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COMITÉ PARA EL DESARROLLO SUSTENTABLE DE LAS REGIONES

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6. CAPÍTULO V: DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL EM

6.6. COMITÉ PARA EL DESARROLLO SUSTENTABLE DE LAS REGIONES

MONTAÑOSAS DE LA REPÚBLICA ARGENTINA”

O “Comité Para El Desarrollo Sustentable De Las Regiones Montañosasde la

República Argentina”(CDSM-Argentina) é considerado exemplo a ser seguido pelas Nações

Unidas. É meritório a criação do Comitê por ser um fórum de diálogo direcionado específicamente a realidade das montanhas argentinas. Exemplo de trabalho relevante do CDSM-Argentina é o documento “Diagnóstico nacional de las zonas montañosas de la

República Argentina”. Este documento foi elaborado com recursos da FAO. Isto demonstra a

importância de disponibilizar recursos para projetos de conselhos gestores ou de programas aprovados pelos mesmos. Transformar em ações - através de editais e projetos - propostas dos conselhos gestores pode motivar a participação nessas arenas de poder.

De acordo com os objetivos propostos e ações realizadas pelo CDSM-Argentina observados no capítulo II, o Comitê pode ser replicado no Brasil. Para isto, é necessário que o governo brasileiro considere a realidade diferenciada de seus ambientes de montanha. Brasil criando um Conselho Nacional de Montanhas estará cumprindo as orientações do Capítulo 13, da Agenda 21, da qual é signatário, conforme visto no Capítulo III.

A formação de um Conselho Nacional de Montanhas no Brasil poderá contar com a participação, como na Argentina, de Ministérios que atuam nesses ambientes, como Ministério do Meio Ambiente, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Integração Nacional, entre outros órgãos governamentais brasileiros; e também de instituições não governamentais, presentes e atuantes nos ambientes de montanha. No Brasil, em um futuro Conselho Nacional de Montanhas, se este for deliberativo, direcionamentos primordiais se fazem necessários, tais como: quais são os ambientes de montanha no Brasil e seu mapeamento; diagnóstico considerando-se questões sociais, ambientais e econômicas dessas áreas; definir o que é agricultura de montanha; legislação específica; deliberações sobre ações preventivas relacionadas aos efeitos das mudanças climáticas, entre outros.

No Capítulo IV, chamou a atenção, a ausência sentida pelos dirigentes de associações em relação aos representantes do PETP, assim como maiores informações relacionadas ao Parque e suas diretrizes. Um futuro Conselho Nacional de Montanhas no Brasil poderá auxiliar a fomentar políticas institucionais e ações públicas que possibilitem a aproximação maior dos representantes governamentais junto aos povos das montanhas.

O Conselho Nacional de Montanhas no Brasil poderá tornar-se fórum de diálogo, reflexão e decisões sobre questões estratégicas aos ambientes de montanha, observando que as terras altas necessitam de tratamento diferenciado devido as suas características.

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6.7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Argentina e o Brasil assinaram tratados internacionais que contemplam a proteção, conservação e estabelecem propostas de ações para fomentar o desenvolvimento rural sustentável de seus ambientes de montanha. Os dois países precisam avançar nessas propostas implantando políticas institucionais e ações públicas o mais breve possível. Isto porque as montanhas são grandes produtoras de água, entre outros serviços ambientais, mas também são frágeis; e com as mudanças climáticas que se fazem presentes, torna-se urgente a implantação de programas que visem à segurança e a melhoria da qualidade de vida dos povos montanheses. Torna-se fundamental, portanto, diferenciar políticas institucionais e ações públicas direcionadas a terras baixas, daqueles direcionados aos ambientes de montanha.

A beleza cênica das montanhas e o modo de viver peculiar das comunidades localizadas nesses ambientes atrai o turista. Manter a paisagem, de forma a conservar a biodiversidade dos ecossistemas de montanha, conciliando a produção agrícola sustentável, paralelamente a cultura tradicional dos povos montanheses é um desafio. Desafio para os tomadores de decisão que precisam promover políticas institucionais e ações públicas condizentes com os tratados internacionais assinados pela Argentina e Brasil.

