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Na década de 70, a criação do Centro Nacional de Referência Cultural representou uma tentativa de romper e de d i n a m i z a r a c o n c e p ç ã o de cu l t u r a nacional, am p l i a n d o sobremaneira as bases sobre as quais esta estava assentada. Procurava-se não só agilizar a preservação de bens culturais no Brasil mas, também, sua delimitação mais abrangente. Nascido de um acordo firmado entre o Ministério da Indústria e Comércio e o Governo do Distrito Federal, seu desempenho excepcional levou a que oito órgãos públicos assinassem um convênio visando a sua estruturação definitiva e a sua institucionalização. FALCÃO assinala:

O CNRC não era uma Instituição. Era uma atividade apoiada por um convênio entra a Secretaria de Plan e j a m e n t o da Presidência da República, o Ministério da Educação e Cultura, o Ministério da Indústria e Comércio, o Ministério do interior, o Ministério Relações Exteriores, a Caixa Econômica F e d e r a l , F u n d a ç ã o Universidade de Brasília e a F u n d a ç ã o Cultural do Distrito Federal. Em seus quadros trabalhavam designers, físicos, a n t r o p ó ­ logos, sociólogos, etc.^^

Importante observarmos que a iniciativa para tal intento partiu do antigo Ministério da Indústria e Comércio e

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não do Ministério da Educação, o que é um indicativo de que os m e i o s dispon í v e i s para a elaboração de pesquisas m a i s abrangentes e de resultados mais efetivos permaneciam sem a agilidade necessária para um trabalho de preservação mais amplo. Da m e s m a maneira, o d esenvolvimento econômico e industrial do País fazia com que esse tipo de atividade possuísse uma real efetividade no desenvolvimento sócio- econômico da região em que programas de pesquisa sobre bens culturais poderiam ser implantados, e ainda mostrava que a preservação poderia ter um caráter empresarial. Sua criação também correspondeu a um esforço pela liberação da cultura da c o n d i ç ã o de i n s t r u m e n t o de outras p o l í ticas setoriais p r i o r i t á r i a s 2 5 . Note-se que os projetos do CNRC estavam ligados a quatro programas de estudos: o do Artesanato, o dos Levantamentos Sócio-Culturais, o da História da Ciência e da Tecnologia no Brasil e Levantamentos de Documentação sobre o Brasil. Data da época do CNRC um projeto de pesquisa sobre as indústrias familiares de imigrantes em Orleans, SC, o que significou uma abertura de vista para a questão da produção cultural do imigrante no sul do País, que não havia sido tema de pesquisa até e n t ã o . 26 outro ponto notável, para enten­ dermos a diferença de postura do CNRC em relação aos chamados bens culturais brasileiros, é a figura de seu mentor e

2 5, COHN, Gabriel. "A concepção oficial da política cultural nos anos 70." Apud

MICELI, Sérgioíorg.), op. cit., p. 95.

26, Não foi encontrada nenh um a referência sobre este projeto na Fundação

Catarinense de Cultura por ocasião da nossa pesquisa. Tivemos conhecimento

dele através da referência feita por MAGALHÃES, Aluisio. op. cit. p. 60.

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Coordenador Geral Aluísio Sérgio de Magalhães. Designer famoso e possuidor de grande espírito de iniciativa e criação, sua preocupação foi iniciar a procura dos múltiplos referenciais culturais do Brasil. Dizia ele:

A nossa realidade é riquíssima, a nossa r ealidade é inclusive d e s c o n h e c i d a . É como se o Brasil fosse um espaço imenso, muito r i co,e um tapete velho roçado, um tapete europeu cheio de bolor e poeira tentasse cobrir e abafar este espaço. É preciso levantar este tapete, tentar entender o que se passa por baixo. É dessa r e a l idade que devemos nos aproximar, entendendo, tendo sobre ela uma certa noção.

A atuação do Centro poderia ser resumida em quatro pontos: conhecer os componentes do quadro sócio- econômico brasileiro; memorizar os acervos destes componentes como fonte de aprendizado, reflexão e referência; referenciar adequadamente os fatos e processos à metodologia descritiva e analítica adotada pelas pesquisas e aos modos de documentação experimentados, a fim de registrá-los de maneira apropriada os fatos pesquisados e, finalmente, devolver os trabalhos para o público, especialmente para as comunidades e n v o l v i d a s .^8

E m m a r ç o de 1 9 79 , a p ó s u m a r e f o r m a administrativa, o arquiteto Renato Soeiro,,então na direção do IPHAN, é substituído por Aluísio Magalhães. Em novembro do mesmo ano, com a criação da Fundação Nacional Pró-Memória, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional é transformado em Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico

27. Ibidem. p,

42.

