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4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.3. Coleta de dados 32

Os dados foram coletados de maio a dezembro de 2011. Para garantir a padronização das coletas, houve um treinamento com todos os integrantes da equipe e foi disponibilizado, ainda, um manual completo de todos os procedimentos metodológicos a serem seguidos para a coleta de dados, a fim de que eventuais dúvidas fossem eliminadas (ANEXO B).

4.3.1. Características demográficas e fatores de risco cardiovascular

Para coleta dos dados demográficos e comportamentais, foi utilizado um questionário construído e validado para esta população, com objetivo de avaliar o estilo de vida e os comportamentos de risco à saúde. Este instrumento foi construído

vem sendo utilizado em estudos epidemiológicos com adolescentes (BEZERRA et al., 2009; TASSITANO et al., 2010; TENORIO et al., 2010).

O primeiro módulo do questionário é referente às características demográficas, dentre elas: gênero, série, idade, zona de moradia (rural ou urbana), trabalho e questões referentes à condição econômica. Além disso, o questionário aborda outros dez módulos, referentes à saúde do adolescente (atividades físicas, consumo de álcool e outras drogas, hábitos alimentares, higiene, sentimentos e relacionamentos, comportamentos na escola e em casa, comportamento sexual, tabagismo, violência e controle da pressão arterial).

A aplicação do questionário foi realizada na forma de entrevista coletiva com todos os alunos em sala de aula com duração deaproximadamente 40 minutos.

4.3.2. Avaliação antropométrica

Os adolescentes foram pesados descalços e sem casacos, em uma balança automática, com precisão de 0,1 kg. A estatura foi medida por meio de um estadiômetro de madeira com precisão de 1cm m. O índice de massa corporal foi calculado pelo quociente entre a massa corporal e a estatura ao quadrado (kg/m²). A circunferência do abdômen foi mensurada com fita métrica flexível, com precisão de 0,1 centímetros, sendo utilizado como ponto de referência a cicatriz umbilical (LOHMAN; ROCHE; MARTORELL, 1991).

4.3.3. Medida da pressão arterial

A medida de pressão arterial foi realizada por meio do equipamento Omron HEM 742, o qual consiste em um aparelho eletrônico e digital da medida da pressão arterial de braço, com deflação e inflação automática de ar, validada para adolescentes (CHRISTOFARO et al., 2009). O método de medida desse aparelho é oscilométrico, com variação da pressão arterial de 0 a 280 mmHg.

Para a medida de pressão arterial, os adolescentes permaneceram por cinco minutos na posição sentada, momento em que foi explicado o procedimento das medidas. As medidas foram realizadas no braço direito e foram realizadas três medidas, com um minuto de intervalo entre elas, com tamanho do manguito adequado para a circunferência do braço do adolescente. O valor da pressão arterial utilizado nas análises foi a média das duas últimas medidas, conforme recomendado (VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, 2010).

4.3.4. Variabilidade da frequência cardíaca

Previamente a realização da coleta da VFC, os adolescentes foram questionados sobre a ingestão de bebidas contendo cafeína (refrigerantes, café, chás preto e energético) e álcool, bem como sobre a utilização de cigarros ou outras drogas. Além disso, foi perguntado acerca da prática de exercícios físico nas últimas 24 horas.

Após os questionamentos, os adolescentes inclusos foram para uma sala silenciosa dentro da própria escola, na qual a coleta da VFC foi realizada. Para tanto, os adolescentes permaneceram na posição supina por 10 minutos, período no qual os intervalos RR foram obtidos por um monitor de frequência cardíaca (POLAR, RS 800CX, USA), posicionado no tórax sobre o processo xifoide (figuras 1 e 2).

Figura 1. Posicionamento do monitor de frequência cardíaca nos adolescentes.

Os intervalos RR foram armazenados no próprio monitor de frequência cardíaca, cuja capacidade de armazenamento é de 99 sinais. A identificação dos adolescentes foi realizada através da anotação da data e hora da coleta no questionário. Após a coleta, os intervalos RR foram exportados para o programa

Kubios HRV (Biosignal Analysis and Medical Imaging Group, Joensuu, Finlândia), no

qual as análises foram realizadas (domínio do tempo e da frequência) (figura 4).

Figura 3. Layout do programa Kubios HRV.