O ADRS-M pode e deve ser adaptado tanto pela Argentina, quanto pelo Brasil, para as suas realidades. Observa-se que em primeira instância, segundo o projeto da FAO, é necessário criar um banco de dados sobre as montanhas, contendo informações socioeconômicas, culturais, históricas, climáticas, geológicas, hidrológicas, sobre a biodiversidade, entre outras. Dados provenientes do mapeamento das atividades agrícolas, e como estas são realizadas, são fundamentais para esse diagnóstico. Com esse banco de dados será possível traçar cenários para os ambientes de montanha nas próximas décadas. As experiências obtidas em outros países, no projeto ADRS-M, poderão servir como exercício de reflexão para que pesquisadores, extensionistas, formuladores e executores de políticas públicas no Brasil e na Argentina promovam trabalhos direcionados às realidades encontradas em suas montanhas.

Os trabalhos realizados no Território da Serra do Brigadeiro (TRS) poderão ser utilizados como exemplo de ações a serem desenvolvidas em ambientes de montanha. Avaliando-se os trabalhos realizados no TRS - observando-se os aspectos positivos, e aspectos que necessitam de aperfeiçoamento – este poderá ser replicado em outras regiões. O TSB possui o Colegiado de Desenvolvimento Territorial (CODETER). A replicação dessa arena de poder, em ambientes de montanha, poderá ter como objetivo principal, a nível regional, ser o fomentador das diretrizes traçadas nos acordos internacionais, que apresentam a montanha como questão a ser considerada; além de ser o órgão decisório de ações públicas a serem implantadas.

A criação de centros de pesquisa e programas de pós-graduação, voltados especificamente para as montanhas, impulsionarão o desenvolvimento de tecnologia apropriada e a formação de profissionais capacitados para atuarem em ambientes de montanha, promovendo sua sustentabilidade.

A criação de marco legal para agricultura de montanha, nos moldes dos países europeus, poderá contribuir para a sustentabilidade das propriedades rurais argentinas e brasileiras. Definir o que é agricultura de montanha e sua localização auxiliará na promoção do desenvolvimento social e econômico das regiões montanhosas e também na conservação da sua biodiversidade e dos seus serviços ambientais.

O “Comité para el Desarrollo Sustentable de las Regiones Montañosas de la

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modificações necessárias conforme a realidade brasileira. No Brasil existe a possibilidade dessa arena de poder ser não apenas consultiva, mas também deliberativa, como nos moldes do CONAMA. O livro “Diagnóstico nacional de las zonas montañosas de la República

Argentina” pode servir de modelo para que o Brasil faça um diagnóstico, considerando os

biomas onde suas montanhas estão inseridas, seguindo o trabalho da Argentina que fez levantamento das montanhas localizadas especificamente em território andino. OCDSM - Argentina poderá viabilizar ações públicas direcionadas ao turismo rural, denominações territoriais agroalimentares, SAFs e PSA próprios para os ambientes de montanha.

A Argentina apresenta de forma evidente, como a cultura própria dos ambientes de montanha é atrativa para o setor de turismo rural. Cultura que abrange a gastronomia, que inclui, portanto, os produtos agroalimentares típicos; e também o modo de vida dos agricultores. Ações públicas que promovam circuitos gastronômicos e circuitos de turismo rural comunitário, com base na cultura dos territórios montanheses, e das belezas naturais desses ambientes, poderá promover a geração de emprego e renda dessas regiões. Os aspectos negativos e positivos observados pelos próprios participantes dos circuitos devem ser considerados em programas e projetos que venham a ser desenvolvidos no Brasil.

Produtos agroalimentares típicos podem ser apoiados através de programas de certificação. A proteção oficial do termo “montanhas”, como ocorre em alguns países da Europa, pode fortalecer a imagem positiva de produtos produzidos nesses ambientes. Produtos diferenciados são atrativos tanto para turistas, quanto para nichos de mercado diferenciado, protegendo o patrimônio cultural da comunidade, valorizando a região, e promovendo sua sustentabilidade. O projeto “Produits de la montagne” da FAO poderá servir de base para a promoção de projetos e programas relacionados a produtos agroalimentares típicos montanheses na Argentina e no Brasil. Divulgar e fortalecer os programas existentes sobre Indicação Geográfica e Denominação de Origem, no Brasil e na Argentina, em seus ambientes de montanha, contribuirá também para o fortalecimento do turismo rural.

