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5.2 Conjunturas dos Recursos Hídricos no Brasil: a evolução da política pública de

5.2.8 Cobrança pelo uso da água

A cobrança pelo uso da água é entendida por Granzieira (2001) como o instrumento que evidencia um maior amadurecimento de sistemas de gestão de recursos hídricos implantados, pois demonstra a evolução na implantação dos instrumentos que a precedem até a geração de um contexto que permite uma modelagem de cobrança.

O entendimento da sua natureza jurídica como preço público conseguiu afastar a hipótese levantada por alguns de bitributação em relação à compensação financeira pela utilização de recursos hídricos para geração de energia elétrica disciplinada na Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989 (BRASIL, 1989) e na Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990 (BRASIL, 1990) (GRANZIEIRA, 2001; (POMPEU, 2006).

Em 2002, observava-se resistência quanto à implementação da cobrança, com a argumentação, na maioria dos casos, das repercussões financeiras nos processos produtivos. À época, somente o Ceará aplicava um modelo próprio, além da equiparação feita de parte da compensação financeira pela utilização de recursos hídricos para geração de energia elétrica como valor de cobrança pago pelo setor. O Comitê da Bacia do Paraíba do Sul, pioneiro nesta área, havia aprovado proposta de uma metodologia para a fase inicial da cobrança, posteriormente aprovada também pelo CNRH. Mencionava-se a aplicação dos recursos recolhidos no monitoramento hidrológico, na gestão de recursos hídricos e na capacitação profissional na área (COIMBRA et al., 2002).

A bacia do Paraíba do Sul iniciou a cobrança em águas de domínio da União, que mais tarde começou na bacia PCJ. Quando da elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos, o Rio de Janeiro cobrava de acordo com legislação e modelagem específicas, e São Paulo e Minas Gerais já haviam regulamentado o instrumento para aplicação nas águas sob seu domínio. A adoção de um modelo simplificado de cobrança, a aprovação de seu plano diretor de bacia e uma campanha de regularização com cadastro de usuários e posteriores outorgas, quando cabíveis, foram parte de uma estratégia para que a experiência iniciada pela bacia do Paraíba fosse exitosa. Entre 2003 até dezembro de 2005, tinha-se arrecadado, cerca de R$18 milhões. O maior desafio era continuar a implantação da cobrança nas águas de domínio de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro (PLANO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS, 2006, v.1).

Um dos problemas enfrentados nestes primeiros anos foi o “contingenciamento de recursos arrecadados via cobrança pelo uso da água na bacia do Paraíba do Sul, com potencial de prejudicar a adesão positiva e orgânica dos usuários pagadores” (BRASIL, 2007, p.101).

Em 2007, as bacias do Paraíba do Sul e PCJ já haviam implantado a cobrança, com possibilidade de início na bacia do rio São Francisco. Entre os Estados, em São Paulo a cobrança teve início em 2007 nas bacias dos rios Paraíba do Sul e PCJ, com base nos mecanismos já aplicados à calha federal. A Bahia começou também sua cobrança,

seguindo modelo próprio. Outros Estados, como Minas Gerais, ainda buscavam a implementação (ANA, 2009). Analisando o ano de 2009, não houve maiores alterações (ANA, 2010).

Ponto destacado em 2010 é que não ocorreu redução significativa no volume de água captado nas bacias do Rio Paraíba do Sul e PCJ com a implantação da cobrança, não concretizando o objetivo de estímulo ao uso racional da água, o que gerou avaliações. Já na bacia do Rio São Francisco, houve reduções efetivas nas vazões outorgadas no usuário agricultura, com retificações das outorgas ocorridas após o início da cobrança. Os valores arrecadados nas três bacias totalizaram mais de R$ 18 milhões. Nas águas de domínio dos Estados, registrou-se a cobrança implantada nas bacias do Médio Tietê, do PJ – porção mineira das Bacias PCJ, do Rio das Velhas e do Rio Araguari (ANA, 2011; 2012).

Em 2011, começou a cobrança na Bacia do Rio Doce (novembro), com os CBHs do Rio Verde Grande e do Rio Paranaíba iniciando debates sobre as diretrizes de cobrança no âmbito da elaboração dos planos de bacia hidrográfica. Da mesma forma, diversas bacias estaduais estavam com o processo de implantação da cobrança em andamento (ANA, 2012).

Nos 15 anos da Lei n. º 9.433/97 (BRASIL, 1997), a cobrança já estava implantada para o setor elétrico e nas águas de domínio da União das bacias hidrográficas do rio Paraíba do Sul, do PCJ, do rio São Francisco e do rio Doce. Nas águas de domínio dos estados, o instrumento já era aplicado em todas as bacias do estado do Rio de Janeiro; no estado de São Paulo, nas bacias PCJ, Paraíba do Sul, Sorocaba - Médio Tietê e Baixada Santista; e no estado de Minas Gerais, nas bacias Piracicaba-Jaguari, do rio das Velhas, do rio Araguari e do rio Piranga, do rio Piracicaba, do rio Santo Antônio, do rio Suaçuí, do rio Caratinga e do rio Manhuaçu, todos afluentes ao rio Doce. No estado da Paraíba, apesar de toda a tramitação para começar a cobrança, até 2012 ela não havia sido iniciada. O Estados do Ceará e da Bahia adotaram procedimentos próprios. (ANA, 2013).

Iniciativas com representantes do setor privado (Confederação Nacional da Indústria - CNI) e da própria ANA com Entidades Delegatárias e Órgãos Estaduais de Gestão de Recursos Hídricos buscavam aprimorar o gerenciamento dos recursos hídricos no Brasil, o uso eficiente de água em setores usuários específicos (indústria) e a aplicação eficiente e eficaz dos recursos da cobrança (ANA, 2013).

Este cenário da cobrança pouco mudou até 2015 (ANA, 2016), demonstrando que, se sua implantação é sinal do amadurecimento de sistemas de gestão de recursos hídricos,

o modelo de governança implantado no Brasil tem muito para ser consolidado, com a maior parte do país ainda não sujeita ao instrumento, como mostra a figura 6.

Figura 6 - Situação da cobrança pelo uso de recursos hídricos no país em 2015

Extraído de: ANA, 2016.