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Organizado: Fluhr, C. E. M (2013).

Com essa metáfora, Perpétua (2012) aponta algumas informações testemunhas da pressurosa mudança por que tem passado Três Lagoas e sua microrregião, no entanto, são problemas que abrange todo o país. Como exemplo, o notório aumento populacional de 13,7% entre os anos de 1996 e 2004, com, respectivamente, 74.797 habitantes e 84.650 habitantes, e teve aumento ainda Programa de Apoio ao Desenvolvimento Regional do Turismo – PRODETUR; - Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste – PRODETUR/NE (BRASIL, 2011).

maior depois da chegada das novas plantas industriais, em 2010 a população do município ultrapassou 100.000 habitantes (101.791), ou seja, em apenas seis anos o município cresceu 20,24%. Ao lado desse abrupto crescimento populacional, estão os problemas relacionados “à saturação da infraestrutura e dos serviços básicos, e à elevação dos preços dos produtos e serviços, efeitos que somados conduzem à elevação do custo e da qualidade de vida” (PERPETUA, 2012, p. 52).

Ademais, Perpetua (2012) também destaca a insuficiência da infraestrutura na cidade de Três Lagoas em relação a apenas 15% de esgoto tratado e às condições de saneamento básico que apresentam a microrregião com grandes índices de semiadequação e inadequação. A especulação imobiliária, em especial de imóveis de aluguel, também é mencionada pelo autor como outra perversidade advinda do crescimento atrelado à industrialização, assim como a situação caótica do trânsito intensificado pelo número de veículos e problemas de circulação de maneira descontrolada. O índice de criminalidade mostra outro agravante social que causa preocupação, segundo Kudlavicz (2011, p. 159) “em quase todas as modalidades de crime houve um aumento de ocorrências,”, haja vista que o número de roubos praticamente triplicou e o de homicídios aumentou cerca de 30% entre os anos de 2006 e 2009 (ÉPOCA NEGÓCIOS, 04/04/2010).

Visto isso, denotamos nas palavras do Secretário do Desenvolvimento Econômico de Três Lagoas a visão otimista sobre os problemas enfrentados pela velocidade do crescimento (econômico e demográfico).

É como a gente costuma falar: “não se faz omelete sem quebrar ovos”. Você não vai conseguir um crescimento na cidade, sem passar por transtornos que são... Que a gente tenta minimizar, mas na verdade é difícil você conseguir diminuir todos, porque são muitas as demandas que acontecem nessa velocidade de crescimento (Informação verbal apud PERPETUA, 2012, p. 55).

Com isso, percebemos o discurso enquanto instrumento ideológico servindo para velar o mal necessário de alcançar um objetivo maior, e os resultados opostos intensificados pela pobreza, degradação ambiental, imposição de padrão cultural advindos do processo de/para o desenvolvimento “cuidador”.

Nesse e por esse processo de “cuidado” e “desenvolvimento” do campo de Três Lagoas, resgatamos a formação territorial do Estado do Mato Grosso do Sul, marcado pelo histórico de uma estrutura política e de poder estabelecido com o

monopólio de terras. Cabe ressaltar, por essa atuação, a Microrregião de Três Lagoas (MS) designou sua formação pela atividade pecuária de corte e de leite, enquanto que no perímetro urbano teve como primeiros ramos industriais a construção civil e de cerâmica, e outros ramos com maiores investimentos intensificados na década de 1990 (ASEVEDO, 2013; RIBEIRO SILVA, 2012).

Ademais, no campo, como vimos no subtítulo anterior, a herança que foi deixada pelo POLOCENTRO na década de 1970, tornou-se notório na Microrregião de Três Lagoas (MS) a instalação do agronegócio do eucalipto, e, desde meados dos anos 2000, reconfigura a atividade econômica-produtiva e provoca grandes transformações em âmbitos sociais, no campo e na cidade.

Essa herança política de “desenvolvimento” regional foi destinada em áreas da região sul-mato-grossense para serem produtoras de eucalipto e pinus e, abastecer indústrias siderúrgicas do Sudeste. Essas compreenderam o “florestamento-reflorestamento” entre a capital do Estado, Campo-Grande, e a Costa Leste Três-lagoense, permanecendo em vigor de 1975 a 1981 (ABREU, 2001).

Portanto, a partir desse programa federal de grande raio de atuação, foi aberto o caminho, em 1988, para a empresa Chamflora Três Lagoas Agroflorestal, subsidiária da International Paper no Brasil, iniciar o plantio de eucalipto para a produção de celulose e papel, tendo em vista o plano industrial para ser instalado em 2003. No entanto, tal projeto foi prorrogado e se oficializou em 2007, com a troca de ativos entre a Internacional Paper/IP e a Votorantim Papel e Celulose/VCP.

Essa fusão foi mediada por um contrato de permuta, que consistiu na entrega da fábrica da VCP para a IP, com o cunho de fortalecer a construção da maior fábrica de celulose e papel com linha contínua do mundo em Três Lagoas. (KUDLAVICZ, 2011; ASEVEDO, 2013). Assim, fica evidente a denominação Complexo VCP-IP, pois

Reestruturou o setor celulósico em âmbito nacional e, diríamos, até internacional. As empresas se veem ajuramentadas a estabelecer relações mútuas de troca de bens e ativos, interessantíssimo para os negócios no Brasil e, de certa maneira, a união de forças entre elas proporcionou maior poder de atuação frente ao mercado mundial do setor. (ASEVEDO, 2013, p.59).

Nessa mesma proporção, se designou o processo de construção desse grande empreendimento, com duração de três anos e com o custo de R$ 3,88

bilhões, financiados em grande parte pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), respondendo ao rearranjo territorial expressivo na localidade de Três Lagoas e seu entorno (PERPETUA, 2012).

Em consequência dessa reorganização territorial, em 2009, a VCP-IP entrou em operação, e neste mesmo ano fundiu-se à Aracruz Celulose, tornando-se Fibria (Foto 4), a qual demanda o posto de maior produtora mundial. Cabe aqui ressaltar a capacidade produtiva desse setor, que, entrou em operação já possuindo 1,3 milhão de toneladas/ano de celulose, equivalentes a ¼ da produção total da empresa (ALMEIDA, 2010). E, dessa maneira, anunciou o dobro dessa produção, com metas a serem cumpridas até 2014, sendo esta a propaganda de uma segunda linha de produção.