Esse programa foi operacionalizado por um único pesquisador, devidamente treinado e cego para as demais variáveis do estudo. O coeficiente de correlação intraclasse intra-avaliador variou de 0,982 a 1,00. Os parâmetros do domínio do tempo SDNN, RMSSD e PNN50, foram obtidos (Heart rate variability. Standards of measurement, physiological interpretation, and clinical use. Task Force of the European Society of Cardiology and the North American Society of Pacing and Electrophysiology, 1996). Os parâmetros do domínio da frequência foram obtidos pela técnica da análise espectral da VFC. Períodos estacionários do tacograma, com pelo menos cinco minutos, foram decompostos nas bandas de baixa e alta frequência pelo método autorregressivo, com a ordem do modelo de 12 pelo critério de Akaike. Foram consideradas como fisiologicamente significativas às frequências entre 0,04 e 0,4 Hz, sendo o componente de BF representado pelas oscilações entre 0,04 e 0,15 Hz e o componente de AF entre 0,15 e 0,4 Hz. O poder de cada componente espectral foi calculado em termos normalizado (un). A normalização foi

realizada dividindo-se o poder de cada banda pelo poder total, do qual foi subtraído o valor de banda de muito baixa frequência (<0,04Hz), sendo o resultado multiplicado por 100. As bandas BF a AF normalizadas foram consideradas,

respectivamente, como a modulação predominantemente simpática e

parassimpática do coração e a razão entre essas bandas (BF/AF), como o balanço simpato-vagal cardíaco (Heart rate variability. Standards of measurement, physiological interpretation, and clinical use. Task Force of the European Society of Cardiology and the North American Society of Pacing and Electrophysiology, 1996).

O coeficiente de correlação intraclasse intra-sujeitos, com uma semana de intervalo, variou de 0,68 a 0,91 (n=27).

4.4. Variáveis do estudo

Para a análise dos fatores associados foram consideradas como variáveis dependentes os parâmetros da VFC, os quais foram categorizados em quartis. As variáveis independentes adotadas nessas análises foram: nível de atividade física habitual, atividades esportiva, obesidade abdominal, excesso de peso e pressão arterial elevada.

A forma de mensuração e classificação das variáveis independentes são apresentadas nos subtópicos seguintes.

4.4.1. Nível de atividade física habitual

A operacionalização do nível de atividade física habitual foi realizada mediante uma pergunta: “durante uma semana típica (normal), em quantos dias você é fisicamente ativo por um total de pelo menos 60 minutos ao dia?” (questão 24, módulo 2) . Foram considerados insuficientemente ativos os adolescentes que relatarem realizar menos que cinco dias na semana.

4.4.2. Atividades esportiva

A medida da prática de atividades esportiva foi mensurada a partir da pergunta “você realiza, regularmente, algum tipo de atividade física no seu tempo livre, como exercícios, esportes, danças ou artes marciais?” (questão 21, módulo 2). Sendo considerados não praticantes aqueles que responderam negativamente.

4.4.3. Indicadores de obesidade

Foram considerados adolescentes com obesidade abdominal aqueles que apresentaram circunferência abdominal acima do percentil 80 para sua respectiva idade (TAYLOR et al., 2000).

A classificação dos casos de excesso de peso nos adolescentes levou em consideração o estado nutricional, sendo considerado adolescentes com excesso de peso aqueles com índice de massa corporal acima do percentil 85 seguindo os critérios sugeridos por Cole et al., (2000).

4.4.4. Pressão arterial elevada

Foram considerados adolescentes com pressão arterial elevada aqueles cujos valores de pressão arterial sistólica e/ou diastólica foram acima do percentil 95, recomendado para sua respectiva idade e estatura (VI Diretrizes Brasileiras de

Hipertensão, 2010).

4.5. Tabulação e análise estatística

A tabulação dos dados foi efetuada no programa EpiData 3.1, recorrendo-se à entrada dupla. Posteriormente, os arquivos de dados foram comparados por meio da ferramenta “validar dupla digitação” desse programa, com intuito de detectar e corrigir possíveis erros de digitação. Todos os erros foram identificados e corrigidos com base nos questionários. Procedimentos eletrônicos de controle de entrada de dados também foram adotados, mediante utilização de controles de limites e amplitude de valores em cada campo de digitação. Em seguida, os dados foram

exportados para o programa Statistical Package for the Social Sciences, versão 20,

no qual as análises estatísticas foram realizadas.

Para descrição de todos os parâmetros da VFC, foram utilizados a média ± desvio padrão, bem como os percentis 5, 10, 25, 50, 75, 90 e 95. A análise de variância de um fator foi utilizada para comparar os parâmetros da VFC de acordo com a idade dos adolescentes.

