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Mas, para rebater este argumento, teóricos criaram uma diferenciação entre interesse público e interesse do público. O próprio código dos jornalistas, como foi visto, lança mão do termo “interesse público”.

Em linhas gerais, de acordo com Muniz Sodré (1996), o interesse público consiste na veiculação de informações relevantes e indispensáveis ao leitor, ou seja, o que eles devem saber. Já o interesse do público, segundo Sodré (1996), geralmente está associado ao sensacionalismo, e é entendido como tudo aquilo que desperta a atenção e a curiosidade de quem consome as informações. O interesse do público é o que aumenta audiência, uma vez que dá o que o povo quer saber.

Muniz Sodré (1996), por exemplo, brinca com a questão ao definir interesse do público: "Aquilo que os jornalistas acham que interessa aos leitores e, portanto, notícia é aquilo que interessa aos jornalistas” (p.76).

Segundo Souza (2009), o problema é que o jornalismo de interesse público não dá o retorno financeiro esperado às empresas jornalísticas. Ele não seria capaz de despertar a atenção da audiência e, por isso, não consegue estimular manifestações sociais com a mesma eficácia que o sensacionalismo tem mostrado conseguir.

Seguindo esta linha, Márcia Franz Amaral argumenta que o ideal seria que as redações jornalísticas focassem em noticiar aquilo que realmente tivesse relevância social. “O jornalismo trata, por excelência, do interesse público e, por razões éticas, seu objetivo deveria ser o interesse público e não o gosto do público” (AMARAL, 2006, p. 122).

7. Como é o sensacionalismo

[A manchete] vem realçada por recursos gráficos exagerados, como a letra em caixa alta, em tamanho grande, grifada e em cores que conferem destaque. A sua linguagem aproxima-se da linguagem oral e coloquial. (Longhi, 2005, p. 6)

Os jornais sensacionalistas também costumam usar de uma linguagem acessível para estabelecer uma ligação com o público. Assim, o consumidor do material jornalístico se identifica com a publicação e passa a acompanhá-la com uma frequência cada vez maior, como apresenta Cristina Mussio (2008).

[Esses jornais] apresentam a função referencial da linguagem, visto seu caráter informativo, através dos recursos visuais e buscam, todo o momento, estabelecer conexão com os leitores, checando assim seu canal de comunicação e fazendo transparecer a função fática, a fim de observar se está sendo entendido e reconhecido pelo público. (Mussio, 2008, p.167) Assim o texto precisa ser criativo e inusitado, podendo ser curto ou longo, a depender dos assuntos que vão compor o jornal. Se no dia anterior à veiculação do produto não houver fatos extraordinários, o repórter precisará extrair ao máximo dos assuntos coletados para compor um jornal palatável para o público, defende Janaína Holanda (1975)

O veículo tem o poder de transformar uma briga de vizinho em um grande conflito marginal e inventa matérias quando as pautas do dia não são suficientes para mexer com as emoções dos leitores ou formar o escândalo jornalístico. (Holanda, 1975, p. 9)

A fotografia, para Vanderlei Dorneles (2004), também é importante recurso para a construção do sensacional nos jornais impressos. “A imagem fotográfica, produzida segundo critérios estéticos, gera um expediente comunicativo menos crítico, já que o consumo de imagens aciona mecanismos de emoção e sensação primordialmente” (p. 2).

Janaína Holanda (1975) cita Rosa Nívea Pedroso para concluir que o texto sensacionalista nos jornais impressos “é uma construção que depende da sincronia de efeitos produzidos pelo título (chamada da matéria), foto, legenda (identificação da foto) e manchetinha (ideia que acompanha o título) e também da matéria (texto com narrativa do acontecimento)” (p.11).

7.2 No rádio

Apesar de ser um dos veículos menos estudados quando se fala em sensacionalismo, o rádio também conta com conteúdos sensacionais, principalmente no que tange o jornalismo policial. Segundo Clarissa Cervieri (2014), por ser um veículo da voz falada e não poder contar com imagens, para sensacionalizar “o profissional [radiofônico] abastece o conteúdo com ênfase vocal durante a locução, repetição das palavras/frases ou ainda chama o ouvinte para erguer o volume ou atentar ao que o locutor irá anunciar” (p.53).

Saulo Negreiros (2016) lembra do uso de recursos como música de fundo e efeitos auditivos para simular um clima de suspense ao ouvinte.

Os programas agem de modo a causar nos ouvintes a ansiedade pela notícia. Estrategicamente, prendem os ouvintes a sempre estarem atentos às próximas informações dadas pelo apresentador. A linguagem popular, o uso de vinhetas e BGs

“fantasmagóricos” causam nos ouvintes a sensação de medo e temor, somando-se às narrativas “carregadas” de emoção.

(Negreiros, 2016, p.4)

Ricardo Carvalho (2015) chama a atenção para o fato de os jornais radiofônicos sensacionalistas serem “teatrais”. De acordo com a análise feita pelo autor, isso acontece por canta da estratégia de comunicação deste meio de comunicação, que usa uma série de valores simbólicos nos personagens principais da notícia, despertando os sentidos do público, que levam os ouvintes a se emocionarem.

Isso acontece por canta da estratégia de comunicação deste meio de comunicação, que usa uma série de valores simbólicos nos personagens principais da notícia, despertando os sentidos do público, que levam os ouvintes a se emocionarem. Ricardo Carvalho (2015)

7.3 Na televisão

Jornais sensacionalistas sempre foram facilmente encontrados na programação televisiva do país. Um dos exemplos mais citados é o Brasil Urgente,

veiculado e produzido pela TV Bandeirantes, e o Cidade Alerta, veiculado e produzido pela TV Record. Esses programas televisivos usam e abusam da criminalidade, e dos constantes assassinatos registrados no Brasil para a produção de suas reportagens.

