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COLLABORATIVE AND HYPERLOCAL

DISPOSITIVOS MÓVEIS: ESTUDOS DE CASO

COLLABORATIVE AND HYPERLOCAL

Alciane Baccin1

Resumo: O objetivo deste trabalho é investigar se o aplicativo

“Pelas Ruas” cumpre com a função de ser uma plataforma colaborativa onde os usuários podem compartilhar e discu- tir os problemas da cidade Porto Alegre, capital situada no Sul do Brasil. A intenção também é analisar se a plataforma contribui de alguma maneira para a solução dos anseios dos usuários ou se configura-se apenas como um canal de de- núncia da população. Para isso, discutimos os conceitos de jornalismo em dispositivos móveis, appificação, colaboração e jornalismo hiperlocal. A metodologia utilizada tem como base a análise de conteúdo do aplicativo jornalístico “Pelas Ruas”.

Palavras-chave: Jornalismo appificado. Colaboração. Hiperlocal

Abstract: The aim of this paper is to investigate whether the

application “Pela Ruas” fulfills the function of being a col- laborative platform where users can share and discuss the problems of the city Porto Alegre, the capital located in sou- thern Brazil. The intention too is to analyze if the platform contributes in some way to the solution of the users’ wishes or if it configures itself only as a channel of denunciation of

1. Docente do Programa de Mestrado Profissional em Jornalismo do FIAM-FAAM, São Paulo - Brasil, Doutora em Comunicação e Informação (UFRGS/Brasil) e em Ciências da Comunicação (UBI/Portugal), e-mail:

the population. To this end, we discuss the concepts of mobile journalism, appifica- tion, collaboration and hyperlocal journalism. The methodology used is based on the content analysis of the journalistic appified “Pelas Ruas”.

Keywords: Appified journalism. Collaboration. Hyperlocal Introdução

Num cenário de convergência, bem como de hibridização midiática, no am- biente digital (Manovich, 2001, 2013) impõem-se desafios ao jornalismo contemporâneo, mas, ao mesmo tempo, se apresentam inúmeras possibi- lidades de renovação de práticas e formatos jornalísticos. Interessa a esta pesquisa olhar para as possibilidades disponibilizadas pelas tecnologias di- gitais móveis, em especial os smartphones, em relação à colaboração dos usuários e à promoção do jornalismo hiperlocal.

Os smartphones já não são mais apenas aparelhos de telecomunicação. São equipamentos ‘inteligentes’, pois além de podermos conversar com nos- sos contatos, fotografamos, gravamos vídeos, enviamos imagens, áudios e textos, editamos esse material, acessamos sites, publicamos, jogamos e o utilizamos para nos localizar. De acordo com Jenkins (2009), estamos cada vez mais em lugares remotos. Em vários cantos do mundo o smartphone já é a principal ferramenta de acesso a informações. No Brasil, as estatísti- cas são contundentes quando demonstram que o smartphone já se tornou o equipamento preferido para acessar a internet. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2016, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 94,6% dos internautas utilizam o dispo- sitivo móvel para trocar mensagens, assistir a vídeos, programas, séries e conversar por chamadas de voz ou vídeo.

As empresas jornalísticas atentas a esse comportamento, lançam formatos variados de aplicativos. A maioria das empresas mantém aplicativos de no- tícias que reproduzem as matérias que estão no site, como uma forma de transposição, assim como no começo da webjornalismo em relação ao jor- nalismo impresso (Mielniczuk, 2003). Alguns desses veículos jornalísticos

diversificam as aplicações, de acordo com a proposta, seja para produção, re- colha de informações ou distribuição de um formato específico de narrativa. Nossa análise se baseia no estudo do aplicativo jornalístico “Pelas Ruas”, da Rede Brasil Sul de Comunicação (Grupo RBS), que propõe a colaboração do leitor e a interação na construção de pautas específicas - relacionadas aos problemas que causam transtornos à vida das pessoas na cidade. Nosso obje- tivo principal é analisar as formas de colaboração dos usuários no aplicativo e como a plataforma contribui para a solução dos anseios dos leitores. Para isso, vamos primeiramente realizar uma discussão teórica sobre aplicativos jornalísticos, partindo dos conceitos de jornalismo móvel, jornalismo appifi- cado, colaboração dos usuários e jornalismo hiperlocal, depois abordamos a questão da colaboração do leitor e sua relação com o jornalismo hiperlocal.

O jornalismo móvel e appificado

Os dispositivos móveis são plataformas interativas e multimídia, dotados de conectividade ubíqua e concebidos para a portabilidade cotidiana (Aguado & Castellet, 2013), sendo originários da telefonia, da telecomunicação e da computação, que reúnem praticamente todas as vantagens dos notebooks, acrescidos da mobilidade e da otimização da usabilidade (Canavilhas & Satuf, 2013). Com base nessa afirmação, os autores creditam a essas carac- terísticas acrescidas “o surgimento das aplicações nativas (apps) adaptadas a estas plataformas e à mudança da interface Homem-Máquina” (Canavilhas & Satuf, 2013: 40). As mudanças no campo da informação, advindas da sociedade que se configura em rede tem se caracterizado pelo desenvolvi- mento de um complexo sistema de relações entre os meios de comunicação, constituindo um ambiente no qual novas formas de interação dos sujeitos com os conteúdos ocorrem, motivadas pela mobilidade.

