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2. A FOTOGRAFIA E A PESQUISA CIENTÍFICA

2.2. Coleta de dados visuais

Olhar para uma imagem e constatar que a mesma é um objeto com conteúdo de conhecimento, tal qual um texto, às vezes é difícil, para o aluno que não está acostumado a ver fotografias e imagens em sala de aula, com esse caráter.

Até mesmo em seus trabalhos elaborados dentro da faculdade, onde o mesmo utiliza-se de fotografias na concepção de um auxílio ao texto, uma ilustração e não propriamente com o conteúdo em si. Logo, olhar para uma fotografia e decidir que a mesma é objeto de estudo só é possível mediante um certo conhecimento prévio.

A linguagem fotográfica para constituir-se em um meio eficiente de registrar e difundir imagens está condicionada pelo nível de informação, capacidade de olhar e habilidade técnica de quem a utiliza. (ACHUTTI, 1997, p. 65)

Para John Collier (1973), não há nada mais precioso no registro de uma realidade que uma foto. Ao entrar em uma caverna, por exemplo, e se deparar com alguns escritos nas paredes, o que seria mais óbvio de se fazer para registrar tais escritos, tentar desenhar igual como se está na rocha, escrever o que se está vendo, ou fotografar? Enfim, fica claro, nesse caso, que a foto guardará com maior verossimilhança o que se está diante dos olhos.

O pesquisador em educação, imagem e pesquisa, o Dr. Gustavo deixar passar alguns detalhes, mas à medida que se assiste de novo começa-se a ver novos detalhes antes não percebidos. E diferentes pessoas acabam por ver, cada uma, algo que a outra não conseguiu ver. Essa é outra façanha da imagem, por ela está ali e poder ser repetida à visão, permite que se faça uma análise bem mais acurada e precisa sobre o que se vê. Como diz Goethe:

Olhar apenas para uma coisa não nos diz nada. Cada olhar leva a uma inspeção, cada inspeção a uma reflexão, cada reflexão a uma síntese, e então podemos dizer que, com cada olhar atento, estamos teorizando. (GOETHE apud LEITE, 1998, p.40)

E a medida que a imagem é destinada a uma futura análise, ou seja, a um objeto de pesquisa, ela acrescenta dados que em um primeiro momento não são percebidos pelo pesquisador. Quando se anota o que está vendo, essa anotação é uma descrição que permite uma futura interpretação e análise por parte de outras pessoas, mas só se pode trabalhar em cima do que está escrito e evidentemente algo pode ter escapado ao olho do pesquisador no momento de sua ação em campo.

Se sua pesquisa foi feita por meio da fotografia, maior é a possibilidade de poucos dados escaparem, pois por mais que o próprio pesquisador não tenha visto ou não tenha dado relevância, outra pessoa ao ver a foto, dará importância e conseguirá ver o que ele não viu, pois a foto registrou.

(BITTENCOURT, 1998)

Por exemplo, na fotografia da figura 20:

Figura 20 - Crianças e suas casas, na subida da Colina do Horto, onde se situa a estátua do Padre Cícero, em Juazeiro do Norte-CE. Fotografia de Jari Vieira. 2001

A descrição poderia ser feita textualmente da seguinte forma: do lado esquerdo e na metade da imagem, três crianças com idades entre seis e dois anos de idade, sentadas em chão de barro, em frente a uma casa de taipa, ao lado uma casa bem maior, com também uma criança, uma menina de uns 10 anos de idade, em pé na calçada da casa, por volta das 16h30 da tarde.

Ao que parece, a descrição está completa, relatou tudo. Mas, se no lugar do texto fosse utilizada há fotografia acima, haveria assim a possibilidade de se analisar mais precisa e detalhadamente, extraindo tudo que foi acima relatado.

A mais detalhes a se acrescentar na imagem acima como, por exemplo, a escada formada no barro, que dá acesso a casa menor, o enorme alicerce da casa maior, chegando a ser mais alto que a casa de taipa, enfim, detalhes que dependendo da pesquisa, podem ser como podem não ser relevantes, mas de qualquer forma essa é uma decisão que cabe ao pesquisador.

Espera-se de um estudante e pesquisador em arquitetura que se tenha o cuidado de sempre buscar a fonte primária da fotografia, com a melhor resolução, tamanho, para poder ampliar e checar outros detalhes, não se deve simplesmente confiar na descrição textual feita por outro pesquisador.

Deve também procurar por outras fotografias de outros fotógrafos, pois cada um tem o seu modo de ver, de acordo com John Berger (1999):

Cada vez que olhamos uma fotografia estamos cientes, por mais superficialmente que seja, do fotógrafo selecionando aquela cena entre uma infinidade de outras possíveis. [...] Contudo, embora toda imagem incorpore uma maneira de ver, nossa percepção ou apreciação de uma imagem depende também de nosso próprio modo de ver. (BERGER, 1999, p. 12)

E se um outro pesquisador fosse descrever a mesma foto, como seria, qual seria a interpretação, será que ele iria dar a atenção aos mesmos itens descritos, a mais ou a menos itens?

Enfim, a fotografa dá ao pesquisador a fonte de informações primarias sobre o assunto, sendo tida na arquitetura como parte importante no desenvolvimento do inventário de um projeto. De forma que se um arquiteto ou estudante de arquitetura que está desenvolvendo seu Trabalho final de

ir direto as fotos e não somente aos comentários e descrições das mesmas e fazer suas próprias deduções. “Por dedução e síntese, é possível obter informações que não se encontram diretamente visíveis na fotografia”.

(BORDIEU apud LEITE, 1998, p.20)

Em sala de aula, pode o professor passar pela situação de, ao mostrar algumas fotografias para seus alunos, um deles conseguir perceber e comentar sobre um detalhe da foto que antes não era percebido nem mesmo pelo próprio professor. Logo a imagem permite essa reavaliação constante, onde aquela fração de segundos capturada pelo fotógrafo pode ser analisada pelo tempo que for necessário, por pessoas diferentes, de áreas distintas, sozinho ou em grupo, o que permite a uma pesquisa científica uma maior extensão nos seus dados obtidos.

Toda imagem é produzida com uma finalidade, o que a torna comprometida com uma intenção objetiva ou subjetiva. Essa intenção pode ser identificada pela maneira com que o fotógrafo se serve dos elementos constituintes da linguagem fotográfica.

(RIBEIRO, 1996, p.13)

Atualmente, com o rápido e fácil acesso a imagens através da internet, deve-se tomar um certo cuidado com o tipo de fotografia que deve-se busca e o que deve-se consegue para o seu trabalho de pesquisa. Fator fundamental na coleta de dados visuais é a fonte de sua imagem, por mais que esteja disponível virtualmente, alguém fotografou, que pode ser fotógrafo ou não, pesquisador, arquiteto, ou não.

O TFG (trabalho final de graduação), começa com a coleta de dados, seja de fotografias, seja de textos e são essas imagens e textos que vão dar o passo inicial para que seja desenvolvido um bom trabalho, logo deve-se ter um certo cuidado em como e de onde se esta retirando esse material.

Nas ciências sociais, boa parte das imagens utilizadas para pesquisa são advindas de um tipo específico da fotografia que é a Fotografia Etnográfica, ou seja, existe um ramo que se dedica especificamente a produzir fotografias voltadas para a pesquisa.