Uma das técnicas de coleta de dados foi a aplicação de roteiro de entrevista
semiestruturado. Nesta técnica de coleta de dados, “o pesquisador deve seguir um conjunto
perguntas que previamente não haviam sido estipuladas, conforme considerar melhor para entender o contexto e resolver o seu problema de pesquisa.
O entrevistador deve ficar atento para dirigir, no momento que achar oportuno, a discussão para o assunto que o interessa fazendo perguntas adicionais para elucidar questões que não ficaram claras ou ajudar a recompor o contexto da entrevista, caso o informante tenha “fugido” ao tema ou tenha dificuldades com ele (BONI; QUARESMA, 2005, p. 75).
Quanto à escolha e o número de organizações entrevistadas, a pesquisa seguiu a técnica
bola de neve, considerando que utilizou indicações dos entrevistados (para novos
entrevistados) até considerar ter sido alcançado o ponto de saturação (BALDIN, MUNHOZ, 2011; VINUTO, 2016).
Esta pesquisa também utilizou o método de análise documental, considerando que coletou e analisou documentos como registros de instituições do setor público (e.g., planejamento estratégico do Ibravin e da Aprovale, apresentação da constituição das associações em seus sites) e livros sobre a história da vitivinicultura da Serra Gaúcha.
E a terceira técnica de coleta de dados foi a observação não participante, que é descrita por Gil (2008), como o ato de o pesquisador se posicionar como espectador sem intervir e contatar com o objeto observado. Neste sentido, entende-se que foi possível realizar observação não participante com 30 colaboradores de vinícolas que o pesquisador pode observar ao realizar uma outra pesquisa – de análise de redes sociais - no mesmo objeto, que não fez parte da pesquisa expressa na presente dissertação. O contato com estes 30 entrevistados, colaboradores de vinícolas, ocorreu na aplicação de questionários in loco e em feira de vinhos profissionais do setor, na qual estes vinicultores estiveram expondo seus vinhos. As observações ocorreram de maneira desestruturada, porém, foram registradas as principais percepções ao final da aplicação dos questionários e da visita a feira; estas anotações foram utilizadas como material complementar e foram consultadas, principalmente, na etapa de elaboração de discussões deste estudo.
A coleta de dados através de entrevistas semiestruturadas ocorreu em três etapas. A
primeira etapa contou com entrevistas a uma Vinícola Cooperativa, duas Vinícolas, uma
Instituição de Suporte. A mesma serviu principalmente para ter uma melhor visão inicial do setor, entender o contexto e a trajetória do cluster. Esta etapa também auxiliou a ter um melhor entendimento sobre a aplicação do roteiro de entrevista, que tendo em vista sua extensão, mostrou-se mais viável de ser aplicado buscando entender as orquestrações que o entrevistado
possuía maior relação; como por exemplo: no caso de associações, as entrevistas foram mais conduzidas buscando compreender as orquestrações realizadas nas associações.
Após se ter um maior entendimento sobre o cluster e sobre o roteiro de entrevista, a
segunda etapa, prosseguiu com a intenção do atendimento dos objetivos do estudo. Nesta fase
foram entrevistadas cerca de 15 entrevistas com Vinícolas, Cooperativas, Associações, Instituições de Suporte e Organizações Representativas. Neste momento, identificou-se que as respostas se tornaram repetitivas evidenciando o ponto de saturação. Após uma análise parcial das entrevistas, reconheceu-se que ainda faltava a identificação de orquestrações em estágios iniciais do ciclo de vida do cluster, o que foi o estímulo para a realização da terceira etapa.
Para a terceira etapa, que foi iniciada pela carência de maior quantidade de dados de momentos mais antigos do Cluster Vitivinícola da Serra Gaúcha, retornou-se a campo para entrevistar quatro pessoas que possuíam mais de três décadas de atuação no setor, que eram lideranças reconhecidas no aglomerado, que possuíam conhecimento sobre os acontecimentos mais antigos do setor e que haviam sido indicadas anteriormente por outros entrevistados (conforme orienta a abordagem bola de neve). Os quatro novos entrevistados possuem os seguintes perfis: (i) Diretor de Organização Representativa; (ii) Presidente do Conselho de Associação; (iii) Técnico de Instituição de Suporte, que esteve presente no processo de obtenção das Indicações Geográficas de regiões vinícolas do Rio Grande do Sul; e (iv) Diretor de Vinícola, com mais de 60 anos de atuação no setor, ex-presidente de Organização Representativa, e um dos principais historiadores do cluster.
A fim de ter sucesso na terceira etapa, foram definidos os estágios do ciclo de vida do cluster e as perguntas das entrevistas foram realizadas questionando sobre as principais orquestrações em cada estágio, discriminando os mesmos. Os momentos mais relevantes definidos foram: (i) a emergência, de 1785 até 1920; (ii) o primeiro crescimento, de 1920 às 1970; (iii) a primeira renovação, de 1970 a 1990; (iv) a segunda renovação, de 1990 a 2000; e (v) o segundo crescimento, de 2000 aos momentos atuais.