-S . Fonte:

Proteção e revJtalJZãção c/o patrimônio cuiturai n o BrasiJ: u m a trajetória.

Brasília, MEC/SPHAN, Pró-Memória, 19^0.

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Nacional(SPHAN), passando a funcionar como órgão normativo, e a fundação como órgão operacional, ficando Magalhães a frente das duas instituições. Em 1981, é criada a Secretaria da C u l t u r a do MEC, p a s s a n d o a s e c r e t a r i a da SPHAN a subsecretaria, co n t i n u a n d o como seu titular o professor Aluísio Magalhães. Este faleceu em 1982, em Veneza, onde estava participando de uma reunião de Ministros da Cultura dos Países Latinos. Assume então a Secretaria da Cultura e a Presidência da Fundação Nacional Pró-Memória o escritor Marcos Vinícius Vilaça. É nomeado para a SPHAN o professor Irapoan Cavalcanti de Lyra. E m 1985, é criado o Ministério da Cultura e assume a Subsecretaria do SPHAN o jornalista Angelo Oswaldo de Araújo Santos; o professor R icardo cioglia é nomeado presidente da Fundação Pró-Memória.

Em 1986, o economista Celso Furtado foi nomeado Ministro da Cultura e o professor Joaquim de Arruda Falcão foi designado presidente da Fundação pró-Memória. Em 1987, uma só pessoa volta a ter o comando das duas instituições. Para tanto foi nomeado o professor Oswaldo José de Campos M e l o .29

Apesar de todas essas mudanças institucionais, podemos afirmar que mui t o pouco foi alterado, tanto na legislação quanto na política de preservação. Se pensarmos na riqueza dos debates travados ao longo dos anos 50 e 70, vemos

2 9, Esses dados são aqui inseridos apenas coin finalidade ilustrativa. Nao é nossa

proposta nos alongarmos no histórico da SPHAN e sim, a partir da sua atuação,

açharmos pistas que nos permitam o entendimento do objeto que aqui queremos

estudar. Assim sendo, limitarao-nos a dar um a ordem cronológica dos

presidentes da SPHAN e da Fundação Nacional Pró-Memória.

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como a SPHAN sempre procurou manter uma atitude de órgão eqüidistante e apolítico,e ao mesmo tempo pouco participativo nas profundas mudanças que então se operavam na cultura brasileira. O periodo de Magalhães frente ao órgão marcou a tentativa de dinamizar mais as atividades, abrindo até espaço para projetos relacionados com minorias étnicas, como foi anteriormente comentado. Porém, a iniciativa deveu-se muito mais a seu empenho pessoal e a sua extraordinária formação de homem ligado às a r t e s .30 Apesar do curto período em que esteve frente à Subsecretaria, houve por parte do jornalista Angelo Oswaldo um gran d e e m p e n h o em d i n a m i z a r o sentido da preservação histórica levada a cabo pela SPHAN. Além da tentativa de procurar identificar outras formas de patrimônio, reativou o debate sobre a cultura nacional e sobre o próprio órgão de preservação. Um bom exemplo disso foi a reedição da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que contou com a colaboração de pesquisadores ligados a diversas áreas. Também coube a sua gestão o incentivo e o apoio aos trabalhos de preservação arquitetônica dos imigrantes em Santa Catarina, em que o Município de Timbó estava inserido.

Vemos, dessa forma, um conjunto de atitudes isoladas, tomadas por pessoas altamente sensíveis à proble­ mática cultural do País, que de tempos em tempos procuram dar uma dimensão mais abrangente ao órgão de preservação, e também

30, Acrescentamos aqui que data de sua gestão o único trabalho que procura

registrar a história do órgão e sua atuação. Os anos que se seguiram nâo tiveram

um registro detalhado e publicado, o que torna muito difícil para os

pesquisadores alheios ao IBPC o acesso a informações.

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que muito se perde quando estas mesmas pessoas dele se afastam.

