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Ferro injetável (no aplicações)

6.2 COMO É POSSÍVEL DIAGNOSTICAR PRECOCEMENTE E CARACTERIZAR A ANEMIA NA SEP?

No exame físico de saguis, a observação da mucosa hipocorada, alteração comum nos animais com SEP plenamente manifesta, representa um alerta para o clínico da necessidade de investigação e caracterização da possível anemia.

A avaliação das mucosas aparentes pode indicar o estado de saúde atual do animal, porém não é preciso o limite entre a coloração normal e patológica (FEITOSA, 2008). Em

algumas das fichas clínicas avaliadas verificamos dificuldade na definição da coloração da mucosa oral dos saguis e foram consideradas como “normo-hipocorada”, o que foi em duas vezes associado a hematócrito em limite inferior para a espécie.

A caracterização laboratorial do animal clinicamente anêmico requer a análise de amostras sanguíneas adequadamente colhidas e processadas. No entanto, a colheita de sangue dos calitriquídeos é geralmente dificultada pelo volume de sangue máximo que se pode colher, o qual não pode exceder um por cento do peso corpóreo (LUDLAGE; MANSFIELD, 2003). A contenção química nem sempre é indicada uma vez que a utilização de alguns anestésicos, como a cetamina, pode promover o decréscimo do hematócrito e dos neutrófilos circulantes em amostra de primatas não-humanos (MOORE, 2000). Como alternativa pode-se realizar somente o hematócrito e o esfregaço sangüíneo, como foi realizado neste estudo. Uma vez que os animais encontravam-se muito debilitados, foram colhidas pequenas amostras suficientes apenas para a realização do esfregaço e hematócrito em capilar heparinizado. Nestas amostras foi possível estimar o hematócrito, o número de leucócitos e caracterizar a morfologia celular, como descrito por Walker (2009).

Assim, a anemia na SEP foi caracterizada por macrocítica normo ou hipocrômica e hemolítica a semelhança de outros autores (CHALMERS et al., 1983, LOGAN; KHAN, 1996). O esfregaço sangüíneo foi importante para definir a gravidade e caracterizar o quadro anêmico pela observação de alterações celulares indicativas de atividade regenerativa ou outras mais específicas, como a presença de corpúsculos de Heinz já descritos na literatura (OMORPHOS; RICE-EVANS; HAWKEY, 1989, HAWKEY; DENNETT, 1989). A presença de esferocitose, eritroblastos binucleados e monócito com grânulos citoplasmáticos compatíveis com hemossiderina foram por nós diagnosticados pela primeira vez em amostra de saguis com SEP, o que enfatiza a importância da análise de esfregaços sanguíneos de animais doentes.

A esferocitose e monócito com grânulos citoplasmáticos compatíveis com hemossiderina são indicadores de hemólise extravascular, como já foi considerado por Walker (2009).

A observação de corpúsculos de Heinz nas hemácias de calitriquídeos pode ter interpretação controvérsia, uma vez que autores relataram a presença destes em saguis sadios (OMORPHOS; RICE-EVANS; HAWKEY, 1989, HAWKEY; DENNETT, 1989). De forma elucidativa, nós avaliamos preliminarmente 20 esfregaços sangüíneos de saguis não anêmicos e clinicamente saudáveis e não foi observado corpúsculos de Heinz em nenhuma das amostras (dados não mostrados). Neste sentido, nós acreditamos que o aparecimento desta alteração hematológica em animais com hematócritos normais pode ser um marcador inicial de distúrbio eritrocitário nesses animais, tais como anemia hemolítica.

As alterações em esfregaço sangüíneo, como a presença de esferócitos e hemácias policromatófilas, associadas ao aumento exacerbado de eritroblastos podem indicar também hemólise imunomediada (WALKER, 2009). Um achado constante nos animais estudados foi a presença de eritrofagocitose em baço e linfonodo, e em menor número no fígado e medula óssea. Esses achados são compatíveis com hemólise extravascular e estão de acordo com a literatura que descreve a ocorrência de anemia hemolítica extravascular na SEP (CHALMERS et al., 1983, JUAN-SALLÉS, 2003).

