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Comparação com outros Tribunais Estaduais de médio porte

Para melhor compreender a situação do Poder Judiciário cearense e complementar as razões que o tornam demasiado lento, compara-se seus dados de desempenho com os de outro Tribunal. Para que o estudo fosse mais eficaz, não poderia ser escolhido um Tribunal de Grande porte com bons índices de desempenho como o Tribunal do Rio de Janeiro por exemplo, pois seu volume processual é muito maior do que o do Tribunal do Ceará, busca-se então dentre os Judiciários que se saíram melhor no IPC-jus aquele que possuía características mais próximas ao do Poder Judiciário cearense.

Resolve-se então utilizar o Tribunal de Justiça do Mato Grosso, TJMT, como parâmetro comparativo, pois seu volume de processos, 1.531.781 processos tramitados, é bem próximo do volume do judiciário cearense, 1.540.955 processos tramitados, além disso o TJMT também é considerado de médio porte.

Com um volume de processos quase semelhante, teoricamente é de se esperar que o desempenho seja parecido, entretanto o que se observa é uma alta discrepância entre o desempenho dos dois órgãos. O primeiro ponto de divergência que se observa é o IPC-jus, enquanto o Poder Judiciário do Mato Grosso tem um índice de 95%, o índice cearense é de 65%, sua performance no 1º grau se distancia ainda mais do índice cearense, pois atinge os 100% enquanto o juízo de 1º grau cearense permanece em 65%.

Analisando índices mais específicos, tem-se o IPM, índice de produção por magistrado, como principal peça contraditória dentro dessa comparação, o TJMT tem um número de 2.084 processos solucionados por magistrado, enquanto o TJCE tem um número de 929 processos solucionados por magistrado, uma diferença que se acentua ainda mais quando considera-se que o número de magistrados do judiciário Mato-Grossense é de 290, contra os 455 magistrados cearenses.

Claramente percebe-se a falha de produção dos magistrados cearenses, que com 165 juízes a mais soluciona 1.155 processos a menos, com a mesma demanda. Mais um fator que prejudica os números de produção dos magistrados é o fato de que 25% das decisões no TJCE são homologatórias de acordo, contra 14% do TJMT, fator que aumenta a produtividade do TJMT.

A produção reflete bastante no tempo processual, tanto é que o tempo médio dos processos pendentes em 2ª instância no TJMT é de apenas 11 meses, contra 3 anos e 6 meses do TJCE, isto é, o processo passa mais tempo parado, pendente de baixa, no TJCE do que no TJMT, consequência direta da maior produção por parte dos magistrados do Mato Grosso em comparação aos magistrados do Ceará.

O tempo médio de sentença do Ceará em 1ª instância, 2 anos e 7 meses, é menor no TJCE, enquanto que no TJMT é de 3 anos e 2 meses, entretanto esse dado não pode ser utilizado como um ponto positivo a favor da justiça cearense, pois quando se analisa a carga judiciária por magistrado do TJMT, 6.832, verifica- se que o volume é quase o dobro do volume de trabalho dos magistrados cearenses, 3.807, conclui-se que o tempo médio de sentença só é maior na justiça Mato-Grossense, pois seu número de magistrados é inferior.

No âmbito de 2ª instância a carga de trabalho entre os desembargadores dos dois Tribunais é mais próxima, tendo o TJCE um volume de 2.418 processos por magistrado e o TJMT um volume de 2.970, tem-se uma diferença bem significativa no tempo médio de sentença, enquanto no TJCE a sentença em 2º grau demora em média 1 ano e 2 meses, no TJMT a sentença tem um tempo

médio de apenas 5 meses, considera-se ainda que o TJMT é composto por 30 Desembargadores, 13 magistrados a menos do que no TJCE.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Investigando a evolução do Poder Judiciário Cearense, desde sua instauração nos tempos coloniais, passando pelo Império, onde ocorreu a instauração do Tribunal de Relação do Estado em 1874, fazendo uma breve análise do cenário jurídico no século XX, até os dias de hoje, percorrendo os problemas e as tentativas de solução referentes a cada época, objetivou-se entender e traçar de maneira objetiva os principais elementos causadores da morosidade processual do Judiciário Cearense.

Foi estudada a atual organização judiciária do Estado, a composição da justiça de 1ª e 2ª instância, bem como os órgãos que os compõe, destacando as mudanças feitas pela nova Lei nº 16.397 de 2017. Discorrendo sobre as funções administrativas do Tribunal, e sobre a importância da Corregedoria Geral da Justiça no combate a morosidade processual e na progressão do desempenho das unidades judiciárias.

Do estudo divulgado anualmente pelo CNJ denominado “Justiça em Números”, onde são apresentados índices desenvolvidos pelo o órgão, que utilizam os dados enviados pelo Tribunal das movimentações processuais durante o ano analisado, para numerar o desempenho do Judiciário, tiram-se os elementos justificativos do baixo desempenho do TJCE.