Sistemas agroflorestais colaboram para o equilíbrio ambiental e a manutenção da paisagem, contribuindo, portanto, de forma indireta, para o turismo rural. Divulgar o que são SAFs e seus benefícios, inclusive econômicos, nas comunidades montanhesas brasileiras e argentinas é o passo inicial para que exista a possibilidade de interesse dos proprietários rurais em implantar esse tipo de consórcio. O desconhecimento dos produtores rurais sobre o que são SAFs é o primeiro impedimento para o avanço na sua implantação.

A utilização de SAFs em mecanismos de PSA poderá aumentar o interesse do produtor rural na implantação dos mesmos. Programas de PSA são incipientes na Argentina e mais avançados no Brasil. A experiência brasileira da ANA com o Programa Produtor de Água poderá contribuir no avanço de políticas públicas argentinas relacionadas ao tema. Mas percebe-se a importância de maior divulgação sobre PSA junto aos agricultores familiares montanheses.

Apesar da grande extensão que as terras altas ocupam no território brasileiro, as organizações governamentais, de forma geral, não perceberam a importância de trabalhar os ambientes de montanha em um contexto integrado, criando condições para que as populações das montanhas possuam qualidade de vida, assim como as comunidades das terras baixas que dependem de recursos fornecidos pelas terras altas, como, por exemplo, a água. Isto apesar do Brasil ser signatário de importantes documentos como Convenção sobre Diversidade Biológica (Decisão VII/27 - Mountain Biological Diversity) e Agenda 21 (capítulo 13: “Gerenciamento de Ecossistemas Frágeis: Desenvolvimento Sustentável das Montanhas”). O discurso do governo brasileiro, quando se relaciona os documentos provenientes das convenções ambientais globais, é antagônico as suas ações; já que políticas públicas não foram direcionadas ao desenvolvimento sustentável dos ambientes de montanha brasileiros.

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Nas arenas de poder a nível nacional também pouco se realizou frente às necessidades específicas das terras altas, inclusive não se implantando o PNEM.

O entendimento do governo federal sobre a importância dos ambientes de montanha e seu comprometimento com os acordos internacionais relacionados ao tema são necessários para a implantação de políticas institucionais e ações públicas direcionadas ao desenvolvimento rural sustentável nas montanhas brasileiras. Mas para o sucesso dessas políticas públicas, se fazem necessários diagnósticos que considerem o perfil e demandas do agricultor familiar montanhês brasileiro; banco de dados sobre montanhas, inclusive agricultura praticada atualmente nos ambientes de montanha brasileiros; capacitação de técnicos para trabalharem de forma sustentável nesses ambientes, inclusive com a criação de cursos e centros específicos; e a participação ativa dos povos das montanhas nas ações públicas e políticas institucionais brasileiras. Entende-se como prioritárias ações públicas relacionadas ao planejamento ambiental, pesquisa sobre agricultura de montanha e agroecologia; e também política institucional para a implantação de conselhos gestores nacional e regional focados nos ambientes de montanha.

A partir desta Tese observa-se a necessidade de pesquisas específicas relacionadas aos ambientes de montanha brasileiros. Por esta razão, recomendam-se, a partir das orientações das Nações Unidas, estudos:

- que possibilitem o mapeamento dos ambientes de montanha a nível nacional, com detalahamento que permita o planejamento ambiental em nível de comunidade ou de propriedade rural;

- que colaborem na formação de um banco de dados sobre agricultura praticada nos ambientes de montanha brasileiros, a “agricultura na montanha”;

- sobre atividades agrícolas e não agrícolas adequadas às particularidades intrínsecas aos ambientes rurais de montanha;

- sobre Conselhos Gestores que atuem em ambientes de montanha, tendo-se como foco a relação “Conselho-ambientes de montanha”;

- sobre história agroambiental dos ambientes de montanha;

- e de análise socioambiental, com foco na percepção do agricultor familiar montanhês sobre o ambiente em que vive.

Duas décadas se passaram, desde a elaboração do capítulo 13 da Agenda 21, e é urgente que o Brasil e a Argentina recuperem o tempo perdido, fornecendo condições necessárias para que os habitantes, agentes governamentais e a sociedade civil promovam o desenvolvimento sustentável em ambientes de montanha.

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