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63 coleta seletiva venha até aqui recolher Levei eles no local onde reciclam e mostrei a

importância de separar o lixo. Eles adquiriram o hábito de se arrumar, digo pra elas que o dinheiro que ganham da aposentadoria tem de ser gasto com elas, com batom, com o cabelo, pra terem autoestima. Tem muita festa, caminhada e estão sempre entusiasmadas. Ás vezes falo que parecem crianças, começa a aula e estão naquele murmurinho, já disse que só o apito não ta bastando, vou comprar um megafone pra chamar a atenção pra poder começar a aula (risos...) esta semana, por que estávamos de férias, no grupo do WhatsApp era uma conversa só!! Curiosas e ansiosas pelo retorno. Elas ficam contentes por se encontrarem, pra contar o que fizeram nas férias e assim é nas excursões, tenho de chamar a atenção às vezes, por que o entusiasmo é grande.

Por que os homens não acompanham?

Uma é por que eles tem vergonha, não estão acostumados a fazer ginástica, são mais preguiçosos também, não são de se cuidar, se valorizar como as mulheres. Antes não tinha nenhum, aos poucos estão aparecendo. Mas a maioria são meio machistas, já vem da cultura e muitos homens falavam pra mulheres deles: porque não vai fazer o serviço de casa, pegar numa enxada em vez de estar lá? Essa professora “tá” tirando vocês do serviço e colocando no “mau” caminho! Teve até um que disse que ia me atacar na estrada, por que eu ia de moto. Daí disse que ele podia me atacar. A esposa dele era uma coitada, só vivia para o trabalho, fui cativando e hoje ela participa, é outra pessoa. E ele fui cativando aos poucos. Ele faz “cachaça” e fica na rota das nossas caminhadas. Sempre que a gente ia caminhar para aqueles lados, fazia uma parada e dizia que íamos degustar a cachaça dele. Começou a ficar contente, se achar importante e não implicou mais da esposa vir. Mas ele, ainda não conseguimos trazer “pro” grupo e não deixa ela viajar, mas nas aulas ela vem! Ele achava um absurdo a mulher vir fazer ginástica ao invés de ficar em casa trabalhando na enxada. Os conselhos que eu dou pra se arrumarem, comprar coisas bonitas pra elas incomoda eles, mas aos poucos vão aceitando. Tem outros que “deixam” a esposa vir nas aulas sem implicar, mas eles não vem por que dizem que é coisa de mulher. No início foi bem mais difícil, mas aos poucos vão mudando, deixando de ser prepotentes. Se não vem pro grupo, pelo menos as mulheres vêm. No início falavam das viagens, das domingueiras, que era só farra, mas aos poucos foram percebendo que não. Hoje o nosso grupo é exemplo pra comunidade e pra cidade de Santa Maria. Nos convidam sempre para as festas, fazer abertura de bailes e outros eventos. Não é à toa que faz 20 anos que estamos aqui e cada vez mais forte e numeroso. Outro motivo pra termos poucos homens é que a maioria das mulheres são viúvas, mas os filhos dão força pra viverem.

Outra coisa que percebi, no grupo não tem negros, qual a explicação?

Aqui na Boca do Monte vivem basicamente italianos e alemães. Tem só duas famílias negras. Mas são mais retirados. Até tinha duas senhoras negras, mas elas pararam por que moram meio longe do Clube, a Dª Maria e mãe do Juca. A Dª Maria usa uma bengala e disse que não tinha

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como vir por que não tinha quem a trouxesse. Por causa de saúde não vem mais e a outra disse que a distância era grande.

Sempre foram bem aceitas no grupo já que a maioria é de etnia italiana ou alemã?

Sim, A Dª Maria era bem alegre, participava bastante, dançava, mas deixou de vir. Todos aqui são bem aceitos.

E quanto a homens solteiros ou viúvos? Por que não fazem parte do grupo?

Tem um “solteirão” que mora mais para o interior, mas é muito envergonhado, tem medo que as “gurias” vão dançar com ele, podem achar que é namoro. São agricultores, muito humildes, dão desculpa do trabalho, mas percebo que é vergonha. Tem muita viúva no grupo e acham que podem dar “em cima” deles. Não aparecem, já convidamos várias vezes, mas os que conhecemos e são solteiros ou viúvos vivem sozinhos, só trabalham. Um dia quem sabe... Fizestes alguma preparação, formação pra dar aulas para esse público?

Sim. Fiz curso, vários, sempre vou aperfeiçoando. No início usava colchonete para elas fazerem os exercícios, mas percebi que algumas tinham dificuldades na hora de levantar. Daí fiz um curso pra aprender a usar a cadeira, exercícios próprios para se fazer sentada ou apoiada. Elas tem mais segurança, fazemos sentadas ou em pé com o auxílio da cadeira pra não ter perigo de tontear e cair. Fiz curso de recreação, alongamentos pra Terceira Idade e também curso de guia turística, pra poder atendê-los melhor.

Como te sentes trabalhando com o grupo?

Olha...só tenho a dizer que eu me realizo com este grupo, são divertidas. É uma maravilha trabalhar com eles e cada vez me dão mais energia pra continuar. Cada aula que termina me sinto realizada e percebo elas contentes, isso que interessa. Faço bastante elogios, faço se abraçarem. Como já deves ter percebido, no tempo deles não tinham muito carinho, era só trabalho. Então agora faço se abraçarem, se beijarem, ler mensagens, coloco músicas no final das aulas pra refletirem. Saírem com aquela música na cabeça e todas cantam. Procuro colocar músicas que saibam a letra, pra voz, pra memória. Antes tinham vergonha por não saberem nem falar com outras pessoas, ou até mesmo a roupa, não sabiam se comportar em público, hoje é como tu percebes, só alegria, todas falam, demais até!! Se dão bem, se ligam, contam piadas no grupo, se visitam, participam da igreja, são voluntárias. Quando paro pra pensar quando começou há 20 anos atrás, nem parecem as mesmas pessoas. Vem de cabelo pintado, unhas feitas, de tênis e roupa pra ginástica. É muito grande a diferença, mas foi aos poucos. Elas tiveram que ter confiança nelas mesmas. Aqui encontraram o apoio, o incentivo e me dizem também, a alegria de viver. É um compromisso assumido perante o grupo de se cuidarem, de viver um dia depois o outro! Devido o grupo ter uniforme também percebi que melhorou muito, umas tinham vergonha da roupa. Como vão de camisetas iguais quando saímos se sentem melhor. O uso do celular também foi outro ponto positivo. As notícias dos eventos

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