• Nenhum resultado encontrado

A coisa mais importante no mundo não é tanto onde nós chegamos, mas para qual direção nos movemos.

(Oliver We ndall Holmes)

Há um caminho imenso que tem de ser percorrido com (por) os alunos disléxicos, nomeadamente os mais velhos. Existem preconceitos construídos com base no desconhecimento que urge ultrapassar; destacamos aqui dois:

i) Nada mais há a fazer com os alunos disléxicos mais velhos

Numa escola, foi-nos dito que não era realizada uma intervenção especializada com alunos mais velhos porque “Dificilmente vão deixar de ter essas dificuldades”. O presente estudo junta-se a outros que revelam que há ainda muito a fazer com os alunos com dislexia mais velhos. Os ganhos, mediante esforço de ambas as partes (técnico e aluno), são, podem ser, efetivamente, grandes. No estudo que desenvolvemos, o aluno A, o mais velho (21 anos), foi quem obteve resultados globais mais expressivos.

ii) Os alunos com dislexia mais velhos já não têm dificuldades na consciência fonológica Numa das Instituições que intervêm no contexto da dislexia, contactadas no seguimento da pperceção que queríamos obter das práticas tidas no nosso país no âmbito desta síndrome, foi-nos referido que, nestas faixas etárias, 3.º ciclo e ensino secundário, a parte da descodificação que trabalham é a fluência: “Com a exceção de situações pontuais (alguns pares mínimos, como v/f, por exemplo, quando existem essas dificuldades), estes alunos já não têm dificuldades ao nível da consciência fonológica. Trabalha-se, portanto, a fluência”.

É evidente que, quando trabalhada precocemente, a consciência fonológica, bem como outras áreas intervencionadas, estará mais desenvolvida. Contudo, sendo a base cognitiva da dislexia um défice fonológico e sendo a dislexia uma condição permanente, não será de prever que este défice se mantenha (muito embora possa ser melhorado)?

Atentemos no estudo revelado por Hoin e Lundberg (2000):

One might suppose that poor phonological awareness was only typical of very young children with rea- ding problems. Older teenage dyslexics might have overcome their initial deficit, but now be struggling with some other type of problem at a higher level, for example with comprehension. The study we now present shows that is not the case (Hoin e Lundberg, 1989a).

On the basis of an exceptionally precise selection procedure, 19 cleary dyslexic pupils were selected from a total population of 1250 cohorts. They were all 15 yars old and in the 8th grade. The control groups were formed, one of children the same age, but who read normally; and one consisting of younger stu- dents who were at the same level of general reading ability as the study group. (…) The proportion of correct responses on the phonological tasks were more difficult for the dyslexics. They even had a harder time than the younger readers, who were used as a control group precisely because they had the same general level of reading ability. Clearly, this tells us that the dyslexics’ problems is rooted in phonology. Almost none of the dyslexics attained scores near even the weakest of the control students. (…) we can (…) conclude that the characteristic traid of dyslexics, even when they are 15-years old, is a slow and inadequate phonological coding and poorly developed phonological awareness” (pp. 91-94).

Assim, no seguimento do que escrevem, para além de Hoin e Lundberg (2000), Gillon (2004), Goldstein, Naglieri e DeVries (2011)5, Riddick (2000) e Snowling e Stackhouse (2008), defendemos que os alunos disléxicos mais velhos mantêm, sim, dificuldades ao nível da consciência fonológica. Defendemos, portanto, com Reid (2009), que, também no ensino secundário, para além de outras áreas, se terá de desenvolver a consciência fonológica.

Referências bibliográficas

Afonso, N. (2005). Investigação Naturalista em Educação – Um guia prático e crítico. Porto: Edições ASA.

Almeida, M. F. F. F. (2011). A Compreensão da leitura em alunos disléxicos: proposta de intervenção para o 3.º ciclo e para o ensino secundário. Viseu: Universidade Católica Portuguesa (Inédita).