Não é raro ver, em programas policiais televisivos, um conjunto de elementos, como dramatizações e especulações, para estratégias narrativas. Basta notar que, nos telejornais sensacionalistas, o apresentador conduz o jornal de uma forma peculiar. Sempre em pé, ele não só apresenta as notícias, mas dá também opiniões sobre elas. Como grandes juízes, os jornalistas elevam a voz para criticar e incitar o ódio do público.

E a ancoragem desses jornais se transforma, frequentemente, em uma plataforma para carreiras políticas. O discurso populista, que dá soluções fáceis para problemas de alta complexidade, torna-se bastante atraente para algumas camadas da população, o que transforma o jornalista em uma figura confiável e sedutora.

Neste momento, para Tondo e Negrini (2009), há uma hibridização entre o jornalismo e a dramaturgia, já que os apresentadores assumem personagens para esboçar reações sobre os acontecimentos narrados.

Marieli Teixeira (2011) complementa essa visão. A transcendência entre a realidade e a ficção acontece, segundo a autora, porque "através da intensidade das imagens é possível que o telespectador acompanhe de perto o desenrolar dos acontecimentos narrados pelo repórter" (p. 36). Para Teixeira, técnicas de suspense, comumente utilizadas em novelas, são usadas para aumentar a curiosidade e sustentar a audiência.

A grande arma da TV é o fato de mostrar o acontecimento, muitas vezes em tempo real, diferentemente de outros meios de massa como o jornal e o rádio. Isto faz com que a imagem tenha um forte poder emocional e apelativo, pois traz as pessoas para “dentro” da notícia. (Teixeira, 2011, p. 36)

Por isso, para o pesquisador Eugênio Bucci (1996), o telejornalismo sensacionalista costuma ser melodramático. O principal objetivo desse tipo de prática não é o de informar, mas sim o de surpreender e o de chocar o público.

7.4 Na Internet

Em agosto de 2016, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado da Pesquisa Brasileira de Mídia, na qual o instituto observa os hábitos de consumo de mídia da população brasileira. O resultado apontou uma mudança na forma de o cidadão brasileiro saber o que está acontecendo no mundo.

A televisão, de acordo com o IBGE, continua sendo o veículo em que as pessoas mais se informam sobre os acontecimentos do dia a dia, mas a internet já vem galgando posições e é o segundo meio mais acessado para a busca de notícias.

A Pesquisa Brasileira de Mídia identificou também que, nos últimos dois anos, a preferência dos brasileiros em ler jornais em plataformas digitais aumentou de 10% para 30%, enquanto a opção pelo veículo impresso diminuiu de 79% para 60%.

A internet virou então um terreno propício para a criação de sites e blogs jornalísticos, o que proporcionou, também, o surgimento de veículos sensacionalistas.

Marta Silva (2016) afirma que a principal característica do jornalismo digital é o imediatismo. Por conta da pressa, defende a autora, os jornalistas anunciam muitas vezes fatos que não foram totalmente verificados. E, para amplificar o número de acessos, os profissionais vendem títulos enganosos e apelativos. Marta conta, em primeira pessoa, a experiência que teve no jornal português sensacionalista Diário de Notícias.

A importância dada ao “clique”, ou seja, ao número de visitas que cada artigo tinha, sentia-se particularmente na atenção que era prestada ao medidor de audiências para perceber onde destacar o quê na homepage do site (que acaba por ser a

“primeira página” da versão digital do jornal), mas também na formulação dos títulos. Repetia-se frequentemente, com mais ou menos ironia conforme quem falava, que os títulos deviam ser “misteriosos” o suficiente para o leitor precisar de abrir a notícia para saber mais. (Silva, 2016, p. 26)

Thiago Gomes e Grace Costa (2016) definem essa prática como “caça-cliques”. Segundo eles, os títulos caça-cliques têm como principal finalidade “atrair a atenção e incentivar os visitantes a clicarem em um link para uma página da web em particular” (p. 66). Os autores afirmam que a prática é cada vez mais comum no ambiente online.

A popularidade dos caça-cliques se justifica por um motivo simples: a estratégia funciona. Os grandes portais de notícias do país parecem não se importar com as polêmicas ao redor dos caça-cliques e, ao que tudo indica, enxergam oportunidades crescentes de emplacar mais e mais conteúdo.

(p.73)

Para Paula Rocha (2011), os textos digitais sensacionalistas costumam ser curtos e rasos. Eles contam superficialmente as informações mais importantes dos fatos, o que demonstra, ao olhar da autora, que o objetivo de divulgar a notícia é apenas conseguir o acesso do leitor.

As fotografias explícitas também são abundantemente usadas pelos jornais digitais sensacionalistas para atrair a atenção do público, observa Paula Rocha (2011), em uma crítica no site Observatório da Imprensa6.

O grande chamariz dos sites são fotografias chocantes de cadáveres, muitos deles com os membros separados do corpo, outros já em decomposição; pessoas mutiladas que foram vítimas de acidentes graves; e veículos destroçados, entre outros. (Rocha, 2011, p.?)

Marcos Palacios (2003) conclui que o meio online sensacionalista utiliza os mesmos métodos que os meios de comunicação tradicionais usavam. A diferença é que agora o digital tem novos recursos para usar, o que o torna capaz de aumentar e reforçar os efeitos sobre o público.

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