Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação
de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos
que justifiquem sua proteção;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
147. No que tange às competências dos Ministros de Estado, assim dispõe o texto constitucional:
Art. 87. (…)
Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições estabelecidas nesta Constituição e na lei:
I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da República;
II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos;
III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no Ministério;
IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República .
148. A Lei nº 13.844, de 18 de junho de 2019, prescreve, por sua vez, as competências da pasta comandada pelo Sr. Ricardo Salles, quer sejam:
Art. 39. Constituem áreas de competência do Ministério do Meio Ambiente:
I - política nacional do meio ambiente;
II - política de preservação, conservação e utilização sustentável de ecossistemas, biodiversidade e florestas;
III - estratégias, mecanismos e instrumentos econômicos e sociais para a melhoria da qualidade ambiental e o uso sustentável dos recursos naturais;
IV - políticas para a integração do meio ambiente e a produção econômica;
V - políticas e programas ambientais para a Amazônia;
VI - estratégias e instrumentos internacionais de promoção das políticas ambientais;
149. A Lei n. 1.079, de 10 de abril de 1950, define os crimes de responsabilidade cometidos pelo Presidente da República e Ministros de Estado, prescreve as respectivas penas e regula o processo de julgamento das denúncias desta natureza. O dispositivo define que:
Art. 2º - Os crimes definidos nesta lei, ainda quando simplesmente tentados, são passíveis da pena de perda do cargo, com inabilitação, até cinco anos, para o exercício de qualquer função pública, imposta pelo Senado Federal nos processos contra o Presidente da República ou Ministros de Estado, contra os Ministros do Supremo Tribunal Federal ou contra o Procurador-Geral da República.
Art. 13. São crimes de responsabilidade dos Ministros de Estado: 1 - os atos definidos nesta lei, quando por eles praticados ou ordenados;
2 - os atos previstos nesta lei que os Ministros assinarem com o Presidente da República ou por ordem deste praticarem;
4 - Não prestarem dentro em trinta dias e sem motivo justo, a qualquer das Câmaras do Congresso Nacional, as informações que ela lhes solicitar por escrito, ou prestarem-nas com falsidade.
150. Temos que as condutas do Ministro do meio Ambiente narradas e fartamente comprovadas até este momento, assim como o incalculável e irreparável dano ambiental e financeiro gerado por eles configuram de maneira inequívoca uma série de crimes de responsabilidade cometidos de maneira consciente, dolosa e reiterada.
151. Notadamente, temos que, quando expede ordens ou atos contrários aos princípios constitucionais (art. 37, Constituição Federal) da legalidade, impessoalidade, publicidade, moralidade, e eficiência no âmbito da preservação ambiental; quando desatende de maneira sistemática as competências constitucionais (arts. 39 e 225 da Constituição Federal) e infraconstitucionais de agir para proteger o meio ambiente e, ademais, age de maneira a prejudicar as ações de combate à degradação ambiental, o Ministro do Meio Ambiente comete os crimes de responsabilidade prescritos no artigo 9º, item 4, da Lei 1.079/1950.
152. Quando autoriza e assina a exoneração de servidores como punição por ações de fiscalização que cumpriram integralmente a lei e alcançaram os objetivos pretendidos em uma ação desta natureza, viola o artigo 9º, itens 5 e 6, da Lei 1.079/1950.
153. Quando atua para mitigar as ações de fiscalização ambiental, incluídas as medidas de autuação de infratores e execução das respectivas multas, colaborando de maneira direta para o enriquecimento ilícito desses grupos, infringe simultaneamente o artigo 11, item 5, da Lei 1.079/1950 e os incisos X e XII do artigo 10º da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992.
154. Quando deixa de empreender quaisquer esforços para o cumprimento das cláusulas ambientais do Acordo Comercial UE-MERCOSUL, compromete a execução do acordo e da capacidade comercial do País no mercado mundial, colocando em risco de deficit a balança comercial brasileira e gerando dano indireto ao Erário, infringe o inciso X do artigo 10º da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992.
155. Quando se omite dolosamente diante de grandes tragédias ambientais, como o derramamento de petróleo no litoral do Nordeste brasileiro e o aumento dos desmatamentos e incêndios na Amazônia Legal em 2019, deixando de acionar os mecanismos legais (respectivamente, o PNC e o PPCDAm) existentes e comprovadamente eficazes de proteção ambiental, incorre em flagrante e inequívoco ato de improbidade administrativa, na forma do artigo 11, inciso I, da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992.
156. Quando se recusa a responder de maneira ampla e transparente aos questionamentos do Parlamento, incorre no crime de responsabilidade prescrito no §2º do artigo 50 da Constituição Federal, combinado com o item 4 do artigo 13 da Lei 1.079/1950.
157. Temos que, a esta altura, os crimes de responsabilidade cometidos de maneira reiterada e dolosa pelo Ministro do Meio Ambiente já causaram prejuízos incalculáveis danos ao patrimônio brasileiro. Os danos ambientais, por sua própria natureza, em especial em ecossistemas de equilíbrio frágil e em franca ameaça, como os que são encontrados na Amazônia Legal, atraem a necessidade de tutelas de urgência.
158. Isso, porque tendem a ser irreversíveis ou, quando muito, de dificílima reversão. Esta compreensão, a da importância incalculável do patrimônio socioambiental brasileiro e da necessidade premente de protegê-lo, deve orientar a ação de qualquer governo, de qualquer cor partidária, que venha a assumir o Poder Executivo Federal no País, sob pena da necessidade de intervenção dos demais poderes para assegurar a proteção ambiental prevista na Constituição Federal e dispositivos infraconstitucionais atinentes à matéria. Todos os fatos aqui narrados deixam claro que há em curso um verdadeiro desmonte, ilegal e inconstitucional, na legislação ambiental brasileira, que coloca em risco os princípios socioambientais que guiam a Constituição Federal de 1988.
159. É fundamental, por isso, que a Procuradoria-Geral da República tome as providências cabíveis pelos verdadeiros atentados contra o Direito fundamental ao Meio
Ambiente ecologicamente equilibrado e não assista inerte os permanentes e reiterados ataques contra a Carta Magna, as leis ambientais e os Tratados Internacionais de Direitos Humanos assinados pelo Brasil.