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Comparação entre adultos maduros e idosos

P 3: O número de respostas corretas em tarefas fonológico-visuais será maior do

6- Mini-exame do Estado Mental – MMSE: é um teste rápido e de curta

4.2. Desempenho e idade

4.2.3. Comparação entre adultos maduros e idosos

Na comparação entre os grupos adultos maduros (Adm) e idosos (Id) na 1ª série, na qual se constata a memória imediata (Mi), foi observado que o número de respostas corretas do grupo de adultos maduros foi maior do que o grupo de idosos apenas na tarefa Fd (z = -1,96, p = 0,04). Em contrapartida, o desempenho em Mi entre os grupos nas tarefas Pi, Pd e Fi não obteve diferença significativa. Na análise da memória a longo prazo (MLP), nas tarefas Pi, Pd, Fi e Fd o grupo Adm apresentou valores semelhantes ao grupo Id (Mann-Withney, p > 0,05) (Figura 7). 10 12 14 16 18 20 22 Pi Pd Fi Fd res p o st as co rr et as

Mi (Adm) Mi (Id) MLP (Adm) MLP (Id)

*

Figura 7. Comparação do desempenho da Mi e MLP entre os grupos adultos maduros e idosos.

5. Discussão

Efeito da aprendizagem

Ao analisar o efeito da aprendizagem no grupo formado por todos os indivíduos da amostra, verificou-se que a mesma acontece em todas as tarefas de memória evidenciada a partir da 2ª série, exceto para a tarefa Pi (palavras com distratores iguais). Importante ressaltar aqui a presença de duas condições diferentes de codificação do material estudado: com distratores iguais, considerada uma condição mais difícil e com distratores diferentes, considerada mais fácil. Estas duas condições ou contextos de codificação levaram em consideração o número de repetições dos itens distratores e a possibilidade deles influenciarem a recuperação dos itens estudados. Desta maneira, para as tarefas com distratores iguais a repetição destes se dá nas três séries, tanto itens estudados quanto distratores são vistos várias vezes ao longo da tarefa, implicando que o sujeito necessitará de um maior esforço atencional na recuperação do item estudado. Já para as tarefas com distratores diferentes, estes aparecem uma única vez em cada série, com uma probabilidade menor de competir na recuperação do item estudado. Em ambas condições os processos de recordação e familiaridade estão presentes. No contexto de distratores iguais o indivíduo precisa recordar a fonte da informação para garantir um bom desempenho, posto que a própria repetição dos distratores poderá favorecer a escolha do item mais familiar levando a um prejuízo do desempenho, diferentemente da condição de distratores diferentes, onde só a familiaridade é suficiente para conseguir um desempenho satisfatório.

Um dos objetivos deste estudo remete à consideração da natureza das

tarefas de memória, tanto para estímulos fonológicos quanto para estímulos

visuais-fonológicos. Nas tarefas de reconhecimento de palavras (Pi e Pd) o estímulo utilizado foi apenas auditivo. Segundo Baddeley (2000), itens auditivos são registrados automaticamente no armazém fonológico da memória de

trabalho, desta maneira apenas uma única fonte (auditiva) foi utilizada para a codificação da informação, sendo armazenada num único depósito (alça fonológica). Na condição de distratores iguais (Pi), a familiaridade das palavras distratoras na 2ª série pode ter influenciado negativamente o desempenho dificultando o discernimento de quais eram os itens estudados e quais os distratores, e provavelmente só na 3ª série tenha sido feito o julgamento correto. Na condição de distratores diferentes (Pd) a melhora no desempenho se observa já na 2ª série. O julgamento baseado no efeito da repetição das palavras em que são separados itens velhos e novos, considerando uma única apresentação dos itens distratores em cada série, pode ter eliciado o reconhecimento apenas por familiaridade, o qual seria suficiente para favorecer o desempenho nesta tarefa. Estes dados foram verificados ao analisar o resultado das três séries da Mi nas tarefas de palavras, as quais mostram uma média superior de respostas corretas na tarefa Pd quando comparada com Pi. Nas tarefas de reconhecimento de figuras (Fi e Fd) não foi observado o efeito de contexto oriundo de diferentes condições de codificação, constatando-se uma melhora no desempenho a partir da 2ª série para ambas condições. De acordo com a natureza do estímulo, os itens apresentados visualmente (código visual) podem ser transformados em códigos auditivos e serem mantidos também na estocagem da alça fonológica, além do bloco de anotações visuo-espaciais, através de ensaio sub-vocal do nome do item apresentado, o que propicia que a informação fique reverberando nos circuitos neurais por um espaço de tempo maior (Baddeley, 2000). A imagem e o fonema implícito que a palavra desperta podem ter favorecido sua codificação, já que todas elas eram figuras nomeáveis.

