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CAPÍTULO 2 A ABORDAGEM METODOLÓGICA

2.1.2 Coleta e análise de dados

A implementação de programas que se operacionalizam através de diferentes organizações e setores é complexa e são múltiplas as interelações possíveis entre os atores envolvidos, bem como os fluxos de interesses, processos decisórios, arenas institucionais, etc. A compreensão destes processos a partir da analise documental, do funcionamento dos espaços institucionais, além da perspectiva dos diferentes atores envolvidos pode contribuir para uma potencialização de fontes de informação. Neste sentido segundo Mazmaninam devem ser consideradas as perspectivas dos diversos atores envolvidos quais sejam (1) as agências formuladoras do desenho operacional inicial do programa a nível central (2) os atores mais diretamente relacionados à implementação do programa no nível local (3) os usuários do programa (Mazmanian & Sabatier,1989).

Carol Weiss (1995) ressalta que a teoria do programa orienta a análise, mostrando o que é mais importante. No entanto, se faz necessário incorporar variáveis contextuais que apontarão aquilo que precisa ser analisado tendo em vista sua interferência no programa.

Sendo assim, no que se refere à análise dos parâmetros formais de referência do programa foram considerados especialmente a legislação vigente sobre o Programa Bolsa Família e o campo da Assistência Social, que são elementos importantes da dimensão institucional. Estes documentos oficiais foram compreendidos também como resultado de um processo político, e delimitam de alguma forma as possibilidades da implementação no plano local, seja através dos recursos previstos, das atribuições previstas para os diferentes atores locais, dentre outros.

Sendo os discursos coletados, nosso elemento de estudo, Navarrete & Silva (2009) apontam que ao analisar os dados, a intenção é contextualizar os enunciados gerais dos entrevistados frente à sua historia, inserção no contexto sócio-histórico mais geral; conjuntura sócio-econômica e política encontrada no cenário, ou seja, interpretar e refletir sobre o que foi descrito, à luz de conhecimentos mais amplos, de forma a entender o contexto de onde os dados procedem para determinar sua relevância inclusive para outros contextos que comparam esses dados com os de outros estudos.

Deste modo, foram definidas estratégias de análise em que se consideraram diferentes aspectos e significados relevantes que subsidiaram o momento explicativo e

confirmação ou rejeição de teorias; ampliação da compreensão da realidade de forma compreensiva e geração de teorias (Navarrete & Silva , 2009).

No que tange a análise do material, considerou-se os seguintes aspectos principais: contexto e abordagem interna ao discurso a partir das questões teóricas-conceituais que nortearam o estudo; o perfil dos entrevistados (atividades políticas; posição funcional; funções na estrutura organizacional).

Técnicas de análise de discurso foram utilizadas no tratamento dos relatos orais, tais como: análise de coerência; elementos não verbais; contradições; esquemas de codificações e análise temática a partir das principais questões conceituais descritas na abordagem teórica (Miles & Huberman, 1994), quais sejam: a leitura exaustiva de cada entrevista e compreensão das falas no contexto, partindo do pressuposto de que as respostas devem ser sempre analisadas associadas às perguntas que foram feitas. Codificaram-se os dados discursivos, a partir da identificação de unidades de significados, identificação de unidades temáticas e por meio destas identificaram-se as categorias, correlacionando-as com questões teóricas. Além disso, foram feitas perguntas ao dados de maneira a identificar o fenômeno e/ou questão que mobilizou determinado discurso em pauta nos diferentes trechos da entrevista.

Foram tomadas como referência o conjunto de legislações (decretos municipais, atos do prefeito, leis municipais etc.) e instrumentos legais (Plano Municipal, orçamento, atas do conselho) que regulam a assistência e o PBF no Município.

A partir das entrevistas semi-estuturadas com perguntas abertas, com vistas a estimular os respondentes a falarem mais, permitiu-se a produção de material textual para análise. Foi desenvolvido um roteiro para abordagem com os profissionais responsáveis pela gestão e coordenação do programa em cada área, sendo diferenciado para o profissional do CRAS e agentes de saúde do bairro pesquisado (conforme modelo em anexo).

Tais conteúdos foram gravados em áudio com os coordenadores do PBF na saúde, assistência social; agente de saúde e técnico do CRAS. Cabe ressaltar, que foram inúmeras as solicitações e até mesmo prestadas explicações sobre a pesquisa à Secretaria de Educação e Ciência, mas ainda assim, sem sucesso.

