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Comparação da qualidade de vida dos catadores de materiais recicláveis

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.4 Comparação da qualidade de vida dos catadores de materiais recicláveis

A coleta seletiva depende da interação entre gestão municipal e a participação da sociedade, responsabilizando-se pela destinação adequada dos resíduos gerados, ou seja, a produção de resíduos sólidos vai abastecer a atividade da coleta seletiva. O que para algumas pessoas está encerrando um ciclo – os resíduos sólidos, para os moradores – para outras está iniciando uma nova etapa e possibilitando sobrevivência. Sendo assim, os catadores de materiais recicláveis têm uma dependência direta da produção diária e do consumo dos moradores do bairro em estudo, a partir do processo de sensibilização

dos moradores por parte destes profissionais e programas de coleta seletiva da gestão pública para que possam continuar participando.

Gurgel (2009) relata que a separação na fonte geradora facilita a identificação dos diferentes tipos de resíduos sólidos; diminui os riscos de acidentes, minimiza o mau cheiro; e permite principalmente que os materiais segregados sejam mais bem conservados, possibilitando assim o seu beneficiamento, comercialização e posterior transformação em novos produtos através do processo de reciclagem, seja este artesanal ou industrial.

Está interdependência entre catadores de materiais recicláveis associados, informais e moradores, gerada pela implantação da coleta seletiva no bairro Malvinas, deixa clara a necessidade de estudos que avaliem não só as questões ambientais, como também as relacionadas a qualidade de vida e saúde.

Comparando a qualidade de vida dos catadores de materiais recicláveis associados, informais e moradores verificou-se que as variáveis que obtiveram algumas diferenças estatísticas entre eles estão relacionadas na tabela 25.

Os resultados da pesquisa não apresentaram distribuição normal com a utilização do teste não paramétrico de Kruskal Wallis, sendo importante o uso da mediana na comparação entre os grupos. Ressalta-se em relação às variáveis “O quanto precisa de tratamento médico”, “O quão seguro se sente diariamente”, “o quão se sente seguro no trabalho” e “satisfação com a alimentação e qualidade de vida” trazem uma relação estatisticamente significativa (p<0,05) entre os resultados dos moradores e catadores de materiais recicláveis, provavelmente esse resultado seja decorrendo do maior grau de instrução e da diferença na renda dos moradores em relação aos catadores. Observa-se que saúde e segurança são variáveis que convergem com os resultados encontrados na tabela 16.

Tabela 25. Relação entre as variáveis estudadas no WHOQOL – Abreviado Adaptado e os grupos participantes da pesquisa. Catadores de Materiais recicláveis associados, informais e moradores participantes da coleta seletiva, Campina Grande-PB.

Variável CA Mediana CI Mediana MO Mediana P Valor 1. O quanto precisa de tratamento médico 4,0 4,0 3,5 0,005 2. O quão seguro se sente diariamente 5,0 5,0 4,0 0,017 3. O quão se sente seguro no trabalho 5,0 5,0 3,0 0,001 4. Quão saudável é o seu ambiente físico

5,0 2,0 2,0 0,001

5. Se tem renda suficiente para suas

necessidades

5,0 4,0 3,0 0,049

6. Quão satisfeito está com o sono 2,0 3,0 3,0 0,041 7. Satisfação com a capacidade de desempenhar as atividades do dia-a-dia 1,0 4,0 3,0 0,001 8. Satisfação com a capacidade de realizar seu trabalho 1,0 4,0 3,5 0,037 9. Satisfação consigo mesmo 3,0 4,0 4,0 0,018 10. Satisfação com o acesso aos serviços de

saúde

4,0 2,0 5,0 0,0001

11. Satisfação com seu meio de transporte 5,0 2,0 4,0 0,0001 12. Satisfação com a alimentação e qualidade de vida 3,0 3,0 4,0 0,001

*Variáveis do WHOQOL- Abreviado adaptado; **CA- Catadores Associados; ***CI- Catadores Informais; ****MO- Moradores. *****Escores: 1. Muito satisfeito; 2. Insatisfeito; 3. Nem satisfeito nem insatisfeito; 4. Satisfeito; 5. Muito insatisfeito. ******Medianas anexo A.