Alves, B. C. F. D. & Almeida, M. F. F. F. (2010). Pela Memória de Trabalho (em CD). Azevedo, F. & Sardinha, M. G. (2009). Modelos e Práticas em Literacia. Lisboa: LIDEL.

Besson, M. & Schön, D. (2005). Comparison Between Language and Music. In I. Peretz & R. Zatorre, The Cognitive Neuroscience of Music (pp. 269-293). New York: Oxford.

Carvalho, A. C. (2011). Aprendizagem da Leitura: Processos Cognitivos, Avaliação e Intervenção. Viseu: PsicoSoma.

Carvalho, A. O. D. C. (2008). Teste de Avaliação da Fluência e Precisão de Leitura – O Rei. Coimbra: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação - Universidade de Coimbra.

Citoler, D. C. & Sanz, O. R. (1997). A Leitura e a Escrita: Processos e Dificuldades na sua Aquisição. In R. Bautista, Necessidades Educativas Especiais,(pp. 127-129). Lisboa: Dinalivro.

Cowan, N., Morey, C. C, Chen, Z. & Bunting, M. (2007). What do estimates of working memory capacity tell us? In N. Osaka, R. H. Logie & M. D’Esposito, The Cognitive Neuroscience of Working Memory (pp. 43-58). New York: Oxford University Press.

Dehn, M. J. (2008). Working Memory and Academic Learning – Assessment and Intervention. New Jersey: Wiley.

Festas, M. I. F., Martins, C. S. P. & Leitão, J. A. S. G. (2007). Avaliação da Compreensão Escrita e da Leitura de Palavras na PAL-PORT (Bateria de Avaliação Psicolinguística das Afasias e de outras Perturbações da Linguagem para a População Portuguesa). Consultado em 10 de Outubro de 2009, de http://www.fpce.uc.pt/pessoais/ifestas/ArtigoRevEducTemasProble.pdf.

Galaburda, A. M. (1989). Introduction. In A. M. Galaburda (edit), From Reading to Neurons (pp. xix-xxii). Massachusetts Institute of Technology.

Gathercole, S. E. & Alloway, T. P. (2009). Working Memory & Learning: A Practical Guide for Teachers. London: SAGE.

Gillon, G. T. (2004). Phonological Awareness – From research to practice. New York: The Guilford Press. Goldstein, S., Naglieri, J. A. e DeVries, M. (2011). Learning and Attention Disorders in Adolescence and Adulthood – Assessment and Treatment. New Jersey: John Wiley & Sons, Inc.

Gombert, J. E. (2003). Actividades Metalinguísticas e Aprendizagem da Leitura. In M. R. Maluf (org.), Metalinguagem e Aquisição da Escrita – Contribuições da Pesquisa para a Prática da Alfabetização (pp. 10-64). S.P., Brasil: Casa do psicólogo.

5 Estes autores, citando Gregg (2009) e Gregg, Coleman, Davis e Chalk (2007), referem claramente que dificuldades na consciência fonológica, ortográfica e morfológica são características comuns em alunos mais velhos com dislexia.

Goulart, S. & Carvalho, C. A. (2005). O pesquisador e o design da pesquisa qualitativa em administração. In M. M. F. Vieira & D. M. Zouain (Org.), Pesquisa Qualitativa em Administração – Teoria e Prática (pp. 119-140). Rio de Janeiro: Editora FGV.

Hoin, T. & Lundberg, I. (2000). Dyslexia: From Theory to Intervention. Netherlands: Kluwer Academic Publishers.

Kintsch, W. & Rawson, K. (2007). Comprehension. In M. J. Snowling & C. Hulme, The Science of Reading (pp. 209-226). Victoria: Blackwell Publishing.

Logan, G. D. (1988). Toward an Instance Theory of Automatization. Consultado em 27 de Abril de 2011, de http://scholar.google.pt/scholar?q=theory+of+automatization+deficit&hl=pt-PT&lr=.

