Os passos para a coleta de dados incluem o estabelecimento dos limites para o estudo, a coleta de informações por meio de observações e entrevistas não estruturadas ou semiestruturadas, de documentos e materiais visuais, assim como
do estabelecimento do protocolo para o registro das informações. Os procedimentos de coleta na pesquisa qualitativa envolvem quatro tipos básicos: observação, entrevistas, documentos e materiais audiovisuais (CRESWELL, 2010). Optou-se neste estudo utilizar como fontes de dados, os documentos e entrevistas. Os documentos são constituídos informações internas das empresas, relatórios anuais, demonstrações financeiras, memorandos e até mesmo publicações externas que mencionem as empresas analisadas e a indústria têxtil, além das condições socioeconômicas do cenário de atuação. Esses documentos permitem obter uma visão das peculiaridades da empresa e de sua conjuntura interna em um dado momento, e também uma visão ampla em relação ao seu ambiente na indústria que atua.
Em um estudo de caso, a entrevista é a principal técnica de coleta de dados, na qual o pesquisador conduz entrevistas que envolvem questões não estruturadas e em geral, abertas, que se destinam a suscitar concepções e opiniões dos participantes (CRESWELL, 2010). Dessa forma, foram utilizadas entrevistas com um roteiro semiestruturado. As entrevistas foram inicialmente, com os sócios da empresa, para entender o histórico e identificar fatos relevantes. Após a constituição da linha do tempo da empresa, foram vistos e determinados quais fatos apresentavam maior relevância para a empresa.
Antes de entrar no campo, os pesquisadores qualitativos planejam sua abordagem ao registro de dados. A proposta deve identificar quê dados o pesquisador vai registrar e os procedimentos para o registro desses dados (CRESWELL, 2010). Utiliza-se um protocolo para o estudo de caso, que contém o instrumento, mas também os procedimentos e as regras gerais que devem ser seguidas ao utilizar esse instrumento, algo essencial ao utilizar um estudo de casos múltiplos. O protocolo é uma das táticas principais para aumentar a confiabilidade da pesquisa de estudo de caso e destina-se a orientar o pesquisador ao conduzir a pesquisa. O protocolo deve apresentar: uma visão geral do projeto do estudo de caso (objetivos, questões e leituras importantes sobre o tópico); procedimentos de campo (credenciais e acesso aos locais do estudo de caso, fontes gerais de informações e advertências de procedimentos); questões do estudo de caso (questões específicas que o pesquisador deve manter em mente ao coletar os dados, planilha para disposição desses dados e fontes em potencial); e um guia para o relatório do estudo de caso (resumo, formato de narrativa e especificação de
quaisquer informações bibliográficas e outras documentações). O protocolo também é muito importante, pois lembra ao pesquisador o tema do estudo de caso e força o pesquisador a antecipar problemas, incluindo o de como os relatórios do estudo de caso devem ser completados (YIN, 2001).
O roteiro de entrevistas deve ser formulado de maneira a orientar o pesquisador durante as entrevistas; deve ter validade científica, sendo submetido a especialistas que possam assegurar a clareza das perguntas e seguindo uma ordem lógica (KLEIN et al., 2015). Através de um roteiro semiestruturado de entrevistas, o objetivo do estudo é compreender a visão dos entrevistados quanto aos fatos ocorridos no histórico da empresa, e como eles articulam suas atividades, podendo averiguar as relações entre esses acontecimentos e as capacidades dinâmicas.
O protocolo de caso e o roteiro de entrevistas utilizados neste estudo foram desenvolvidos tendo como base o protocolo de caso e o roteiro de entrevistas utilizados no trabalho de Caroline Kretschmer (2017), adaptado logicamente à indústria têxtil. Após as devidas alterações no protocolo de entrevista, as questões foram submetidas ao Grupo de Pesquisas Global, para validar o roteiro. O protocolo do caso encontra-se no Apêndice A e o roteiro de pesquisa no Apêndice B.
O roteiro de entrevistas inicia com questões relacionadas à identificação das características da empresa e dos entrevistados. Em seguida foram abordadas questões relativas à compreensão da história da empresa e à identificação de fatos relevantes ocorridos ao longo da trajetória organizacional para delineamento das análises posteriores. Os fatos relevantes serão identificados como uma alteração organizacional drástica, que modifica modelos de negócio, realinha recursos e ativos, e altera formas de desempenhar as atividades. Esses fatos estão relacionados com a operacionalização das capacidades dinâmicas, e podem ser consequência ou até mesmo causa delas. As capacidades dinâmicas das empresas, sejam elas intencionais, ou não, podem ter sido operacionalizadas antes, durante e depois desses fatos. Após esse roteiro de mapeamento da história e dos fatos relevantes, seguem as questões relativas às capacidades dinâmicas ao longo da trajetória organizacional.
Em seguida foi aplicada a entrevista com um sócio de uma empresa, com o objetivo de verificar o nível de profundidade que a entrevista poderia chegar. O resultado foi satisfatório. Posteriormente foram detalhados esses fatos relevantes, oriundos de mudanças drásticas nas organizações, através de entrevistas com
pessoas que participaram ou possuíam ligação com esses fatos. Além dos sócios, colaboradores de diferentes áreas, que estavam presentes quando os fatos aconteceram, para verificar suas percepções a respeito dos efeitos, consequências e mudanças ocorridas a partir desses fatos. Assim, foi possível compreender a visão dos entrevistados quanto aos fatos ocorridos e como a empresa articula suas atividades para averiguar as relações entre os acontecimentos e as capacidades dinâmicas.
Foram realizadas dezoito entrevistas envolvendo dez entrevistados, sendo dez entrevistas na Empresa A (com cinco entrevistados) e oito entrevistas na Empresa B (com cinco entrevistados). O fato de as empresas envolvidas apresentarem menor porte, alguns participantes foram entrevistados em mais de uma oportunidade ao longo da coleta de dados. As entrevistas foram realizadas no período entre o dia 16 de fevereiro de 2018 e 04 de junho de 2018, e os dados relativos aos entrevistados e a cada entrevista efetuada encontra-se de forma resumida no Quadro 02.
Quadro 02 – Entrevistas Empresa Entrevistado/Cargo Tempo de
empresa Data da entrevista Duração
Empresa A E01 – Sócio 20 anos 16/02/2018 19m
13/03/2018 54m
21/05/2018 36m
E02 – Sócio 20 anos 21/05/2018 47m
21/05/2018 58m
E03 – Sócio 10 anos 04/05/2018 1h26
21/05/2018 1h03 Entrevista em grupo
(E01, E02 e E03) 04/05/2018 1h06
E04 – Gerente de
loja 10 anos 21/05/2018 35m
E05 – Bordador 5 anos 21/05/2018 38m
Empresa B E01 – Sócio 38 anos 13/03/2018 1h12
19/04/2018 57m
22/05/2018 20m
E02 – Sócio 38 anos 22/05/2018 51m
E03 – Gerente Administrativo- financeira 20 anos 15/05/2018 1h52 22/05/2018 30m E04 – Encarregada de Costura 22 anos 15/05/2018 25m
produção
Fonte: Elaborado pela autora