A análise de regressão logística binária foi realizada para analisar a associação entre nível de atividade física habitual (ativo=0, insuficientemente ativo=1), atividades esportiva (sim=0, não=1), obesidade abdominal (não=0, sim=1), excesso de peso (não=0, sim=1) e pressão arterial elevada (não=0, sim=1)

(variáveis independentes) com os parâmetros da VFC (variáveis dependentes). Os parâmetros da VFC foram classificados em quartis e depois dicotomizados (1º quartil vs. 2º ao 4º quartil para o SDNN, a RMSSD, o PNN50 e a banda de AF; e 4º quartil vs. 1º ao 3º quartil para o BF/AF e a banda de BF). Estas análises foram realizadas, ajustando-as para idade e período da coleta (manhã, tarde e noite), na tentativa de minimizar o efeito do ciclo circadiano na VFC.

A avaliação do modelo foi realizada mediante ao teste de Hosmer-Lemeshow.

A análise de multicolinearidade foi realizada assumindo um variance inflation factors

menor que cinco e a tolerância abaixo de 0,20. O nível de significância adotado para todas as análises foi um valor de p<0,05.

5. RESULTADOS

Foram visitadas 84 escolas, avaliando um total de 7195 estudantes. Após adotar os critérios de exclusão, a amostra final do presente estudo foi de 1152 adolescentes com idade entre 14 e 19 anos, conforme apresentado na figura 2.

6264 2161 364 Recusas 3739 Feminino 2525 932 Critérios de exclusão 17 Questionários mal preenchidos 1212 1152 60

Sinais com baixa qualidade

7195

12 com idade < 14 anos 919 com idade >19 anos

Figura 4. Fluxograma de inclusão dos adolescentes no estudo.

Na tabela 1 estão exibidas as características demográficas dos adolescentes. A maior parte dos adolescentes tinha entre 17 e 19 anos, em sua maioria de cor da pele não branca, residente na zona urbana das cidades e estudavam no período diurno.

Tabela 1. Características demográficas dos adolescentes (n=1152).

Variável n % Faixa etária 14 a 16 anos 542 47,0 17 a 19 anos 610 53,0 Cor da pele Branca 321 28,0

(continuação tabela 1) Não branca 825 72,0 Local de moradia Zona rural 239 20,8 Zona urbana 911 79,2 Turno de estudo Diurno 849 73,7 Noturno 303 26,4

Na figura 5 está exibida a prevalência dos fatores de risco cardiovascular nos adolescentes.

Figura 5. Prevalência dos fatores de risco nos adolescentes (n=1152).

Níveis insuficientes de atividade física foram presentes em 64,4% dos adolescentes, enquanto 21,8% não praticavam atividades esportivas. A prevalência de obesidade abdominal e excesso de peso foram de 15,4% e de 16,6%, respectivamente. Ademais, dentre os adolescentes que apresentavam obesidade

abdominal 84,2% também apresentavam excesso de peso. A pressão arterial elevada estava presente em 9,7% dos adolescentes.

Na tabela 2 estão exibidas as comparações dos parâmetros da VFC entre as idades dos adolescentes. Não houve diferença estatisticamente significante em nenhum dos parâmetros da VFC entre as idades dos adolescentes (p>0,05).

Tabela 2. Comparação dos parâmetros da variabilidade da frequência cardíaca de acordo com a idade (n=1152). Parâmetros da VFC 14 anos (n=43) 15 anos (n=174) 16 anos (n=326) 17 anos (n=334) 18 anos (n=188) 19 anos (n=87) p Domínio do tempo SDNN (ms) 59,1 ± 15,3 65,3 ± 25,1 60,7 ± 22,7 62,1 ± 23,2 61,3 ± 25,2 61,9 ± 25,6 0,401 RMSSD (ms) 51,2 ± 22,6 56,4 ± 30,3 54,9 ± 29,2 54,3 ± 28,2 54,7 ± 32,8 53,7 ± 30,6 0,924 PNN50 (%) 27,9 ± 18,8 30,0 ± 20,6 30,1 ± 21,3 29,3 ± 20,0 29,0 ± 20,9 28,6 ± 20,3 0,968 Domínio da frequência BF/AF 1,50 ± 1,01 1,39 ± 0,92 1,40 ± 1,10 1,46 ± 1,11 1,47 ± 1,14 1,53 ± 1,13 0,869 BF (un) 54,0 ± 16,2 53,0 ± 14,5 51,9 ± 15,8 53,2 ± 15,5 53,1 ± 15,9 53,8 ± 16,5 0,846 AF (un) 46,0 ± 16,2 47,0 ± 14,5 48,1 ± 15,8 46,8 ± 15,5 46,9 ± 15,9 46,2 ± 16,5 0,846

Valores apresentados em média e desvio padrão. SDNN - desvio-padrão de todos os intervalos RR, RMSSD – raiz quadrada da

média do quadrado das diferenças entre os intervalos RR normais adjacentes, PNN50 – percentagem dos intervalos adjacentes

A média, desvio padrão e os percentis dos parâmetros da VFC são apresentados na tabela 3.

