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4. Resultados e discussão

4.5. Composição corporal de microminerais nos componentes não carcaça de borregas santa

4.5.2. Cobre nos componentes não carcaça de borregas

As concentrações relativas e absolutas de cobre no feto, placenta, fluido fetal, útero, glândula mamária, fígado, rins, língua, sangue, vísceras e pele, estão dispostas na Tabela 22.

O manejo nutricional não afetou o conteúdo de cobre nas variáveis apresentadas. Este resultado provavelmente se deve à pequena quantidade deste microelemento na dieta, que assim como o cobalto e a maioria dos elementos considerados microminerais, são deficientes nos alimentos utilizados na formulação de rações para o ruminante.

A gestação afetou a concentração (ppm) de cobre no fígado que atingiu maior valor aos 100 dias de gestação. É provável que nesta fase estivesse ocorrendo uma maior deposição de cobre no fígado para posterior distribuição deste elemento para outros tecidos, visto que aos 130 e 140 dias de gestação a concentração de cobre nesse órgão diminuiu.

Esse resultado pode estar relacionado com o aumento na concentração relativa de cobre na placenta a partir dos 130 dias, chegando à maior concentração aos 140 dias, que foi de 5,36%. Este aumento documentado na concentração de cobre na placenta não foi acompanhado pelo aumento da concentração absoluta de cobre, demonstrando efeito importante da gestação nesta variável. A transferência de cobre pela placenta é de extrema importância tendo em vista a participação deste elemento no desenvolvimento do sistema nervoso central do feto. O mesmo comportamento foi observado para a concentração absoluta (mg) de cobre na fígado, que foi maior aos 100 dias de gestação.

Scheaffer et al. (2004) relataram efeitos do manejo nutricional sobre a massa de fígado em ovelhas, demonstrando diminuição desta variável em animaissob restrição quando comparados com animais em mantença. Para ovelhas gestantes, estes autores demonstraram aumentos na massa do fígado, indicando um ajuste deste órgão ao novo metabolismo da fêmea que advém da gestação. O órgão estoque de cobre nos ovinos é o fígado (Saylor et al. 1980). France (1995) mostrou que o fígado de ovelhas no final da gestação é responsável por 17% no consumo de oxigênio do corpo (4,0mL/100g/mim), sendo o órgão que mais consome O2 no organismo. El-Sherif e Assad (2001) verificaram que todos os parâmetros metabólicos

relacionados ao fígado (AST, ALT, Uréia, Glicose, creatinina, albumina) foram maiores para as ovelhas gestantes quando comparadas às não gestantes, indicando grande atividade hepática durante a gestação. O cobre também é um componente da ceruloplasmina, responsável pela conversão do ferro estocado no fígado.

90 Tabela 22.Concentração relativa (parte por milhão – ppm) e quantidade (miligramas – mg) de cobre nos componentes não carcaça de borregas da raça Santa Inês submetidas à dois manejos nutricionais e diferentes idades gestacionais

Componentes não carcaça

Cobre (ppm)

CV1(%)

Cobre (mg)

