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4 DESVIOS DE CUSTO E DE PRAZO EM OBRAS RODOVIÁRIAS NO

4.5 Coeficiente de Spearman

A Tabela 15 apresenta a correlação de Spearman entre as variáveis dependentes e independentes, tendo por fim verificar a intensidade da relação entre variáveis, de modo a explicar os desvios de custo.

Da análise aos fatores mais significativos que interferem nos desvios de custo, mais precisamente ao seu valor, verifica-se que ele é fortemente influenciado pelo valor inicial do contrato, prazo inicial da obra e valor estimado na licitação, respectivamente, de modo que existe uma tendência de que quanto maior forem esses valores, maior será o valor dos desvios de custo. Uma possível explicação para esses resultados é que os projetos se tornam mais complexos quando se tornam maiores, incorrendo em maiores desvios. Para tanto, em grandes projetos, os gestores devem envidar esforços especiais e designar uma

93 93 equipe mais experiente para acompanhar, controlar e fiscalizar o andamento da execução da obra. Precedente a isso, a elaboração do projeto básico deve ser o mais detalhado o possível, contemplando todos os elementos suficientes e necessários, baseado em estudos preliminares realizados na fase precedente à licitação, de modo que os licitantes possam ofertar valores mais condizentes com a realidade, bem como mitigar a alteração do projeto na fase de execução da obra.

Tabela 15 – Correlação de Spearman dos desvios de custo

Correlação ρ

Valor do desvio x Valor Inicial do Contrato 0,634

Valor do desvio x Prazo Inicial da Obra 0,547

Valor do desvio x Valor Estimado na Licitação 0,447

Valor do desvio x Percentual de Desconto do Valor Estimado na Licitação -0,376

Valor do desvio x Percentual de Valor do Reajuste 0,375

Valor do desvio x Valor do Reajuste 0,277

Percentual do Valor do desvio x Valor Estimado na Licitação -0,376 Percentual do Valor do desvio x Valor Inicial do Contrato -0,137

Percentual do Valor do desvio x Prazo Inicial da Obra -0,037

Percentual do Valor do desvio x Valor do Reajuste -0,023

Percentual do Valor do desvio x Percentual de Valor do Reajuste -0,023 Percentual do Valor do desvio x Percentual de Desconto do Valor Estimado pela

Licitação 0,015

Valores significativos no nível 0,05 Fonte: Elaborada pelo próprio autor.

Outra variável que apresentou boa correlação com o valor dos desvios de custo é o percentual de desconto do valor estimado na licitação, sendo inversamente proporcional ao valor dos desvios de custo. Assim, quanto menor for o percentual de desconto concedido pela empresa vencedora do certame licitatório, maior será o valor dos desvios de custo. Ao analisar isoladamente essa variável, caso a administração pública consiga maiores descontos na fase de licitação, o valor dos desvios de custos tenderiam, consequentemente, a diminuir. Estudos têm demonstrado que há uma tendência de que quanto maior o número de empresas licitantes, maior será o desconto ofertado. Entretanto, esse desconto também será influenciado pelo nível de detalhamento do projeto básico, bem como pelas condicionantes do local de execução da obra, tendo em vista que um projeto mal elaborado e com baixo nível de precisão não reflete à demanda real e, intrinsecamente, carregam em si várias incertezas, incertezas essas que a licitante tenta mensurar no momento de formular seus custos para conceder os descontos na licitação. Assim, há uma tendência de que quanto

94 94 menor o nível de precisão do orçamento no projeto básico, maiores serão as incertezas presentes na execução da obra e menor será o desconto a ser ofertado pelas empresas no certame licitatório, consequentemente, maiores serão os valores de desvios de custo.

Quando a análise recai no percentual do valor dos desvios de custo as correlações que apresentam maior significância é o valor estimado na licitação e o valor inicial do contrato, ambos inversamente proporcionais, ou seja, quanto menor for o valor estimado na licitação e o valor inicial do contrato, maiores serão os percentuais do valor dos desvios de custo. Apesar de parecer um contraponto ao observado na correlação dessas variáveis com o valor dos desvios de custo, tal fato não deve ser encarado dessa forma, visto que projetos maiores, consequentemente, tendem a apresentar valores de desvios de custos maiores, porém isso não implica necessariamente em percentuais de desvios também maiores, já que esses percentuais são calculados pela razão entre o valor do desvio e o valor do contrato, independente do seu valor.

