• Nenhum resultado encontrado

A coleta de dados se deu por pesquisas bibliográficas que tenham relação com a temática desenvolvida. Livros (fonte primária e secundária), artigos científicos publicados nos meios e canais específicos, periódicos, dissertações e teses que tratem do tema objeto deste estudo, constituíram o universo de coleta de dados.

Este capítulo apresentou ao leitor a metodologia usada na pesquisa, o universo e a coleta de dados.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo foi motivado pela enorme vontade deste dissertante em pesquisar, analisar e contribuir com a produção do conhecimento.

Tem-se a expectativa que esta produção possa ser utilizada como meio para melhor compreender os processos sucessórios e melhor entender por que tantas empresas alcançam o sucesso e tantas outras sofrem descontinuidade quando por ele adentram.

A experiência e o convívio acumulados ao longo de 15 anos em trabalhos de consultoria em empresas familiares de médio e grande porte, foram a base para tal motivação. A oportunidade de acompanhar a passagem de bastão do líder e fundador ao seu sucessor, o desconforto e vazio vivido por aquele que sai, a angústia e conflitos vividos por aquele que entra, a tensão observada no grupo em meio ao processo pode levar muitos a pensar que a normatização de tal processo é a solução para os conflitos nele inerentes e dele decorrentes.

Este trabalho conclui que a conflitiva gerada pelo choque dos paradigmas da empresa e da família é insolúvel e mediável na medida em que for regrado; a transferência de poder e liderança são de tamanha complexidade que extrapola o simples ato de transferência e, a tensão e desarmonia gerada no grupo que convive com tal processo pode tornar-se um obstáculo e em muito dificultar o processo de sucessão dado seu modo de agir e laços que estabelece com seu líder eleito. Estes três argumentos quando em ação conjunta, e o é em todos os casos de sucessão, se não compreendidos apropriadamente por todos os atores envolvidos, podem alimentar as estatísticas, aumentando o número de empresas que sofrem descontinuidade.

Autores como Letherbrige (1997) e Oliveira (2006) evidenciam a importância e relevância do tema. O primeiro traz a importância macroeconômica quando coloca que em nível mundial, empresas familiares e administradas pelas famílias são responsáveis por mais da metade dos empregos gerados e, dependendo do país, têm nelas a origem de metade a dois terços do PIB. O segundo, quando coloca que, no Brasil, a expectativa média de vida de empresas não-familiares é de 12 anos, para as de controle familiar apenas nove anos, sendo que apenas 30% delas chegam à segunda geração e 3% à terceira geração.

O mundo globalizado e de tênues fronteiras oportuniza com frequência cada vez maior a formação de grandes grupos, de grande poder econômico. Estabelecem normas e, dado o

poder econômico, interferem em leis, criando condições para homogeneizar o mercado. A hegemonia é o passo seguinte.

Membros de empresas em que o controle acionário é bastante pulverizado e, conceituadas como organizações abertas, convivem de maneira mais harmônica com o paradigma da empresa e se enquadram mais facilmente dentro dos pressupostos funcionalistas.

Contrariamente ao observado em empresas familiares em que o equilíbrio entre os interesses da família e da empresa é de natureza psicológica, nas companhias abertas seus membros sofrem pressão de natureza pragmática, acabando por caminhar na direção dos interesses da companhia, enquanto buscam o equilíbrio entre organização e “stakeholders”.

Exemplos como “Du Pont” enriquecem a ideia de que uma possível blindagem da instituição empresa em relação às investidas dos interesses da família pode advir de restrições impostas pelos próprios membros da família. Preservando a organização, a instituição família estará preservada.

Para os clássicos, a lucratividade é o objetivo supremo das empresas e o planejamento racional é o meio de obtê-la. Esta visão corrobora o contexto racional instrumental em que as empresas familiares são compelidas a agir, conflitando com o paradigma familiar de afetividade.

Por outro lado, como mencionado, muitos são os exemplos de sucesso em que o processo sucessório alcançou o outro lado das estatísticas, sugerindo que, quando família e empresa caminham alinhadas no longo prazo, podem obter uma rara harmonia, permeando a organização com fatores intangíveis tais como lealdade e comprometimento e que, quando potencializados no grupo em seu interior, facilitam tais processos e oportunizam a perenização.

Atentando para os números que Oliveira traz, a lógica sugere que processos sucessórios em empresas familiares vão além dos aspectos administrativos. Não levar em consideração em tais processos os aspectos afetivos e emocionais do universo da família, pode se configurar em uma análise parcial e perigosa. Porém, isso não elide a importância de um planejamento consistente.

