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CAPÍTULO 3 A ALIENAÇÃO PARENTAL: CONCEITO

3.1 Como identificar a alienação parental

Para que se possa dar amparo ao tema objetivando salvaguardar o melhor interesse do menor, foi sancionada em 26 de agosto de 2010, a Lei n.º 12.318 que dispõe sobre a alienação parental. Ela traz em seu corpo maneiras para que se possa reconhecer e, também, algumas medidas a serem adotadas nos casos em que ocorrer a alienação parental.

Além de deixar claro o que caracteriza a alienação parental, a lei também transcreve uma série de comportamentos que se encaixam na prática da alienação parental, porém, não considera esse rol taxativo. Assim, para melhor esclarecer a situação, faculta ao magistrado nomear perito para que se possa averiguar a veracidade do ato90.

O parágrafo único do artigo 2º da Lei da alienação parental expõe as formas de alienação parental, bem como as condutas assim consideradas pelo juiz, de acordo com o laudo pericial realizado com a assistência de terceiros:

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:

89

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 6 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 456.

90

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Direito de Família. vol. 6. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 306.

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade;

II - dificultar o exercício da autoridade parental;

III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós91.

Várias são as causas para que o alienador venha a praticar a alienação parental. Muitas vezes o alienador pratica a alienação parental mesmo sem ter a necessária consciência de tamanha dimensão e consequência do problema, tomado pelo sentimento de rejeição, inconformismo, frustração, servindo de castigo ao alienado pelo fracasso da relação conjugal92.

Como explica Maria Berenice Dias:

A criança é induzida a afastar-se de quem ama e que também a ama. Isso gera contradição de sentimentos e destruição do vínculo entre ambos. Restando órfão do genitor alienado, acaba identificando-se com o genitor patológico, passando a aceitar como verdadeiro tudo que lhe é informado. Neste jogo de manipulações, todas as armas são utilizadas, inclusive a assertiva de ter havido abuso sexual. O filho é convencido da existência de um fato e levado a repetir o que lhe é afirmado como tendo realmente acontecido. Nem sempre consegue discernir que está sendo manipulado e acaba acreditando naquilo que lhe foi dito de forma insistente e repetida. Com o tempo, nem o genitor distingue mais a diferença entre verdade e mentira. A sua verdade passa a ser verdade para o filho, que vive com falsas personagens de uma falsa existência, implantando-se, assim, falsas memórias. Esta notícia, levada ao Poder Judiciário, gera situação das mais delicadas. De um lado, há o dever de tomar imediatamente uma atitude e, de outro, o receio de que, se a denúncia não for verdadeira, traumática será a situação em que a criança estará envolvida, pois ficará privada do convívio com o genitor que eventualmente não lhe causou qualquer mal e com quem mantém excelente convívio. Mas como o juiz tem a obrigação de assegurar proteção integral, reverte a guarda ou suspende as visitas e determina a realização de estudos sociais e psicológicos. Como esses procedimentos são demorados – aliás, fruto da responsabilidade dos profissionais envolvidos –, durante todo este período cessa a convivência do pai com o filho. O mais doloroso é que o resultado da série de avaliações, testes e entrevistas que se sucedem às vezes durante anos acaba não sendo conclusivo. Mais uma vez depara-se o juiz diante de um dilema: manter ou não as visitas, autorizar somente visitas acompanhadas

91

BRASIL. Lei da Alienação Parental de 2010. Vade Mecum. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 1826.

92

FIGUEIREDO, Fábio Vieira; ALEXANDRIDIS, Georgios. Alienação Parental. São Paulo: Saraiva, 2011. pp. 47-48.

ou extinguir o poder familiar; enfim, manter o vínculo de filiação ou condenar o filho à condição de órfão de pai vivo93.

O ato de alienação parental pode ser comprovado através de uma perícia especializada, geralmente costuma-se judicializar esses casos e aí, o Poder Judiciário vai determinar a realização de uma perícia de natureza psicossocial para analisar se, de fato, está ocorrendo a alienação por um dos genitores ou por pessoa que detém a autoridade sob a criança ou adolescente (informação verbal)94.

Tal situação é tão grave que o Poder Judiciário ao deparar-se com possíveis casos de alienação parental, para o desenvolver do processo, deve valer-se de meios indispensáveis para a colheita de provas, através de perícias multidisciplinares, com a designação de assistentes sociais, psicólogos e psiquiatras95.

Para que se configure a alienação parental é indispensável que a conduta do alienador seja reiterada e fique evidente a busca da rejeição do outro genitor pelo menor. Convencido, o juiz deverá tomar as medidas cabíveis.

Dessa forma, na expressão de Maria Berenice Dias:

Assim, flagrada a ocorrência de alienação parental, necessário que haja a responsabilização do genitor que assim atua por saber da dificuldade de ser aferida a veracidade dos fatos. Mister que sinta que há o risco, por exemplo, de perda da guarda, caso reste evidenciada a falsidade da denúncia levada a efeito. Sem haver punição a posturas que comprometem o sadio desenvolvimento do filho e colocam em risco seu equilíbrio emocional, certamente continuará aumentando esta onda de denúncias envolvendo casos de falsos incestos96.

A propagação da alienação parental, se não coibida, só tende a aumentar, visto que há uma propensão natural e instintiva no contexto das disputas de custódia de crianças, onde na maioria das vezes os pais as usam como instrumento vingativo contra o ex-parceiro destruindo o vínculo afetivo da criança ou adolescente com o outro genitor.

93

DIAS, Maria Berenice. Alienação Parental – Um abuso invisível. Disponível em: <http://mariaberenice.com.br/uploads/4_-_aliena%E7%E3o_parental_um_abuso_invis%EDvel.pdf>. Acesso em: 30/05/15.

94

SOUZA. Clodoaldo Batista de. Entrevista sobre Alienação Parental e Guarda Compartilhada concedida ao programa ABTV pelo Defensor Público do Estado de Pernambuco, Dr. Clodoaldo Batista de Souza, em 12 de novembro de 2015.

95 FIGUEIREDO, Fábio Vieira; ALEXANDRIDIS, Georgios. Alienação Parental. – São Paulo: Saraiva,

2011. pp. 50-51.

96

DIAS, Maria Berenice. Alienação Parental e suas consequências. Disponível em: <http://mariaberenice.com.br/uploads/aliena%E7%E3o_parental_e_suas_consequencias.pdf>.

Isto gera um abismo entre a criança e o genitor alienado causando a quebra da afetividade e consequentemente futuras perdas significativas na vida psicossocial da criança e do adolescente, que então, passará a se desenvolver na ausência de um dos seus genitores.

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