Resultados semelhantes foram alcançados por Barbosa (2005), apontando diferenças no desempenho quando considerado o contexto de codificação para tarefas de palavras, não sendo encontrado dito efeito nas tarefas de reconhecimento de figuras.

Memória de longo prazo

As diferenças entre o número de respostas corretas alcançadas a curto e longo prazo em todas as tarefas de memória denota uma redução do desempenho com o decorrer do tempo independente da natureza do estímulo, seja fonológico (palavras) ou visual-fonológico (figuras). No entanto, observou-se a influência do contexto na aprendizagem a longo prazo, pautada em um melhor desempenho na condição de codificação de distratores diferentes tanto para palavras quanto para figuras. Nesta última, constatou-se um maior número de acertos em relação às demais tarefas. O fato da tarefa Fd apresentar uma condição de codificação mais fácil (distratores diferentes) e estímulos sensoriais fortes (auditivo e visual) permite o aporte de duas dicas (figuras nomeáveis e a própria imagem) que reforçam o processo de codificação e interferem, por sua vez, na recuperação. Contudo, uma melhor compreensão pode ser possível ao analisar-mos conceitualmente os processos de recordação e familiaridade. O fluxo de detalhes necessários para se chegar à fonte da informação no processo de recordação precisa ser intenso, o que permitirá uma maior eficácia na resolução da tarefa. Pela sua característica de precisão decorrente da localização da fonte, este processo requer um maior controle consciente, o qual dependerá de um maior grau de atenção do indivíduo na fase de codificação. À diferença da familiaridade, em que os detalhes necessários para a recuperação da informação são escassos, imprecisos e pouco claros, características que podem favorecer um julgamento incorreto da fonte em tarefas de reconhecimento.

Uma vez que os distratores são os mesmos, a repetição pode ter produzido uma influência automática na memória aumentando desta forma a familiaridade no teste, possibilitando uma redução do desempenho em função desta. Contrário ao que aconteceria se o participante lembrasse que viu o item na lista estudada, o que lhe proporcionaria um melhor desempenho. O efeito da repetição no teste, dos itens estudados previamente, aumentando a familiaridade foi semelhantemente encontrado por Jacoby (1999) ao analisar as diferenças relacionadas à idade, comparando adultos jovens e idosos através da utilização de

tarefas de reconhecimento verbal. Na condição de distratores diferentes, não havendo o efeito da repetição, apenas o item ponderado como mais familiar poderia ser suficiente para possibilitar um desempenho adequado, como mostrado nos resultados alcançados a longo prazo.

Idade e memória

Considerando o pressuposto de que o processo cognitivo é influenciado pela idade, fez-se mister analisar a amostra a partir de dois grupos: adultos maduros e idosos. Quanto à aprendizagem, os resultados foram bastante parecidos aos discutidos acima, ainda que alguns comentários devam ser tecidos.

O efeito da aprendizagem não constatado em Pi pode ser vinculado a natureza da tarefa, relacionada a um único estímulo (auditivo) que estaria sendo apoiado pelo componente da alça fonológica. Além disso, na condição de codificação de distratores iguais, os itens estudados e os distratores podem ter sido codificados com sucesso e no momento de julgar entre um e outro, o processo de familiaridade pode ter interferido negativamente, dificultando o reconhecimento.

No grupo de idosos, constatou-se aprendizagem em todas as tarefas de memória evidenciadas a partir da 2ª série, exceto em Pi cuja justificativa remete àquela descrita anteriormente para o grupo de adultos maduros. Todavia, estes resultados mostram menores índices de acertos quando comparado com os adultos maduros. A literatura aponta que idosos têm mais dificuldade de aprender novas habilidades, mesmo assim eles conseguem fazê-lo embora mais lentamente do que adultos jovens (Brigman e Cherry, 2002). Uma questão importante a ser colocada faz menção à diminuição da velocidade de processamento e da flexibilidade mental, assim como aos déficits de atenção presentes em pessoas idosas, os quais dificultam, entre outras coisas, o desempenho das memória de trabalho e episódica (Reuter-Lorenz, 2002; Mitrushina e Satz, 1991; Wood et al., 2001). À semelhança do grupo adultos maduros, no grupo de idosos não foram

encontrados resultados significativos sobre o efeito do contexto ou condição de codificação na aprendizagem de uma lista de figuras, não obstante encontrou-se dito efeito para as palavras.

