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CAPÍTULO IV – ESTRUTURA E SENTIDO ORGANIZACIONAL DA

4.4 As reuniões – Objeto de participação na Secretaria Municipal de Educação

4.4.1 Comentários e análises das reuniões

Após a realização de observações das reuniões ministradas Secretaria Municipal de Educação sob a coordenação da Secretária de Educação e seus respectivos representantes de escolas, os gestores, foi possível perceber que o fenômeno da Gestão Democrática ainda anda distante do seu foco principal. Quando pensamos em democracia, imaginamos um espaço de autogestão, lugar onde todos os envolvidos no processo tornam-se partícipes das elaborações de metas e ações e de tomadas de decisão. Já dizia Vieitez (1997, p. 41):

A autogestão ou a auto-adiministração, em seu sentido restringido, é um método de participação avançada em que os trabalhadores não apenas influem na vida da organização, senão que são eles próprios os responsáveis diretos e imediatos pela tomada de decisões da organização, ou seja, são eles mesmos os gerentes da organização.

Refletindo sobre os momentos que ocorreram, percebe-se que nenhum tema debatido surgiu do grupo, já estava tudo definido em uma pauta. O grupo de gestores estava sempre muito passivo, fato que pode ser explicado pelo exercício do cargo por indicações

políticas, daí a apreensão de ser dissipado do cargo de confiança. Outro fato preocupante é a questão do posicionamento do sujeito que lidera o ensejo. Observa-se que em momentos raríssimos a secretária se dirige para os gestores com o olhar, ficando cabisbaixa, acompanhando a pauta que estava fixa em sua agenda, fato rompido apenas na proclamação da candidatura da secretária à presidência da UNDIME. A distância não se configura apenas no espaço físico, mas no corporal, no afetivo. As mensagens propostas para a leitura e reflexão eram riquíssimas para que fosse levantada uma discussão entre os gestores, apesar de ter motivação utilitarista e instrumental, enfatizando a determinação, o ir à luta e se atrever

neste mundo, pois a vida é muito para ser insignificante, frase encontrada em um dos textos

propostos.

Neste contexto entra em cena o papel da pessoa que lidera para oportunizar o “relacionamento participativo” de seus membros na tomada de decisão. As Instituições de Ensino e os Órgãos de Educação ainda refletem as práticas exageradas de centralização e personalização que até pouco tempo permeou a história do sistema de ensino brasileiro. Nas tradições da política local, principalmente a adotada pela SME, observamos que predomina o poder centralizado em alguém que gera o sistema – Secretária de Educação – e os executores de suas ideologias – os Gestores das Escolas – apenas concordam, pelo menos nas ocasiões em que observamos, com as determinações do mandatário e as executam nas escolas e, em pouquíssimos momentos, agiam com autonomia, expondo seus pensamentos na escola. O poder patrimonial aprece constantemente nas falas tanto da secretária quanto dos gestores escolares. O termo “sua escola” e “minha escola” são comuns e soa familiar aos que estão na hierarquia sob o comando dessas instituições. Nas reuniões observadas, evidenciou-se o fracasso da participação; não ficou claro se a Secretaria de Educação é um espaço aberto para diálogos e busca de solução de problemas pelo coletivo.

Outro momento que não deve passar despercebido foi quando, na primeira reunião, falou-se em beneficiar apenas um grupo de pessoas por seus projetos e ações “bem- -sucedidas”. Ao presenciar este caso, vem à tona o que os escritos de Marcel Mauss no Ensaio

sobre a Dádiva, publicado em 1924, exprimem. No instante em que a secretária beneficia ou

presenteia um pequeno grupo deixa claro que as relações sociais estabelecidas entre a instituição a qual representa e as escolas são determinadas pelo princípio da reciprocidade autoritária. Quanto mais se produz, ou se tem “melhores resultados” demonstrados e documentados em projetos que foram enviados até a Secretaria de Educação, mais os autores destes têm prioridades nos benefícios estipulados pela instituição à qual prestam serviço.

Freitas (s/d, p. 4) auxilia-nos na elucidação das questões relacionadas à teoria da Dádiva quando exprime:

A dádiva caracteriza-se como uma forma de intercâmbio em que se fazem presentes atores coletivos que compartilham não apenas de bens econômicos, mas um contrato muito mais amplo e permanente de relações sociais fundadas em uma regra tríplice: liberdade e obrigação de dar, liberdade e obrigação de receber, liberdade e obrigação de retribuir. Esse conjunto de premissas permite visualizar a originalidade de seu problema sociológico: a reciprocidade instaurada não constitui nem uma propriedade física dos objetos trocados, nem uma condição subjetiva imanente, e, portanto, transcendental aos sujeitos envolvidos no ato da mesma troca.

Portanto, durante o período de observação das reuniões, verificou-se que a participação efetiva e reflexiva não se constitui como uma prática adotada habitualmente pela Secretaria de Educação nas ações planejadas – a sua própria estrutura organizacional e práticas políticas do poder local, de que a secretária faz parte, não permitem isso. Existe o beneficiamento de uma parcela das pessoas que se destacam nas escolas, incluindo gestores e professores; a passividade existe e impede a gestão democrática. Os sujeitos envolvidos não estão aptos a exercer uma postura de participação democrática, pois apenas absorvem o que seu líder repassa e transmitem, em forma de ações, para as escolas a que prestam serviço. Observaremos a seguir, a entrevista realizada com a gestora de uma escola municipal e seu posicionamento quanto a gestão democrática e o apoio da SME.

Se até o momento demos prioridades de investigação à Secretaria de Educação e às práticas políticas dessas forças políticas, com exceção das reuniões com os diretores, escolhemos a Escola Municipal Senador José Aragão, que sempre é elogiada pela SME por desenvolver atividades e projetos que se destacam no município. Entendemos que seria importante tomar contato com o diretor dessa escola para que pudéssemos contrastar a prática política da SME e do poder político local com uma escola. Teria sido bem melhor se tivéssemos feito observações no cotidiano dela, mas pela natureza da pesquisa, dissertação de mestrado, tempo curto para elaboração desta, decidimos colher minimante dados e perceber se há rupturas ou diferenças dessas significações.