Klingberg, T. (2009). The Overflowing Brain – Information Overload and the Limits of Working Memory. New York: Oxford University Press.

Morais, J.(1997). A Arte de Ler. Psicologia cognitiva da leitura. Lisboa: Edições Cosmos.

Nascimento, L. C. R. (n.d.). Consciência Fonológica. Consultado em 18 de Setembro de 2010, de http:// www.fonoesaude.org/consfonologica.htm.

Osaka, M. & Osaka, N. (2007). Neural bases of focusing attention in working memory: An fMRI based on individual differences. In N. Osaka, R. H. Logie & M. D’Esposito, The Cognitive Neuroscience of Working Memory (pp. 99-117). New York: Oxford University Press.

Overy, K. (2008a). Insights from brain imaging. In T. R. Miles, J. Westcomb & D. Ditchfield (2008). Music and Dyslexia: A Positive Approach (pp. 151-161). West Sussex: John Wiley & Sons Ltd.

Overy, K. (2008b). Classroom rhythm games for literacy support. In T. R. Miles, J. Westcomb & D. Ditchfield (2008). Music and Dyslexia: A Positive Approach (pp. 26-44). West Sussex: John Wiley & Sons Ltd.

Pennington, B. F. & Olson, R. K. (2007). Genetics of Dyslexia. In M. J. Snowling & C. Hulme, The Science of Reading – a Handbook (pp. 453-472). Victoria: Blackwell.

Ramus (n.d.). A neurological model of dyslexia and other domain-specific developmental disorders with an associated sensorimotor syndrome. Consultado em 14 de Agosto de 2010, de http://www.lscp.net/ persons/ramus/docs/ramusforTDFweb.pdf.

Rasinski, T. V. (2009). The essential Link From Phonics to Comprehension. In T. V. Rasinski, Essential Readings on Fluency (pp. 1-10). Washington: International Reading Association, Inc.

Rebelo, J. (1993). Dificuldades da Leitura e da Escrita em Alunos do Ensino Básico. Rio Tinto: Edições ASA.

Reid, G. (2009). Dyslexia – a Practitioner’s Handbook. Oxford: Wiley-Blackwell. Riddick, B. (2000). Living with Dyslexia. London: Routledge.

Shaywitz, S. (2008). Vencer a Dislexia: Como dar resposta às perturbações da leitura em qualquer fase da vida. Porto: Porto Editora.

Shaywitz, S. E. & Shaywitz, B. A. (2008). Paying attention to reading: The neurobiology of reading and dyslexia. Consultado em 20 de Agosto de 2010, de http://www2.cs.uidaho.edu/~tsoule/neuro508/ ShaywitzShaywitz2008reading.pdf.

Sim-Sim, I. (2007). O Ensino da Leitura: A Compreensão de Textos. Lisboa: PNEP.

Sim-Sim, I. & Viana, F. L. (2007). Para a Avaliação do Desempenho de Leitura. Lisboa: Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação (GEPE).

Snowling, M. (2008). Dislexia desenvolvimental: uma introdução e visão teórica geral. In M. Snowling & J. Stackhouse, Dislexia, Fala e Linguagem – Um manual do profissional (pp. 11-21). São Paulo: Artmed. Tallal, P. (2006). Process Faster, Talk Earlier, Read Better. In G. D. Rosen, The Dyslexic Brain: New Pathways in Neuroscience Discovery (pp. 49-73). New Jersey: Lawrance Erlbaum Associates, Inc.

Viana, F. L. (2009). O Ensino da Leitura: A Avaliação. Lisboa: DGIDC.

White, S., Frith, U., Milne, E. Rosen, S., Swettenham, J. e Ramus, F. (2006). A double dissociation between sensorimotor impairments and reading disability: A comparison of autistic and dyslexic children. Consultado em 14 de Agosto de 2010, de http://www.croosp.org.br/work/ensino/ prisma_01.htm.

6 Disortografia: