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O comércio de peixe, quer por grosso quer a retalho, é o subsector das pescas com o maior número de agentes económicos registados no distrito de Coimbra. O principal fornecedor de peixe destinado ao comércio é a Docapesca, entidade encarregue de introduzir no mercado o peixe proveniente da pesca marítima (captura) e também de algum peixe de aquicultura, como já foi referido nos pontos anteriores.

Neste capítulo é dado a conhecer a atividade de comércio por grosso, uma vez que é o tipo de comércio que apresenta mais especificidades. No final é elaborada uma checklist com todos os procedimentos de auditoria recomendáveis.

5.1 Comércio por grosso

Os comerciantes autorizados podem participar no leilão previsto no regime legal da primeira venda de pescado fresco (DL n.º 81/2005). Para o efeito possuem um dispositivo eletrónico para poderem dar as ordens de compra. O leilão inicia-se nos dias e horários estipulados pela entidade que explora a lota. O pescado é exposto aos comerciantes, exceto as espécies capturadas em grandes quantidades, tais como sardinha, carapau e cavala, em que apenas é apresentada uma amostra. Nestes casos o peixe encontra-se em dornas, contentores isotérmicos com capacidade média de 12 cabazes ou de 17 cabazes, pois existem dois tamanhos. Cada cabaz tem em média 22,5kg de peixe.

O leilão é feito dentro das instalações da lota, que para o efeito possui umas bancadas onde se encontram os compradores autorizados a participar no leilão. Deste local é possível observar quer o peixe para leilão quer o placar que refere todos os dados relativos ao leilão. No placar é identificado o peixe que vai entrar em leilão e respetivo preço. Este valor começa a baixar e só pára quando um comprador acionar o seu dispositivo eletrónico. Este sinal significa que é aquele o valor que o comprador está disposto a pagar por aquele lote. A venda termina e os dados da compra são lançados na conta do comprador, de imediato inicia-se outro leilão. De referir que este leilão é diferente do leilão que o cidadão comum conhece, pois no leilão da lota o preço tem uma evolução decrescente.

73 Figura 15 - Local destinado ao leilão Figura 16 - Leilão do pescado

Fonte: http://www.docapesca.pt/pt/rede-de-lotas/lotas/item/lota-de-figueira-da-foz.html. Acedido em 24-06- 2013.

Depois da venda em leilão o pescado é introduzido no mercado seguindo o circuito comercial normal.

Como já foi referido, os documentos relativos às compras em leilão são emitidos pela Docapesca. Esta entidade dispõe de todos os dados relativos às compras efetuadas pelos comerciantes em qualquer lota portuguesa, bastando para isso solicita-los junto da sede. Numa ação de inspeção a um comerciante de pescado, os dados fornecidos pela Docapesca podem ser úteis no controlo das quantidades compradas e vendidas, determinação de preços de compra, etc.

Como já foi referido, as vendas em lota do pescado do cerco (maioritariamente sardinha) também são feitas por estimativa, pois quer o cabaz quer a dorna são cheios sem que sejam pesados. Sabe-se que um cabaz tem aproximadamente 22,5kg de peixe e uma dorna tem uma capacidade média de 12 cabazes ou de 17 cabazes, dependendo do tipo de dorna.

No pescado comprado à dorna ou ao cabaz, uma vez que se trata de uma compra por estimativa, ao ser pesado pelo comprador (comerciante), já nas suas instalações, constata-se que a quantidade indicada na fatura de compra (22,5kg por cabaz) é inferior à quantidade obtida na sua pesagem, verificando-se assim ganhos significativos. Tal facto deve-se aos cabazes serem muito bem cheios, fazendo com que cada um tenha mais de 22,5kg.

Das inspeções efetuadas, constatou-se que nem sempre o comprador regista esses ganhos na sua contabilidade, e no controlo das quantidades não se verifica quantidades vendidas superiores às compradas, o que leva a presumir que tais rendimentos obtidos na pesagem do pescado são vendidos no mercado paralelo.

74 No comércio por grosso, verificaram-se poucos desperdícios, pois o peixe não é amanhado ou cortado. Relativamente às sobras, isto é, pescado que não é vendido, também se verificou uma percentagem muito reduzida, por um lado devido às quantidades que são vendidas no comércio por grosso, permitindo um maior escoamento, por outro porque os grossistas têm câmaras de refrigeração de modo a permitir-lhes armazenar e conservar o peixe por mais tempo, podendo assim vender o peixe no dia seguinte. Pode no entanto se registar uma perda anormal, devido por exemplo à falta de energia, avaria das câmaras frigoríficas, contudo estas perdas devem ser evidenciadas na contabilidade e devidamente documentadas. Deverá também ser sempre comunicado à AT qualquer perda de mercadoria.

