• Nenhum resultado encontrado

O enquadramento e a localização geográfica da cidade de Lisboa, a variedade de potencialidades ambientais que caracterizam este contexto natural urbano e a diversidade de vida biológica, mas também a vulnerabilidade que decorre do rápido e intenso crescimento populacional, têm recebido atenção parti- cular por parte da comunidade internacional, com destaque para a europeia. Lisboa é uma cidade que evidencia um conjunto de problemas comuns a áreas urbanas de outros países, pelo que a identificação e implementação de acções conjuntas ou similares susceptíveis de promover a criação de susten- tabilidade ambiental parece ser cada vez mais uma possibilidade. Lisboa é vulgarmente considerada numa tríplice dimensão, já que é uma cidade capi- tal, cidade europeia e cidade atlântica2, apresentando um potencial intrínse- co para o estabelecimento de ligações entre os restantes países da Europa, o continente africano e a América do Sul3. Neste contexto, é também definida como Capital Europeia do Atlântico.

A análise da internacionalização de Lisboa por via das questões ambientais resultou de forma imediata por inerência do tema, estando apresentada em docu- mentos estratégicos e orientadores das opções políticas do Município. Por um lado, porque a localização de Lisboa sugere uma orientação para o exte- rior, que é antiga e tradicional, e que resulta da influência do rio Tejo e da ligação histórica da cidade ao mar. Por outro lado, porque se valoriza cada vez mais a necessidade de promover espaços públicos que permitam criar, estabelecer e manter uma relação equilibrada entre a população residente, os visitantes – no caso turistas nacionais e internacionais, estudantes nacionais e internacionais, participantes em grandes eventos de ciência, tecnologia, desportivos, musicais, de moda, de negócios, entre outros – e os espaços naturais urbanos locais, mas que têm influência no contexto regional e até internacional. Estes são os casos, por exemplo, das medidas promovidas no contexto municipal para controlar e reduzir as emissões de gases poluentes, tanto a nível individual e privado como a nível público e corporativo, mas também para preservar espaços verdes urbanos e conservar biodiversidade. Uma análise prévia permite perceber que, no primeiro caso, o aumento das emissões de gases poluentes não favorece a melhoria da qualidade de vida das pessoas, já que é promotor de impactos directos e indirectos na saúde pública, sendo

2 AAVV (2012). Lisboa-Europa 2020. Lisboa no quadro do próximo período de programação comunitário. Lisboa: Câmara

Municipal de Lisboa

3 É relevante considerar a importância histórica das relações entre Lisboa e os países lusófonos, visto que a cidade

evidencia capacidade de mediar as relações entre os países lusófonos e a União Europeia nas diferentes dimensões (AAVV, 2012).

ainda gerador de influências negativas noutros territórios por via dos factores climáticos, tais como o vento, as chuvas e a evaporação aquando da elevação das temperaturas do ar. Paralelamente, a influência negativa de âmbito regio- nal e internacional é agravada pelo efeito natural dos ecossistemas fluviais e marinhos, caracterizados pela mobilidade e fluidez dos seus recursos. No segundo caso, a criação e a manutenção de espaços verdes, incluindo de áreas protegidas, e a reabilitação da faixa ribeirinha representam instrumentos de valorização do ambiente urbano com aumento da qualidade de vida, já que, além da reconhecida função no equilíbrio das emissões de gases poluentes, contribuem para o aumento da diversidade da vida biológica.

Face ao contexto ambiental, a internacionalização de Lisboa parece ser considerada como estratégica, já que resulta de preocupações comuns entre cidades de diferentes países, se bem que, de acordo com a informação recolhida e que propiciou esta análise, em muitos casos, resulte apenas de contactos infor- mais. As preocupações enunciadas estão traduzidas em documentos oficiais e estratégicos do Município, ora gerais, ora temáticos e orientados para a pro- blemática socioambiental, sendo também evidenciadas pela integração dos Serviços Municipais de Ambiente em projectos internacionais vocacionados para a requalificação urbana e valorização ambiental nas diferentes acepções que são consideradas nesta análise.

Face à diversidade analítica que o tema proporciona foram identificadas quatro subáreas (cf. Esquema nº 1) que ajudam a uma melhor compreensão da importância da internacionalização da cidade através do ambiente, já que permitem definir factores de particularização: os ecossistemas florestais, a frente ribeirinha, a energia e os transportes.

As subáreas identificadas para a análise da internacionalização de Lisboa estão directamente relacionadas entre si, mas uma análise particularizada permi- te compreender a relevância imediata dos parques florestais e dos jardins criados e mantidos em contexto urbano, assim como da biodiversidade que os caracteriza, tanto no que respeita à fauna como à flora. Eventualmente, estas podem ser consideradas como as subáreas em que a internacionalização de Lisboa se faz há mais tempo. Contudo, em resultado da localização e do enquadramento da cidade, a faixa ribeirinha reveste também grande impor- tância, traduzida nas particularidades do processo de requalificação e tendo em consideração que, neste caso, o ecossistema fluvial é caracterizado como uma zona de transição entre a terra e o mar.

Perante a complexidade do contexto internacional actual no que respeita à pro- blemática ambiental, nomeadamente atendendo aos acordos internacionais

relativos às alterações climáticas4, a análise obrigou ainda a considerar duas outras subáreas, a saber: a energética, orientada para o cumprimento dos requisitos da eficiência e que foram internacionalmente definidos e assumi- dos por diferentes entidades; e os transportes, incluindo públicos e privados, com implicações nos modelos convencionais de mobilidade em contexto urbano, e que resultam da identificação de alternativas de deslocação na cidade, incluindo ciclovias.

Esquema nº 1 – Identificação das subáreas ambientais em que a internacionalização da cidade de Lisboa é evidenciada

TRANSPORTES ENERGIA FRENTE RIBEIRINHA ECOSSISTEMAS FLORESTAIS AMBIENTE BIODIVERSIDADE CRIAÇÃO E REQUALIFICAÇÃO DE JARDINS PARQUES

Fonte: Autoria própria

No conjunto, estas quatro subáreas apresentam um carácter sistémico e holístico, já que as alterações promovidas numa delas originam adaptações e reajus- tamentos nas restantes. Na verdade, os projectos internacionais em que o Município participa procuram alcançar impactos integrados, já que, apesar da especificidade de cada subárea, o objectivo identificado em todas foi idêntico: a criação de um ambiente urbano saudável em espaço público aten- dendo para uma perspectiva de durabilidade, seguindo requisitos e critérios acordados entre os membros das parcerias internacionais5.

No contexto ambiental, a internacionalização da cidade é, assim, particularmente evidenciada: por um lado, pela participação de representantes do Município em encontros, reuniões, congressos internacionais e convenções; por outro, pelo envolvimento em projectos promovidos e implementados seguindo o princípio da parceria; e, por fim, pela integração em redes com impacto internacional.

4 A este respeito, a Cimeira do Clima de Paris, bem como as anteriores COP (Conference of the Parties) comprometiam

as diferentes entidades envolvidas, entre as quais os Municípios, a encetar acções que contribuíssem para a redução do nível de emissões.

5 Em todos os casos, as parcerias são predominantemente constituídas por entidades congéneres, ou seja, municipais,

Documentos relacionados