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5. ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO DISCURSIVA DO GÊNERO NOTÍCIA E DO GÊNERO

5.1 NOTÍCIA: POLÍCIA INVESTIGA VÍDEO QUE EXIBE JOVEM APÓS SESSÃO DE

5.1.1 COMENTÁRIOS

Como observamos na teoria sociocognitiva de van Dijk, a manipulação é uma das formas mais poderosa das elites simbólicas de tentar mudar os conhecimentos e as opiniões pessoais e subjetivas de determinados grupos, mediante ao uso do poder e da dominação. Nos comentários publicados na notícia acima, identificamos que os internautas compartilharam modelos mentais mais ou menos parecidos com o discurso do eu-mesmo. Desse modo, os comentários, praticamente, foram unânimes contra os agressores, construindo, assim, uma representação social negativa desses atores sociais:

AS C1 Cadê os direitos humanos para amparar essa menina? Ah! Já

sei estão empenhados em defender esses BANDIDOS quando eles forem presos.

AS C2 Tem que pegar uns caras desses e meter cabo de vassoura

no rabo deles até estourar tudo por dentro e deixar morrendo de dor aos poucos

AS C3 O Que dizer de uns monstros desses, esses lixos tem que ser

incinerados no inferno, bem longe da sociedade para que os direitos humanos não venha defende-los, tem que arder no fogo do inferno, miseráveis, aberrações do diabo!!

AS C4 Fuzilamento já pra esses animais! Ainda expõem como se

fosse um feito bonito! Um absurdo!

AS C5 Eu viveria até o último dia da minha vida para matar esses

monstros com requinte de crueldade até o último suspiro dele

AS C6 33 ESTUPRADORES SOLTOS !!! CADEIA NELES! JÁ !!! AS C7 Barbarie extrema, lamentável !! precisamos de pena de morte

para estes casos, ja expuseram sua culpa nas redes sociais. Não são seres humanos, que deus abençoe esta menina.

AS C8 PELO AMOR DE DEUS, ENCONTREM ESSA MENINA E

FAÇAM JUSTIÇA! MISERICÓRDIA, SENHOR! QUE MUNDO É ESSE?

AS C9 Aina tem pessoas que contra a pena de morte. Isso é um caso

que iria funcionar, eliminar mais de 30 criminosos de uma unica vez. Puxa a ficha policial deles, com certeza pelo menos 80% ja tem passagem.

AS C10 Vocês vão ver o trem passar na cadeia, lá vocês irão ser

estuprados e vão aprender a fazer isso com as filhas dos outros. Bandido não perdoa estuprador. Podem ir preparando as nádegas

A partir desses comentários, formados por meio das informações detalhadas na notícia jornal online Extra, encontramos estruturas discursivas que nos levam a interpretar sobre a representação social negativa dos agressores. Essas estruturas são:

,

Nos comentários mencionados, os internautas construíram um discurso conservador como forma de expressar os seus sentimentos de ódio, ameaça e indignação referente ao estupro. Essa noção que temos, ao identificar esse tipo de discurso, é resultado das escolhas linguísticas encontradas nos argumentos. Exemplo disso, destacamos a lexicalização, que é capaz de reforçar conceitos, aparências e valores positivos ou negativos sobre o outro.

No campo semântico, essas escolhas lexicais podem atuar como um intensificador de significado de palavras, como é o caso da hipérbole. Na

muitas vezes, para fazer uma autorrepresentação positiva ou uma representação negativa dos grupos sociais. Na descrição precisa e detalhada dos argumentos, os internautas selecionaram algumas palavras como, por exemplo, os adjetivos, para provocar uma qualificação exacerbada sobre a imagem do agressor

Esses adjetivos formam os marcadores discursivos do modelo de contexto e são necessários para colocar em evidência a subjetividade do enunciador

contra os agressores: “bandidos”, “animais”, “monstros”, “lixos”,

“criminosos”; “miseráveis”; “estupradores”. Certificamos que essas palavras e tantas outras, como os verbos “fuzilamento”, “matar”, “meter cabo de vassoura” promovem sentimentos de rancor e ódio nos comentários, a fim de representar os agressores como os únicos responsáveis pelo estupro.

Fuzilamento já pra esses animais! Ainda expõem como

se fosse um feito bonito! Um absurdo!

Fonte: própria da pesquisadora [trecho extraído do jornal online Extra, no dia 25/05/2016]

As expressões multimodais também servem como recurso linguístico para construir uma representação social negativa do agressor. Nos comentários, identificamos alguns enunciados escritos em forma de caixa alta. Esse recurso multimodal faz parte do processo de construção de sentido do enunciador, que visa enfatizar a intenção ou propósito com o comunicado.

33 ESTUPRADORES SOLTOS !!! CADEIA NELES! JÁ !!

Fonte: própria da pesquisadora [trecho extraído do jornal online Extra, no dia 25/05/2016]

Nesse excerto, a numeração “33” tem como finalidade reforçar a credibilidade argumentativa das ideias. Ou seja, foram trinta e três criminosos que praticaram o estupro, uma quantidade significativa para que o caso fosse apurado. A nível local, a escolha lexical “estupradores”, colocada como o sujeito da topicalização sentencial do enunciado, juntamente com a dêixis de tempo “já”, introduzem a culpabilidade dos acusados e, ainda, expressam o

Ainda, há enunciados que internautas tentam heufemizar as suas argumentações. Essa figura retórica é usada como uma estratégia de autorrepresentação positiva, pois, o eu-mesmo tenta preservar a sua opinião negativa sobre o estupro coletivo. Desse modo, ao invés de construir um discurso ofensivo como os demais exemplos mostrados, o produtor do comentário suaviza os seus argumentos com apelos divinos: “Pelo amor de Deus” e “misericórdia Deus”.

“ PELO AMOR DE DEUS, ENCONTREM ESSA MENINA E FAÇAM

JUSTIÇA! MISERICÓRDIA, SENHOR! QUE MUNDO É ESSE?”

Fonte: própria da pesquisadora [trecho extraído do jornal online Extra, no dia 25/05/2016]

Como observamos nas análises, as estruturas discursivas evidenciam o posicionamento do eu-mesmo – jornalista e internauta - no discurso. A subjetividade marcada nos enunciados é reflexo das ideologias (sistema de crenças) armazenadas na memória de longo prazo do produtor do texto, possibilitando que o modelo de evento (estupro) construído na notícia fosse escrito e compartilhado socialmente, por meio de uma base de conhecimento em comum. Portanto, os conjuntos de crenças alocados nos modelos mentais dos internautas contribuíram para que esses atores sociais construíssem discursos fundamentados em representações sociais negativas sobre os agressores. .

Esclarecemos que nessa primeira notícia, a representação social da jovem, abusada sexualmente, é diferente das demais notícias, uma vez que a características pessoais da adolescente não foram relatadas nesse primeiro momento do discurso jornalístico.

5.2 NOTÍCIA: ESTUPRO COLETIVO FOI MOTIVADO POR VINGANÇA DE