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Como variam a composição florística, riqueza e diversidade de espécies do

método do plantio e aquela em sucessão secundária (apenas regeneração natural)?

No parâmetro riqueza de espécies do estrato arbustivo-arbóreo pode-se dizer que a diferença entre a área de plantio e a área em regeneração natural é mínima. As principais famílias botânicas também foram praticamente as mesmas nas duas áreas de estudo.

Fazendo uma comparação da composição florística do estrato arbustivo- arbóreo das duas áreas do presente estudo com outros trabalhos em florestas de mesma tipologia ou localizadas na mesma bacia hidrográfica, percebe-se que os resultados são semelhantes ou até melhores.

Nos resultados do Inventário Florestal Contínuo do Rio Grande do Sul, realizado no ano de 2000, para as áreas em estágio sucessional inicial da Bacia Hidrográfica dos Sinos (IFCRS, 2000b), foram encontradas apenas 11 espécies, distribuídas em oito famílias botânicas. As famílias mais representativas na ocasião foram Asteraceae e Primulaceae. Já os resultados do Inventário Florestal para as áreas de Floresta Estacional Semidecidual de todo o estado (IFCRS, 2000a) os valores são mais próximos aos do presente trabalho, resultando em 41 espécies, distribuídas em 25 famílias botânicas e as mais representativas foram Fabaceae, Primulaceae e Sapindaceae.

Em um fragmento de Floresta Estacional Semidecidual em estágio secundário de desenvolvimento no município de Montenegro/RS, Longhi et al.

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(2008) encontraram 81 espécies e 32 famílias. Como a floresta já estava mais avançada no seu desenvolvimento a família mais representativa foi Myrtaceae, porém a segunda mais representativa foi Fabaceae, com sete espécies. Dessas sete espécies, somente três foram comuns com as áreas de estudo do presente trabalho,

Inga marginata e Machaerium stipitatum além de Enterolobium contortisiliquum,

oriunda do plantio.

A família Fabaceae constitui-se em uma das mais ricas em espécies, possuindo três subfamílias (SOBRAL et al., 2013). É uma família muito importante, pois em sua maioria, são lenhosas e perenes, se adaptam aos mais diversos ecossistemas brasileiros e são capazes de fixar nitrogênio atmosférico em associação com bactérias comumente chamadas de rizóbios (SOARES; RODRIGUES, 2008). O nitrogênio é um elemento essencial para o crescimento das plantas, pois está presente nas biomoléculas como clorofila, proteínas e enzimas (BREDEMEIER; MUNDSTOCK, 2000), que juntamente com o potássio formam os nutrientes críticos para a recuperação do ecossistema (BAZZAZ, 1996). Por causa disso, o uso de espécies que fixam nitrogênio nos programas de restauração pode ser essencial para melhorar a fertilidade do solo e consequente crescimento de toda a comunidade. Entretanto, a família Myrtaceae é a mais rica nas florestas do estado do Rio Grande do Sul e também apresenta grande importância, pois normalmente as espécies apresentam seus frutos carnosos (SOBRAL, 2003), que oferecem grande recurso alimentício para a fauna silvestre.

A diversidade de Shannon também não foi diferente entre as áreas do presente estudo. Esperava-se que a área de plantio apresentasse maior diversidade de espécies, já que nela foram plantadas as mudas arbustivo-arbóreas, de pelo menos 34 espécies. Todavia, como já visto nos resultados as mudas aparentam ter apresentado alta taxa de mortalidade e não alcançaram o estrato arbustivo-arbóreo, tendo pouca influência na comunidade em restauração pelo plantio. Os valores de equidade mostram que em ambas as áreas as espécies estão bem distribuídas, não havendo predominância de apenas uma espécie.

Apesar de o índice de diversidade de Shannon ser utilizado como forma de comparações de riqueza em trabalhos de diferentes intensidades amostrais é necessária cautela nessas comparações com outros trabalhos de menor amostragem (MÔNICO, 2012). Ele também apresenta falhas por não considerar as espécies raras de uma comunidade, que poderiam estar presentes em baixas

densidades, e que por isso diminuiriam o valor do índice (DE FREITAS; MAGALHÃES, 2012; MELO, 2008).

Nos resultados do Inventário Florestal Contínuo do Rio Grande do Sul (IFCRS, 2000a), para as florestas em estágio inicial de sucessão o índice de Shannon encontrado foi de 1,74 para a Floresta Estacional Semidecidual e de 1,79 para a Floresta Ombrófila Mista (ecótono da área de estudo do presente trabalho). Tais valores são menores do que os índices encontrados para as duas comunidades florestais do presente trabalho. No entanto, outros levantamentos fitossociológicos realizados em florestas semideciduais no estado do Rio Grande do Sul mostram uma grande variação na diversidade de espécies pelo Índice de Shannon, desde valores como 1,99 (LONGHI et al., 2008), 2,35 e 2,89 (SILVEIRA, 2014), 3,20 (JURINITZ; JARENKOW, 2003) e até 3,53 nats ind.-1 (TROIAN et al., 2011).

