• Nenhum resultado encontrado

Na formação de herbáceas destaca-se a presença da aninga (Montrichardia arborescens) e buritirana (Maurita sp.), encontradas principalmente nos lagos isolados no interior das ilhas fluviais classificados como de procriação. Essa vegetação exerce a função de abrigo e alimentação para os peixes.

Na associação de arbóreas destaca-se nas margens dos rios e lagos, a formação de pioneira com destaque para presença das embaúbas (Cecropia sp.), no nível dos diques marginais é substituída pela floresta de médio e grande porte, chamada de “mata de várzea”. No conjunto vegetal formada por arbórea ocorrem as principais atividades socioeconômicas da várzea, com destaque para a fixação de moradia e às atividades agrícolas e pecuárias.

A atividade pecuária extensiva é praticada na várzea durante os períodos de vazante e seca do Amazonas, entre os meses de agosto a dezembro. O rebanho bovino é formado pelas raças girolanda e mestiço (Figura 23 A e B), utiliza-se a pastagem nativa resultante da vegetação espontânea localizadas nas áreas de colmatação dos lagos e nas áreas de floresta que foram desmatados.

Figura 23 A e B – Pecuária extensiva no Paraná de Parintins

Fonte: Albuquerque, 2011.

Na área de várzea do Paraná concentra-se uma quantidade significativa de forrageira formada por canarana, arroz, capim murim e colônia, que, juntamente com a suplementação alimentar com sal mineral, serve de alimento para o gado. A capacidade de suporte das pastagens varia de 4 a 5 unidades de animais por hectare, acima disso a área corre sério risco dano ambiental com desmatamento.

As instalações dos animais nas fazendas e nas pequenas propriedades são bastante simples, limitando-se a curral e cochos, uma vez que o manejo é extensivo e não utiliza delimitação entre propriedade por cercas. O controle sanitário do rebanho é garantido mediante vacinação, vermifugação e pulverização com acaricidas.

A criação de aves é uma atividade basicamente de subsistência, praticado por todos os comunitários nas duas comunidades, que criam basicamente a galinha caipira no sistema extensivo, no terreno envolto de cada casa (Figura 24). Durante as cheias as aves são levadas para dentro de casa ou para cima dos telhados.

A criação de caprinos e ovinos é praticada apenas nas propriedades consideradas fazendas, com uma média de 10 a 20 unidades por fazendeiro. Esses animais dividem os pastos com o gado e a alimentação fornecida para eles se constitui de castanha-de-macaco, restos de culturas, ração e milho.

Figura 24 – Criação extensiva de aves

Fonte: Albuquerque, 2011.

A atividade agrícola se caracteriza por culturas de ciclo rápido, praticada no período da vazante e seca, são cultivadas plantas alimentícias e algumas medicinais, em uma área média de meio hectare, que têm as funções de suprir as necessidades de subsistência da família, bem como de medicamentos caseiros

segundo a medicina popular, e para algumas famílias significa o complemento de sua renda familiar.

Todo o preparo da área ocorre entre agosto e setembro, consistindo na roçagem, derruba, queima e coivara. O plantio é feito logo em seguida e três capinas são necessárias nos meses seguintes para manter as culturas livres das muitas ervas invasoras. Após as colheitas, as áreas são abandonadas para descanso e reposição dos nutrientes do solo pela cheia (Figura 25 A e B).

Figura 25 A e B – Produção agrícola de ciclo rápido no Paraná de Parintins

Fonte: Acervo do GRANAV, 2007

Os comunitários também produzem olerícolas em canteiros suspensos de madeira com dimensão de tamanho, variando de 5 a 10 metros de comprimento por um metro de largura. No verão as famílias ensacam terra, esterco de gado e pau de mungubeira para não deixar faltar substrato adubado nos canteiros durante o inverno. Quando sobe o nível do rio o acesso se dá por canoa. As principais hortaliças cultivadas são as folhosas do tipo couve, alface e chicória, e condimentares do tipo cebolinha e coentro, além de feijão-de-corda, pepino e tomate.

Na cheia a caça é praticada pelos ribeirinhos, como alternativa à diminuição da pesca. Tornando a caça como fonte de renda e alimentação para sua família. Os animais mais caçados são: a marreca, o pato-do-mato e jacaré (Figura 26).

