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7. Delineamento metodológico da pesquisa

7.3 Como se deu a coleta de dados

Respaldando-se no interesse em estudar as atividades e, por consequência, o discurso da comunidade de praticantes de patchwork, o trabalho inicial voltou-se à inserção na comunidade a fim de posteriormente entender o seu funcionamento, até se chegar ao discurso utilizado no atelier de confecção das peças e/ou blocos. Para a inserção, foi preciso explicitar à responsável pela comunidade qual o objetivo do estudo e como se daria o processo de acompanhamento e procedimento de coletas e registro de dados.

Com a permissão da comunidade de acompanhar os trabalhos, o pesquisador foi apresentado ao local onde ela realizava os seus trabalhos, um prédio de dois pavimentos. Inicialmente, permaneceu-se duas semanas, a terceira e a quarta do mês de março de 2010, tempo necessário para conhecê-la: local de trabalho das artesãs e aprendizes, ferramentas de trabalho, membros da comunidade e sua sistemática de funcionamento. Enfim, tudo o que possivelmente permearia o discurso das artesãs durante suas atividades na comunidade e que seria alvo do estudo a ser realizado num trabalho de observação participante. Durante esse período, fez-se uso apenas de um diário de campo, comum aos estudos etnográficos, utilizado durante todas as etapas de realização da pesquisa.

Passadas as semanas iniciais de conhecimento das principais rotinas,acompanhou-se um grupo de 15 artesãs em suas atividades em conjunto ou em grupos menores, durante três meses, de abril a junho de 2010. A observação do trabalho com o patchwork durou 8 horas semanais, em dois dias por semana, sendo, em média, quatro horas por dia, dependendo da disponibilidade do grupo (alguns dias, o grupo passou mais de quatro horas reunido e, em outros dias, menos de quatro horas), que geralmente estava reunido às segundas e terças- feiras. Nesses dois meses, além da observação participante e do uso do diário de campo, fizeram-se alguns registros videográficos, sob responsabilidade do pesquisador, presente todo o tempo de duração das situações interacionais das artesãs nesses dias, totalizando vinte horas de gravação. Estas serviram de base para a montagem final do projeto da referida pesquisa, tendo sido fotografadas algumas etapas das atividades das artesãs. Esse último procedimento metodológico fez-se necessário por se perceber, após a primeira filmagem, que nem sempre os detalhes das peças em construção, discutidas e montadas pelas aprendizes e artesãs, estavam evidenciados nas filmagens. Assim, as fotografias serviram de base para a identificação de pormenores, presentes nos diálogos das artesãs, que dizem respeito a detalhes

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das peças em construção por elas montadas. Para este trabalho, o pesquisador utilizou uma câmera de vídeo com tripé, DVD graváveis e máquina fotográfica digital.

Durante o estudo e a análise dos dados iniciais coletados, percebeu-sea necessidade de se compreender mais profundamente a montagem das peças. Assim, o pesquisador resolveu participar de um curso básico de patchwork, oferecido às aprendizes (iniciantes no trabalho de artesã), solicitando a permissão para a artesã mestra da comunidade, uma vez que esse curso é uma das etapas principais nas atividades iniciais para se tornar um membro da comunidade. Nele, ensina-se como manusear os artefatos utilizados no trabalho com o

patchwork, como alinhar o tecido e, também, como montar oito blocos, tidos como peças

basilares a qualquer peça desse artesanato.

Os blocos a serem aprendidos recebem as seguintes denominações: nine patch, four

patch, windmill, ribbon, friendship star, ohio star, double free star e card trick. Com base no

domínio desses oito blocos, as artesãs começam a desenvolver projetos mais elaborados e a construir outros blocos, iniciando-se, dessa forma, a confecção de peças, tais como almofadas, colchas, bolsas, etc. Assim, o pesquisador iniciou o curso básico no mês de agosto, uma vez que só houve a criação de outro grupo de trabalho nesse período. O curso teve duração de três meses e meio (o curso dura, em média, de dois a três meses, dependendo do ritmo da turma e das possíveis paradas das aulas justificadas pelos feriados ou pelas viagens da mestra responsável pela turma, por exemplo).

É interessante relatar que nem todas as aprendizes se encontram em um mesmo nível, razão por que não há uma definição de quando começam e terminam as aulas, ressaltando que nem todas realizam as mesmas atividades todos os dias. O curso surge a partir do interesse de algumas pessoas de se tornarem artesãs e de sua inserção na comunidade. Porque a comunidade trabalha em grupos (nem todas as artesãs estão presentes nos mesmos dias e

horários no atelier), determina-se um dia da semana para se ofertar o curso e as aprendizes passam a frequentar o atelier. Dessa forma, é possível que, num mesmo grupo, haja pessoas iniciando um bloco, enquanto outra ainda estáaprendendo a alinhar o tecido e outra já esteja terminando a montagem do último bloco a ser ensinado. Entende-se que esse curso serve de

base para a montagem de grupos de trabalho com patchwork na comunidade e por meiodele é

que uma aprendiz, ao se tornar artesã, passa a frequentar ou montar outro grupo de trabalho na mesma comunidade.

A partir do observado e estudado até então, sabendo-se que nem todos os membros da comunidade estariam presentes todos os dias, no local designado para a coleta de dados (atelier de confecção) e que a comunidade se subdivide em grupos de trabalhos, formados inicialmente com a participação no curso básico de patchwork durante as atividades semanais, seguiu-se a opção metodológica de coleta de dados: acompanhar o trabalho de um grupo menor, assim que ele surgisse dentro da comunidade, formado por artesãs e aprendizes, tendo como ponto de partida as atividades iniciais dessas aprendizes junto com as artesãs e sua inserção na comunidade. Para esse grupo que passou a se reunir apenas às terças-feiras, durante quatro horas por dia, a partir da matrícula e reunião de instrução inicial no curso básico de patchwork, começando em novembro de 2010, todas as suas atividades foram videografadas e acompanhadas pelo pesquisador, usando, também, o diário de campo e o registro fotográfico.

A coleta de dados se deu nos meses de novembro e dezembro de 2010; fevereiro, março, abril e maio de 2011, uma vez que as atividades foram interrompidas no mês de janeiro por causa dasférias da mestra e da ausência de algumas aprendizes cujas viagens já estavam programadas. O ritmo das aprendizes, que, nos meses finais das observações e videografias, já eram consideradas artesãs, também influenciou a coleta de dados, tendo em

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vista que nem sempre era possível encontrar todas elas no atelier. Foram acompanhadas durante todo esse processo de formação de um novo grupo na comunidade.