De grande importância, é observar o fato de que, cada empresa e cada família têm suas peculiaridades e características que fazem aquela história. Poderá assim advir o melhor ou o possível. A inexistência de interesse pelos herdeiros em dar continuidade à obra do fundador, se por um lado contraria as expectativas do fundador, por outro lado pode se configurar no

possível, abrindo caminho para a profissionalização completa dos quadros, dando liberdade à família em decidir o melhor e pelo melhor com respeito à gestão e ao patrimônio.

Personagem central em processos desta natureza, o líder e fundador será sempre uma figura instigante e deve ser tratada com a complexidade que lhe é peculiar.

Não raro, tais processos são abortados por ele e têm justificativas que encontram razões dentro do paradigma funcionalista e nele encaixam-se perfeitamente. Porém, é no contexto do subjetivo que se encontram, não raro, as verdadeiras razões (diferente que são das razões verdadeiras) para atitudes que o levam a provocar a descontinuidade do processo sucessório. O vazio que deverá enfrentar pela perda do poder e de seu exercício, a separação com sua obra, o único filho que saiu de dentro de si, pode levar este líder fundador a fantasias de que o mundo exterior deixará de restituir-lhe a percepção de sua capacidade e que sua autonomia e dominação serão violadas, trazendo-lhe assim a sensação de repetição de situações infantis ameaçadoras.

A descontinuidade do processo por ele provocada pode ser apenas uma maneira de defender-se dessas ameaças. A canalização do potencial criador para novos projetos é de muita importância nesse momento, não somente porque poderá mitigar tais fantasias ameaçadoras, mas porque lhe permitirá assumir, para si e publicamente, o fim do ciclo ou de um ciclo, sugerindo ao grupo que está legitimando a figura do sucessor e que este poderá se colocar sob a influência do novo “chefe”. Com isso, estará dando voz ao sucessor e dando chance a que a sucessão adquira uma evolução positiva e satisfatória. A percepção desse contexto pelo sucessor e a apropriada leitura desse universo de variáveis pode ser a catálise para auxiliar no processo sucessório.

O sucessor, se herdeiro e membro da família ou se profissional contratado, deverá, além de estar muito familiarizado e conhecer o negócio, dar a segurança ao líder fundador de que será capaz de dar continuidade a sua obra.

Se herdeiro e membro da família, ainda terá a árdua tarefa de “matar o pai amado e respeitado, sentando-se em sua cadeira, só assim poderá refundar a empresa”.

Porém, não importando o status quo do sucessor, familiar ou profissional contratado, poderá ser ou não eleito “chefe” pelo grupo. Deverá provar suas qualidades pessoais e estas terão que se ajustar ao grupo. Poderá ou não conseguir ser idealizado por este como capaz de preencher o vazio deixado pelo fundador e deverá ter a capacidade de preencher a personalidade consciente esvaziada do grupo. Por outro lado, o sucessor terá que estar atento às forças regressivas impostas de um lado, por aspectos administrativos, de outro, por demandas do grupo. De qualquer forma, o tempo sempre estará correndo a favor do sucessor.

AMADO, Gilles. Coesão organizacional e ilusão coletiva. In: MOTTA, Fernando C. Prestes; FREITAS, Maria Ester de (Org.). Vida psíquica e organização. Rio de Janeiro: FGV, 2002. p. 103-115.

BETHLEM, Agrícola de Souza. A empresa familiar: oportunidades para pesquisa. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-

GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 17., Salvador, 1993. Anais... Salvador: ANPAD, 1993. v. 9, p. 160-174.

BERTERO, Carlos Osmar. Cultura organizacional e instrumentalização do poder. In: CULTURA e poder nas organizações. São Paulo: Atlas, 2007. p. 29-43.

CABRAL, Augusto. A sociologia funcionalista nos estudos organizacionais: foco em Durkheim. Cadernos EBAPE, Rio ode Janeiro, v. 2, n. 2, p. 1-15, jul. 2004.

CALDAS, Miguel P.; FACHIN, Roberto. Paradigma funcionalista: desenvolvimento de teorias e institucionalismo nos anos 1980 e 1990. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 45, n. 2, p. 46, abr./jun. 2005.

CAMPOS, Luciene Jung de; MAZZILLI, Cláudio. Análise do processo sucessório em empresa familiar: um estudo de caso. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 30., 2006, Salvador. Anais... Salvador: ANPAD, 2006. p. 1-15

CAPELÃO, Luis Gonzaga Ferreira; MELO Marlene C. de O. L. Relações de poder no processo de sucessão em empresa familiar: o caso das Indústrias Filizola S.A. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-

GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, Teo-1140, 2001, Campinas. Anais... Campinas: ANPAD, 2001. p. 1-13.

COSTA, Dalla Armando; LUZ, Adão Eleutério da. Sucessão e sucesso nas empresas

familiares: o caso do grupo Pão de Açúcar. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA ECONÔMICA, 5., 2003, Caxambu; CONFERÊNCIA DE EMPRESAS, 6., 2003, Caxambu.

