelli e A. naeslunddi.

Lindskog et al. (1998) avaliaram a ação da clorexidina gel sobre reabsorções radiculares inflamatórias, durante 1 mês, em incisivos reimplantados em macacos. Os resultados mostraram que o uso da clorexidina como medicação intracanal reduziu o processo de reabsorção, provavelmente devido à sua ação antibacteriana dentro dos túbulos dentinários e sobre as células do ligamento periodontal.

Komorowski et al. (2000) avaliaram o efeito antimicrobiano residual da solução de clorexidina 0,2%, em dentina bovina, durante 5 minutos e por 7 dias. A dentina foi submetida à contaminação com E. faecalis por 21 dias. Após esse período, raspas de dentina foram coletadas em BHI para verificação da presença de bactérias nos túbulos dentinários. Observaram um forte potencial antimicrobiano residual da medicação intracanal quando de sua manutenção sobre a dentina durante 7 dias.

Lenet et al. (2000) compararam, in vitro, as atividades antimicrobianas residuais da clorexidina gel 0,2% e 2%, em um sistema de liberação controlada, e do hidróxido de cálcio associado à solução salina, como medicações intracanal, em incisivos bovinos, por 7 dias. Após o período experimental, os espécimes foram inoculados em Enterococcus faecalis por 21 dias. Os resultados mostraram, através do meio BHI, que a clorexidina gel 2% mostrou ausência de bactérias viáveis em todas as profundidades da dentina.

Em 2001, Ferraz et al. verificaram a capacidade antimicrobiana da clorexidina gel e líquida sobre o Enterococcus faecalis e sua capacidade de limpeza da parede do canal quando comparado ao hipoclorito de sódio 5,25%. Para isso, 70 dentes unirradiculares recém-extraídos foram selecionados. Os dentes foram preparados até o forame apical com instrumentos de # 40, submetidos a um banho em EDTA 17% em ultrassom, esterilizados e posteriormente infectados. Após esta fase, os canais receberam instrumentação com clorexidina 2% gel, solução de clorexidina ou hipoclorito de sódio 5,25%. Como substâncias controle, foram utilizados água e gel de natrosol. Durante a fase de instrumentação foram padronizados o tempo, os instrumentos, a quantidade de solução irrigante e a profundidade com a qual a agulha irrigadora penetrava no interior do canal. Cinco dentes de cada grupo foram preparados e analisados por meio de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), para verificar a presença de restos de dentina e tecido pulpar no terço médio do canal. Os resultados mostraram que, com relação à supressão do crescimento bacteriano, não houve diferença estatística entre os grupos. Porém, com relação à limpeza, o maior número de túbulos dentinários abertos foi encontrado no grupo da clorexidina gel, seguido pela clorexidina líquida e depois o hipoclorito de sódio 5,25%.

Basrani et al. (2003) avaliaram, in vitro, a eficácia da clorexidina (gel e solução) e hidróxido de cálcio, isoladamente, e em associação, sobre

7 dias com as medicações. Os resultados mostraram, através do meio BHI, que a clorexidina gel 2%, quando empregada como medicação intracanal por um período de 7 dias, apresentou ação antimicrobiana sobre Enterococcus faecalis, e que o hidróxido de cálcio, isoladamente, não apresentou efetividade.

Em 2005, Vivacqua-Gomes et al. avaliaram, in vitro, a presença de

Enterococcus faecalis em 45 dentes extraídos e obturados em sessão única ou

em múltiplas sessões. Inicialmente, os dentes foram infectados durante 60 dias. Decorrido este período, foram preparados com clorexidina gel 2% como substância auxiliar e com solução salina (Grupo Controle). Posteriormente, foram divididos nos seguintes grupos: a) irrigados com clorexidina gel 2% e obturados na mesma sessão; b) irrigados com clorexidina gel 2% e medicados com hidróxido de cálcio, por 14 dias; c) irrigados com clorexidina e obturados após 7 dias; d) irrigados com solução salina e obturados após 7 dias, e e) irrigados com solução salina e obturados sem cimento imediatamente (Grupo Controle). Os resultados mostraram que os E. faecalis não foram eliminados dos túbulos dentinários 60 dias após a obturação, em nenhum dos grupos avaliados.