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Capítulo II- FUNDAMENTOS TEÓRICOS DE ADMINISTRAÇÃO

2- Coleta de dados

Neste tópico, descrevemos os procedimentos teóricos utilizados para aplicação do método, já adequado à nossa pesquisa. Antes de prosseguirmos, porém, devemos acrescentar que à primeira vista, poderá parecer repetitiva a descrição teórica que doravante faremos ao nos reportarmos freqüentemente aos pressupostos metodológicos já apresentados. Justificamos: pretendemos ser recursivos apenas, intercalando teoria e modo de fazer como forma de facilitar a compreensão para o leitor.

Valer-nos da fenomenologia como método, conforme os autores já citados, requer, inicialmente que tenhamos um discurso. É por intermédio do discurso que teremos acesso às experiências do sujeito da pesquisa para desvelar os fenômenos que nelas se ocultam.

Os fenômenos que buscamos estão presentes na descrição da ação administrativa dos sujeitos da pesquisa. Também estão esses fenômenos presentes nos pressupostos teóricos que fundamentam a administração educacional. Por essa razão, fomos apreender no discurso do sujeito da pesquisa o fenômeno que nos possibilitou classificar a tendência de administração do diretor da escola estadual fundamental e média em Pirassununga-SP. Portanto, fomos buscar no discurso referido o essencial, as invariantes do fenômeno, a essência do princípio de administração, ou seja, o princípio em si, da forma e sentido que o sujeito da pesquisa lhe deu, sem a nossa prévia interpretação.

Conforme classificação de GOMES (1994:58), realizamos a entrevista com roteiro de perguntas do tipo semi-estruturadas, ou seja, as perguntas foram formuladas previamente, e os entrevistados discursaram livremente sobre o tema proposto. Aqui já aparece a noção de “reflexão fenomenológica”, expressa desde a elaboração das questões que nos levariam a desvelar o fenômeno pesquisado. Nesse movimento fenomenológico, entendemos que seria necessário oferecer tempo livre para o sujeito discursar em resposta às nossas indagações, além de transcrever o discurso na íntegra, respeitando-se a linguagem usada pelo sujeito como forma de preservar sua originalidade e o rigor em nossas análises.

A fase da reflexão é a que nos inquietou e nos levou à indagação, dirigindo o nosso “olhar atentivo” para o fenômeno. É também a fase que consistiu na obtenção do discurso e sua leitura integral para perceber o todo, mediante as partes ou os

temas interrogados. E, por último, entendemos e acatamos o conceito de reflexão para incluir todo o movimento fenomenológico, envolvendo a trajetória ou os caminhos que percorremos para chegar a uma conclusão particular para cada sujeito de pesquisa, a busca e descrição da unidade de significado, a redução da unidade em conceito de administração, a interpretação do sentido que o sujeito deu àquela determinada unidade de significado e, finalmente, a classificação quanto à tendência de administração, conforme veremos mais adiante.

Quanto à “redução fenomenológica” cremos ser útil tecer maiores comentários. Ainda na fase de teste do roteiro, observamos que alguns dos nossos entrevistados não sabiam precisar ou conceituar os princípios de administração que lhes propusemos para discurso. Com exceção da função “Planejar”, cujo conceito técnico é amplamente conhecido e de domínio da maioria dos indivíduos entrevistados, ao indagarmos “Como o senhor(a) faz para se desincumbir da função (“Organizar” ou “Coordenar” ou “Controlar”) descrita nas atribuições de seu (sua) cargo?”, as respostas pareciam-nos fora do contexto da pergunta, o que nos fez ver que não sabiam a resposta. Exemplificando: perguntávamos sobre “Organizar” e obtínhamos uma resposta sobre “Coordenar”. Diante desse fato, concluimos que não poderíamos ir diretamente “à coisa” (fenomenologicamente) que investigávamos. Nesse caso, tivemos que reformular a pergunta, dar voltas, mudar o foco da questão até obtermos respostas que indicassem ser aquela ação administrativa a aplicação do conceito da função indagada. Para operacionalizar o recurso da reformulação que mencionamos acima, tomamos um ou mais elementos do conceito da função administrativa indagada. No caso de “Organizar”, por exemplo, reformulamos, passando a usar “prover de meios” constante no conceito dessa função de administração para perguntar “como” e “por que” proporcionava meios para

execução do planejamento. Dessa forma, tivemos como apreender o sentido que o sujeito da pesquisa deu ao desempenhar a função “Organizar”. Da mesma forma, procedemos para as demais variáveis de pesquisa.

Não fosse o recurso da reformulação no roteiro de entrevista, teríamos uma resposta vazia, imprópria para a seleção (redução fenomenológica). Entretanto, ao mudar o foco do inquérito, obtivemos outro conteúdo discursivo. Desse novo conteúdo, excluidas as abstrações e referências não pertinentes ao campo da administração, como as de teor metafísico que não nos interessava, foi possível selecionarmos os fragmentos relativos ao princípio de administração em estudo.

Por outro lado, se a resposta indicasse que o entrevistado dominava o conceito técnico da função indagada, prosseguíamos com as perguntas “como faz” e “por que faz”. Só então prosseguimos na entrevista para, ao término da mesma, realizarmos outras exclusões, agora dentro da própria administração. Portanto, a seleção ou redução fenomenológica acabou sendo possível mesmo na fase de pré- análise, ou seja, no momento em que transcrevíamos para o quadro de análise os fragmentos relevantes e referentes aos princípios de administração. Nesse momento sim, descrevemos ou, reduzimos. Salientamos, entretanto, que a reformulação mencionada em nada alterou o andamento da pesquisa porque a entrevista foi gravada e posteriomente transcrita. O trabalho de redução foi realizado a partir do discurso transcrito.

Justificamos a gravação e depois a transcrição do discurso em razão de entendermos com a fenomenologia que a análise baseada no discurso oral é especialmente traiçoeira para a noção de “suspensão”, particularmente se o sujeito da pesquisa faz um discurso entrecortado. Pelo árduo trabalho de transcrição sentimo-

nos recompensado porque a redução e a suspensão fenomenológica tornaram-se mais fáceis e mais precisas do ponto de vista metodológico.

Mediante a análise dos dados colhidos no pré-teste do roteiro da entrevista, verificamos que as referências bibliográficas que havíamos selecionado na fase de projeto de pesquisa deveriam ser alteradas para que pudessem nos auxiliar melhor na identificação das tendências de administração que havíamos encontrado. Assim o fizemos: ora acrescentamos novas bibliografias, ora suprimimos, procedimento esse que resultou na referência bibliográfica definitiva, a qual vai citada nesta tese.

Na segunda rodada de entrevistas, quando realizamos as 12 últimas, ou seja, aquelas que usamos em nossas análises, decidimos adotar uma forma mais livre de indagação do que aquela que havíamos utilizado na fase de pré-teste. Isto se fez necessário e possível porque a nossa intuição e experiência sobre o tema pesquisado indicava-nos que, em determinadas situações, ainda havia mais a explorar na experiência do sujeito de pesquisa. Assim fizemos, o que nos deu enorme contribuição.

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