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Os dados necessários para a realização desta pesquisa foram coletados a partir conversas com os informantes, adotando, para isso, entrevistas narrativas. Estes encontros foram realizados durante os meses de Novembro, Dezembro de 2014 e uma entrevista com um informante em Janeiro de 2015, sendo as mesmas realizadas em seus locais de trabalho, com exceção da ultima entrevista com Elis em Janeiro a qual, em função de suas férias, preferiu que a conversa fosse realizada em sua residência.

Entrevistas narrativas têm como objetivo gerar contos detalhados em detrimento de respostas breves ou mesmo declarações genéricas acerca do tema de interesse da pesquisa (RIESSMAN, 2008). Assim sendo, não condizem com a aplicação de questionários do tipo estímulo/resposta (estruturados ou semiestruturados), prática muito comum dentre pesquisadores qualitativos (RIESSMAN, 2008). Desta maneira, busca-se por meio desta técnica evitar que as falas dos entrevistados sejam direcionadas por pressupostos que partam da perspectiva do pesquisador, como pode acontecer em questionários rígidos, constituídos por questões fechadas sequenciadas.

Esta postura a qual o pesquisador deve assumir em entrevistas narrativas está relacionada ao entendimento de que narrativas não são objetivas, prontas e à espera de serem expostas pelo narrador. Ao contrário, elas são propositais e funcionais, o que

significa que são construídas por um narrador sempre em relação a aspectos temporais (quando ele narra), locais (onde o narrador está narrando um conto) e em relação à audiência à qual este narrador se posiciona (para quem ele narra) (RIESSMAN, 2008). Assim, entrevistas narrativas são processos nos quais tanto o narrador quanto o ouvinte tornam eventos e experiências significativos, o que representa, para a autora, um processo de construção (em vez de coleta) da narrativa, processo este que é desenvolvido de maneira colaborativa entre narrador e interrogador (RIESSMAN, 2008).

Dessa maneira, as entrevistas narrativas neste trabalho não foram desenvolvidas a partir de um roteiro com perguntas pré-estabelecidas pelo pesquisador, do tipo check-list, uma vez que a intenção é construir narrações a partir da perspectiva do informante tanto quanto possível. Para tanto, o pesquisador apenas abordou brevemente o tema da pesquisa e, como principal ponto, lançou uma questão simples que representasse seu interesse em relação a este tema em cada entrevista especificamente, objetivando que o informante desenvolvesse narrativas como resposta (RIESSMAN, 1990, 2002, 2008). Sendo assim, na primeira entrevista foi solicitado que eles apontassem situações, momentos ou fases de suas vidas que, de alguma maneira, eles considerassem que impactaram em sua atuação posterior como secretários de educação. Ainda neste primeiro encontro, também foi solicitado que os ex-secretários expusessem quais eram suas percepções, seus entendimentos sobre a prática de gestão educacional.

Na segunda entrevista, foi solicitado que os ex-secretários apontassem quais foram as principais atividades ou áreas de atuação nas quais se engajaram durante os anos nos quais permaneceram no cargo. Além disso, ainda na segunda entrevista, também foi solicitado que eles relatassem sobre como eles atuavam com relação a estas áreas. Por fim, na terceira entrevista, foi solicitado que cada ex-secretário recordasse e narrasse momentos marcantes que tenham vivenciado em meio às áreas de atuação que terão apontado na entrevista anterior (a serem relembradas pelo pesquisador), no intuído de aprofundar o entendimento acerca de sua prática de gestão e também obter narrativas sobre como se deram processos de julgamentos práticos (phronesis) em meio a momentos de desorientação em sua prática de gestão. É importante ressaltar que a definição destes temas-chave para cada entrevista com os informantes não intencionou

que estas fossem realizadas de maneira estanque, no sentido de que os temas abordados em uma entrevista não fossem discutidos nas demais.

No decorrer das primeiras entrevistas com cada ex-secretário, foi possível perceber que havia grande influência de questões político-partidárias permeando suas narrativas sobre sua prática de gestão, fazendo com que o pesquisador decidisse abordar mais profundamente este tema, principalmente durante a segunda e terceira entrevista. Em função disso, foram realizadas dez entrevistas em vez de nove, como previsto, sendo três com Elis, três com Rita e quatro com Raul. Isso se deu uma vez que no caso de Raul foram necessários quatro encontros, pois o pesquisador considerou que seria mais adequado realizar um encontro a mais do que o previsto do que estender demasiadamente o tempo da terceira entrevista para que fosse possível abordar questões referentes a aspectos político-partidários.

Já com relação à Elis, não foram necessários mais de três encontros uma vez que ela encontrava-se com dificuldades para agendar os mesmos, de maneira que ela optou por entrevistas mais longas uma vez que não estava em condições de agendar mais outros encontros. Assim, uma vez que suas entrevistas foram mais longas, foi possível ela abordasse todos os temas de interesse necessários sem precisar de um quarto encontro, como ocorrera com Raul.

Por fim, com relação à Rita, três encontros foram suficientes uma vez que, ao final da primeira entrevista, após o pesquisador apresentar qual seria o tema da entrevista seguinte, a mesma deu sequência à conversa abordando este tema. Assim, ao se mostrar disposta e à vontade para dar sequência à conversa naquele dia, o tema que estava programado apenas para a semana seguinte foi discutido também na primeira entrevista. Nesta ocasião, o pesquisador considerou positivo deixar que Rita desse sequência à sua fala, já abordando o tema que seria do encontro seguinte, ao perceber que ela começou a construir articulações com as narrativas que ela acabara de construir referentes ao que fora tema da primeira entrevista. Em função disso, o pesquisador pode fazer as discussões acerca da questão político-partidária com tranquilidade no terceiro encontro com Rita. Assim, entendidos os aspectos relacionados à coleta de dados desta pesquisa, o tópico a seguir trata do método de análise ao qual os dados foram submetidos.