Na variável “O quanto precisa de tratamento médico”, os moradores responderam que necessitam de tratamento médico com frequência (mediana 3,5), enquanto os catadores de materiais recicláveis associados e informais relataram que

procuraram “ ás vezes” assistência médica (mediana 4,0), concordando com os dados estatísticos expressos na tabela 21.

Concernente as variáveis “O quão seguro se sente diariamente” e “O quão se sente seguro no trabalho” os catadores não se sentem seguros em suas casas nem no local de trabalho (mediana 5,0), já os moradores responderam que no trabalho se sentem seguros (mediana 3,0) e às vezes apresentam segurança diária (mediana 4,0). Provavelmente esses resultados sejam decorrentes de casas com muros, algumas com cerca elétrica e segurança eletrônica e das melhores condições de trabalhos dos moradores quando comparado aos catadores.

A qualidade de vida é bastante subjetiva como se pode observar na variável “Satisfação com a alimentação e qualidade de vida” na qual os catadores mesmos com as condições precárias de trabalho e riscos (físicos, químicos e biológicos) responderam que nem estão satisfeitos, nem insatisfeitos (mediana 3,0), enquanto os moradores se apresentam satisfeito com sua alimentação e qualidade de vida (mediana 4,0).

Para Andrade (2012) o tema de acessibilidade ao tratamento médico, não é simples. As mais diversas pesquisas ressaltam importantes etapas percorridas nessa direção, mas mostram também que a acessibilidade constitui um ideal e uma utopia, uma vez que inúmeros obstáculos e problemas ainda se interpõem à realidade de um SUS prometido pela Constituição de 1988 e que a sociedade brasileira deseja e merece.

Hacker (2013) discorre que nos EUA a saúde reveste-se de aspectos bem interessantes: o maior gasto, o maior avanço tecnológico mundial e a medicina mais avançada e influente em termos de avanço científico, mas onde cerca de 30 milhões de pessoas estão à margem de qualquer assistência médica real.

Em matéria de saúde Kervasdoué (2014) relata que o francês dispõe de direitos numerosos e muitas vezes excepcionais por sua diversidade e pela importância das garantias que eles possibilitam. Naquele país todos os residentes legais possuem a cobertura de um seguro-saúde. Para mais de 96% dos franceses, os tratamentos médicos podem ser totalmente gratuitos ou reembolsados em 100% e, o que é mais excepcional, os franceses podem exercer uma total liberdade de escolha, seja qual for o seu nível de renda.

Segundo Andrade e Andrade (2010) em seu ideário o sistema de saúde brasileiro é inclusor, generoso e utópico. Busca em seus propósitos fazer justiça distributiva, igualando as pessoas e buscando proporcionar a todos uma assistência digna e de qualidade. Na prática, contudo, permanece favorecendo a política neoliberal de estado mínimo, já que aproximadamente 20% da população busca a assistência suplementar, por entender ser o SUS de difícil acesso e baixa qualidade.

No Brasil, a Atenção Básica é desenvolvida com o mais alto grau de descentralização e capilaridade, ocorrendo no local mais próximo da vida das pessoas. Ela deve ser o contato preferencial dos usuários, a principal porta de entrada e centro de comunicação com toda a Rede de Atenção à Saúde. Por isso, é fundamental que ela se oriente pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social (PNAB, 2012).

No Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2014) não vivemos mais apenas uma epidemia de violência, mas nos acostumamos com um quadro perverso e que impede que o país se desenvolva e reduza suas desigualdades.

5.5 Ações Multidisciplinares para a melhoria da qualidade de vida dos catadores

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