Superada essa celeuma, nota-se que os projetos menores tendem a apresentar os maiores percentuais de desvios de custo, que podem ser influenciadas pela baixa importância dada pela administração pública na fase preliminar de licitação, com estudos, ensaios e testes insuficientes para subsidiar a elaboração de projeto básico com nível de precisão adequado. Atrelado a isso se tem, ainda, uma fiscalização mais deficiente, que pode comprometer o acompanhamento e controle da execução da obra.

Em que pese a significância dos percentuais no valor dos desvios de custos estar relacionada aos projetos menores e, em um primeiro momento, isso representar um baixo impacto financeiro ao Erário, tal fato deve ser encarado com cautela, tendo em vista que o conjunto desses desvios pode acarretar um impacto financeiro considerável, inclusive esses percentuais de desvios devem respeitar o limite de 25% estabelecido na Lei de Licitações (Lei nº. 8.666/1993), sob pena de responsabilização dos envolvidos que deram causa à referida irregularidade.

A correlação de Spearman entre os desvios de prazo e as variáveis independentes pode ser observada por meio da Tabela 16.

Da análise à referida tabela é possível notar que o valor do desvio de prazo apresenta boas correlações com o valor estimado na licitação, o percentual e o montante do valor do reajuste, respectivamente. Dessa feita, os desvios de prazo tendem a aumentar de forma significativa em projetos maiores, bem como nos projetos em que a administração pública concede reajustes à empresa contratada.

95 95 variável que apresenta a maior significância é o prazo inicial da obra, de forma inversamente proporcional. Assim, o percentual do desvio de prazo de uma obra é maior quando o prazo inicial é menor. Observa-se que a subestimação do prazo inicial da obra pela administração pública acarreta maiores percentuais de desvios de prazo o que demonstra a ineficiência da administração pública em programar o período de execução da obra.

Tabela 16 – Correlação de Spearman dos desvios de prazo

Correlação ρ

Valor do desvio x Valor Estimado na Licitação 0,497

Valor do desvio x Percentual de Valor do Reajuste 0,361

Valor do desvio x Valor do Reajuste 0,360

Valor do desvio x Valor Inicial do Contrato 0,282

Valor do desvio x Percentual de Desconto do Valor Estimado pela Licitação 0,197

Percentual do Valor do desvio x Prazo Inicial da Obra -0,373

Percentual do Valor do desvio x Percentual de Valor do Reajuste 0,172

Percentual do Valor do desvio x Valor do Reajuste 0,171

Valor do desvio x Prazo Inicial da Obra 0,134

Percentual do Valor do desvio x Valor Inicial do Contrato -0,075 Percentual do Valor do desvio x Percentual de Desconto do Valor Estimado pela

Licitação 0,064

Percentual do Valor do desvio x Valor Estimado na Licitação 0,006 Valores significativos no nível 0,05

Fonte: Elaborada pelo próprio autor.

Por meio da correlação de Spearman, foi possível verificar que o desvio de custo é fortemente influenciado pelo valor inicial do contrato, prazo inicial da obra e valor estimado na licitação, de modo que quanto maior for esses valores, maior será o valor dos desvios de custo. Enquanto o valor dos desvios de custo tende a crescer nos projetos maiores, os percentuais do valor de desvio de custo sofrem maior influência nos projetos menores. Nos desvios de prazo as variáveis mais significativas são: o valor estimado na licitação, o percentual de reajuste e o seu valor, bem como o prazo inicial da obra. Assim, quanto maior o valor do projeto, maior sua influência no acréscimo do período de execução da obra. Quanto ao percentual de alteração do prazo é possível verificar que o principal fator reside no fato da subestimação do prazo inicial da obra, ou seja, projetos que apresentam prazo inicial de execução menor tendem a atingir percentuais mais elevados do prazo.

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