Após estas três etapas, as entrevistas foram finalizadas por se considerar que havia material suficiente para atender os objetivos da pesquisa. Desta maneira, foram realizadas e gravadas 24 entrevistas entre os anos de 2018 e 2019; tais entrevistas compreenderam tanto as orquestrações realizadas, quanto à sua carência, e contemplaram também as orquestrações que envolveram atores de todo o cluster, atores de determinadas localidades ou vinculados a determinadas instituições, bem como as orquestrações não baseadas em instituições, apenas em relações entre atores.
Os roteiros de entrevista foram elaborados com base na literatura que compôs ao referencial teórico do presente estudo e estão apresentados nos apêndices A e B.
Foram utilizadas, também, cinco entrevistas realizadas no ano de 2009 por Zen (2010), com Diretor de vinícola, Diretor de Instituição de Ensino, dois técnicos de Instituições de Suporte e um Diretor de Associação; a utilização dos dados da entrevista de Zen (2010) ocorreu pela sua disponibilização e que, através de uma análise prévia deste material, reconheceu-se que este possuía relação com a pesquisa apresentada nessa dissertação.
Desta forma, a soma de todas as entrevistas utilizadas, compreendeu a 29 entrevistas; destas, 23 entrevistas foram realizadas in loco, e as demais foram realizadas em feira internacional de vinhos profissionais do setor.
Entende-se que o estudo foi beneficiado também pela realização da observação direta não participante ocorrida através de 30 observações de colaboradores de outras vinícolas que responderam a questionário aplicado pelo pesquisador para o projeto internacional de pesquisa NetWine (que não fez parte desta pesquisa), que é coordenado pela Professora Doutora Aurora Carneiro Zen (PPGA/UFRGS) e pela Professora Doutora Cristina Boari (Università di Bologna), e que investiga a evolução da distribuição do conhecimento, o papel dos atores individuais e as relações dos agentes locais e externos da Serra Gaúcha.
Foram coletados 23 documentos para a análise documental, os quais foram levantados a partir do contato com as instituições de suporte e organizações representativas; acesso a sites institucionais das organizações de suporte do cluster; e a artigos e livros relacionados ao cluster. Os documentos utilizados são apresentados no Quadro 11.
Quadro 11 - Documentos Utilizados
Tipo de documento Documento
Livro Memórias do Vinho Gaúcho (DAL PIZZOL; DE SOUSA, 2014)
Livro
A competitividade da vitivinicultura brasileira: análise setorial e programa de ação com destaque para o Rio Grande do Sul (LAPOLLI
et al., 1995)
Artigo Enoturismo nas regiões vitivinícolas Serra Gaúcha e Vale dos Vinhedos (Brasil) (FALCADE, 2004)
Artigo publicado em
Anais Artigo publicado nos anais da UNISC
Tese de Doutorado
Da solidariedade social ao individualismo: um estudo sobre o desenvolvimento do Vale dos Vinhedos na Serra Gaúcha. (FLORES,
2007) Dissertação de
Mestrado
Desenho e análise da cadeia produtiva dos vinhos finos da Serra Gaúcha (SOUZA, 2001)
Comunicado Técnico Vinhos brasileiros de 4ª geração: o Brasil na era das indicações geográficas. (TONIETTO, 2003)
Publicação em website governamental
Publicação em website institucional do Governo do Estado do Rio Grande do Sul
Website institucional Apresentação do setor por website institucional de Evento do setor, o epecoop.
Website institucional Apresentação Institucional e da história da UVIBRA
Website institucional Apresentação Institucional e da história do Ibravin
Website institucional Artigo da Revista Política Agrícola
Website institucional Apresentação do Ibravin sobre o seu Planejamento Estratégico
Website institucional Apresentação Institucional e da história da Vinícola Cooperativa Aurora
Website institucional Apresentação Institucional e da história Vinícola Cooperativa Nova Aliança
Website institucional Apresentação Institucional e da história Vinícola Cooperativa Garibaldi
Website institucional Apresentação Institucional e da Vinícola Cooperativa Nova Aliança
Website institucional Apresentação Institucional do Evento Wine South America
Website institucional Publicação no website do Ibravin (a)
Website institucional Publicação no website do Ibravin (b)
Matéria de Jornal Matéria do Jornal do Oeste sobre o Wine South America Matéria em website Matéria no website Falando de Vinhos
Fonte: Elaborado pelo autor.
As entrevistas e documentos possuíram os mesmos procedimentos de pré-análise e análise parcial, e com isso se considerou que o corpus existente era suficiente para a realização da análise dos dados, tendo em visto que a identificação de que havia se chegado ao ponto de saturação da coleta de dados.