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Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.

Jesus N.T. João 8,12.

Jesus afirma categoricamente que a pessoa que o seguir não an- dará em trevas. Entendo que ao utilizar a expressão “trevas” Jesus quer se referir a tudo aquilo que nos deixa na escuridão do sofrimen- to. Os problemas que nos preocupam parecem ter esse efeito de escurecer os nossos dias, encobrem o brilho da alegria e do prazer de viver. O que me causa estranheza é o fato de constatar que a maioria de nós já teve algum tipo de contato com os ensinamentos espiritu- ais que Jesus apresentou à humanidade, e nem por isso deixamos de andar em trevas.

A Bíblia é o livro mais vendido em todo o mundo. Os cristãos for- mam o maior grupo religioso do planeta com mais de dois bilhões de adeptos declarados. Muitas pessoas, embora professando outros credos, admiram as lições deixadas pelo Cristo.

Gandhi chegou a afirmar que: “Se se perdessem todos os livros sa- cros da humanidade e só se salvasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido”.

Por que então o fato de conhecermos Jesus não torna nossa vida melhor? Por que ainda andamos em trevas apesar de conhecer e admirar o Mestre? Quem deseja encontrar cura e libertação para suas aflições precisa responder a essas perguntas. Estou certo, po- rém, que, se as respostas forem francas e verdadeiras, encontrare-

85 mos facilmente o lugar onde se encontra o interruptor que nos per- mite acender a luz da felicidade.

Seguir Jesus

Em diversas passagens do Evangelho, Jesus convidava as pessoas a segui-lo. Não se tratava de simplesmente acompanhá-lo fisicamente, não era esse o propósito principal. Jesus não queria apenas ser co- nhecido. O Cristo não almejava ter apenas admiradores. Jesus é mais audacioso. Ele queria ter seguidores. Queria e ainda quer. E você é um deles, por isso Jesus o procura há centenas de anos, sem nunca desistir de você. Querer seguidores não é uma atitude narcisista do Cristo. No fundo, Jesus deseja ser compreendido, almeja que sigamos seus ensinamentos, porque sabe que, se fizermos isso, encontrare- mos a cura e a libertação do nosso sofrimento. “Quem me segue não andará em trevas”. Ele pede que o sigamos porque deseja que seja- mos felizes. “Quem me segue terá a luz da vida.”

A mensagem do Evangelho é um convite muito mais amplo do que simplesmente o contato superficial com Jesus geralmente estabele- cido nos momentos em que as dores nos atingem de forma mais in- tensa. Proclamar-se cristão é muito pouco. Admirar Jesus não é sufi- ciente. Pedir-lhe ajuda não é tudo. Ter conhecimento do Evangelho é apenas meio caminho andado.

Conhecê-lo é o primeiro passo, mas não o único. Muitos param aí. Temos noção dos principais ensinamentos do Cristo, sabemos que Ele pregou o amor como maior mandamento de vida, mas não vive- mos o amor, preferimos viver no egoísmo e, por isso, mergulhamos nas trevas do sofrimento. No Brasil a imensa maioria da população é cristã, cerca de 90%, mas, a despeito de acreditarmos em Jesus e conhecermos suas lições de amor e fraternidade, ainda convivemos com a fome, a miséria, a violência e o egoísmo. Não falo desses pro- blemas apenas no terreno social, pois eles também ocorrem em nos- so universo íntimo, aliás, é a partir do nosso mundo interno que nas- cem os demais problemas pessoais e coletivos.

Quantas vezes temos o crucifixo pendurado no pescoço e somos violentos no lar, no trânsito ou no trabalho.

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Quantas vezes fazemos o sinal da cruz ao iniciarmos o nosso dia e fechamos os olhos ao calvário de dores do nosso vizinho.

Quantas vezes temos um quadro do Mestre em nossa casa e tra- tamos os familiares com indiferença e rispidez.

Quantas vezes nos ajoelhamos nos templos religiosos em atitude de reverência ao Cristo, mas com os pensamentos carregados de maledicência em relação ao próximo.

Quantas vezes imploramos o perdão das nossas ofensas trazendo no peito ressentimentos sem conta.

Quantas vezes choramos a coroa de espinhos colocada injusta- mente em Jesus, mas continuamos cravando espinhos de desamor em nós mesmos.

Certamente isso ocorre porque ainda não tomamos a decisão de viver de acordo com o Evangelho, isto é, ainda estamos vivendo dis- tantes do amor, porque o amor resume todas as leis espirituais que governam os destinos do homem na Terra, conforme o próprio Cristo nos informou.66

Bastaria um passo na direção do amor que toda a nossa vida se transformaria.

Seguimos uma pessoa quando percorremos o mesmo caminho que ela trilhou. O Mestre deseja que nossos passos se aproximem dos passos dele, que nossas escolhas sejam as escolhas que ele faria se estivesse em nosso lugar. O Evangelho é um mapa minucioso que nos aponta o caminho da felicidade. O propósito de Jesus é o de que cada um de nós siga esse caminho, porque desviar-se dele é tomar atalhos perigosos que nos trarão dor e sofrimento. Quando nos des- viamos do roteiro proposto pelo Nazareno, surgem os problemas em nossa vida.

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87 Além de pedir a Jesus que nos ajude a sair de um determinado problema, deveríamos também perguntar a ele como fazer para não criar o problema.

Seguimos Jesus quando nos empenhamos em incorporar suas li- ções em nossa vida, sobretudo quando deixamos que o amor guie nossas atitudes.