Tabela 3. Análise descritiva dos parâmetros da variabilidade da frequência cardíaca em adolescentes (n=1152).

Parâmetros da VFC Média ± DP Percentil

5 10 25 50 75 90 95 Domínio do tempo SDNN (ms) 61,9 ± 23,5 29,4 34,9 44,5 58,4 76,5 92,9 103,7 RMSSD (ms) 54,5 ± 29,4 18,2 22,6 33,2 49,6 68,9 94,2 113,0 PNN50 (%) 29,4 ± 20,4 1,1 3,0 11,0 28,1 45,1 58,3 66,2 Domínio da frequência BF/AF 1,44 ± 1,08 0,36 0,47 0,71 1,14 1,80 2,82 3,49 BF (un) 53,0 ± 15,6 26,7 32,2 41,6 53,2 64,3 73,8 77,7 AF (un) 47,0 ± 15,6 22,3 26,2 35,7 46,8 58,4 67,8 73,3

DP – desvio-padrão; SDNN - desvio-padrão de todos os intervalos RR, RMSSD –

raiz quadrada da média do quadrado das diferenças entre os intervalos RR normais adjacentes, PNN50 – percentagem dos intervalos adjacentes com mais de 50ms, BF – banda de baixa frequência e AF – banda de alta frequência, AF/BF - balanço simpatovagal.

Na tabela 4 estão apresentadas as análises da associação dos fatores de risco cardiovascular com os parâmetros da VFC no domínio do tempo.

Tabela 4. Odds-ratio (OR) e intervalo de confiança de 95% (IC95%) dos fatores de risco à saúde com os parâmetros do domínio do tempo da variabilidade da frequência cardíaca.

Fatores de risco SDNN RMSSD PNN50

OR (IC95%) P OR (IC95%) p OR (IC95%) p Nível de atividade física habitual

Ativo 1 1 1 Insuficientemente ativo 1,39 (1,04-1,86) 0,024 1,15 (0,87-1,53) 0,325 1,16 (0,88-1,54) 0,294 Pratica de esportes Sim 1 1 1 Não 1,73 (1,27-2,35) <0,001 1,70 (1,25-2,01) 0,001 1,68 (1,23-2,28) 0,001 Obesidade abdominal Ausência 1 1 1 Presença 1,29 (0,90-1,84) 0,162 1,51 (1,07-2,15) 0,020 1,55 (1,09-2,19) 0,014 Excesso de peso Ausência 1 1 1 Presença 1,24 (0,87-1,75) 0,232 1,37 (0,97-1,92) 0,076 1,44 (1,03-2,03) 0,035

Pressão arterial elevada

Ausência 1 1 1

Presença 1,47 (0,96-2,25) 0,074 2,09 (1,39-3,14) <0,001 2,08 (1,38-3,12) <0,001

Ajustado para faixa etária e turno de estudo. SDNN - desvio-padrão de todos os intervalos RR, RMSSD – raiz quadrada da média

do quadrado das diferenças entre os intervalos RR normais adjacentes, PNN50 – percentagem dos intervalos adjacentes com

O nível insuficiente de atividade física associou-se com menor SDNN (p<0,05), a não prática de atividades esportivas foi associada com menor SDNN, RMSSD e PNN50 (p<0,01), a obesidade abdominal foi associada com baixo RMSSD e PNN50 (p<0,05), o excesso de peso foi associado com menor PNN50 (p<0,05) e a pressão arterial elevada foi associada com baixa RMSSD e PNN50 (p<0,05).

Na tabela 5 estão apresentadas as análises da associação dos fatores de risco cardiovascular com os parâmetros da VFC no domínio da frequência.

O nível insuficiente de atividade física, a não prática de atividades esportiva e o excesso de peso não foram associados com nenhum parâmetro da VFC (p>0,05). A obesidade abdominal e a pressão arterial elevada foram associadas com menor AF e maior BF/AF e BF (p<0,05).

