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Fez-se a coleta dos dados dos gastos públicos do Ministério da Saúde com a Campanha Nacional de Combate à Dengue dos últimos 10 (dez) anos. Os dados foram obtidos na Assessoria de Comunicação Social- ASCOM e conflitados com os índices de contaminação do vírus da dengue. Os dados desses índices foram obtidos no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde- DATASUS.

Procedeu-se à análise e à interpretação dos dados após a obtenção dos resultados com a aplicação do Modelo de Regressão Linear pelos Mínimos Quadrados Ordinários, subsidiada por pesquisas bibliográficas e análise documental.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A presente seção é dedicada ao debate e listagem dos principais resultados encontrados no estudo.

Os resultados das estimavas são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 : Resultados Estimados

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística t Valor P

Intercepto 6.046311 14.75791 0.4097 0.6943 Propaganda 1.18E-06 3.96E-07 2.972729 0.0207 Propaganda t-1 9.72E-07 4.32E-07 2.247797 0.0594

R 0.387251 DW 1.211208

R Ajustado 0.21218

Estatística F 2.211964

Probabilidade F 0.18009

Com base em um nível de significância de 5%, a hipótese nula de que o gasto defasado em propaganda não tem efeito sobre o número de casos de Dengue Clássica não pode ser rejeitada, enquanto a hipótese nula de não significância dos gastos corrente é rejeitada.

O sinal positivo estimado para o coeficiente beta dos gastos correntes parece, em um primeiro momento, pouco razoável, pois não há razão teórica para se esperar que campanhas de combate à Dengue provoquem um aumento no número de casos anuais. Porém, ao se analisar de maneira mais cuidadosa a política de ação preventiva do Ministério da Saúde, há uma possível explicação para essa estimativa.

Caso as ações de combate à Dengue do Ministério da Saúde sejam antes ações de resposta ao número de casos do que o resultado de ações efetivas de prevenção, há possibilidade de correlação positiva entre essas variáveis, pois o Ministério da Saúde ampliaria os gastos correntes em propaganda em momentos onde o número de casos cresce e diminuiria gasto quando o número de casos cai. Apesar de significantes do ponto de vista individual, a estatística F de significância global do modelo não permite a rejeição da hipótese nula de significância global. Ou seja, o modelo em conjunto não é estatisticamente capaz de explicar as variações no número de casos.

Diante desse resultado, não há evidências de que as campanhas tenham obtido sucesso como instrumento de combate à Dengue no Brasil. Os parâmetros estimados indicam que o gasto corrente não é capaz de afetar consideravelmente o número de casos e a memória das propagandas, medida pelo gasto defasado, é muito curta, não sendo capaz de influenciar o número de casos do ano posterior.

Dados as considerações sobre possível endogeneidade entre o número de casos e gasto com propaganda, é útil destacar que a estimação por MQO não é mais consistente. Porém, a estimação por outros modelos com a inclusão de variáveis instrumentais para lidar com a endogeniedade é deixada como proposta de extensão do presente trabalho.

No Gráfico 1 é apresentado o teste de Jarque-Bera para as distribuições dos resíduos. A hipótese de distribuição normal não pode ser rejeita, logo os testes de hipótese baseados nas estatísticas t e F podem ser realizados.

Gráfico 1: Jarque-Bera

Não há evidências de multicolianearidade no modelo e a matriz covariância foi estimada com base na abordagem de Newey-West, que produz erros-padrão robusto à heteroscedasticidade e autocorrelação.

0 1 2 3 4 5 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 Series: RESID Sample 1 11 Observations 10 Mean 9.24e-15 Median -3.735711 Maximum 34.11453 Minimum -24.13897 Std. Dev. 16.64919 Skewness 0.725438 Kurtosis 2.952722 Jarque-Bera 0.878032 Probability 0.644670

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O trabalho buscou analisar o impacto dos gastos públicos em publicidade das campanhas de Combate à Dengue do Ministério da Saúde nos índices de contaminação do vírus registrados em todo o território nacional através do Modelo clássico de Regressão Linear, estimado por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) com matriz covariância robusta a heteroscesticidade e autocorrelação Newey- West.

A proposta inicial foi avaliar a relação entre o montante gasto em um período e o número de casos registrados no período subsequente, partindo da premissa de que haveria uma correlação entre esses dados, podendo sugerir que o montante aplicado nas Campanhas de Combate a Dengue impactaria de forma a diminuir os casos de incidência da Dengue para o próximo intervalo.

No entanto, conforme demonstrado na seção anterior, os dados não revelam correlação entre os casos registrados de Dengue e o montante despendido no ano anterior com a respectiva campanha. Ou seja, não se observa o impacto direto do gasto com publicidade na diminuição dos casos de Dengue registrados para o próximo período.

Buscou-se verificar a correlação entre os gastos com a Campanha e os casos de Dengue registrados para os mesmos períodos e observou-se a existência de correlação positiva para essas variáveis, o que, num primeiro momento, pode parecer uma hipótese pouco razoável, principalmente se interpretar-se que quanto maior o gasto com a campanha, maior os casos de Dengue.

Analisando os dados encontrados de forma mais cuidadosa, verifica-se a possibilidade de que os gastos com as Campanhas de Combate à Dengue tenham sido em decorrência dos casos registrados da doença para o mesmo período, o que sugere, por exemplo, que um aumento nos casos de Dengue implicaria no aumento dos gastos com as Campanhas.

Dessa forma, o estudo sugere que as Campanhas de Combate à Dengue do Ministério da Saúde seriam mais uma reação aos casos relatados de Dengue do que efetivamente uma ação planejada de combate e prevenção.

No entanto, para subsidiar essa hipótese é necessário desenvolver maiores estudos acerca do contexto da Dengue no Brasil, de como tem sido tratados o controle e a prevenção da doença no país, analisando, também, a forma de abordagem das campanhas publicitárias do Ministério da Saúde.

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