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Coeficiente de Gini e Curva de Lorenz – Especialização vs Diversificação

4. Metodologia e Evidência Empírica

4.1 Análise aos Produtos Exportados

4.1.1. Coeficiente de Gini e Curva de Lorenz – Especialização vs Diversificação

No decorrer do tempo, o cabaz de produtos exportados pelos países varia, não só pela tentativa de se adequar à procura existente, mas também porque os níveis de conhecimento sobre o mercado aumentam e o próprio estilo e condições de vida da respetiva população também se altera.

Assim, é identificado pela teoria do comércio (Imbs and Warziarg, 2003) que a especialização dos produtos aumenta com a melhoria das condições de vida do país produtor. Desenvolvendo, foi descoberto que os países tendem a diversificar a produção à medida

43 começam a melhorar de baixos níveis de rendimento e que apenas começam a especializar quando atingem um nível de rendimento relativamente elevado.

Segundo Hausmann e Rodrik (2003), no início da fase de crescimento existe um ambiente mais propício ao empreendedorismo o que potencia a diversificação e ajuda os produtores a identificarem os setores nos quais existem mais vantagens competitivas. Depois de descobertos os produtos onde a vantagem competitiva é maior, há uma tendência de os produtores se focarem nesses produtos, ou seja, se especializarem nesses produtos. Esta descoberta pode ser evidenciada tanto pela curva de Lorenz como pelo coeficiente de Gini. O coeficiente de Gini, desenvolvido pelo estatístico Corradi Gini, é uma medida de desigualdade utilizada e aplicada desde 1912. Este indicador estatístico é frequentemente usado na análise da distribuição de renda podendo, no entanto, ser aplicado a qualquer distribuição que se queira estudar, como é o caso das exportações, onde se demonstra como uma alternativa para medir as alterações na especialização dos países, através do cálculo da igualdade das exportações em cada período. A sua fórmula pode ser encontrada de seguida (equação 1).

∑ ( )

(ii)

Onde, n é o número total de produtos exportados, i corresponde a um produto ordenado de forma crescente e xi é o peso das exportações do produto i no total das exportações.

A curva de Lorenz mostra o mesmo cenário mas de uma forma mais intuitiva, já que é representado visualmente por um gráfico de duas linhas, uma recta, que representa a igualdade de distribuição dos produtos (diversificação total) e por uma curva, que representa a realidade da região em análise. Assim, quanto mais próxima o curva de Lorenz estiver da recta de 45º menor o grau de especialização e maior o grau de diversificação da região em análise.

Apresenta-se de seguida no Gráfico 4 a Curva de Lorenz para as exportações das regiões em análise para o ano de 2012. É visível que Portugal é o país cujo grau de especialização é maior, seguido da Espanha e por fim UE27, estando a primeira mais afastada da recta da diversificação total e a última mais próxima.

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Gráfico 4 Curva de Lorenz – Portugal, Espanha e UE27, 2012

Fonte: Autor, com base em dados Eurostat

Quanto ao coeficiente de Gini, é importante constatar que este representa a área compreendida entre a recta de 45º e a curva de Lorenz do respectivo país. Assim, este indicador pode variar entre 0 e 1, sendo que 0 indica que os produtos exportados estão igualmente distribuídos (elevada diversificação) e à medida que se aproxima de 1 traduz-se num aumento da especialização.

O Gráfico 5 apresenta a evolução, desde 1999, do Coeficiente de Gini no caso português, espanhol e europeu (UE15 e UE27).

Gráfico 5 Coeficiente de Gini – Portugal, Espanha e UE, 1999 - 2012

Fonte: Autor, com base em dados Eurostat 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1 34 67 100 133 166 199 232 265 298 331 364 397 430 463 496 529 562 595 628 661 694 727 760 793 826 859 892 925 958 991 1024 1057 1090 1123 1156 1189 1222 Quo ta de Me rcad o # Produtos

Diversificação total Portugal Espanha UE27

0,70 0,75 0,80 0,85 0,90 0,95 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Portugal Espanha UE27

45 Numa avaliação geral, o indicador demonstra uma tendência relativamente constante nos quatro casos (Portugal, Espanha, UE27 e UE15), variando entre 0,7 e 0,9, o que é indicador de um elevado grau de especialização de todos os países/zonas em análise. No entanto, ao ter em consideração o cálculo do Coeficiente de Gini para sub-amostras, ao invés da totalidade dos produtos exportados, é possível tirar outras conclusões. Para isso, apresentam-se em seguida, no Gráfico 6 e Gráfico 8, o coeficiente para uma amostra dos principais 80% dos produtos exportados e para o top 100 dos produtos exportados, respetivamente.

Gráfico 6 Coeficiente de Gini - principais 80% dos produtos exportados por Portugal, Espanha e UE, 1999 -2012

Fonte: Autor, com base em dados Eurostat

Gráfico 7 Coeficiente de Gini - Top 100 dos produtos exportados por Portugal, Espanha e UE, 1999 -2012

Fonte: Autor, com base em dados Eurostat 0,40 0,45 0,50 0,55 0,60 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Portugal Espanha UE27 UE15 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 0,55 0,60 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Portugal Espanha UE27 UE15

46 No caso europeu, foi analisado a UE 27 e 15 numa tentativa de retirar o efeito da entrada de outros países para a análise do grau de especialização/diversificação do capaz das exportações. Foi assim visível, no caso da UE27 e em ambas as sub-amostras, que o grau de especialização não foi muito elevado e foi constante. Quando se avalia o coeficiente para os 15 países europeus, não contabilizando a entrada gradual de países no cálculo, já foi notório um grau de especialização, já que tanto no top 100 como nos 80% o coeficiente de Gini aumenta bastante, indo de encontro com as teorias do comércio exploradas por Hausmann e Rodrik (2003).

Contrariando as mesmas teorias e tendências dos países desenvolvidos, Portugal apresenta uma descida do Coeficiente de Gini, desde 1999 para 2012, em ambas as sub-amostras. O coeficiente indica, assim, que Portugal, tendo já um grau de especialização bastante elevado, começou, no período em análise, a diversificar mais a oferta. O que poderá ser justificado pela crise económica do país e pelo elevado incentivo ao empreendedorismo.

No caso espanhol, o coeficiente de Gini calculado para todos os produtos não indica qualquer tendência, mantendo-se sempre por volta dos 0,81 em todos os anos da análise. No entanto, nos cálculos das sub-amostras, o tanto no coeficiente de Gini para o top 100 dos produtos como para os principais 80%, é visível uma diminuição do indicador, revelando-se a mesma tendência portuguesa, ou seja, apesar de especializado, existem indícios de diversificação.

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