Anais... Ribeirão Preto: ABPEH, 2003. p. 1-27.

DONNELLEY, R. G. A empresa familiar. Revista de administração de empresas, Rio de Janeiro, n. 23, p. 161-197, out./dez. 1967. Traduzido do Inglês por Carlos Osmar Bertero. FISCHER, Rosa Maria. O círculo do poder: as práticas invisíveis de sujeição nas

organizações complexas. In: Cultura e poder nas organizações. São Paulo: Atlas, 2007. p. 65-88.

FORTUNE. 500 the largest corporations in the world. New York Time, jul. 1994.

FREUD, Sigmund. Além do princípio de prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos: 1920 – 1922. Ed. Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1977. v. 18, p. 95-169.

GALBRAITH, J. Kenneth. Anatomia do poder. São Paulo: Pioneira, 1984.

GRZYBOVSKI, Denise; TEDESCO João Carlos. Empresa familiar x competitividade: tendências e racionalidades em conflito. Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 6, n. 11, p. 37-68, nov. 1998.

HAMPTON, David R. Administração contemporânea: teoria, prática e casos. São Paulo: Mcgraw-Hill do Brasil, 1981.

KERNBERG, Otto. Ideologia, conflito e liderança em grupos e organizações. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

KUNZLER, Caroline de Morais. A teoria dos sistemas de Niklas Luhmann. Estudos de

Sociologia, Araraquara, v. 14, n. 26, p. 126-133, 2004.

LETHBRIDGE, Eric. Tendências da empresa familiar no mundo. Revista do BNDES, Brasília, DF, n. 7, 1997. Disponível em:

<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Publicacoes/Consulta_E xpressa/Setor/Governanca_Corporativa/199706_1.html>. Acesso em: 10 out. 2009.

LEONI, N. M. G. A sucessão não é tabu para os dirigentes da P.M.E. In: ENCONTRO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 15., 1991, Salvador.

Anais... Salvador: ANPAD, set. 1991. v. 7, p. 243-257

______. A ética na empresa familiar. São Paulo: Pioneira, 1998.

______. O fortalecimento da empresa familiar. São Paulo: Pioneira, 1984.

LONGENECKER, J. G.; MOORE, C. W.; PETTY, J. W. Administração de pequenas

empresas. São Paulo: Makron Books, 1997.

MATHEUS, Tiago Corbisier. Individualismo e desejo contraditório na formação de grupos. In: MOTTA, Fernando C. Prestes; FREITAS, Maria Ester de (Org.). Vida psíquica e

organização. Rio de Janeiro: FGV, 2002. p. 117-129.

MOTTA, Fernando C. Prestes. A teoria geral dos sistemas na teoria das organizações. Revista de Administração de Empresas, Rio de Janeiro v. 11, n. 1, p. 17-33, jan./ mar. 1971. ______. Os pressupostos básicos de Schein e a fronteira entre a psicanálise e a cultura organizacional. In: MOTTA, Fernando C. Prestes; FREITAS, Maria Ester de (Org.). Vida

psíquica e organização. Rio de Janeiro: FGV, 2002. p. 75-101.

OUIMET, Gérard. As armadilhas dos paradigmas da liderança. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 42, n. 2, p. 8-16, abr./jun. 2002.

OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Empresa familiar. São Paulo: Atlas, 2006. PAGÉS, Max et al. O poder das organizações. São Paulo. Atlas, 2006.

SCHMITT, Elaine Cristina; LEAL Anne Pinheiro. Liderança, mito e identificação: faces do

controle afetivo nas organizações de trabalho. In: ENCONTRO NACIONAL DE PÓS

GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 30., 2006, Salvador. Anais... Salvador, ANPAD, 2006. p. 1-16.

SILVEIRA, Rafael Alcadipani da. Poder e análise das organizações. Rio de Janeiro: FGV, 2005.

SOUZA, Renato Santo de. O funcionalismo sistêmico nas teorias social e organizacional:

evolução e crítica. Revista Eletrônica de Administração, Porto Alegre, Ed. 19, v. 7, n. 1, p. 1-

VERGARA Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 2007.

VRIES, Manfred F. R. Kets de; MILLER, Danny. Narcisismo e liderança, uma perspectiva de relações de objetos. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 5-16, jul./set. 1990.

WEBER, Max. Economia e sociedade. São Paulo: UnB, 2004. v. 1.

WHITTINGTON, Richard. O que é estratégia. São Paulo: Learning, 2006.

ZALESNIK, Abraham; VRIES, Manfred F. R. de. O poder e a mente empresarial. São Paulo: Pioneira, 1981.

Documentos relacionados