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7 DISCUSSÃO 108 8 CONCLUSÕES

J. Comp Med v 21, p 47–51, 1957.

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André Fur ugen Cesar de Andr ade

A capacitação espermática é um evento crítico já que este é obrigatório para que ocorra a reação acrossomal e a fertilização (POMMER; MEYER, 2002). Entretanto a diferenciação entre uma célula capacitada e uma não capacitada permanece como uma ciência não exata, apesar dos quase 60 anos desde Chang (1951) e Austin (1952) terem descrito este fenômeno.

Os mecanismos da capacitação não se encontram totalmente elucidados, sabe-se, porém, que envolve complexos eventos moleculares e bioquímicos como o efluxo de colesterol da membrana plasmática, o influxo de cálcio para o interior da célula, aumento da concentração de bicarbonato intracelular, aumento da fluidez da membr ana plasmática, mudanças no padr ão da motilidade (hiperativação), reação acrossomal e ativação da via da adenosina-monofosfato cíclica (cAMP) que resulta na fosforilação do aminoácido tirosina (CROSS, 1993; VISCONTI; KOPF, 1998; URNER; SAKKAS, 2003). Sabendo-se dos mecanismos que atuam na capacitação, foram desenvolvidas técnicas que permitem o acompanhamento deste evento que compõe a maturação extra- testicular da célula esper mática.

A coloração com a clortetraciclina (CTC) vem sendo utilizada como método para a avaliação da capacitação de espermatozóides em diver sas espécies, tais como eqüinos (SCHEMBRI et al., 2002; NEILD, et al., 2003), bovinos (CORMIER; BAILEY, 2003), suínos (VADNAIS et al., 2005) e humanos (VILLEGAS et al., 2003). Esta técnica permite distinguir três estágios do processo de capacitação; não capacitado (F), capacitado com o acrossoma intacto (B) e capacitado com o acrossoma r eagido (AR). Entretanto, esta técnica car ece de uma maior compr eensão, no car áter de seu mecanismo de ação, de como a CTC interage com a superfície do espermatozóide (VISCONTI et al., 1998; FLESCH et al., 1999; GREEN; WATSON, 2001), além de poder apenas ser realizada em células fixadas (RATHI et al., 2001). Acredita-se que as mudanças na distribuição do complexo Ca2+-CTC ligados aos fosfolipídios da membr ana plasmática sejam responsáveis pelos diferentes padrões obser vados (VISCONTI et al., 1998; GREEN; WATSON, 2001).

A Merocianina 540 é uma sonda hidrofóbica que cora mais intensamente as membranas que possuem um maior estado de desordem de seus componentes (translocação dos fosfolípideos na bicamada lipidica), como é o caso do espermatozóide capacitado. Uma das gr andes vantagens da Merocianina 540 é que esta pode ser combinada a um corante imper meável a membrana plasmática e que se ligue ao DNA da

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célula (Yo-Pro-1), permitindo uma análise da viabilidade da célula em conjunto ao estado de sua membrana lipídica. Esta associação de corantes é passível de ser analisada pela técnica de citometria de fluxo (HARRISON; ASHWORTH; MILLER, 1996; RATHI et al., 2001; THOMAS; MEYERS; BALL, 2006).

A avaliação da reação acrossômica dos espermatozóides viáveis também pode ser realizada pela técnica de citometria de fluxo só que utilizando outra associação de sondas fluorescentes, tal como, a aglutinina de Psium Sativum (PSA) conjugada a um fluoróforo (ex. o isotiocionato de fluoresceína - FITC), junto ao Iodeto de Propídeo (IP) (CHOI et al., 2003; ANDRADE et al., 2006; ARRUDA et al., 2008).

Asquith et al. (2004) demonstrar am que ocorr e a fosforilação da tirosina de proteínas presentes na superfície (principalmente na r egião da cabeça) dos espermatozóides capacitados de camundongos e que estas proteínas estão envolvidas no processo de reconhecimento entre o gameta masculino e feminino. A presença do aminoácido tirosina fosforilado nas células viáveis (célula com membrana plasmática íntegr a) pode ser identificada com o uso de anticorpos específicos conjugados a um fluoróforo (ex. Fluoresceína, FITC), deste modo, permitindo sua detecção por análise em citometria de fluxo, seja na espécie suína (PIEHLER et al., 2006) ou na eqüina (ANDRADE et al., 2008).

O movimento característico apresentado pela célula espermática durante o fenômeno da hiperativação é detectado pelas análises computadorizadas da motilidade (CASA – Computer Assisted Sperm Analisys). Este padrão de movimento é representado pelo aumento do ALH (amplitude do deslocamento lateral da cabeça) e do VCL (velocidade curvilinear) (WHITE; AITKEN, 1989; BURKMAN, 1991).

A adição do plasma seminal ao sêmen pós-descongelação tem a capacidade de reduzi r a criocapacitação já que r eduz o número de espermatozóides capacitados e/ ou com acrossomo reagido em humanos e carneiros (HAN et al., 1990; CROSS, 1993; GUTHRIE; MAXWELL; JOHNSON, 2000) e melhora a viabilidade e a motilidade dos espermatozóides (GUTHRIE; MAXWELL; JOHNSON, 2000). Fato este, que leva a obtenção de melhores resultados nos índices de prenhez em inseminações com sêmen criopreservado de carneiros (MAXWELL et al., 1999), ou seja, a criocapacitação e os efeitos deletérios da refriger ação podem ser revertidos com a adição de plasma seminal autólogo ao sêmen descongelado ou submetido a refrigeração (CROSS, 1993; BARRIOS et al., 2000; GUTHRIE; MAXWELL; JOHNSON, 2000).

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Na espécie eqüina, antes de se submeter o sêmen à congelação realiza-se a centrifugação. Este procedimento é necessário para a retir ada da maior parte do plasma seminal, pois este contém altas concentr ações de cloreto de sódio, prejudicial aos espermatozóides durante a criopreservação (NISHIKAWA, 1975), e para promover o aumento da concentração dos esper matozóides, o qual é essencial para per mitir o envasamento (NEVES NETO, 2004). Este plasma seminal retirado é então descartado, mesmo este sendo proveniente de um garanhão com sêmen de boa capacidade de congelação. Apesar de se ter o conhecimento que na espécie eqüina a adição de plasma seminal de garanhões com boa qualidade seminal pós-descongelação ao sêmen de garanhões com baixa qualidade seminal pós-descongelação leva estes a um aumento da motilidade progressiva e da integridade da membrana plasmática (AURICH et al., 1996). Diante do exposto, a definição par a se considerar uma célula capacitada, bem como criocapacitada, deve se basear em uma análise dos múltiplos processos que ocorrem durante este evento de maturação extra-testicular. Esta análise multifatorial da célula pós-criopreservação poder á nos elucidar se existe uma real capacitação prematura do espermatozóide eqüino durante a criopreservação e se este processo pode ser prevenido ou atrasado com a adição de plasma seminal, seja do próprio animal (autólogo) ou de um outro gar anhão (homólogo) com sêmen com boa r esposta a congelação.

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