Alguns grossistas possuem pontos de venda a retalho, atividade que ajuda a escoar a mercadoria, reduzindo assim a percentagem de sobras.

Os gastos registados podem variar de comerciante para comerciante, devido à forma como exercem a sua atividade: se unicamente efetuam vendas no armazém; se fazem distribuição da mercadoria vendida; se as compras são feitas noutras lotas e em mercados abastecedores (aumentado assim os gastos com os transportes).

O comércio de peixe, nos armazéns localizados na lota da Figueira da Foz, de propriedade da Docapesca, começa de madrugada e acaba ao início da manhã, realidade que pode dificultar o trabalho do auditor quando pretende observar a atividade, não sendo no entanto impossível. De salientar que a observação direta da atividade é bastante importante para o trabalho do auditor/inspetor.

O comércio por grosso de peixe, para além das especificidades das compras na lota, rendimentos obtidos com as dornas, e as compras por contratos de abastecimento, celebrados com os armadores é muito idêntica a qualquer outra atividade de comercial.

5.2 Lista / questionário de procedimentos de auditoria

Em suma, os procedimentos de auditoria a efetuar na atividade de comércio por grosso de peixe são os seguintes, de acordo com a presente checklist:

Lista / Questionário sobre o conhecimento do negócio e de

procedimentos de auditoria

Comércio por grosso

Descrição dos procedimentos Sim Não Não

aplicável Observações

1. Dispõe de dispositivo electrónico para compras em leilão nas lotas?

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Lista / Questionário sobre o conhecimento do negócio e de

procedimentos de auditoria

Comércio por grosso

Descrição dos procedimentos Sim Não Não

aplicável Observações

2. Compra em diversas lotas?

3. Compra a peixe a pescadores da pesca artesanal (Arte Xávega)?

4. Compra diretamente a piscicultores? 5. Efetua aquisições intracomunitárias? 6. Efetua transmissões intracomunitárias?

- Qual o meio de transporte utilizado? - Qual a forma e meio de pagamento? 7. Celebrou contratos de abastecimento de

pescado?

- Se sim pedir cópia;

- Comparar preços do contrato com preços de mercado ao longo do ano;

- Efectuar controlo das quantidades compradas com contrato e respetivas vendas.

8. Compra a outros grossitas?

- Pedir conta corrente aos fornecedores e compara com os registos contabilísticos; - Caso fornecedor possua programa de faturação, solicitar listagem de todas as mercadorias vendidas, com respetivas quantidades, preços unitários, indicação do documento de compra e respetiva data (para controlo de inventários).

9. Possui ou é obrigado a possuir inventário permanente?

- Se sim solicitar os dados em suporte informático (efetuar controlo de inventários)

10. Sempre que possível assistir ao manuseamento do peixe depois de efetuadas as compras na lota.

- Observar o peso real de peixe vindo em dornas e em cabazes (ex: sardinha, carapau e cavala) e compará-lo com as

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Lista / Questionário sobre o conhecimento do negócio e de

procedimentos de auditoria

Comércio por grosso

Descrição dos procedimentos Sim Não Não

aplicável Observações

quantidades indicadas nos documentos de compra.

11. Analisar as sanções aplicadas pelas diversas autoridades (exemplo DGRM, UCC-GNR, etc) e tentar perceber que ligações podem ter aquelas infrações com a omissão nas vendas.

- Cruzar informação contabilística com as fornecidas por aquelas autoridades.

12. Existem desperdícios registados na contabilidade?

- Quais os documentos de suporte? 13. Há registo de sobras?

- Quais os documentos de suporte? 14. Há registo de perdas anormais de

mercadorias?

- Foram comunicadas às entidades competentes?

- Foram comunicadas à AT? - Existe auto de destruição? 15. As vendas são todas efetuadas no

armazém?

16. Efetua distribuição das mercadorias vendidas?

17. Vende a retalho?

18. Quais os documentos de transporte que utiliza?

Quadro 13 - Lista de procedimentos de auditoria (comércio por grosso) Fonte: própria

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