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A COMPARAÇÃO DA AJS COM A EMPRESA VIVA DE DE GEUS (1998)

Neste estudo podemos observar que a AJS possui algumas características comuns com a empresa viva proposta por De Geus (1998), embora nenhuma das características se aplique integralmente.

O quadro 17compara as quatro principais características de uma empresa viva com a empresa AJS.

Quadro 17: Características da empresa viva e a AJS

Característica da Empresa Viva AJS

Sensibilidade ao Meio Ambiente Possui parcialmente esta característica.

A capacidade de a empresa perceber as mudanças no meio ambiente é grande, o que tem gerado novos negócios com grande sucesso. Isso vem promovendo o crescimento da empresa.

O planejamento da empresa é praticamente inexistente e, mais do que isso, há divergências entre a visão do fundador e dos filhos sobre quais os rumos a empresa deve tomar.

A tomada de decisão é feita de forma autoritária e, em geral, tem por objetivo resolver problemas emergenciais. O processo de tomada de decisão na empresa é: percepção → ação.

O aprendizado ocorre tanto por assimilação como por

acomodação. No entanto, esses processos não são incentivados. Ocorrem naturalmente e dependem de cada pessoa.

Coesão e Identidade Não possui. A persona e a forma da empresa agir também são

relacionadas com o período de guerra, caracterizado pela sobrevivência do mais forte e pelo individualismo (também característica do país).

A relação com o meio é biológica, ou seja, procura-se no meio algo de que se necessite.

A relação dos gestores com funcionários é de desconfiança. A relação entre funcionários é de individualismo.

Há uma grande insatisfação do fundador com os filhos devido a diferenças de posturas e de formas de gestão.

A contratação é principalmente via indicação dos funcionários. Os funcionários possuem poucos anos de estudo e o nível das escolas é muito baixo.

Esse aprendizado ocorre pela observação do trabalho do colega. Embora incentivado verbalmente, depende unicamente do funcionário, sem meios ou procedimentos que facilitem o aprendizado. A promoção das pessoas ocorre no nível operacional, sem incentivos da empresa.

A avaliação das pessoas não ocorre.

Aposentadoria: na história da empresa há o registro de um funcionário que se aposentou. Não há ações ou políticas que facilitem a saída do funcionário por aposentadoria.

Fornecedores e terceiros: não há parcerias, apenas vínculos comerciais.

Tolerância e Descentralização Possui tolerância com os negócios à margem, o que vem

contribuindo para a diversificação com sucesso das atividades da empresa.

No entanto, não há o interesse em formar relacionamentos construtivos com outras entidades e mesmo consigo mesma. É muito presente na empresa a cultura do individualismo tanto por parte dos gestores como dos funcionários.

Há diferenças entre os fundadores e os filhos sobre como gerir a empresa. Não há trabalho em equipe e os diretores possuem objetivos diferentes para a empresa.

Existe a dificuldade do fundador em delegar os negócios e dar autonomia aos filhos.

A inovação e congregação não são valorizadas.

Na empresa existe, principalmente, o tipo de relação parasita. Esta é a postura da maioria dos funcionários, embora coexistam com relações simbióticas.

Conservadorismo Financeiro Atualmente não possui.

Até 2002, a possibilidade de empréstimo bancário no país foi bastante limitada, o que fez com que a empresa crescesse com recursos próprios.

A partir desta data, o governo liberou essa possibilidade e a AJS passou a expandir seus negócios também através de

empréstimos bancários.

Fonte: a autora.

No estudo feito, percebe-se que a empresa estudada não é uma empresa viva na perspectiva proposta por De Geus (1998). Apesar disso, é uma empresa que está crescendo significativamente e diversificando seus negócios com êxito.

Está claro, também, que os principais pontos fortes da AJS relacionam-se com a visão “para fora” da organização. Ou seja, historicamente, a AJS conseguiu se adaptar e sobreviver devido à determinação e persistência dos fundadores em continuar trabalhando apesar das adversidades do meio. Atualmente, esse conhecimento do meio, aliado a percepção de oportunidades, vem gerando o crescimento e a diversificação dos negócios. No entanto, este

crescimento necessita agora de melhor estruturação e profissionalização. O “olhar para dentro”.

6 CONCLUSÕES

Retomando o objetivo geral, que é entender como ocorre o processo de adaptação a mudanças no meio ambiente ao longo do tempo para a sobrevivência e crescimento de uma empresa sediada em Angola, foi possível perceber que:

a) Na caracterização do meio foi constatado que o meio ambiente em Angola, hoje, é o resultado das intensas mudanças ocorridas no país nos últimos 35 anos que criaram as atuais condições de intenso crescimento econômico em paralelo com a miséria da maioria da população. Apesar da falta de dados científicos, foi possível caracterizar o país, tanto em termos históricos quanto na economia e nos indicadores de desenvolvimento humano. Ao entender o contexto foi possível, também, entender a empresa, que é fruto deste meio.

b) A AJS tem uma história de 34 anos que mostra a determinação e a persistência dos fundadores em manter um negócio que iniciou em um período de guerra e em um modelo econômico em que não incentivavam o surgimento de empresas. A AJS sobreviveu a este período e hoje utiliza seu conhecimento do meio ambiente como um diferencial. Ao conhecer o meio, a empresa percebeu e soube aproveitar as oportunidades que surgiram no período pós-guerra e que deram origem ao atual crescimento da empresa.

c) Internamente, com o aumento significativo no número de funcionários, a chegada dos filhos e a expansão dos negócios, a empresa necessita criar uma visão que seja compartilhada por todos. Ou seja, a empresa superou durante toda sua existência um meio bastante adverso à realização de negócios devido a guerras e regimes de governo. O desafio atual para a empresa é organizar a transição entre o estilo de gestão do fundador (autoritário, baseado na experiência, na improvisação, próprio para período de guerra) para uma profissionalização (com processos e próprio para o país em franca expansão econômica) a fim de conseguir novamente se adaptar ao meio. Um meio em franca transformação e seguindo para uma competitividade a nível global.

d) Apesar de não ser uma empresa viva de acordo com a estrutura teórica de De Geus (1998), a AJS apresenta parcialmente as características de sensibilidade ao meio ambiente e a tolerância e descentralização. Estas duas características refletem dois pontos fortes da AJS, que é conhecer o meio e a tolerância com negócios à margem. Estas características são consideradas positivas por fundadores e seus filhos.

Desta forma, percebe-se que os objetivos iniciais propostos por este estudo foram atingidos. Foi possível caracterizar o meio ambiente, descrever as principais mudanças ocorridas no meio desde a fundação da empresa até o ano de 2007 e descrever como a empresa tem se adaptado a essas mudanças. Em relação ao objetivo específico de identificar na empresa estudada as características de empresa viva proposta por De Geus (1998), o estudo comparativo mostrou que a AJS possui apenas parcialmente essas características. De acordo com De Geus (1998), a ausência de características pode reduzir a longevidade da empresa, apesar da atual fase de crescimento e expansão.