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O gênero comentário foi sofrendo modificações devido à natureza histórica e ao seu vínculo à vida cultural e social. A princípio, por exemplo, no comentário do Facebook havia um limite máximo de caracteres a serem digitados e, após publicado, não havia possibilidade de editar. Hoje, porém, os comentários, além de mais flexíveis, também estão apresentando diversas formas multimodais.

Conforme observado no item anterior, o gênero comentário parte do princípio de viabilizar a exposição de uma opinião sobre algum post publicado. Assim, trata-se de um tipo de texto que carrega sempre uma dependência de algum material anteriormente publicado, sendo impossível encontrá-lo de forma independente, ou seja, nunca será possível encontrar um comentário que não esteja fazendo referência a algum post. Do ponto de vista funcional, podemos afirmar que o comentário constitui um hipertexto, o qual, segundo Lévy (1996), caracteriza-se como um conjunto de nós ligados por programas de conexões, cuja finalidade é a composição de conhecimentos ou dados, a aquisição de informações e a comunicação. Tais nós podem designar páginas, imagens, sequências sonoras, documentos complexos. Durante o processo de formação do hipertexto, o leitor realiza uma série de antecipações para possíveis junções lógicas. Desse modo, os nós conectam as informações a fim de oferecer diferentes caminhos para a leitura.

Porém, essa não é uma particularidade exclusiva do comentário, uma vez que “todo texto é um hipertexto” (KOCH, 2011, p. 61). A leitura, por outro lado, pode ou não ser hipertextual, pois ela “envolve colocar em prática diversas habilidades cognitivas que refletem o funcionamento de vários domínios do processamento” (COSCARELLI, 2012, p. 153). Assim sendo, torna-se bastante complexa a tarefa de determinar as inúmeras funções que o gênero comentário pode desempenhar. O que se sabe, porém, é que o comentário apresenta um juízo de valor, emitido pelos usuários, sobre um assunto, seja de viés político, interativo, profissional, educacional etc, sendo esse gênero textual inclusive muito confundido com críticas.

Para realizar um comentário no Facebook, é necessário que antes haja algum post, feito pelo próprio usuário ou por algum amigo. Uma vez que se tem o post, abre-se, então, a possibilidade de se realizar um comentário. É importante destacar que a forma como o post será inserido na “linha do tempo” não importa, ou seja, se ela virá por meio de recursos visuais, sonoros, audiovisuais, puramente verbais ou até por meio de links com outros sites, porém, destacamos aqui que, no caso de compartilhamento de links em post, o usuário pode ter a opção de realizar um comentário após ser direcionado a outra página na internet, onde ele poderá ter acesso, diretamente na fonte, à informação veiculada na íntegra; caso ele não queira

ter esse acesso, o usuário pode, também, realizar o comentário apenas com a leitura da manchete colocada em evidência no post.

Neste sentido, ao se deparar com uma postagem, os usuários encontram a seguinte imagem:

Figura 5 – Exemplo de postagem e opções de comentário

Fonte: própria autora em sua página no Facebook [coletada em 16 de abril de 2017].

Para ilustrar, optamos por colher uma figura do Facebook em que o usuário utilizou uma postagem apenas com formas verbais. Abaixo da frase, observa-se que uma das opções é “comentar”. Assim, se o “box” de comentário não estivesse exposto, como consta na figura 5 do exemplo, bastaria dar um clique nessa opção que ele apareceria. Ao se deparar com o box, observa-se que o Facebook realiza um convite para interagir

com o amigo, comentando algo sobre seu post. Nesse sentindo, o usuário que decidir comentar pode escolher, além da forma tradicional de escrita, a utilização de emoji26,

enviar uma foto, imagem, um gif27 ou uma figurinha, opção colocada no canto

esquerdo do box de comentário.

Após realizar o comentário, o autor do post pode utilizar a ferramenta “curtir”, a fim de sinalizar uma possível concordância com o que foi escrito, ou pode utilizar a opção “responder”, que abrirá espaço para um fórum de conversa. O usuário que escreveu o comentário pode optar por continuar ou não com a interação. Ainda, ao lado da opção “responder”, há a mensagem “Agora mesmo”, que indica o momento em que o comentário foi publicado. O mesmo acontece no post, no qual a indicação do tempo da publicação aparece logo abaixo do nome do usuário, que, no presente caso, por medidas éticas de pesquisa, foi apagado e substituído por “EX 1”. Ainda no post, ao lado da indicação do tempo, percebemos que existe uma imagem no formato de um globo, significando que tal postagem pode ser visualizada por todos os que têm acesso ao Facebook.

Figura 6 – Exemplo de publicação pública

Fonte: Própria autora. [Print tirado em 18 de dez de 2016].

26Para saber detalhes sobre o que é um emoji, acesse a definição disponível em: <https://www.significados.com.br/emoji/>. Acesso em: 21 jul. 2017.

27Para saber detalhes sobre o que é um gif, acesse o artigo “O que é GIF?”. Disponível em: <http://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2012/04/o-que-e-gif.html>. Acesso em: 21 jul. 2017.

Para compreender melhor a natureza discursiva dos debates estudados nos comentários, o próximo capítulo desta dissertação apresentará a Teoria Sociocognitiva de ACD de Van Dijk (2000; 2001; 2012a; 2012b; 2016), a fim de apresentar as estratégias de convencimento do outro, através do discurso, ocasionando, por diversas vezes, polarizações discursivas entre os grupos.

4 PRINCÍPIOS BÁSICOS DA PROPOSTA SOCIOCOGNITIVA DE VAN DIJK

Este capítulo está dividido em duas principais seções, sendo elas cruciais para a compreensão da proposta sociocogntiva de Análise Crítica do Discurso (ACD), cunhada por van Dijk (1999a; 2011a; 2012a; 2012b; 2012c; 2014; 2016). Para isso, nesta seção, iremos expor o histórico da Análise Crítica do Discurso, o seu surgimento e, também, os seus principais idealizadores. Após isso, apresentaremos a proposta sociocognitiva de van Dijk, a fim de explicar os preceitos básicos para a análise que usaremos como suporte para esta dissertação. Entender tal preceito é importante, pois, assim, construiremos sentido para todas as noções próximas que serão apresentadas neste capítulo. Desse modo, discorremos sobre os conceitos de Modelos Mentais e Modelos de Contexto, que regem a situação comunicativa e as formas como selecionamos cognitivamente certos comportamentos discursivos; sobre as definições de cognição, discurso e conhecimento, das quais partiremos para uma apresentação mais aprofundada da relação existente entre discurso, cognição e sociedade. Nesta seção, há ainda mais duas subseções, intituladas “A ideologia” e “Estruturas discursivas e categorias de contexto”. Optamos por separar essas duas seções por acreditarmos que elas são importantes para a compreensão da proposta de estudo de van Dijk.

Neste capítulo, apresentamos as noções de representação social, preceitos sobre polarização discursiva e as ideia de representação social.