Tabela 5. Odds-ratio (OR) e intervalo de confiança de 95% (IC95%) dos fatores de risco à saúde com os parâmetros do domínio da frequência da VFC.

Fatores de risco BF/AF BF AF

OR (IC95%) P OR (IC95%) p OR (IC95%) P Nível de atividade física

Ativo 1 1 1

Insuficientemente ativo 1,07 (0,81-1,42) 0,638 1,08 (0,82-1,44) 0,575 1,08 (0,82-1,44) 0,575

Pratica atividades esportivas

Sim 1 1 1 Não 1,37 (1,00-1,87) 0,051 1,33 (0,98-1,82) 0,070 1,33 (0,98-1,82) 0,070 Obesidade abdominal Ausência 1 1 1 Presença 1,51 (1,07-2,15) 0,021 1,48 (1,04-2,10) 0,028 1,48 (1,04-2,10) 0,028 Excesso de peso Ausência 1 1 1 Presença 1,40 (0,99-1,98) 0,053 1,37 (0,97-1,94) 0,071 1,37 (0,97-1,94) 0,071

Pressão arterial elevada

Ausência 1 1 1

Presença 1,85 (1,22-2,81) 0,004 1,81 (1,20-2,74) 0,005 1,81 (1,20-2,74) 0,005

Ajustado para faixa etária e turno de estudo. BF – banda de baixa frequência e AF – banda de alta frequência, BF/AF - balanço

6. DISCUSSÃO

Os principais resultados do presente estudo foram: (i) o estabelecimento de valores normativos para os parâmetros no domínio do tempo e da frequência em uma grande amostra de adolescentes; (ii) os níveis insuficientes de atividade física habitual tiveram associação apenas com menor SDNN, enquanto a não prática de atividades esportivas foi associada com o SDNN, a RMSSD e o PNN50; (iii) a obesidade abdominal foi associada com a RMSSD, o PNN50, o BF/AF e as bandas BF e AF, enquanto que o excesso de peso apresentou associação apenas com o PNN50; e (iv) a pressão arterial elevada foi associada com todos os parâmetros da VFC, exceto o SDNN.

Michels et al., (2012) ao estabelecerem valores normativos para crianças com idade entre cinco e 10 anos, encontraram valores de mediana superior ao presente estudo para o SDNN (67 vs. 58), a RMSSD (73 vs. 50), o PNN50 (41 vs. 28) e a banda de AF (62 vs. 58), enquanto a banda BF (38 vs. 53) e BF/AF (0,62 vs. 1,14) foram inferiores. Por outro lado, Kim e Woo (2011) realizaram estudo com 3483 indivíduos com idade entre 18 e 65 anos e encontraram valores médios inferiores para o SDNN (39,6 vs. 61,9) e a RMSSD (29,7 vs. 54,5), enquanto o BF/AF foi superior (2,20 vs. 1,44). Park, Lee e Jeong (2007) observaram resultados semelhantes ao analisarem 637 adultos (SDNN [35,9 vs. 61,9], RMSSD [27,3 vs. 54,5] e BF/AF [2,20 vs. 1,44]). Portanto, pode-se observar que adolescentes apresentam uma menor VFC comparado às crianças e maior VFC comparado a adultos, o que pode ser decorrente do processo maturacional (CHEN et al., 2012) e a baixa prevalência de fatores de risco cardiovascular comparado a adultos.

A análise descritiva dos parâmetros da VFC no presente estudo foi realizada sem a estratificação por idade, pois não foram observadas diferenças significantes nos parâmetros da VFC entre as idades. Esses resultados são diferentes dos observados em outras populações. Michels et al.. (2012) analisaram 460 crianças com idade entre cinco e 10 anos e verificaram associação positiva dos parâmetros da VFC nos domínios do tempo e da frequência com a idade. Kim e Woo (2011) observaram associação negativa entre a idade e os parâmetros SDNN e RMSSD em adultos. Da mesma forma, outros estudos na literatura com adultos também observaram diferenças entre as idades (FAGARD; PARDAENS; STAESSEN, 1999; FELBER DIETRICH et al., 2006; PARK; LEE; JEONG, 2007). Diante disto, é

possível supor que, em grupos populacionais com uma pequena variação de idade, como nos adolescentes do presente estudo, a idade não seja um fator determinante dos parâmetros da VFC, em consequência de um nível de maturação similar e também por uma homogeneidade quanto ao tempo de exposição aos fatores de risco entre os adolescentes.