Tal assunto é vasto e não é nossa proposta seu detalhamento neste trabalho. Apenas pusemos alguns pontos em debate, a fim de refletirmos sobre quais são, afinal, as i m p l i c a ç õ e s de uma política como esta e m uma área d e imigração, onde nem a cultura nem a arquitetura dos vencedores é dominante, localizando-se em uma região que por muitos anos esteve fora do cenário político nacional.

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C A P I T U L O III

DE C O LÔNIA ALEMÃ A MUNICÍPIO I N D U S T R I A L

Nosso território de estudo, o Município de Timbó, pertence à M i c r o r r e g i ã o do Médio Vale do Itajaí, Santa Catarina. L o c a l i z a - s e à margem esquerda do rio Itajaí e cresceu entre os rios Benedito e Cedros, junto à Serra do Mar. A cidade está situada a 70 metros de altitude, dista 180 quilômetros de Florianópolis, a Capital do Estado, e 24 quilômetros de Blumenau, o centro mais d e s e n v o l v i d o da microrregião. Geogr a f i c a m e n t e encontra-se a 23.49'32" de latitude e 4 9 . 1 0 ’18" de longitude de Greenwich, limita-se ao norte com M u n i c í p i o de Rio dos Cedros, a leste com. os Municípios de Blumenau e Pomerode, ao sul com o Município de Indaial e a oeste com os Municípios de Rodeio e Benedito Novo.

Seu desenvolvimento político-administrativo deu-se a partir de lei provincial de 1886, que criou o Distrito de Indaial, a cujo território pertencia a cidade de Timbó. Em 1922, foi criado o Distrito Benedito-Timbó, que se tornou o lOQ distrito do M u n i c í p i o de Blumenau. Sua e l e v a ç ã o à categoria de município deu-se somente com o Decreto Estadual nQ 527, de 2 8 de fevereiro de 1934.

Em 1936, parte de seu território foi desmembrado, dando origem ao Município de Rodeio, e, em 1961, emanciparam-

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se os Distritos de Benedito Novo e Arrozeira(atual Rio dos Cedros).1 Possui atualmente uma área de 161 Km2, sendo um dos menores municípios do Estado.

O nome Timbó, dado ao município, começa a aparecer nos relatórios oficiais da Colônia Blumenau a partir de 1875. Até então, a área era referida como Benedito-Timbó. Existem duas explicações para um nome tão brasileiro em uma terra de imigração alemã. A primeira seria fruto de um tipo de cipó que ali havia em abundância -o cipó timbó-,usado pelos índios que habitavam a área, cujo sumo tinha a propriedade de estontear os peixes, facilitando assim sua pesca. A segunda versão, já mais aceita na região, é a de que o nome seria uma homenagem à tomada do Forte do Timbó, na Guerra do Paraguai( 1864-1871), pelas forças brasileiras. Porém, na medida em que o nome Timbó já aparecia em conjunção com o nome Benedito, cremos ser a primeira hipótese mais plausível, principalmente sabendo que p o s t e r i o r m e n t e a região foi desmembrada, originando os Municípios de Benedito Novo e Timbó.

A região de Rio dos Cedros oú Arrozeira como era denominada na época, teve o

seu povoamento majorilariamente feito por italianos provenientes do Tirol, que

na época pertencia ao Império Austro-Húngaro. Devido a isso consideravara-se

austríacos e não italianos, em bora falassem dialetos italianos. PIAZZA( 1982) diz

que a colonização italiana, predominantemente rural, marcou sua presença com

a formação de um cinturão agrícola, prim eiram ente em torno das áreas de

colonizacão alemã, espraiando-se depois em novas áreas de penetração. Parte

dessa região, denominada Tiroleses, ainda pertence ao Município de Timbó,

porém o núm ero de descendentes de alemães não é significativo para nosso

estudo. Interessante notar porém que muitos descendentes de italianos moram

hoje em construções tipicam ente germânicas. Essa assimilação de hábitos

alem ães por parte de imigrantes italianos será posteriormente analisada em

nosso trabalho.

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N e s t e c a p i tulo, antes de c o n s i d e r a r m o s a experiência local de preservação cultural, tentaremos traçar uma breve história do desenvolvimento do município, a partir dos t e m p o s de colônia; de sua e v o l u ç ã o p o l í t i c o - administrativa e de seu crescimento econômico e urbano.

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