CV1(%) Manejo Nutricional Manejo Nutricional

Ad libitum Restrito Ad libitum Restrito

Feto 16,02 11,88 35,53 29,31 33,14 42,85 Placenta 5,31 4,15 40,87 1,95 1,56 64,89 Fluido Fetal 0,08 0,10 41,75 0,06 0,06 50,56 Útero 7,05 6,97 25,01 3,26 2,91 51,20 Glândula Mamária 8,49 6,71 30,68 3,05 2,16 87,96 Fígado 202,31 231,08 38,08 89,25 111,12 42,46 Rins 13,18 12,55 20,44 1,09 0,99 33,13 Língua 11,17 8,35 23,51 1,00 0,69 22,65 Sangue 4,59 4,29 21,00 8,24 7,04 27,10 Vísceras 5,58 6,15 17,84 12,45 13,95 25,31 Pele 3,28 3,54 17,30 10,38 7,79 109,31 Componentes não carcaça Idades Gestacionais2 CV1 (%) Idades Gestacionais 2 CV1 (%) 0 100 130 140 0 100 130 140 Feto - 21,19 10,10 10,55 35,53 - 33,82 28,45 31,41 42,85 Placenta - 4,47b 4,35ab 5,36a 40,87 - 1,46 1,88 1,94 64,89 Fluido Fetal - 0,11 0,09 0,07 41,75 - 0,07 0,06 0,05 50,56 Útero 8,66 6,20 6,14 7,05 25,01 4,73 2,98 2,19 2,44 51,20 Glândula Mamária 6,54 6,40 6,81 10,66 30,68 3,38 2,97 1,75 2,31 87,96 Fígado 164,18b 310,58a 205,21b 186,81b 38,08 77,85b 149,34a 87,27b 86,27b 42,46 Rins 12,30 13,31 12,63 13,21 20,44 1,00 1,09 0,97 1,10 33,13 Língua 9,14 9,39 8,19 12,31 23,51 0,84 0,88 0,67 0,98 22,65 Sangue 4,20 5,31 4,30 3,94 21,00 7,26 10,03 6,77 6,50 27,10 Vísceras 5,08b 6,77a 6,04ab 5,57ab 17,84 11,35 15,44 13,25 12,76 25,31 Pele 3,62 3,39 3,64 3,01 17,30 8,53 13,83 7,71 6,27 79,31

Considerando os fatos supracitados e a importância do cobre sobre a atividade da citocromo-oxidase para a respiração aeróbica espera-se, portanto, alterações na concentração deste mineral no fígado pela maior demanda metabólica imposta a este. As concentrações absolutas (mg) de cobre no fígado também foram maiores aos 100 dias de gestação, podendo ser aplicada a mesma explicação utilizada para o caso acima.

As concentrações relativas de cobre nas vísceras sofreram influência das idades gestacionais, sendo também observado maiores conteúdos de cobre a partir dos 100 dias. A variável vísceras representa, nesse estudo um pool de vísceras que inclui em sua maior parte todo o trato gastrintestinal, portanto é importante ressaltar que a absorção de cobre ocorre, principalmente, no intestino, e à medida que a gestação avança, a absorção de cobre também pode aumentar para suprir as necessidades da gestação existindo, assim, a possibilidade desta víscera ter representado a maior parte do cobre, em relação às outras que compõem esta amostra, sendo esta a parte que realmente elevou a concentração de cobre para a variável.

Foi observado um efeito de interação entre o manejo nutricional e os estágios gestacionais para coração e órgãos(Tabela 23 e 24). O coração atingiu maior concentração relativa (ppm) de cobre aos 100 dias, diminuiu aos 130 dias sendo que aos 140 dias esta concentração foi reduzida quase à metade para os animais com alimentação ad libitum (Tabela 23). É possível que a necessidade metabólica de cobre como componente de sistemas enzimáticos importantes tenha sido maior no período final entre 130 e 140 dias, acompanhando assim a maior demanda deste órgão pelas fêmeas nestes estádios. Segundo Stock e Metcalfe, 1994; Magness, 1998 citado por Scheaffer et al. (2004) à medida que o metabolismo materno se adapta em resposta à gestação, o volume de sangue materno e capacidade cardíaca aumentam no sentido de liberar os nutrientes para os tecidos e carrear os produtos resultantes do desenvolvimento fetal. Além disso, deve-se considerar que as fêmeas deste estudo eram borregas, animais ainda em crescimento, o que também eleva a necessidade metabólica do coração. Para os animais sob restrição alimentar os maiores valores percentuais ficaram para os períodos entre 0 e 100 dias de gestação, período em que talvez a restrição não tenha tanta importância para o metabolismo de cobre. A restrição de nutrientes pode ter tido reflexo nesse órgão somente quando suas necessidades foram maiores, o que aconteceu possivelmente entre 130 e 140 dias. Scheaffer et al. (2004) relataram que a massa do coração diminuiu com a restrição nutricional e foi maior em ovelhas não gestantes em comparação com ovelhas entre 90 e 130 dias de gestação. Neste estudo ovelhas alimentadas ad libitum aos 140 dias de gestação tiveram menores quantidades (mg) de cobre no coração, refletindo à

menor concentração deste elementona variável durante o estádio de gestação em que a fêmea se encontra.