Os valores normativos são comumente utilizados na prática clínica no monitoramento do crescimento corporal e em marcadores de risco cardiovascular em crianças e adolescentes, cujo interesse reside na detecção de valores extremos, indicando possíveis anormalidades (COLE et al., 2000; TAYLOR et al., 2000; VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, 2010). No presente estudo, optou-se pela utilização de percentis que indicam à posição de um indivíduo em uma determinada população, permitindo estabelecer valores normativos (LEFEVRE, 1990). Tem sido aceito que indivíduos que possuem valores de uma variável entre os 25% mais baixos ou mais altos (1º e 4º quartil, respectivamente) representam valores extremos para população estudada (LEFEVRE, 1990). Portanto, no presente estudo, foi adotado como categoria de risco para os parâmetros da VFC o 1º quartil para o SDNN, a RMSSD, o PNN50 e a banda de AF e o 4º quartil para o BF/AF e a banda de BF.

Os valores normativos da VFC descritos no presente estudo foram associados com fatores de risco cardiovascular, de forma que os adolescentes que apresentavam os fatores de risco tiveram menor modulação parassimpática e maior modulação simpática cardíaca, comparado aos seus pares sem fatores de risco. Esses resultados sugerem que a exposição a fatores de risco cardiovascular modula os parâmetros da VFC já na adolescência.

No presente estudo, o nível de atividade física foi mensurada de duas formas, quais sejam, atividade física habitual e prática de atividades esportivas. A primeira está relacionada às atividades ocupacionais diárias (locomoção e atividades domésticas) e às atividades de lazer, as quais comumente são mensuradas pela duração e a quantidade de dias em que a prática foi realizada (BAECKE; BUREMA; FRIJTERS, 1982). As atividades esportivas, por sua vez, são direcionadas exclusivamente às atividades de lazer, e na maioria das vezes, são realizadas com maior intensidade do que as atividades habituais.

Especificamente com relação ao nível de atividade física habitual, os resultados do presente estudo mostraram que os adolescentes com níveis

insuficientes de atividade física apresentavam menores valores de SDNN. Todavia, nenhum outro indicador da VFC foi associado aos níveis insuficientes de atividade física. Esses resultados corroboram com estudo anterior, realizado com 99 adolescentes saudáveis, que também observou associação negativa entre a prática de atividade física e o SDNN, mas não observou associação com as bandas de BF e AF (HENJE BLOM et al., 2009). Esses resultados sugerem que a prática de atividade física habitual apresenta uma fraca associação com a VFC, o que pode ser atribuído pelo menos em parte a baixa intensidade dessas atividades. De fato, Gutin et al., (2005) ao avaliarem 304 adolescentes, observaram associação entre o nível de atividade física moderada ou vigorosa com os parâmetros do domínio do tempo (RMSSD) e da frequência (AF, BF e BF/AF) da VFC. Da mesma forma, Buchheit et al., (2007) ao avaliarem 67 adolescentes, com idade média de 12 anos, observaram que apenas a prática de atividade física intensa foi associada ao menor BF/AF.

A influência da intensidade da atividade física e os indicadores da VFC também foram identificados no presente estudo. Os adolescentes que não praticavam atividades esportivas apresentaram menores valores de SDNN, RMSSD, PNN50. A influência da atividade física de alta intensidade nos parâmetros da VFC tem sido explicada pelos maiores efeitos na aptidão cardiorrespiratória dos praticantes (GUTIN et al., 2005; MICHELS et al., 2012), visto que a aptidão cardiorrespiratória é um forte preditor da VFC. De fato, estudos mostram que crianças e adolescentes que praticam atividades esportivas, mesmo que na forma de lazer, apresentam melhor aptidão física comparados aos que não praticam (KLEIN-PLATAT et al., 2005; DAGAN et al., 2013). Nesse sentido, Gutin et al. (2005) observaram que aumento da modulação parassimpática correlacionou-se com o aumento da aptidão cardiorrespiratória em adolescentes. Corroborando esses resultados, Michels et al. (2012) verificaram associação positiva entre consumo máximo de oxigênio e a RMSSD, o PNN50 e a banda de AF, em meninos com idade entre cinco e 10 anos. Dessa forma, é possível que os praticantes de atividades esportivas do presente estudo tenham maior aptidão física, e consequentemente, uma melhor VFC.

No presente estudo foi observado que os adolescentes com obesidade abdominal ou excesso de peso apresentavam maior modulação simpática e menor modulação parassimpática cardíaca, comparado aos seus pares não obesos e

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