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1. APOIOS PARA A INVESTIGAÇÃO

1.4.1 Como se analisam argumentos?

Capecchi et al. (2002) citam que a argumentação nas aulas de ciências tem sido investigada sob diferentes enfoques por Candela (1997), Driver et al. (2000) e Jiménez Aleixandre et al. (1998):

• Candela (1997) observou que os alunos se apropriam de novas formas de se expressar, principalmente quando em situações de conflito, que envolvem os alunos na busca de argumentos para validação de suas observações.

Driver et al. (2000) sugeriram atividades estimulantes para que os alunos produzissem argumentação em sala de aula. Esses autores elaboraram categorias de

análise a partir de um padrão de argumento desenvolvido por Toulmin (2006) (figura 1).

Jiménez Aleixandre et al. (1998) identificaram os tipos de argumentos utilizados pelos alunos em dados, conclusões, justificativas, conhecimentos básicos, qualificadores, refutações ou oposições simples, também a partir do modelo desenvolvido por Toulmin (2006).

Esses diferentes olhares mostram que o modelo de argumentação desenvolvido por Toulmin (2006), representado na figura 1, pode ser uma rica ferramenta de análise das atividades realizadas por alunos no ensino de ciências, por isso esse referencial foi escolhido na análise dos dados desta pesquisa.

Figura 1: padrão de argumento de Toulmin (2006)

A figura 1 representa o esquema de um argumento completo. A análise do padrão de argumento baseado em Toulmin (figura 1) identifica os elementos básicos que compõem os argumentos e as relações entre esses elementos. Os elementos fundamentais são o dado, a conclusão e a garantia e podem ser acrescentados qualificadores e refutadores, o que melhora a qualidade do argumento. É possível apresentar um argumento contando apenas com os elementos fundamentais (dado, garantia e conclusão), cuja estrutura básica é: “Dado (D) que, baseado em uma garantia (W), então conclusão (C).” Se houver apenas uma conclusão pura, sem quaisquer dados apresentados em seu apoio, não pode ser considerado um argumento.

D assim, Q, C D - dado W - garantia B – apoio já que W a menos que R Q - qualificador R – refutação C – conclusão Por conta de B

Os dados (D) são os fatos, aos quais recorremos como fundamentos para a alegação; a conclusão (C) é a alegação, cujos méritos procuramos estabelecer; e a garantia (W), por sua vez, estabelece a relação entre os dados e a conclusão, sendo de natureza hipotética e natural. Os qualificadores modais (Q) são especificações das condições necessárias para que uma dada garantia seja válida, já os refutadores (R) da garantia são as condições em que a garantia não é válida ou suficiente para dar suporte à conclusão. Os qualificadores e os refutadores dão os limites de atuação de uma determinada garantia, fazendo a ligação entre dado e conclusão.

O uso de qualificadores ou de refutadores indica uma compreensão clara do papel dos modelos na Ciência e a capacidade de ponderar diante de diferentes teorias, a partir de evidências apresentadas por cada uma delas. Um modelo, por exemplo, pode ser útil para uma situação específica, porém substituído por outro mais abrangente em outras circunstâncias.

Além dos elementos já citados, a garantia pode ser apoiada por uma afirmação categórica baseada em uma lei, jurídica ou científica. Trata-se de uma alegação que dá suporte à garantia, denominada apoio (B) ou conhecimento básico. O apoio é uma afirmação, baseada em alguma autoridade, que fundamenta a garantia.

O padrão de argumento de Toulmin estrutura o discurso argumentativo em seis elementos. Primeiro, uma conclusão (C) que é afirmada sobre a base de um dado (D). Esse passo argumentativo é autorizado por uma lei de passagem (W), ela mesma é retirada de um conhecimento de base ou apoio (B). A refutação (R) especifica as condições que invalidam tal passagem. Considerando os “pesos” dos elementos restritivos (refutação) e justificatórios (garantia e apoio), o qualificador modal (Q) atenua ou reforça o status da conclusão considerada.

Para fazer essa análise dos argumentos, deve-se ficar atento à categorização de cada elemento presente. Toulmin (2006) descreve que as garantias são de natureza mais universal que o dado. Já os dados são explícitos e as garantias, muitas vezes, implícitas, enquanto os qualificadores são a força conferida pela garantia. Há elementos que podem ser classificados como: campo-invariável, sendo válidos como recurso linguístico para todas as áreas; e campo-dependente, que têm dependência em determinada área do conhecimento. O

apoio à garantia normalmente é campo-dependente. O exemplo abaixo pode explicar como são categorizados os elementos que compõem um argumento:

Dado que todas as baleias são mamíferos, já que todos os mamíferos têm pulmões, logo todas as baleias têm pulmões.

A conclusão (todas as baleias têm pulmões) é baseada na relação que se faz entre o dado (todas as baleias são mamíferos) e a garantia (todos os mamíferos têm pulmões). Percebe-se que a garantia é de natureza mais universal que o dado e que está baseada em uma alegação categórica regida por uma lei (B). Nesse caso, o apoio (B) está implícito e poderia ser caracterizado como “as categorias taxonômicas” e as “características que definem o grupo dos mamíferos”. Além disso, o argumento é formalmente válido porque a premissa é verdadeira e aceita dentro do campo das ciências.

Toulmin (1993) faz uma analogia entre um texto argumentativo e um organismo: a parte anatômica são os órgãos, que são as diferentes fases do argumento, desde o enunciado inicial até a conclusão final e a parte fisiológica está constituída pela lógica de cada frase. O todo só tem sentido quando as partes se interrelacionam.

Não se pode classificar um argumento como formalmente válido apenas por apresentar a estrutura: dado – garantia – conclusão. A relação entre esses elementos deve ser determinada pelo campo em que está inserida e só é aceita na argumentação científica se a garantia relacionar o dado à conclusão e tiver validade no campo das ciências. Essa é a crítica que Driver et al. (2000) fazem ao modelo de argumento de Toulmin: defendem que ele analisa o discurso argumentativo de forma descontextualizada, sem levar em conta que depende do receptor e da finalidade com a qual se emite, porém é útil para entender a estrutura do argumento, mas não sua validade, a qual deve ser entendida através da campo- dependência.

Sardá Jorge & Sanmartí Puig (2000) apresentam os modelos de argumentação de Toulmin (1993), Van Dijk (1978) e Adam (1992), mostrando os elementos que constituem a argumentação para cada um deles. Os autores explicitam quais as relações que devem ser estabelecidas necessariamente entre tais elementos para que ela seja válida e que tipos de sequências são características da argumentação.

Neste trabalho, utilizaremos o padrão de argumento de Toulmin (2006), porque este admite uma maior flexibilidade para se categorizar os elementos, já que permite “conclusões concessivas” e admite que uma conclusão pode servir de dado para um outro argumento (ADAM, 1992).

Como mencionado, o modelo de Toulmin (2006) é uma ferramenta importante para a compreensão da construção da argumentação, mas somente para esse fim. Para os trabalhos envolvendo o ensino de ciências, apenas essa ferramenta de análise não é suficiente para entender as relações que se estabelecem.

Outros referenciais se mostram importantes para a discussão dos dados, a escolha de uma questão sociocientífica para o desenvolvimento da atividade discutida anteriormente e a categorização dos padrões morais e valores desenvolvidos por Sadler & Zeidler (2004), explicados posteriormente.

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