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2. Marco Teórico-Conceitual

2.3. Como estimular o desenvolvimento das Funções Executivas: Implicações para as Políticas Públicas

A construção de uma base estimulante para o desenvolvimento das FE se faz necessária e com implicações importantes sobre o desenvolvimento sociocognitivo, principalmente na infância. Para entender a importância dessas habilidades podemos compreender a analogia das FE como uma torre de controle do tráfego aéreo, no qual é necessário lidar com várias demandas ao mesmo tempo e de forma eficiente, sendo capaz

39 de mudar de forma flexível, solucionar problemas, focando nas demandas imediatas e planejando e manipulando as novas informações que chegam.

Ao contrário do que se imagina o desenvolvimento dessas habilidades não acontecem de forma automática, é necessário que se dê oportunidades e que se ensinem tais habilidades. A literatura aponta para os benefícios da promoção das FE com caráter preventivo e essencial a ser desenvolvido em diferentes idades e com especial benefícios para populações vulneráveis (Diamond & Ling, 2016). Os estudos têm demonstrado que crianças que participaram de intervenções com foco no desenvolvimento das FE indicaram melhor desempenho em tarefas de FE, assim como benefício nas habilidades iniciais de alfabetização e matemática quando comparadas com crianças que seguiram o currículo convencional (Bierman, Domitrovich, et al., 2008; Diamond et al., 2007; Dias, 2013; Raver et al., 2011).

Diamond e Ling (2016) revisaram 84 estudos que usaram diferentes programas ou estratégias para desenvolvimento e estimulação das FE, entre eles treinos computadorizados, uso de exercícios físicos, yoga, artes marciais e programas de base curricular. Uma das conclusões enfatiza que crianças com baixo desempenho em FE se beneficiam mais de programas de estimulação das FE. Outro aspecto que as autoras pontuaram é que melhores ganhos em termos de melhoramento das FE foram encontrados em programas que estimulam diferentes componentes das FE e são mais abrangentes, incluem estratégias para grupos, com foco mais contextual e com maior intensidade e duração, já o treino de apenas um componente, em geral demonstrou uma transferência limitada para outros componentes das FE.

Além disso, Diamond e Ling (2016) enumeraram uma série de aspectos quanto ao treinamento das FE: 1) a maneira como as atividades são implementadas e conduzidas interferem nos ganhos das FE; 2) que os efeitos tendem a diminuir quando a prática das FE é finalizada; 3) as maiores diferenças entre os grupos experimental e controle que são mais consistentes são observadas nas tarefas que demandam maior FE, ou seja são mais complexas e envolvem mais componentes das FE; 4) poucos ganhos em FE são identificados em exercícios aeróbicos ou de treinos de resistência (musculação) se não for inserido um componente cognitivo; 5) que alguns ganhos podem ser encobertos e por conta disso não serem óbvios, como por exemplo os ganhos no treinamento computadorizado de memória de trabalho do COGMED pode ser devido ao processo de mediação oferecido pelos tutores.

40 Outra revisão sistemática buscou avaliar a eficácia de programas de estimulação das FE em crianças em idades pré-escolar e escolar e com desenvolvimento típico (Cardoso et al., 2016). As autoras revisaram 19 estudos, sendo que 6 deles foram conduzidos em sala de aula como inclusão curricular no período escolar. Os achados dessa revisão revelaram que no contexto escolar o professor tem um papel importante de mediador na promoção da FE, e que as intervenções em ambientes escolares são geralmente de maior duração comparadas ao treinos computadorizados ou específicos, além de serem de baixo custo. Além disso, 9 estudos estavam direcionados para a faixa etária escolar de 7 a 13 anos, sendo 4 de treinamento computadorizado, 2 de inclusão curricular escolar, 2 de tarefas de lápis-papel e jogos, e 1 de modalidade mista (computador e tarefas de lápis-papel), o que demonstra a escassez de programas de inserção curricular para crianças a partir de 7 anos (Cardoso et al., 2016).

Em geral os programas de estimulação das FE são heterogêneos e enfatizam diferentes aspectos das FE. Os programas se diferenciam quanto a duração, habilidades estimuladas, local e profissionais responsáveis, quanto a modalidade computadorizada, jogos educativos ou lúdicos, atividades de lápis-papel, histórias narrativas, programas curriculares escolar, técnicas e estratégias sistematizadas para sala de aula e sessões de treinamento cognitivo que mesclam diferentes estratégias (Bodrova & Leong, 2001; Diamond et al., 2007; Diamond & Ling, 2016; Dias & Seabra, 2013; Meltzer, 2010; Rosário et al., 2007; Rosário, Trigo, & Guimarães, 2003). É importante atentar-se para o tipo de programa, sabendo que a duração, a intensidade e maior variedade dos componentes estimulados indicam ser mais efetivos na composição de um programa para a estimulação das FE e da autorregulação.

A preocupação com o desenvolvimento das FE têm sido pauta de fóruns acadêmicos como o National Forum on Early Childhood Program Evaluation que resume estudos (Center on the Developing Child at Harvard University, 2011) com intuito de explicitar a importância do desenvolvimento das FE e a necessidade de se investir em Políticas Públicas que almejem elencar uma série de fatores como:

• Implementação de currículos de desenvolvimento das FE nas escolas.

• Desenvolvimento de Programas de Intervenção em FE adaptados à realidade brasileira e das escolas públicas.

41 • Políticas que enfatizem o desenvolvimento destas habilidades em pré-escolares como o Tools of the Mind (Diamond et al., 2007) e o programa brasileiro PIAFEX - Programa de Intervenção em Autorregulação e Funções Executivas (Dias e Seabra, 2013).

• Treinamento de professores e profissionais da educação para que possam promover o desenvolvimento de FE é importante para: lidar de forma mais eficiente com problemas de comportamento, suporte às crianças no controle dos impulsos, manutenção do foco atencional, organização e cumprimento das regras.

• Redução de fatores de risco do ambiente com o apoio de programas específicos para a redução da pobreza persistente, violência e maus-tratos, abuso de substâncias. Promoção de psicoeducação com os pais através de visitas domiciliares e apoio às famílias.

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3. Problema de Pesquisa e Objetivos