Segundo Troian et al. (2011), o valor médio do índice de Shannon para as florestas estacionais do Rio Grande do Sul é de 2,63 nats ind.-1, dessa forma, os índices de

diversidade encontrados nas duas áreas do presente estudo, com apenas cerca de 8 anos, estão acima da média das florestas de mesma formação do estado, sugerindo que localmente está havendo uma rápida recuperação da diversidade local.

O valor do índice de Jaccard (0,57) comparando a composição florística entre a área de plantio e a área em regeneração natural mostra que o estrato arbustivo-arbóreo dessas duas florestas são similares, pois segundo Mueller- Dombois e Ellenberg (1974), índices maiores do que 0,25 mostram similaridade florística entre as comunidades. Fonseca (2013) comparou um fragmento de mata ciliar com um plantio de restauração florestal na região metropolitana de Porto Alegre, na formação da Floresta Estacional Semidecidual e encontrou um valor de 0,32 para índice de Jaccard entre o estrato arbustivo-arbóreo das duas áreas. Já o índice de Chao-Jaccard do presente trabalho, mostra uma similaridade maior ainda entre as duas áreas de estudo (0,94).

A similaridade entre as áreas de estudo já era esperada, pois por apresentarem o mesmo histórico de uso e também devido à grande proximidade entre elas, resultam de um mesmo conjunto de processos ecológicos que estão ali operando. Além disso, elas apresentam a mesma idade, e consequentemente mesmo tempo de evolução, passando simultaneamente pelas mesmas condições de estresse ou os mesmos distúrbios. Isso garantiria que pelo menos grande parte das

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espécies apresentasse as mesmas características funcionais, como categorias de status sucessional, por exemplo. Em um estudo na Floresta Estacional Semidecidual do estado de São Paulo, Naves (2013) identificou que duas áreas em processo de restauração próximas e com idades semelhantes, apresentavam semelhanças na composição florística, ainda que em baixa porcentagem, mas quando comparadas a um ecossistema de referência, as duas comunidades eram muito dissimilares em relação à referência.

O índice de Jaccard considera somente a composição de espécies, e seu valor um pouco menor do que o de Chao-Jaccard (0,56) pode mostrar que mesmo as áreas sendo semelhantes, de certa forma apresentam espécies distintas compondo o estrato arbustivo-arbóreo, sugerindo que deve estar havendo uma mudança no estabelecimento e sobrevivência das espécies locais, indicando uma futura mudança sucessional in situ. Essa diferença também poderia estar relacionada com as espécies que foram plantadas, todavia a mudança nos valores dos índices quando estas não estão incluídas é muito pequena para esta conclusão. Quando a similaridade foi analisada entre os conjuntos de unidades amostrais (nº 1, nº 2 e nº 3) de mesmo tratamento e entre os conjuntos mais próximos das duas áreas, os valores para o índice de Jaccard oscilaram entre 0,35 a 0,50 e para Chao-Jaccard entre 0,78 e 0,99, não seguindo um padrão esperado de valores (como por exemplo, áreas mais próximas seriam mais semelhantes). Porém, na comunidade como um todo, considerando todos os conjuntos de amostragem na área de plantio, comparados com todos os conjuntos da área em regeneração natural, a composição florística é similar. Deve-se ressaltar que os conjuntos de unidades amostrais têm diferentes intensidades de amostragem e como a riqueza aumenta à medida que a amostragem é maior, essa comparação acaba não sendo precisa.

Cooper (1913) já descrevia que as florestas clímax de seu estudo eram formadas por um mosaico de manchas, que mudavam continuamente. Aqui se tratam de duas florestas bem jovens (≈8 anos), mas que sem dúvida são um mosaico de manchas. A explicação para essa heterogeneidade das florestas pode ser relacionada com os “safe-sites” (locais seguros), definido por Harper et al. (1961). Como o terreno é bastante irregular topograficamente, é possível que muitas espécies tenham encontrado as condições adequadas para a germinação e estabelecimento de suas plântulas em locais diferentes do terreno, independente se

próximos ou não, resultando em heterogeneidades entre a composição florística de cada conjunto de unidades amostrais. Além disso, a chuva e o banco de sementes são reconhecidamente heterogêneos espacial e temporalmente (BAZZAZ, 1996), a curtas distâncias, se sobrepondo a distribuição também heterogênea dos “safe-

sites”, resultando, portanto em um mosaico desde as primeiras fases de desenvolvimento.

4.3 Como o dossel florestal, a densidade de indivíduos e a área basal do