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Comissão de patronato da EICAS: um elo entre a escola e a indústria

2. DOCUMENTOS/MONUMENTOS: A Escola Técnica Nacional (ETN) e a Escola

2.2. O ensino técnico em Portugal no século XX

2.2.3. Comissão de patronato da EICAS: um elo entre a escola e a indústria

A Comissão de Patronato, criada para ser o elo entre escola e indústrias da localidade escolar, estava devidamente regulamentada pelo Art. 6º do Estatuto do Ensino Profissional e Comercial. Faziam parte dessa Comissão professores e o diretor da escola, representantes da indústria e do comércio pertencentes à localidade da escola e os sindicatos. A reunião aconteceria mediante convocação do Presidente da Comissão e, obrigatoriamente, duas vezes por ano.

A formação da comissão de patronato da EICAS foi deliberada no Decreto-Lei de criação da Escola, em cujo documento estavam descritas as atribuições cabíveis a ela:

1º Prestar ao Ministério da Educação Nacional colaboração efectiva nos trabalhos de instalação e apetrechamento da Escola;

2º Dar parecer sôbre os planos e programas do ensino de carácter profissional ministrado na Escola e propor, fundamentando-as, as alterações que as necessidades locais aconselharem;

3º Obter subsídios destinados à fundação e manutenção do refeitório escolar e de outras formas de auxílio aos alunos que dele precisem e o mereçam, designadamente prémios e bolsas de estudo;

4º Auxiliar o funcionamento das oficinas escolares, quando existam, pelo fornecimento de matérias primas e pelo aproveitamento dos artigos produzidos;

5º Promover a realização de estágios profissionais de aperfeiçoamento dos alunos ou antigos alunos da Escola e a colocação dos diplomados de harmonia com as suas capacidades;

6º Pronunciar-se sôbre todos os assuntos que lhe forem apresentados pelo director da Escola. (PORTUGAL, DECRETO-LEI n. 35.402 de 1945).

A Comissão de Patronato da EICAS era constituída pelos representantes da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses; Companhia União Fabril (CUF); Grémio do Comércio dos Concelhos do Barreiro e Moita; Sindicato dos Operários Metalúrgicos do Distrito de Setúbal; Secção do Barreiro do Sindicato dos Operários da Construção Civil; Sindicato Nacional dos Ferroviários do Sul de Portugal, pessoal de oficina e armazéns gerais; Sindicato Nacional do Sul de Portugal, pessoal do movimento tração, via e obras e serviços regionais; Emprêsa das Indústrias Metalúrgicas; Emprêsa de Carpintaria Mecânica e Mercearia e por fim, Emprêsas Transformadoras de Cortiça.

Essa comissão deliberou, segundo o Relatório de Actividades Escolares (1954-1955), a criação de novos cursos, como o de Formação de Auxiliar de Laboratório Químico, devido ao fato de o Barreiro ter sido o maior centro industrial químico do país, que tinha como seu maior empregador a CUF. O curso de Formação Feminina também foi solicitado, em decorrência das moças desejarem frequentar um curso especificamente feminino; a comissão deu preferência também ao curso Geral de Comércio, por satisfazer melhor as pretensões dos alunos e dos comerciantes.

O representante da CUF na Comissão de Patronato solicitou, em reunião, a abertura de um curso para Electricista, fundamentando sua petição na necessidade que a Companhia tinha de empregados habilitados com o curso pedido. (RELATÓRIO DE ACTIVIDADES ESCOLARES, 1952-1953)

A implantação de alguns desses cursos teve que aguardar o término das construções, da primeira e segunda fases, realizadas na Escola para a ampliação do espaço físico das salas de aulas e das oficinas. Com a abertura dos cursos, a formação dos professores para lecionarem as disciplinas técnicas, não foi um problema, ao contrário do que ocorreu no Brasil. A Comissão de Patronato da EICAS, não organizou cursos de formação e aperfeiçoamento para professores das disciplinas técnicas, já que estas poderiam ser lecionadas por profissionais competentes da área que fossem oriundos das indústrias da região do Barreiro.

O estágio era necessário ao ensino industrial, para consolidar a formação técnica do estudante em ambiente de práticas profissionais das indústrias. Sendo assim, a Companhia

União Fabril e a dos Caminhos de Ferro Portugueses, por intermédio de seus representantes na dita Comissão, autorizavam que os estágios fossem realizados em suas respectivas oficinas.

Os méritos da Comissão de Patronato da EICAS foram reconhecidos no discurso do Presidente da República, Jorge Sampaio (1939 -), proferido para as festividades dos 50 anos da Escola Secundária Alfredo da Silva, antiga EICAS, no ano de 1997:

[...] constituída por representantes locais, e que detinha importantes atribuições em relações aos planos e programas de ensino, à instalação e funcionamento da Escola, à realização dos estágios profissionais e à inserção dos novos diplomados no mercado de trabalho. Vocacionada para estabelecer um “entrelace entre a escola e o contexto social”, esta Comissão foi essencial para a consolidação de uma comunidade escolar forte. Foi através dela que se concretizou a participação da CUF e dos Caminhos de Ferro Portugueses no projecto da escola, companhias que asseguraram a realização de muitos estágios de aperfeiçoamento e a posterior integração dos alunos nos seus quadros de pessoal. (SAMPAIO, 1997, p. 31)

Das inúmeras ações realizadas pela Comissão de Patronato da EICAS, não constam nos registros pesquisados a inserção, utilização ou discussão a respeito de uma pedagogia específica para o ensino industrial. Assim como aconteceu de a CBAI incluir a Educação Industrial brasileira e a Pedagogia TWI, estadunidense.

Podemos considerar que tal Pedagogia era oriunda das CUF e demais fábricas, já que o ensino das disciplinas técnicas estava aos cuidados dos profissionais daquelas indústrias. Mas, o ensino em geral estava sob a responsabilidade do Estado Novo, e este, segundo Nóvoa (1992), edificou um modelo de escola e de educação que não tinha memória na instrução pública portuguesa. O conservadorismo nacionalista construiu uma tradição com base nos valores ditos imutáveis e na revivificação de certas práticas sociais. Os ideólogos nacionalistas não encontraram propostas reformadoras, experiências pedagógicas, educadores passíveis de serem considerados fundadores da nova ordem. O regime não possuía antepassados pedagógicos reais, assim erigiram as figuras míticas e religiosas em heróis educativos.

Foi nos anos 1960 que, segundo Nóvoa (1992), se formou uma nova geração pedagógica impregnada do espírito da Educação Nova, para fomentar novos debates educativos e pedagógicos. Como mencionamos anteriormente, não constam nos registros dos documentos investigados, discussões na EICAS, a respeito de uma pedagogia aplicada ao ensino técnico.

A Comissão de Patronato foi fundamental na formação do futuro técnico da EICAS, tendo como umas das grandes preocupações oferecer estágios nas fábricas e conseguir que os alunos tivessem bom rendimento neles. Preocupava-se também, em equipar e realizar

manutenções nas oficinas da Escola, tendo em vista que aquele era um local importante para a formação técnica dos estudantes.