Cada vez mais os sujeitos-leitores almejam ser partícipes do processo no- ticioso e os dispositivos móveis são a ferramenta que possibilita a maior interação desses sujeitos com os conteúdos e com os sujeitos-jornalistas na produção de informação, reunindo várias práticas jornalísticas, pois de acordo com Satuf (2015: 444), o jornalismo móvel é a união de “práticas

de produção, edição, circulação e consumo de conteúdos jornalísticos em dispositivos portáteis digitais que agregam conexão ubíqua, conteúdos por demanda adaptados ao contexto do usuário e integração de múltiplos forma- tos midiáticos”.

Essa combinação de diversas funções num único dispositivo promove a hibridização das dimensões comunicativas determinando o caráter de “meta-dispositivo” das tecnologias móveis (Aguado & Martínez, 2008). De acordo com os autores, as dimensões comunicativas são três: as self-me- dia, as mídias conversacionais e os meios de comunicação tradicionais. No jornalismo móvel, essas dimensões estão intimamente relacionadas. As self-media dizem respeito às características do suporte que habilitam a pro- dução, organização e a difusão de conteúdos gerados pelo usuário, seriam tanto os affordances do hardware quanto os aplicativos móveis. As mídias conversacionais derivam dos seus antecessores os primeiros telemóveis, pois os dispositivos móveis continuam sendo tecnologias de interação direta entre as pessoas, porém as conversas são mais textuais que orais. Somada às self-media e às mídias conversacionais também estão as “tradicionais”, que compreendem as análogas aos meios de comunicação de massa, como as que reproduzem as versões impressas dos jornais, não alterando signifi- cativamente as relações comunicacionais.

O jornalismo móvel é capaz de renovar as potencialidades dos meios de comunicação anteriores e, segundo Ahonen (2011), ainda incorporar ca- racterísticas ao meio: ser pessoal, portátil, estar permanentemente ligado, possuir um sistema de pagamento integrado, estar sempre acessível no momento do impulso criativo, permitir a identificação precisa das audiên- cias, capturar o contexto social no consumo e ainda massificar o conceito de realidade aumentada. Este conjunto de características torna a mídia móvel uma ótima plataforma para a difusão de conteúdos jornalísticos, devido à ampla abrangência e aos recursos tecnológicos dos aparelhos.

A estreita relação dos dispositivos móveis com a vida cotidiana dos usuários, relacionada à onipresença e à conveniência, os diferencia das demais mídias

(Aguado & Castellet, 2013), os smartphones estão mais próximos de nós, como uma extensão do nosso corpo. O crescimento do uso de telemóveis inteligentes é uma realidade em todo o mundo. De acordo com pesquisa do Reuters Institute Digital News Report (RIDNR), sobre o consumo de notícias no mundo, todos os 36 países pesquisados apresentam crescente utilização dos smartphones para o acesso a notícias. No Brasil como podemos consta- tar no gráfico 1, em 2016 os smartphones ultrapassaram os computadores de mesa como o principal canal para o consumo de notícias online. O estudo revela que mais pessoas estão usando os telemóveis como dispositivo para acesso a notícias, enquanto menos dependem de um desktop. Nos EUA, o consumo se equipara entre os dois dispositivos (Gráfico 2). Em Portugal, a maior parte dos acessos a notícias online é feita via desktop, por enquanto, pois o acesso também é crescente (Gráfico 3). O consumo de notícias via smartphone apresenta um crescimento desde que a pesquisa começou a ser feita em 2013.

Gráfico 1 – Consumo de notícias por dispositivo no Brasil Fonte: Reuters Institute Digital News Report (RIDNR)

Gráfico 2 – Consumo de notícias por dispositivo nos EUA Fonte: Reuters Institute Digital News Report (RIDNR)

Gráfico 3 – Consumo de notícias por dispositivo em Portugal Fonte: Reuters Institute Digital News Report (RIDNR)

A preferência do celular como meio de comunicação faz crescer entre os usuários brasileiros o uso de aplicativos. A App Annie, empresa estadu- nidense especialista em pesquisa de mercado, no relatório Spotlight on Consumer App Usage de 2017, revela que o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de países com maior número de apps utilizados por mês (mais de 40). Os dados do estudo também apontam que, em um período de 24 horas, os brasileiros abrem, em média, quase 10 aplicativos, colocando nosso país no topo da lista. Essas informações não passam despercebidas para as em- presas que buscam novos nichos no mercado móvel