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3. CAPÍTULO III O “ANTES” DO ESPAÇO INVESTIGADO: FORMAÇÃO

3.1 A COLONIZAÇÃO DO ALTO OESTE POTIGUAR

Nesta parte do trabalho fazemos uso de informações históricas fundamentadas em autores que se dedicaram e se dedicam a estudar a história do Rio Grande do Norte. A fim de evitar repetições, destacamos antecipadamente os estudos de Araújo (2005), Cascudo (1955), Morais (2007), Teixeira (2003 e 2012), Trindade (2007) como sendo aqueles que contribuíram com a elaboração desta parte do trabalho. Além destes, nos apropriamos de informações colhidas no site do @cidades do IBGE, que nos permite acessar parte do histórico das cidades aqui tratadas.

A ocupação por não-indígenas faz parte de um processo maior de conquista do sertão, e se manifesta naquela região desde as últimas décadas do século XVII. Cascudo (1955) afirma que o século XVII foi marcado por constantes conflitos na região, porém, o século seguinte foi caracterizado pela diminuição dos conflitos com os nativos. A ocupação do interior foi viabilizada pelas fazendas de gado e derrubada de matas para a criação de pastos para a pecuária. Esse fato que vai marcar profundamente a estrutura econômica do sertão potiguar num passado antigo e que é materializado ainda nos dias atuais da região.

Para Santos (2010, p. 99), corroborando Cascudo,

O povoamento efetivo do interior se deu no século XVIII, pela concessão de sesmarias, para fazendas de gado, aos baianos e pernambucanos que, resistindo a todas as dificuldades e hostilidades da indiada, conseguiram se estabelecer com currais de criação. Muitos desses currais deram origem a sedes de cidades e municípios de hoje.

Ao se tratar de povoamento do Rio Grande do Norte, o autor supracitado ainda afirma que diversos aventureiros vieram de Jaguaribe, no Ceará, e outros, do rio São Francisco, para o sertão potiguar, tornando o povoamento intenso pelo interesse econômico da pecuária e pelo restabelecimento da paz com os índios da região. Porém, o autor é categórico ao afirmar que os posseiros foram os verdadeiros povoadores do sertão do Rio Grande do Norte, seguindo as ribeiras dos rios Assu e Apodi.

É importante ressaltar que historicamente a concessão de sesmarias na região teve um papel fundamental para a criação de fazendas de gado e, fixação da população, que deu origem e fortalecimento à atividade pecuarista na área. Devido às condições climáticas da região, de altas temperaturas e estiagens constantes, o criatório foi a atividade econômica do sertão que fez com que o homem sentisse a necessidade de se fixar e progredir nas terras que dificilmente seriam para o plantio, excetuando-se as terras mais úmidas das margens dos rios e das partes mais elevadas das serras.

Fazendo referência ao povoamento da região Oeste Potiguar, precisamente a região de Apodi, Teixeira (2012) afirma que o primeiro núcleo de povoamento começou com a iniciativa de Manuel Nogueira Ferreira, chamava-se de Outeiro e ocorreu em 1703. Mas, é importante ressaltar que a área já era habitada por índios e missões de jesuítas, que estiveram por lá em anos passados (TEIXEIRA, 2012).

Conforme Trindade (2007), baseando-se em Cascudo (1984) e também Teixeira (2012), no final do século XVIII, o território potiguar possuía dez freguesias, sete das quais eram vilas. As dez freguesias eram: Assu, Vila Flor, Goianinha, Caicó, Pau dos Ferros, Arês, Extremoz, Portalegre, São José de Mipibu e Apodi.