A longo prazo, foi constatada uma redução significativa no desempenho para ambos grupos. De fato, segundo Fabiani e Friedman (1997) o reconhecimento pode tornar-se mais difícil com o decorrer do tempo. Adultos maduros exibem efeito de contexto para as tarefas de palavras (Pi e Pd), mostrando que um maior número de palavras foi evocada na condição de distratores diferentes (Pd). A condição de distratores iguais pode ter sido influenciada pela repetição das palavras distratoras ao longo das três séries, prejudicando o julgamento do sujeito, podendo estar baseado na familiaridade e em consequencia, ter dificultado o reconhecimento em Pi. Nas tarefas que avaliavam estímulos pictoriais, os resultados obtidos revelam um melhor desempenho do que àqueles para estímulos verbais. O fato de serem figuras nomeáveis pode ter facilitado a lembrança, partindo da idéia de que a informação que é codificada converge e é armazenada em dois depósitos (visual e fonológico) facilitando a recuperação. Além disto, a informação visual pode ter sido suficiente para minimizar o efeito da familiaridade no reconhecimento dos itens estudados e ainda mais, justificar a ausência do efeito de contexto nestas tarefas, visto a probabilidade da evocação do item ter sido facilitada em função das dicas visual e fonológica dos dois depósitos aqui mencionados. Por outro lado, pode-se pensar que um melhor desempenho nas tarefas de figuras possa estar pautado na sensibilidade do teste. Desta maneira, o teste de palavras seria mais sensível para detectar diferenças significativas enquanto o teste de figuras não. Uma vez que a etapa de recuperação se dá após uma semana, infere-se que parte do material apreendido provavelmente tenha sido perdido, o que remete ao fenômeno de transitoriedade de Schacter (2003), que está na base do esquecimento da informação.

Para os idosos, o contexto de aprendizagem parece ter interferido a longo prazo. Na condição de codificação mais fácil (com distratores diferentes) houve uma melhor evocação da memória a longo prazo. Nesta condição, o esforço

realizado para acessar o traço de memória pode ter sido menor facilitando o desempenho em função do processo de familiaridade. Vale salientar que para o contexto de distratores iguais, condição mais difícil, um maior número de acertos ocorrerá se o indivíduo conseguir discriminar adequadamente os itens estudados dos distratores, lembrando que estes últimos aparecem repetidamente nas três séries junto com os itens estudados, e para efetuar um bom reconhecimento é preciso ter a certeza de onde viu o item (na lista ou não), tarefa possível através do processo mnemônico de recordação, ou seja, de lembrar da fonte da informação.

O substrato neural que suporta a recordação parece ser o hipocampo, sub- região do lobo temporal medial (LTM) que sofre interferências do processo de envelhecimento. Estudos realizados por Rugg e Yonelinas (2003), mostraram que o hipocampo é mais ativo quando o reconhecimento é acompanhado de recordação do que quando é acompanhado somente por familiaridade. Entretanto, é a recordação que está mais prejudicada nos idosos, já que as estruturas que suportam este fenômeno declinam rapidamente com o avançar da idade. Uma outra estrutura neural a considerar é o papel do córtex pré-frontal (CPF), importante para ambos processos (recordação e familiaridade). Este desempenha um controle executivo crítico para a precisão da memória de reconhecimento, principalmente pelo controle atencional que desempenha. Com o envelhecimento a função do CPF parece diminuir (Cavallini e colaboradores, 2003; Hedden e Gabrieli, 2004; Fabiani e Friedman, 1997), o que também pode estar se refletindo no desempenho do grupo. Por estes motivos podem ser compreendidos esses resultados, uma vez que a condição de distratores diferentes solicita menos a intervenção da recordação, podendo ser realizado o reconhecimento através da familiaridade, processo menos dependente de hipocampo necessitando da integridade do córtex rinal, estrutura neural que tem sido apontada como responsável por este processo e a qual sofreria menos os déficits decorrentes do envelhecer (Ranganath et al., 2003; Yonelinas, 2002). Por outro lado, trabalhos realizados por Khoe e colaboradores (2000) empregando um teste de escolha forçada, em que se mensura o reconhecimento de palavras na avaliação de

pacientes amnésicos, mostraram um desempenho satisfatório destes sujeitos. No teste, o indivíduo pode selecionar o item mais familiar sem fazer um esforço por recordar a informação qualitativa do evento estudado. Segundo o autor, este tipo de testes avalia mais a familiaridade do que a recordação.

Quanto à natureza da tarefa, parece ter havido um melhor desempenho nas tarefas com estímulos pictoriais do que nas tarefas verbais. Isto explica-se pelos fatores antes apontados. O traço medido na memória de reconhecimento pode decair mais facilmente para palavras do que para figuras, posto que figuras evidenciam códigos sensoriais mais fortes e são mais resistentes ao esquecimento (Fabiani e Friedman, 1997). É possível que o processamento de figuras e de palavras seja realizado por diferentes sub-regiões do lobo frontal (LF) e que estas por sua vez sejam afetadas pelo envelhecimento. Os sistemas de armazenamento visual e fonológico da memória de trabalho são controlados pelo executivo central. Estes sistemas, aparentemente têm como substrato neural o LF, estrutura que declina funcionalmente no envelhecimento normal. Por conseguinte, idosos precisam de certa velocidade de processamento para acessar a informação que com a idade diminui, gerando menos capacidade de busca das pistas (visual ou auditiva). Provavelmente, uma tarefa de reconhecimento que apresente duas dicas, como exibe a tarefa de figuras, seja mais relevante no desempenho do que aquela que apresenta apenas uma, como na tarefa de palavras.