Iuchi et al. (2007) relacionaram à formação de auto-anticorpos, em hemácias que sofreram estresse oxidativo. Nas doenças inflamatórias intestinais crônicas dos seres humanos, como a Doença de Crohn e a colite ulcerativa, vários casos de anemia hemolítica já foram relatados com teste Coombs positivo (MORENA; GISBERT, 2008). Na literatura, também são encontrados relatos de anemia hemolítica na DC humana (MILLER, 2009). Com isso, pesquisas futuras relacionadas à formação de auto-anticorpos poderiam auxiliar tanto na avaliação da anemia nos calitriquídeos como na participação da patogenia da SEP.

Durante a avaliação dos exames de urina realizados nos animais ainda vivos, chamou atenção a presença de sangue oculto na urina em animais com hematócritos normais. Uma questão levantada por nós foi se este achado poderia ser um marcador inicial da anemia hemolítica nesses animais, uma vez que tais saguis após algumas semanas exibiram quadro clínico e laboratorial de anemia hemolítica. Entretanto, a presença de sangue oculto em fita reagente sem presença de hemácias em sedimento urinário, pode indicar também mioglobinúria ou falso-positivos para agentes oxidantes na urina (LATIMER et al., 1994).

Os procedimentos laboratoriais para diferenciar mioglobinúria e hemoglobinúria, não realizados por nós devido a amostra ser muito reduzida, incluem a saturação da urina com sulfato de amônia, agitação forte e centrifugação a 2000 rpm por 10 minutos. Depois, a urina é novamente analisada passando a tira reagente no sobrenadante, se o campo para sangue oculto for positivo significa que é mioglobinúria (LOPES et al., 2007).

Na miopatia nutricional, doença muscular que afeta principalmente ovinos, suínos, bovinos e aves, observa-se a presença de mioglobinúria. Esta enfermidade apresenta como fator predisponente a deficiência de vitamina E e/ou selênio. A deficiência desses nutrientes, que são responsáveis pela neutralização de radicais livres, leva a alterações da membrana celular resultando em acúmulo de cálcio na mitocôndria das células musculares e consequente morte celular ou necrose segmentar (RAPOSO, 2008).

Juan-Sallés et al. (2003) descreveram miopatia degenerativa dos calitriquídeos com SEP, verificaram aumento sérico da desidrogenase láctica (LDH), creatinoquinase (CPK) e aspartato amino-transferase (AST) nesses animais. Porém, não há trabalhos mostrando mioglobinúria ou hemoglobinúria na SEP.

Desta forma, para nós o exame de urina I, ou apenas a avaliação da fita reagente de urina, é uma importante ferramenta diagnóstica, pela facilidade de colheita da amostra e execução, com resultados rápidos. Além disso, pode auxiliar o clínico veterinário no diagnóstico precoce das anemias hemolíticas e principalmente ajudar na triagem dos saguis para avaliação laboratorial periódica.

Na maioria dos saguis deste estudo, foi colhida urina durante a necropsia para exame laboratorial. Consideramos que este procedimento é válido em carcaças frescas e possa auxiliar o patologista no diagnóstico das enfermidades e causas de mortes principalmente nos animais selvagens, pois normalmente não são realizados exames laboratoriais em vida. Nos calitriquídeos foi observada intensa hemoglobinúria em 81% dos animais anêmicos, que foram a óbito e possuíam hematócrito e esse resultado foi interpretado por nós como hemoglobinúria decorrente de anemia hemolítica.

A avaliação periódica dos calitriquídeos em cativeiro pode envolver também a realização de exames urina I, hematócritos e esfregaços sanguíneos, por nós considerados de fácil execução e que podem auxiliar o diagnóstico precoce da anemia hemolítica na SEP.

6.3 QUAIS SÃO AS ALTERAÇÕES ANATOMOPATOLÓGICAS DOS ÓRGÃOS LINFO-