A partir desse estudo, constatou-se que o Estado do Ceará tem o pior índice de produção por magistrado do Brasil, ou seja, os magistrados que menos produzem pertencem ao Judiciário cearense, fato mencionado na página 29, esse número é de 929 casos baixados por magistrado, contra 3.388 do TJRJ, Tribunal que fica no topo da lista dos mais produtivos. Esse fator se relaciona com a taxa de congestionamento, que é demasiada alta, e com a duração média dos processos, que apresentam números insatisfatórios.

A 2ª instância cearense se destaca de forma negativa, como mencionado na página 29, com um número de 947 processos baixados por magistrado, tem um volume processual de 2.418 processos, bem inferior em relação aos 3.807 dos juízes de 1º grau. Possui um rito processual mais simples, pois tem na maioria dos casos, ações recursais, não sendo exigida dilação probatória, e outros atos inerentes a fase

de conhecimento, deveria ser um órgão célere e eficaz, na contra-mão disto é um grande responsável pela demora nas soluções dos litígios.

Constata-se aí que a baixa produtividade é o principal fator responsável, porém não único, pela atual crise do Poder Judiciário cearense, pois todos os outros elementos se ligam diretamente a produtividade do magistrado, e mais importante, podem ser alterados de acordo com o nível de produção do juízo.

O tempo processual está diretamente ligado ao IPM, não há como ter um tempo curto quando se tem uma demanda elevada e uma baixa produção, mesmo que se aumente o número de magistrados, a média continuaria baixa, pois a falha está no desempenho, não na quantidade, fato é que outros Tribunais como o do Mato Grosso, conseguem ter um tempo processual melhor apesar de um volume maior de causas, e um número reduzido de magistrados, devido a alta produtividade dos mesmos.

Para objetivar o raciocínio de que o tempo processual depende diretamente do desempenho produtivo dos magistrados, comparou-se o desempenho do Tribunal do Mato Grosso ao do Ceará na página 39, onde o tempo médio de pendência do processo em 2ª instância é de 11 meses, contra os 3 anos e 6 meses do TJCE.

Em quase todos os índices de desempenho o Poder Judiciário Cearense teve uma performance inferior ao do Mato Grosso, mesmo tendo um maior incentivo às soluções extrajudiciais disputas, bem como a desjudicialização de conflitos, diretrizes estabelecidas pelo Plano Estratégico 2015-2020 do Poder Judiciário do Estado do Ceará.

Firmando ainda mais o entendimento de que o problema é a baixa produtividade, e não a alta demanda para a insuficiência de magistrados, constatou- se nas páginas 39 e 40 que o Ceará tem um número bem maior de magistrados, tanto em 1ª instância quanto em 2ª, e tem uma performance bem inferior, especialmente no órgão de 2º grau.

Assim como feito nos tempos de império, as reformas feitas para suprir os problemas da Justiça Cearense, sempre visando ampliar sua área de atuação e

melhorar o atendimento as necessidade jurídicas da população, não tornam-se eficazes de imediato pois não são formuladas de forma atingir diretamente o problema, na época do império, não se tornaram eficazes devido a falta de magistrados, e hoje pois visam basicamente aumentar o número destes, priorizando a quantidade em detrimento da qualidade, negligenciando o bom funcionamento jurisdicional cearense.

Conclui-se, portanto, que além de debater sobre a desjudicialização de conflitos, ou dos implementos tecnológicos na justiça cearense, ou sobre o número excessivo de recursos, é preciso estabelecer planos de produção para o magistrado, tentar identificar a real razão pela qual os faz produzir tão pouco, seria a desmotivação, ou a falta de capacitação, analisar se não seria o caso de adoção de prazos e metas para os juízes e desembargadores, dentre outros elementos que os fizessem melhorar a produção e respeitar um dos valores estabelecidos no plano estratégico do Judiciário Cearense, o da celeridade.

Dessa forma, não se pode parar a presente linha de pesquisa, vez que isso é apenas o início para que se possa efetuar de forma mais aprofundada o estudo sobre a temática, dando continuidade em outro nível, que permita a prolongação das indagações e explorações realizadas.

REFERÊNCIAS

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LEGISLAÇÃO

Constituições do Império de 1824.

Lei Estadual CE n.º 16.397, de 14 de Novembro de 2017 Lei Estadual CE nº 12.342, de 28 de Julho de 1994 Lei Estadual MT nº 4.964, de 26 de Dezembro de 1985 Lei Federal nº 13.105, de 16 de Março de 2015

Resolução nº05 Plano Estratégico do TJCE 2015-2020, de 23 de Abril de 2015 Regimento Interno da Corregedoria Geral da Justiça do Estado do Ceará, de 14 de Janeiro de 2015.

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