Estes achados são comparativamente semelhantes àqueles realizados por Fabiani e Friedman (1997), sobre memória de recenticidade e reconhecimento em adultos jovens e idosos, mostrando que figuras são mais facilmente lembradas do que palavras em tarefas de reconhecimento. Em estudos realizados por Busatto Filho e colaboradores (2001) utilizando a técnica de neuroimagem SPECT (tomografia por emissão de fóton único) em voluntários idosos envolvendo o reconhecimento verbal, foi evidenciada ativação bilateral do córtex pré-frontal e consideravelmente maior no hemisfério esquerdo, responsável pelo processamento do material verbal. O recrutamento bilateral diz respeito ao fenômeno compensatório das deficiências que o envelhecimento traz, relacionado ao esforço de rememoração que é mais intenso em idosos do que em adultos

jovens, tal como mostra esse trabalho. A redução do desempenho de idosos pode ser relacionada também a dificuldades na etapa de recuperação, sinalizando para a inabilidade do sistema em localizar o traço mnemônico. Tal como mostrado nos trabalhos com pacientes portadores de demência fronto-temporal, em testes que utilizavam o reconhecimento de palavras. Estes sujeitos preservavam a aquisição e a consolidação da informação, porém, apresentavam dificuldades na recuperação e melhoravam significativamente quando era facilitada (Allegri et al., 2001).

Quando comparados adultos maduros e idosos, as discrepâncias encontradas foram observadas ao avaliar a memória imediata, na qual adultos maduros obtiveram melhores resultados do que idosos, sendo significativo para as tarefas mais fáceis, ou seja, para a condição de distratores diferentes, o que pode ser explicado devido à grande variabilidade do grupo, podendo ser superior para esta condição. A longo prazo, esta diferença denota a influencia do contexto, que só é encontrada para adultos maduros nas tarefas auditivas e é evidenciada nos idosos nas tarefas tanto auditivas quanto visuais.

6. Conclusões

A partir dos resultados alcançados neste estudo, podemos mencionar que: a) A influência de diferentes contextos ou condições de codificação

presentes no desempenho de uma tarefa de memória de reconhecimento pode afetar a aprendizagem de uma lista de palavras ou figuras. Na condição mais fácil (distratores diferentes) foram obtidos melhores resultados. Já no contexto de distratores iguais o desempenho foi comprometido em função do processo de familiaridade.

b) Apesar da amostra estar constituída por indivíduos sócio-culturalmente ativos e com nível educacional elevado, adultos maduros e idosos evidenciam dificuldades em lembrar de itens estudados num contexto mais difícil (distratores iguais), com um decréscimo maior na evocação a longo prazo principalmente para os idosos, mostrando uma dificuldade do uso da informação aprendida com o decorrer do tempo. Este resultado precisa ser explorado com amostras que contemplem sujeitos jovens para possibilitar uma comparação mais ampla entre as diferentes classes de idades.

c) De acordo com a natureza da tarefa, figuras são mais facilmente codificadas do que palavras e o desempenho ainda é facilitado pelo contexto de distratores diferentes. Em contrapartida, pode-se inferir que a tarefa de palavras é mais sensível na detecção de diferenças significativas tanto no que se refere à variável idade quanto aos diferentes contextos de codificação.

Perspectivas Futuras

Futuras investigações que contemplem um maior número de indivíduos e outras variáveis tais como: escolaridade, condição sócio-econômica e de saúde, poderão possibilitar uma melhor compreensão dos fenômenos de memória de reconhecimento baseados na recordação ou na familiaridade, além de sua relação com o processo de envelhecimento. Do mesmo modo, uma outra versão das tarefas de figuras e palavras poderá ser utilizada, associada à mensuração do tempo de reação dos indivíduos e discriminação do número real de acertos e alarmes falsos de reconhecimento, a fim de fornecer dados relevantes na área de estudo.

Dessa forma, a importância de pesquisas futuras que relacionem a memória de reconhecimento e os processos de recordação e familiaridade está associada a uma maior compreensão dos múltiplos sistemas de memória e como estes estão envolvidos em diferentes patologias, no desenvolvimento infantil e no envelhecimento. Além disso, o mapeamento de regiões cerebrais específicas, que são ativadas com o desempenho deste tipo de tarefas, pode permitir o conhecimento de como as lesões cerebrais afetam os processos mnemônicos.

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