Sentimos que Deus nos ama incondicionalmente? Somos amorosos conosco?

Demonstramos amor ao nosso semelhante? Temos uma relação de amor com a vida?

Limpamos nosso coração machucado com o remédio do perdão?

Vejamos, assim, que seguir Jesus é muito mais do que simples- mente Frequentar o templo da nossa fé, fazer algumas rápidas ora- ções ou oferendas e sair da igreja ou do centro espírita da mesma forma que entramos.

Ninguém sai das trevas apenas com formalidades religiosas ou com a prática de rituais despidos do propósito de nossa elevação espiritual.

Sair das trevas é trazer os ensinamentos espirituais para o altar da nossa vida, é assumir a nossa condição de filhos amados por Deus, e, a partir dessa conexão amorosa com o Pai Nosso, irradiarmos bon- dade a nós mesmos e a todos os que nos cercam. Quando isso acon- tece, entramos numa faixa de energia tão superior que nossa vida se ilumina de felicidade e as trevas batem em retirada. É como abrir as janelas do nosso quarto para deixar a luz do sol entrar. A escuridão é ausência de luz. Se estivermos mergulhados em trevas, é porque es- tamos com a mente e o coração fechados à maior e mais poderosa energia existente no universo que é o amor.

Só o amor traz coragem, aliás, as palavras “coragem” e “coração” possuem fortes ligações etimológicas. Uma mãe é capaz de qualquer sacrifício pelo filho porque o ama, é capaz de sacrificar a própria vida

88 se preciso for para salvá-lo. Ela faz isso porque ama, e o amor produz essa força descomunal que nos impulsiona a superar qualquer obstá- culo ou dificuldade. Agora quem se distancia do amor vive com me- do, sente-se fraco. E o medo traz insegurança, passividade, tristeza, doença e toda gama de sentimentos negativos que produzem ener- gias baixas e que redundam em sofrimentos que o amor poderia ter evitado. O trabalho espiritual mais forte e profundo que poderemos fazer em nosso benefício é viver no amor, pois o amor gera otimis- mo, coragem, confiança c alegria, deixa a nossa energia no mais alto nível e assim atraímos situações de vida que nos trarão a cura da infelicidade. Por isso afirmou Jesus:

Aquele que me seguir terá a luz da vida.

Se hoje experimentamos as trevas do sofrimento, é sinal de que nos afastamos dos caminhos que o Cristo nos apontou, e com isso perdemos a conexão com Deus, nos desligando da fonte que nos abastece de amor, saúde e paz. Perdemos o endereço de Deus quan- do nos distanciamos da bondade, quando nos afastamos da nossa essência divina. Não foi Deus quem nos esqueceu, nós é que nos afastamos do Pai quando trocamos o perdão pelo ódio, a generosi- dade pela mesquinhez, a compreensão pela maledicência, a fé pelo pessimismo, a confiança pela descrença, o altruísmo pelo egoísmo.

Todas as escolhas contrárias ao amor rebaixam fortemente a nos- sa energia e, com isso, atraímos o sofrimento em forma de doenças, miséria, violência, acidentes e tantas outras tragédias que se abatem sobre nós.

Seguir Jesus é a chave que nos faz conectar com a fonte divina e faz restabelecer a felicidade em nossa existência. Seguir Jesus é dei- xar o amor entrar em nossa vida em atos, pensamentos e palavras. Escolher o amor é tratar o próximo da mesma forma que nós gostarí- amos de ser tratados. Na maioria das vezes, o amor não exige ne- nhum gesto heroico ou dramático, bastam apenas pequenas atitudes positivas que farão toda a diferença. A gentileza no trânsito a um motorista em apuros, o sorriso espontâneo quando revemos um amigo ou quando somos apresentados a um desconhecido, a afabili-

89 dade com as pessoas de trato mais difícil, a palavra amiga a um com- panheiro em dificuldades, o prato de comida a quem está com o es- tômago vazio, a visita a um companheiro enfermo, a oração a um irmão em perigo, o silêncio com as imperfeições alheias são, todas elas, manifestações de amor.

Amar é querer bem a alguém, então todas as vezes que quere- mos o bem de alguém e fazemos algo para que isso ocorra estamos amando essa pessoa.

E, quando temos um gesto de amor na Terra, abrimos automati- camente as portas do céu para nós. Não sejamos meros conhecedo- res das verdades espirituais. Se formos a um restaurante, não nos alimentaremos se ficarmos apenas olhando para o cardápio. É preci- so escolher o prato e depois saborear a comida. É a alimentação que sustenta a nossa vida biológica. O mesmo ocorre com os ensinamen- tos espirituais. Não basta conhecê-los dos livros sagrados, precisa- mos saboreá-los em nossa vida, pois somente assim andaremos com a luz espiritual da felicidade.

Poderemos começar a iluminar nossa vida agora mesmo. Basta aceitarmos o convite que Jesus continua nos fazendo há mais de dois mil anos: “Vem e segue-me”.67 E, quando aceitarmos esse convite, o amor vai nos dar tanta alegria e felicidade que nós vamos querer cantar essa música com o Jorge Vercillo:

Nada vai me fazer Desistir do amor Nada vai me fazer Desistir de voltar Todo dia pro seu calor Nada vai me levar do amor. 68

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(N.T. Lucas 18, 22) 68

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É caindo no abismo que recuperamos os tesouros