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Comparativo entre duas metodologias de soltura para Amazona aestiva observando-se poucos critérios de soft-release

No documento Reintroduçãodepsitacídeos (páginas 48-51)

Valle, Anderson Luis; Oliveira, Cleyton W. da Silva; Teixeira, Rafael A.; Batista, Leonardo P; Ramos, Bruno. C. E-mail:

andersonluis.valle@gmail.com

Mensuramos a taxa de permanência no local da soltura de três lotes de exemplares de Amazona aestivaprovenientes de cativeiro doméstico após serem reabilitados para vôo. Foram soltos grupos com 15, 24 e 15 indivíduos, nos dias 14 de junho de 2009, 4 de julho de 2009 e 16 de janeiro de 2010, respectivamente, utilizando-se duas metodologias distintas: animais

previamente soltos (entre seis meses e um ano) e que mantinham residência nas proximidades, e posteriormente foram capturados e translocados para a nova área de soltura, afastada cerca de 1 quilômetro (Lote 1); e animais que não conheciam a área de soltura. Neste último caso, testou-se em duas épocas do ano: seca (Lote 2) e chuvosa (Lote 3). Os animais do Lote 1 se mantinham próximos à sede devido à disponibilidade de alimento disponível em coxos espalhados pela fazenda, apresentando ótima capacidade de vôo, e buscavam com freqüência contato com humanos.

O local escolhido foi uma área de ecoturismo conhecida como Chapada Imperial localizada na APA de Cafuringa (15° 33’ S e 48° 06’ W) Distrito Federal. Esta APA reúne áreas de cerrado “senso stricto”, cerrado rupestre, cerradão, matas mesofíticas (interflúvio e calcária), mata de galeria, campo cerrado, campo de murundum, campo sujo, campo limpo, campo úmido, brejo e veredas. Tais formações estão próximas entre si formando um mosaico distribuídos em 4.500 hectares. Os três lotes foram soltos em vegetação de transição entre mata de galeria e cerrado sensu stricto.

Cinco pessoas visitaram o campo por 20 dias distribuídos no período de 14/6 a 28/8, por 3 dias distribuídos entre 16 a 24 de janeiro. Através de busca ativa com raio de 1 quilômetro do ponto de soltura, procuraram por carcaças e indivíduos, e fizeram importantes registros, como alimentação de frutos silvestres pelos animais soltos,

pareamento, altura de empoleiramento noturno, visitação aos comedouros, manutenção da coesão do grupo, tamanho da área utilizada, contagem de exemplares no momento de empoleiramento, e interação com exemplares nativos. Nesse trabalho, relatamos apenas o comparativo na freqüência de avistamento entre os lotes. Durante os primeiros 15 dias da soltura do Lote 1, poucos indivíduos afastaram-se dos comedouros, o que diferiu para o lote 2 em que houve uma dispersão ou outro fator que fizesse com que os indivíduos não fossem mais encontrados. Mesmo com o consumo de mamão no comedouro dos papagaios por um Jaguarundi (Herpailurus yaguaroundi) três dias após a soltura do primeiro grupo, tal fato não incitou a inutilização do comedouro ou a dispersão pelos animais deste lote. Dois indivíduos foram predados no período que compreendeu a primeira semana após a soltura do lote 2, quando praticamente todos os indivíduos da primeira soltura já haviam desaparecido. Não sabemos, porém qual o lote do animal.

Fig. 1. Porcentagem de indivíduos translocados na própria área de soltura que não foram mais avistados ao longo de semanas.

Fig. 2 Porcentagem de indivíduos inseridos num ambiente natural o qual desconheciam que não foram mais avistados ao longo de semanas (Estação seca). Cinco dias após a soltura do Lote 2

observamos o primeiro indivíduo de alimentando de frutos silvestres: Eucalyptus sp., Strythnoderon adstringens (barbatimão), e o Syagrus romanzoffiana (catolé). Já o fruto do carvoeiro, Sclerolobium paniculatum, foi consumido alternadamente ao alimento disponível no coxo. Na primeira semana, um indivíduo do lote Lote 2 foi avistado a 1 quilômetro da

área da soltura, alternando entre área de pernoite e alimentação. Oito semanas após, dois indivíduos do Lote 2 foram localizados a 1 km do ponto de soltura, próximo à sede da fazenda.

Nos primeiros 15 dias de observação deste lote, também registramos a altura em que os indivíduos encontrados no período

entre 17:45 e 18:15 estavam empoleirados. Os resultados são apresentados na tabela a seguir. No Lote 3 não observamos consumo de nenhum fruto silvestre pelos animais, apesar de terem permanecido por uma semana no local, e o alimento disponível no comedouro não utilizado.



Fig 3. Porcentagem de indivíduos inseridos num ambiente natural o qual desconheciam que não foram mais avistados ao longo de semanas (estação chuvosa).



Fig. 4 Registro de encontro dos animais dos dois primeiros lotes de soltura durante o período de oito semanas. X representa a semana em que o animal foi encontrado e a faixa cinza o período de certeza de sobrevivência.

Verificamos que a soltura de indivíduos nessas situações, propiciou uma rápida dispersão, mortalidade ou outro fator que fizesse com que os animais não fossem mais encontrados a partir das duas primeiras semanas da soltura, mesmo havendo disponibilidade de alimento e ausência de comportamentos antagonísticos. Não há dados suficientes para determinar se os animais foram predados ou se dispersaram. Apenas dois animais foram localizados distantes do ponto de soltura, tendo permanecido por várias semanas sem que tivessem sido localizados. Nesse sentido é importante relatar que a metodologia utilizada, busca ativa ao redor da área de soltura, limitava-se ao raio de 1 quilômetro do ponto de soltura, e com menor frequência a 2 km. Interessante relatar que diverso do esperado, o grupo de animais translocados não retornou para a antiga área de ocupação. Sete meses após as duas solturas, nenhum papagaio foi

encontrado nas proximidades da sede ou na área de soltura.

Conclui-se que a disponibilidade de alimento pode ser um fator que não garanta a fixação de A. aestivase estes forem soltos sem métodos mais elaborados de soft release, como a instalação de recinto de aclimatização, o que, porém necessita ainda ser testado e comparado. A proximidade com humanos pode também não ser um fator relevante neste sentido, uma vez que pouquíssimos indivíduos buscaram ou retornaram à sede da fazenda.

Para a coleta de outros dados referentes à dispersão, inclusive a certeza de óbitos, é necessário ainda um esforço amostral maior e uso de tecnologias mais avançadas, indisponíveis na maioria dos Centros de Triagem de

No documento Reintroduçãodepsitacídeos (páginas 48-51)