Tabela 23.Concentração relativa (parte por milhão – ppm) e quantidade (miligramas - mg) de cobre no coração de borregas da raça Santa Inês submetidas à dois manejos nutricionais e diferentes idades gestacionais

Manejo Nutricional Idades Gestacionais2 0 100 130 140 Média Coração (ppm) Ad Libitum 17,10bA 20,95aA 15,48bA 11,80cB 16,33 Restrito 17,67aA 17,91aB 13,37cB 15,48bA 16,11 Média 17,39 19,43 14,43 13,64 16,22 CV1 (%) 8,38 Coração (mg)

Ad Libitum 2,73abA 3,09aA 2,32abA 1,70bB 2,46

Restrito 2,35abA 2,87abA 1,68bA 2,47abA 2,34

Média 2,54 2,98 2,00 2,08 2,40

CV1 (%) 20,31

Médias seguidas de letras distintas, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas, diferem entre si, pelo teste SNK (P<0,05). 1CV=coeficiente de variação; 2em dias.

Tabela 24.Concentração relativa (parte por milhão – ppm) e quantidade (miligramas - mg) de cobre nos órgãos de borregas da raça Santa Inês submetidas à dois manejos nutricionais e diferentes idades gestacionais

Manejo Nutricional Idades Gestacionais2 0 100 130 140 Média Órgãos (ppm) Ad Libitum 7,42 6,64 9,33 5,83 7,30 Restrito 7,07 7,80 7,39 6,69 7,24 Média 7,24 7,22 8,36 6,26 7,27 CV1 (%) 25,04 Órgãos (mg)

Ad Libitum 12,40abA 8,21bA 13,87abA 8,661bA 10,78

Restrito 8,79aA 11,34aA 9,40aA 9,43aA 9,74

Média 10,60 9,77 11,64 9,04 10,26

CV1 (%) 29,47

Médias seguidas de letras distintas, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas, diferem entre si, pelo teste SNK (P<0,05). 1CV=coeficiente de variação; 2em dias.

Para os órgãos a quantidade (mg) de cobre reduziu aos 100 e 140 dias no manejo ad libitum (Tabela 24). Os órgãos nesse estudo representam uma amostragem de vários órgãos (fígado, coração, pulmão, língua, baço, pâncreas, rins e diafragma), e provavelmente, esta alteração aos 100 e 140 dias pode ter ocorrido devido à variação entre os próprios órgãos, que a compreender diferentes tecidos com diferentes necessidades enzimáticas. É possível também que algum órgão tenha sido mais representativo na concentração de cobre aos 100 e

outro órgão as 140 dias, sobrepujando os outros órgãos que compunham a amostra total, em especial o fígado como atestado por Mills e Davies (1979).

A resposta da concentração de cobre nos órgãos (g) em função do peso do feto em kilogramas (kg), foi do tipo cúbica, sendo expressa pela equação:

Cu Órgãos = 12,994 – 1,3156x - 1,7239x2 + 0,51656x3 (R2 = 0,74) onde:

Cu Órgãos = Conteúdo de cobre em gramas nos órgãos; X = peso feto em kg;

A resposta da concentração de cobre na pele (g) e no feto (g) em função do peso do feto em kilogramas (kg), foi do tipo quadrática, sendo expressa pela equação:

Cu Pele = 0,05860 + 1,21056x + 0,17636x2 (R2 = 0,86) onde:

Cu Pele = Conteúdo de cobre em gramas na pele; x = peso feto em kg;

Cu Feto = 3,68848 + 5,56991x + 1,23058x2 (R2 = 0,80) onde:

Cu Feto = Conteúdo de cobre em gramas no feto; X = peso feto em kg;

O comportamento das equações de regressão nas variáveis expostas acima infere a diminuição do conteúdo de cobre nos componentes estudados em função do aumento do peso fetal. É provável que essa resposta represente a importância do mineral no corpo materno, especificamente no fígado materno, uma vez que este é o local de estocagem do elemento e seu metabolismo é aumentado em consequência do crescimento fetal.