Figura 26 – Caça do jacaré

Fonte: Albuquerque, 2011.

A prática do extrativismo vegetal é bastante incipiente devido ao intenso processo de desmatamento ocorrido em décadas anteriores, contudo, a atividade extrativa vegetal na várzea ocorre de forma eventual com a coleta de madeira para lenha e de frutas do tipo mari-mari, jenipapo e bacuri pelos comunitários. A extração de madeira de forma clandestina (Figura 27) é uma ameaça constante na área do Paraná de Parintins.

Figura 27 – Retirada ilegal de madeira

Fonte: Acervo GRANAV, 2007.

A pesca no Paraná de Parintins é realizada nos diversos ambientes aquáticos que formam o ecossistema de várzea. Os locais de captura com maior potencialidade piscosa são o rio Amazonas, o paraná e os lagos. Nos dois primeiros são locais destinados à pesca comercial, sendo utilizada a rede de arrasto por embarcações de médio e grande porte.

Os lagos são considerados os mais importantes fornecedores de pescado voltado à subsistência dos ribeirinhos e é praticado com instrumentos artesanais como a tarrafa, o arpão, o espinhel e o anzol (Figura 28 A e B).

Figura 28 A e B – Pesca nos lagos do Paraná de Parintins

No período das cheias, a pesca é a principal atividade para aqueles que permanecem na várzea. É o momento para a pesca do: jaraqui, tucunaré, acará-açu, sulamba, traíra, bodó e mapará (início do inverno). No período de seca, a produtividade pesqueira aumenta. Chega o tempo da pesca de curimatá, de pirarucu, tambaqui, surubim, pirarara, jandiá, cuiu, filhote, piramutaba, pacu, aracu, charuto, sardinha, bodó e tamuatá. Surgem os cardumes de dourada e é tempo de ovos de tracajá e de outros “bichos de casco” (quelônios).

Os conflitos mais relatados pelos ribeirinhos quanto ao uso dos recursos pesqueiros residem por ocasião da entrada nos lagos, paranás e furos de barcos de pesca de todos os tamanhos vindos de várias regiões do Amazonas e dos estados do Pará e Amapá para realizarem principalmente a pesca comercial. Por utilizarem a técnica do arrasto provocam a pesca predatória, causando dano ao ambiente, pois capturam todos tipos de peixes comerciais, ornamentais e quelônios, além de retirar outros produtos madeireiros e não madeireiros.

A atividade de produção do mel foi introduzida de forma sistematizada nas comunidades do Paraná de Parintins, a partir de 2003, durante a execução do projeto do ProVárzea/IBAMA e foi desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Abelhas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que repassou as técnicas de criação para aproximadamente 20 comunitários.

O aproveitamento do mel pelas populações é uma prática tradicional que é feita extraindo-se dos ocos dos paus ou criando abelhas sem ferrão em cabaças, cortiças ou até mesmo nos locais onde elas fazem seus ninhos. Por isso, verificou- se a necessidade de ensinar novas técnicas de criação com o uso das caixas racionais, que facilita o manejo das colmeias (Figura 29 A e B).

Figura 29 A e B – Produção de mel nas comunidades do Paraná de Parintins

Fonte: Albuquerque, 2011

6.9 O Acordo de Pesca

Acordo de Pesca é um mecanismo de ordenamento e regulamentação participativa da gestão dos recursos pesqueiros, cujo principal objetivo é a estabilização ou a redução da pressão sobre os estoques de pesca e o aumento da produtividade da pesca em longo prazo (SANTOS, 2005). O processo de elaboração dos acordos de pesca deve atender a regras especificadas na Instrução Normativa n. 29, publicada pelo IBAMA em 31/12/2002.

No Paraná de Parintins existe um acordo de pesca, resultado da realização do Projeto Terra e Água do GRANAV, durante a execução do ProVárzea/IBAMA, demonstrado conforme Mapa 8. Nesse documento foram definidos critérios para regulamentação da pesca como restrições para uso de determinada técnica que prejudique a pesca comunitária, os períodos de pesca e a limitação da capacidade dos barcos de pesca.