Iniciou-se o contato nesta política com o profissional responsável pelo programa PBF na educação, que num primeiro momento mostrou-se cooperativo, mas nos contatos subsequentes indicava dificuldades ao não atender telefones, nem responder e-mail´s.

Quando se conseguiu agendar a entrevista, o profissional entrevistado (participante do grupo intergestor e responsável pelo PBF na educação) não se propôs a colaborar dando pouquíssimas informações e ressaltando ser um “burocrata” dentro deste processo, e que somente a assistência social sabia responder as questões postas no formulário.

Na saúde a entrevista foi agendada direto com a pessoa responsável pela coordenação de acompanhamentos das condicionalidades do programa, que mostrou-se bastante cooperativa. O encontro aconteceu durante o expediente de trabalho deste profissional que desenvolve funções distintas no município, e na ocasião desenvolvia atividade distante das previstas pelo PBF.

Com os agentes de saúde a entrevista aconteceu dentro do PSF da Rasa. Optamos pela oportunidade de day off do médico, por pressupor ser um dia de menos movimento na unidade, sendo então escolhido na mesmo ocasião em que estava agendado o grupo focal com beneficiários. Mesmo assim, tivemos dificuldades em conversar com todos os agentes que a todo o momento eram chamados.

Na Secretaria de Assistência Social, apesar da perspectiva inicial de entrevistar o gestor da política de assistência social, isto não foi possível, por problemas de agendamento da entrevista. Houve inclusive uma solicitação por parte desta secretária, de que o questionário fosse enviado e respondido por e-mail. Como estratégia, chegamos a enviá-lo, deixando claro que seria apenas para apreciação, mas a partir daí não houve mais contato e lamentavelmente não pudemos apreender seu entendimento e percepções sobre a gestão do PBF na assistência social.

Deste modo, nesta secretaria que faz a gestão do programa no município, foi possível a entrevista com a Coordenadora do PBF, que atendeu nossa solicitação prontamente, agendando o encontro fora do horário do expediente em local externo a secretaria.

Com intuito de apreender maiores informações sobre o processo de adesão desde o início, conversamos também com a antiga coordenadora do programa no município que atendeu prontamente a nossa solicitação. O mesmo aconteceu com a assistente social do CRAS, que participou da pesquisa de forma bastante colaborativa.

Nesta aproximação junto aos executores do programa e da política de assistência, buscamos entender de que maneira a produção da realidade social pode ser estudada nos discursos sobre determinados processos e objetos. Sendo assim, se pressupôs que nada nela

devia ser considerado aleatório, considerando então o contexto do discurso e o contexto interativo local (Flick, 2009 p.304).

Além disso, foram realizados grupos focais por serem técnicas capazes de promover uma maior aproximação com o público alvo do PBF, onde as discussões que se apresentaram corresponderam à maneira pela quais as opiniões são produzidas e trocadas no cotidiano. Tal metodologia contou com roteiro (em anexo) e foi desenvolvida com 11 responsáveis legais beneficiárias do programa desde sua adesão (todas por sinal mulheres) e que também possuem suas famílias referenciadas pelo CRAS – mecanismo da proteção social básica.

A opção por estas famílias deste bairro específico se deu em função deste ser considerado o de maior vulnerabilidade no território estudado e que no momento da adesão do município ao programa foi considerado como público prioritário no cadastramento. Neste sentido, pressupomos que àquelas famílias beneficiárias e também referenciadas pelo CRAS teriam percepções interessantes acerca do PBF e da Assistência social, tendo em vista ser este o único bairro com este equipamento da proteção social básica.

Para organização do grupo foi possível contar com a autorização do coordenador da atenção básica de saúde do município pesquisado e com a ajuda dos agentes de saúde que se empenharam em convocar as famílias já pré-selecionadas conforme o enfoque do estudo. Na ocasião da convocação optou-se por não usar convites - tendo em vista uma possível dificuldade de leitura - mas pela visita domiciliar com vistas ao chamado e esclarecimentos sobre a proposta do grupo, data, horário e local de realização, que pela presteza dos agentes de saúde e entusiasmo, se deu no PSF da Rasa.

Esta estratégia de análise foi apoiada na tentativa de identificar mecanismo de entendimento sobre as diferentes percepções e atitudes acerca do serviço e/ou programa. A discussão em grupo permitiu analisar o modo pelo qual a família constrói a realidade para si mesma e para o ouvinte, convocando-os nos termos de Cotrim (1996), a emitir opiniões que talvez eles nunca tenham pensado a respeito anteriormente.

CAPÍTULO 3- A ASSISTÊNCIA SOCIAL E O PROGRAMA BOLSA

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