Nesse contexto é possível constatar o surgimento dos primeiros embriões para uma formação político-administrativa da região Oeste do Rio Grande do Norte, com a criação oficial das Freguesias de Assu em 1726, Pau dos Ferros em 1756,

Portalegre em 1761 e Apodi em 1766 (TRINDADE, 2007; MORAIS 2007). Algumas freguesias também foram vilas no mesmo ano, como Portalegre (1761). As vilas juntamente com as freguesias representam os primeiros passos de uma vida urbana organizada (TEIXEIRA, 2009)

Das três primeiras freguesias e vilas localizadas no que hoje compõe o que chamamos de Oeste Potiguar, duas, Pau dos Ferros (1756) e Portalegre (1761), ficam localizadas na porção mais sudoeste do Estado, exatamente na “tromba do elefante”. Então, das cerca de quase quatro dezenas de cidades que orbitam a cidade de Pau dos Ferros, na atualidade, podemos dizer que a origem da região está no povoamento da área iniciado por Pau dos Ferros e Portalegre, ainda no século XVIII.

A concessão da primeira sesmaria na região data de 1717, conhecida com o nome de “Podi dos Encantos”, segundo Morais (2007, p. 160), deu origem às primeiras fazendas e consequentemente ao povoamento dessa área do Oeste potiguar. Porém, Teixeira (2012) afirma que a região já contava com a presença de missionários e aventureiros e que seus fundadores chegaram à região supracitada no ano de 1680:

O nascimento da atual cidade do Apodi representa um dos grandes enigmas da história inicial dos núcleos urbanos mais antigos do Rio Grande do Norte, a começar pela identificação de seus fundadores. Descartando tradições inverossímeis que associam sua fundação à presença do navegador espanhol Vicente Pinzon na região, devemos considerar duas tradições sérias a esse respeito. A primeira, fundamentada no critério da precedência histórica, indica os fundadores da localidade como sendo os Nogueira, primeiros fazendeiros a chegarem à região em 1680 [...] Outra tradição indica que os fundadores de Apodi foram os missionários jesuítas Filipe Bourel e Alexandre Nunes, que estabeleceram uma missão ou aldeamento de mesmo nome [...] em 1700 (TEIXEIRA, 2012, p.147, 148).

A presença de colonos na região de Apodi é confirmada, também, pela disputa judicial de terras envolvendo os Nogueira, entre fins do século XVII e início do seguinte, segundo o mesmo autor.

As famílias que foram beneficiadas, inicialmente com as sesmarias em terras potiguares, foram algumas que já tinham grandes extensões de terras no Ceará e na Bahia e em outras áreas do Rio Grande do Norte. Entre estas, destacou-se a família do coronel Domingos Gonçalves da Rocha Pita, cujos herdeiros receberam, após

sua morte, em 1733, a doação da Sesmaria de Pau dos Ferros. Pau dos Ferros teve sua origem enquanto município no ano de 1856 quando a Assembleia Provincial aprovou a Lei de no 344 e seu território foi desmembrado de Portalegre.

É importante lembrar que as datas causam confusão no entendimento histórico quando se discute quem é mais antigo na área, e como exemplo temos a criação de Pau dos Ferros que foi freguesia em 1756 e vila em 1856. Por sua vez, Portalegre foi freguesia e vila ao mesmo tempo em 1761. Ou seja, Portalegre mesmo sendo criada posteriormente teve seu território fragmentado para o surgimento do núcleo urbano de Pau dos Ferros antes da sua própria criação enquanto município, pois a vila de Portalegre antecedeu a criação das duas cidades. Por sua vez, o município de Pau dos Ferros, depois de criada, passou por várias fragmentações para dar lugar à emancipação de alguns municípios potiguares, entre elas o município de Alexandria. Este, por sua vez, contou também com parte do desmembramento da cidade de Martins (1841) para a constituição do seu território inicial enquanto cidade. Porém, é bom destacar que o processo de emancipação de Alexandria (1930) se deu bem antes e que seu nome foi, inicialmente, João Pessoa. Esse nome foi mudado em 1936 para não confundi-la com a capital do estado da Paraíba. Depois, a própria Alexandria sofreu alterações em sua estrutura territorial, sendo desmembrada em outros aglomerados urbanos, dando origem ao município estudado neste trabalho que é Tenente Ananias.