• Nenhum resultado encontrado

A cobrança pelo uso dos recursos hídricos no Estado da Paraíba – PB

A cobrança pelo uso dos recursos hídricos no estado da Paraíba foi efetivamente regulamentada em 2012, através de Decreto nº 33.613. Apesar do CBH do rio Paraíba do Norte ter deliberado e aprovado, já em 2008, através da Deliberação CBH-PB 01/08, a normatização dos valores a serem cobrados na bacia, a cobrança pelo uso dos recursos hídricos só foi regulamentada 4 anos depois.

O Decreto nº 33.613/12 veio atender a Lei n° 6.308/96 que instituiu “a cobrança do uso da água bruta de domínio do Estado da Paraíba, como instrumento gerencial da política estadual de recursos hídricos” (PARAÍBA, 2012). O referido decreto veio reafirmar o disposto na Lei nº 9.733/97, ao estabelecer que a cobrança pelo uso dos recursos hídricos tem como objetivo reconhecer a água como bem econômico e incentivar o uso racional.

Consoante a OCDE (2017), o estado da Paraíba, no ano de 2015, já havia implementado a cobrança em todas as unidades de gestão, com exceção das unidades pertencentes a BHRPPA. Para a OCDE (2017), a implantação da cobrança pelo uso dos recursos hídricos na Paraíba ocorreu de forma tardia, haja vista que desde 1996 o estado já havia regulamentado a cobrança através da Lei Estadual nº 6308/96 que, estabelecia a gestão das águas de domínio estadual. Fato semelhante ao ocorreu nos estados do Ceará e em São Paulo, onde a cobrança pelo uso dos recursos hídricos só se efetivou após o decreto governamental.

De acordo com o Decreto nº 33.613/12, no Estado da Paraíba estão sujeitos a cobrança pelo uso dos recursos hídricos os seguintes usos:

74 I – as derivações ou captações de água por concessionária encarregada pela prestação de serviço público de abastecimento de água e esgotamento sanitário e por outras entidades responsáveis pela administração de sistemas de abastecimento de água, cujo somatório das demandas, em manancial único ou separado, registradas nas respectivas outorgas, seja igual ou superior a duzentos mil metros cúbicos por ano; II – as derivações ou captações de água por indústria, para utilização como insumo de processo produtivo, cujo somatório das demandas, em manancial único ou separado, registradas nas respectivas outorgas, seja igual ou superior a duzentos mil metros cúbicos por ano; III – as derivações ou captações de água para uso agropecuário, por empresa ou produtor rural, cujo somatório das demandas, em manancial único ou separado, registradas nas respectivas outorgas, seja igual ou superior ao valor do volume anual mínimo, estabelecido para as seguintes bacias hidrográficas: a) do Litoral Sul: 1.500.000m³; b) do rio Paraíba: 350.000m³; c) do Litoral Norte: 350.000m³; d) sem comitê instituído: 350.000m³; IV – o lançamento em corpo de água de esgotos e demais efluentes, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final; V – outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água (PARAÍBA, 2012, Art. 3).

No que diz respeito ao modelo de cobrança pelo uso dos recursos hídricos estabelecido no Art. 5 do Decreto nº 33.613/12, este é composto dos seguintes elementos:

𝑉𝑇 = 𝑘 × 𝑃 × 𝑉𝑜𝑙. (2)

sendo “VT” o valor total anual a ser cobrado em R$; “k” o conjunto de coeficientes de características específicas (adimensional); “P” o preço unitário para cada tipo de uso (R$/m3); e “Vol.” o volume anual outorgado em metros cúbicos. De acordo com o parágrafo primeiro do art. 5, durante os três primeiros anos o valor assumido por “k” será igual a 1, sendo posteriormente substituído por outros valores que deverão se pautar em estudos técnicos realizados pela AESA. Neste sentido, deverá “k” assumir valores que levem em consideração aspectos como:

I – natureza do corpo de água; II – classe em que estiver enquadrado o corpo de água; III – disponibilidade hídrica; IV – vazão reservada, captada, extraída ou derivada e seu regime de variação; V – vazão consumida; VI – carga de lançamento e seu regime de variação, ponderando-se os parâmetros biológicos, físico-químicos e de toxicidade dos efluentes; VII – finalidade a que se destinam; VIII – sazonalidade; IX – características físicas, químicas e biológicas da água; X – práticas de racionalização, conservação, recuperação e manejo do solo e da água; XI – condições técnicas, econômicas, sociais e ambientais existentes; XII – sustentabilidade econômica da cobrança por parte dos segmentos usuários” (PARAÍBA, 2012, Art. 5).

Ao analisar tal modelo de cobrança pelo uso dos recursos hídricos, Almeida e Curi (2016, p. 8), destacam que “essa metodologia não leva em consideração as reservas de água, bem como não proporciona diferenciações com o emprego de coeficientes que

75

considere a classe de uso dos corpos hídricos, a disponibilidade hídrica local, a eficiência do uso da água, entre outros aspectos”.

Oportuno salientar também que, assim como outras realidades brasileiras, as receitas provenientes da cobrança pelo uso dos recursos hídricos na Paraíba não são capazes de superar os custos operacionais dos planos de bacia. Para se ter uma ideia, em 2016 foram arrecadados cerca de R$ 1.000.000,00, o que, por sua vez, representa apenas 16% do que foi devidamente cobrado para o mesmo período (OCDE, 2017). De acordo com a OCDE, o estado da Paraíba já encontra-se bastante embasado em relação ao aparato legal e institucional da cobrança pelo uso dos recursos hídricos. Porém, os problemas decorrentes do longo período de estiagem na região acabaram dificultando a operacionalização da cobrança, principalmente em virtude de questões de ordem política e social, que, de certa forma, travam todo o processo.

Ainda com base na OCDE (2017), salienta-se que uma estimativa de preço na ordem de R$ 0,43/m³ seria necessária para atender as demandas dos planos de bacia. Um valor relativamente elevado, se comparado com um preço de R$ 0,01/m³ atualmente instituído. Para a OCDE (2017), de forma geral, pode-se dizer que o caminho a ser seguido pela gestão dos recursos hídricos, em relação a cobrança na Paraíba deve se pautar principalmente na revisão das atuais taxas, dos limites de isenção e na política de fiscalização. Isso posto, o processo como um todo deve primordialmente ser protegido de interferências políticas, assim como respaldado em estudos de natureza técnica para que possa lograr êxito nos anos vindouros.