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Comparando e contrastando os casos internacionais

Em primeira instância, verifica-se que independente do modelo político- institucional, a gestão metropolitana enfrenta desafios à implantação de políticas públicas de cunho metropolitano. Em realidades de elevada autonomia, a gestão metropolitana fica a mercê das articulações para cooperação entre os municípios. Já nos casos de maior poder central tem-se uma implantação mais efetiva das políticas públicas, mas isso ocorre muitas vezes de forma vertical, desconsiderando as questões específicas dos municípios.

Observa-se que no mesmo país, as realidades da gestão metropolitana são diversas, exceto pela França que possui um quadro mais homogêneo. Por outo lado, é importante salientar que em todos os casos existem instrumentos para a gestão das Regiões Metropolitanas, independente do nível de eficácia. Portanto há uma preocupação eminente com a gestão metropolitana.

O caso francês, o alemão e o de Vancouver ilustram os entraves postos pelos poderes municipais à gestão metropolitana. No caso alemão há também certa confusão entre as políticas públicas de cunho regional e metropolitana, claro que as

políticas metropolitanas são de caráter regional, mas de outra escala e com demandas diferentes.

Enquanto no Canadá o forte poder estadual (provincial) produz uma gestão metropolitana mais efetiva quanto ao atendimento aos serviços de interesse comum, na Espanha as Comunidades Autônomas possuem um histórico de disputas com o ente metropolitano. O caso de Madri é uma exceção, pois se trata, ao mesmo tempo, de uma Região Metropolitana e de uma CCAA.

O processo de descentralização espanhol tem forte influência no brasileiro pela mudança radical a partir do rompimento com a ditadura franquista. A influência não se deu necessariamente no aspecto político-institucional, mas sim na conotação democrática que a descentralização representa (BRITO, 2009).

2.5 Conclusão

É na metrópole que se encontram os maiores crescimentos de expansão urbana resultante da dinâmica econômica extremamente efervescente. Grandes sedes de empresas estratégicas para o mercado global e nacional estão lotadas nas metrópoles, o que nos mostra que a gestão de seu território é estratégica para o desenvolvimento da economia global.

Por outro lado, seus problemas urbanos são de grandes dimensões, bem como sua natureza política, uma vez que em seus espaços de disputa há uma maior complexidade de interesses. Assim a metrópole sofre influências dos seus atores locais, regionais, nacionais e, em alguns casos, globais.

Apesar de toda essa reconhecida importância, na prática elas vivenciam uma série de problemas para sua governabilidade. Vê-se um cenário internacional de pouco êxitos e de casos um tanto específicos, mas fundamentalmente inúmeros intentos e uma busca para a solução vencer esse desafio.

A partir dos casos apresentados nesse capítulo, foi possível observar que as experiências de gestão metropolitana só logram êxito quando há uma autonomia plena, seja pela estrutura política de ente autônomo, a exemplo de Madri, ou pela baixa autonomia municipal frente ao poder provincial como no Canadá. No entanto,

essa estrutura funciona comumente de maneira centralizada e subjugando os poderes locais, instaurando um campo de instabilidades entre os poderes.

Por outro lado, a elevada autonomia dos poderes locais impede a transfiguração do papel para a prática. Na França, apesar do largo aparato institucional, a gestão metropolitana se vê travada frente aos poderes comunais. Na Espanha, o poder das Comunidades Autônomas se vê ameaçado pelos poderes metropolitanos. Essas disputas políticas e, em certa medida, ideológicas, incrementam o conjunto de desafios enfrentado pela gestão metropolitana.

Mais uma vez, a problemática nos retomam às considerações feitas no primeiro capítulo, quando Ramalho (2009) coloca o equilíbrio entre a autoridade e a liberdade como o grande desafio de qualquer sistema de governo.

3 A METRÓPOLE NO BRASIL

No Brasil, as Regiões Metropolitanas foram institucionalizadas no período militar, de modo que a sua gestão se viu cercada de tecnocracia e autoritarismo num contexto de centralismo autoritário Estatal. A institucionalização das Regiões Metropolitanas tratava-se de uma estratégia de desenvolvimento nacional, tratavam- se de tentáculos do poder central nos espaços de maior produção econômica e poder político.

Depois do advento da Constituição de 1988, a criação das Regiões Metropolitanas passa a ser de responsabilidade dos Estados. Nesse sentido, pode- se dizer que surge daí os conflitos gerados pela sua denominação e pela articulação entre as Regiões Metropolitanas criadas durante o período do Regime Militar e os criados a partir de 1988. Os conflitos são de diferentes naturezas.

Primeiramente, há um conjunto de Regiões Metropolitas que foram declaradas pós 1988 que, segundo Moura (2009) e IPEA (2010), não apresentam dinâmica metropolitana. Tal dinâmica é definida a partir dos indicativos de crescimento populacional, concentração populacional, integração dos serviços entre os municípios e o perfil de ocupação dos trabalhadores (MOURA, 2009).

Aparentemente, há uma certa motivação política na institucionalização de algumas Regiões Metropolitanas, pois o artigo 6º da Lei Complementar nº14 de 1973 determina que os municípios que pertençam a Regiões Metropolitanas tenham preferência na obtenção de recursos federais e estaduais (FULGÊNCIO, 2014.a).

Em muitos casos, não houve uma criação do arcabouço institucional para a gestão desses territórios que funcionasse de forma eficiente. Esse cenário se dá pela falta de critérios, no âmbito constitucional, que definem o que é uma Região Metropolitana. A Constituição Federal de 1988 permite que os Estados criem seus próprios critérios para a institucionalização das suas Regiões Metropolitanas, tendo como único pré-requisito, em nível federal, a constituição dessas áreas por municípios limítrofes que visem um planejamento de interesses comuns (FULGÊNCIO, 2014.a). Além disso, a gestão dessas áreas esbarra constantemente na autonomia municipal que norteou a reforma federativa de 1988.

Apesar das inúmeras limitações experimentadas pela gestão das Regiões Metropolitanas, foram criadas as Regiões de Desenvolvimento Integrado. Trata-se

de outro instrumento de gestão para ações de interesse comum entre municípios que se encontram em regiões fronteiriças entre Estados. Diferentemente das Regiões Metropolitanas, elas dependem da União e dos Estados para ser institucionalizada. No entanto, o desafio base da gestão é semelhante ao das RMs, mas com um agravante: além de esbarrarem na autonomia municipal, elas têm um tratamento diferenciado em relação às RMs, sendo inclusive excluídas do Estatuto da Metrópole, instrumento legal que norteia o planejamento e a gestão das Regiões Metropolitanas do Brasil.

O Estatuto da Metrópole, sancionado em Janeiro do ano de 2015, trata-se de um instrumento legal que não só cria critérios para a formação de Regiões Metropolitanas como traz aparatos legais menos dispersos para as ações de desenvolvimento integrado. A lei traz mais obrigações aos gestores, o que pode gerar inúmeros conflitos.