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Em 2007, FREIRE FILHO et al. indicaram os principais desafios que precisavam ser enfrentados por iniciativas de transferência de tecnologias e de marketing para desenvolver a produção nacional de feijão-caupi, os quais estariam envolvidos com a diversificação e a popularização do seu uso culinário, com a expansão do seu consumo para todas as regiões do país e com a integração de sua cadeia produtiva com a agroindústria. Esses desafios ainda se fazem

presentes nos dias de hoje e o mapeamento da produção do feijão- caupi, proporcionado por este estudo, pode ser amplamente utilizado em todos esses esforços, que visam desenvolver tecnologicamente a produção dessa cultura.

Como foi apresentado, a partir das estimativas da safra de 2013 e de algumas de 2012, recebidas por e-mail, diretamente das Supervisões Estaduais do IBGE, este trabalho gerou um levantamento dos

municípios brasileiros produtores de feijão-caupi, com base em área colhida e produtividade. As informações permitiram vislumbrar, dentre outros desdobramentos, um mapa da localização e o perfil da produção municipal do feijão-caupi, em diferentes regiões de cada estado

produtor. É possível identificar onde estão as maiores e as menores produtividades, em sua relação com a área plantada e a área colhida. Os dados mostram, claramente, por exemplo, que os estados da região Nordeste, em geral, apresentam produtividades muito baixas de caupi. Isso decorre, provavelmente, do uso praticamente inexistente de tecnologia e do emprego de cultivares tradicionais, que têm baixa capacidade produtiva. A pequena produtividade de sistemas de sequeiro, na primeira safra, pode decorrer, principalmente, do pouco uso de cultivares melhoradas, do reduzido emprego de tecnologias no manejo da lavoura e das condições climáticas desfavoráveis (OLIVEIRA et al., 2013). A observação dos mapas e das tabelas deste estudo pode contribuir para definir prioridades e estratégias de tranferência de tecnologia direcionadas para essa região.

Uma das formas mais práticas para que um agricultor adote uma tecnologia inovadora é a introdução de novos materiais genéticos, de novas cultivares, onde a única inovação, para ele, está vinculada ao uso da sementes no seu sistema de produção. Isso não altera a sua forma de trabalhar, não afeta práticas rotineiramente utilizadas, tais como capinas, controle de pragas e doenças, adubação, colheita e beneficiamento. A introdução de cultivares melhoradas facilita, portanto, a adoção de uma tecnologia pelo agricultor. Por exemplo, isso

ocorre em circunstâncias com reconhecida dificuldade de aceitação de qualquer forma de inovação, pelo sistema agropecuário, como é o caso dos sistemas de produção nordestinos, que até hoje são pouco alterados, pela dificuldade de aceitação de novos empreendimentos, devido ao baixo nível cultural dos produtores. Por outro lado, os benefícios tornam-se reconhecidos e a introdução de novos materiais genéticos incrementa a produtividade e a rentabilidade, com reflexos significativos sobre os parâmetros sociais dos agricultores e de suas famílias (SANTOS et al., 2009).

O uso de cultivares melhoradas, porém, não garante a obtenção do elevado potencial produtivo gerado pelo melhoramento genético. Uma boa produção depende do sistema de produção adotado, que pode ser inadequado. Não adianta esperar alta produtividade fundamentada somente em melhoria genética de plantas. O agricultor precisa conhecer o solo, o histórico da área, semear no melhor período e na população de plantas mais apropriada, adubar com os nutrientes necessários e na quantidade correta e adotar os tratos culturais recomendados para a cultura (OLIVEIRA JR. et al., 2013).

É preciso combater o que limita o rendimento, principalmente, na região nordestina, investindo na transferência de recursos tecnológicos, cultivares melhoradas e inoculantes desenvolvidos para a cultura. São muitos os municípios com produtividade muito baixa. Aqueles com produtividade abaixo das médias estaduais são ainda mais carentes, sendo urgente direcionar esforços para introduzir conhecimento e tecnologia nessas localidades. É sempre interessante vincular o fornecimento de inoculantes aos programas de distribuição de sementes de cultivares melhor adaptadas para as condições climáticas específicas ou buscar outras formas de distribuição dessa tecnologia.

É preciso destacar que, no Nordeste, 2012 e 2013 foram anos de forte seca, que comprometeu drasticamente a safra de grãos. Devido à forte estiagem ocorrida em 2012, em 2013, os agricultores ficaram com receio de usar a área disponível para plantio, agravando ainda mais

a situação. A água armazenada em reservatórios, rios e açudes, foi menor e isso ocorreu em vários estados dessa região, sendo necessário investir permanentemente, também, em tecnologias que levem água até as suas lavouras.

A grande diversidade observada neste estudo, quanto ao tamanho das áreas cultivadas e às produtividades obtidas, indica que o segmento produtivo de feijão-caupi, no Brasil, é altamente desorganizado. Os dados aqui apresentados são estimativas do IBGE e desenham um mapa desse setor produtivo. Precisam ser detidamente considerados, no contexto do projeto “MP4 de FBN” e em estudos posteriores, pois permitem que se extraia deles informações para orientar o

estabelecimento de prioridades nas agendas das ações de transferência da tecnologia de inoculação do feijão-caupi previstas para essas regiões produtoras.

Para FREIRE FILHO et al. (2011a), não é preciso ampliar a área

destinada ao cultivo do feijão-caupi, mas, sim, investir em tecnologias para combater a baixa produtividade e aumentar a produção. Os dados das tabelas deste estudo confirmam essa avaliação. Nesse contexto, é fundamental o apoio, acompanhamento e assistência das redes de ATER, uma vez que, devido ao baixo nível cultural dos produtores, há tendência de não aceitação de novos empreendimentos e tecnologias. Na região Norte, a área cultivada e a produção são pequenas, mas a produtividade é similar à média nacional, em função das áreas férteis e do clima favorável. No Centro-Oeste, o cultivo está sendo feito em larga escala, mas, por ter sido iniciado em 2006, ainda é pequeno, sendo que já exibe uma produtividade superior à média nacional, e que a cultura já representa uma importante alternativa para os arranjos produtivos da região, especialmente na segunda safra (safrinha). No Nordeste, enfim, é preciso investir fortemente em esforços que possam de levar, de fato, as tecnologias disponíveis para feijão-caupi até o agricultor.

A Embrapa pode contribuir fortemente para aumentar a produtividade do feijão-caupi, em todas as regiões produtoras. Junto com o

inoculante desenvolvido para a cultura, dispõe, dentre várias tecnologias, de cerca de 40 cultivares geneticamente melhoradas, ressaltando-se que todo esse esforço, resultante de pesquisas de décadas, já proporcionou a expansão do cultivo do feijão-caupi do Nordeste para o Norte e o Centro-Oeste do País (EMBRAPA, 2013). Nesse contexto, este estudo pode ser utilizado para avaliar a

distribuição geográfica e a intensidade dos esforços de transferência da tecnologia de inoculação, que devem ser adotados para que o produtor de feijão-caupi possa se apropriar e ser beneficiado pelo elevado potencial de produtividade que o uso dessa tecnologia nessa cultura possui.

Agradecimento

À colega Osmira Fátima da Silva, da Embrapa Arroz e Feijão, pela generosa colaboração e orientação, no início deste estudo, sobre como utilizar a Base SIDRA do IBGE.

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