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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 COMPARTILHAMENTO DE CONHECIMENTO

A competição organizacional emerge ditando o ritmo ao qual as empresas precisam buscar novas formas de produzir valor, através da aquisição e aplicação de novos conhecimentos (ALVES, ZEN e PADULA, 2010). “Na economia do conhecimento, os ativos intangíveis, ou a propriedade intelectual, são considerados os recursos-chave da vantagem competitiva” (KHVATOVA et al., 2016, p. 918).

Nonaka, Von Krogh e Voepel (2006, p. 1181), referem que:

Muitos pesquisadores do ocidente se apegaram a definição ponderada de conhecimento como uma ‘crença verdadeira universal justificada’, enquanto falhavam em criar um papel para as habilidades físicas, experiências e percepções em suas teorias. Como resposta, um conceito de conhecimento mais amplo foi desenvolvido que inclui ambos os aspectos, o explícito, tais como a linguagem e documentação, e o tácito, tais como a experiência e as habilidades [...] Pesquisa recente constatou que o conhecimento está incorporado no indivíduo e é, portanto, dependente da história, é sensível ao contexto, específico e visa a definição do problema mais do que a representação do problema e a sua solução.

O conhecimento é uma mistura fluida de experiências, valores, informações, contexto, interpretação e reflexão (DAVENPORT, DE LONG e BEERS, 1998), tendo origem e aplicação na mente de seus possuidores e fornece uma estrutura para avaliar e incorporar novas experiências e informações. Já nas organizações, ele costuma estar embutido em documentos ou repositórios e também em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais (DAVENPORT e PRUSAK, 1998). Os autores complementam que a vantagem do conhecimento é sustentável porque ele gera retornos crescentes e contínuos e, ao contrário dos bens materiais que diminuem à medida que são usados, o conhecimento adquirido aumenta continuamente ao passo que é usado.

O conhecimento é considerado a matéria prima da inovação e, consequentemente, a transferência de conhecimento dentro e entre as organizações e indivíduos é considerada como uma fonte de inovação e de vantagens competitivas (COHEN e LEVINTHAL, 1990; KHVATOVA et al., 2016). O compartilhamento de conhecimento se refere ao processo de transmissão, comunicação, interação e coordenação de conhecimento ou especialização, que ajudam a melhorar a produtividade organizacional, a capacidade de absorção e a inovação, além de sustentar a vantagem competitiva (WANG, WANG e LIANG, 2014).

Complementando, Wang, Sharma e Cao (2016, p. 4651) alegam que essa partilha “pode aprimorar os recursos/capacidades organizacionais baseados no conhecimento e levar à

melhoria dos resultados do trabalho através do intercâmbio e utilização de informações, experiências, práticas, insights e entendimentos incomuns”.

A importância da transferência de conhecimento é o reconhecimento de que a vantagem competitiva já não pode ser atribuída exclusivamente às idiossincrasias internas, mas também depende de recursos e capacidades adquiridas de pessoas ou grupos externos (MATHEWS, 2003). As organizações podem importar conhecimento sobre estruturas, processos e práticas, podendo aumentar o seu desempenho a longo prazo (SQUIRE, COUSINS e BROWN, 2009). Os recursos do conhecimento podem viabilizar a capacidade de integrar e reconfigurar recursos, rotinas e processos, criam oportunidades para maximizar a capacidade das organizações e gerar ganhos de eficiência e soluções que proporcionam ao negócio vantagem competitiva (REID, 2003; NODARI et al., 2014).

Samil (2007) salienta que o compartilhamento de conhecimento exige esforços contínuos. É um processo dinâmico, onde o conhecimento existe, é compartilhado e reutilizado, gerando novos conhecimentos e possibilitando que as empresas sejam inovadoras e competitivas. De acordo com CEN (2004), existem métodos e ferramentas que suportam o compartilhamento de conhecimento como as intranets/portais, bases de dados, colaborações, comunidades de prática, rotação de pessoal, treinamentos, seminários e capacitações.

Na mesma linha de pensamento Santos (2010b, p. 44), salienta que o compartilhamento de conhecimento pode acontecer por meio de “conversas informais; trocas presenciais semiestruturadas, via brainstorming; meios presenciais estruturados, como palestras, conferências e treinamentos; trocas virtuais simples, como e-mails e trocas virtuais organizadas como educação a distância e videoconferência”. Davenport e Prusak (1998) defendem que o compartilhamento de conhecimento pode ocorrer por meio de formas estruturadas, de reuniões face a face e de narrativas, por acreditarem que os sinais que produzem confiança e convencimento são melhor transmitidos na comunicação pessoal.

Em redes de cooperação, observam-se diferentes tipos de possibilidades de compartilhar o conhecimento. O papel dos recursos do conhecimento nas relações interorganizacionais e seu impacto nos fluxos de conhecimento tem sido extensivamente pesquisado na década anterior, salientando que os efeitos do conhecimento e as transações de capital intelectual desempenham um papel importante na capacidade de a empresa obter valiosos benefícios de parcerias, redes, alianças, bem como relações coopetitivas (FRANCES, SINDAKIS e DEPEIGE, 2015).

Em um estudo de Provan, Fish e Sydow (2007), pode-se analisar distintas formas de interações entre os indivíduos em redes e como essas redes são pesquisadas. As interações

dentro de uma rede, sejam formais ou informais, ocasionam possibilidades de acesso a informações e conhecimentos até então desconhecidos pelos parceiros. Sob esse ponto de vista, o Quadro 1 traz uma adaptação do estudo de Provan, Fish e Sidow (2007), utilizando exemplos de possíveis interações que resultaram em compartilhamento de conhecimento dentro de uma rede, gerando novos conhecimentos aos seus participantes.

Quadro 1 - Origens de novos conhecimentos em redes interorganizacionais

Atores Individuais Atores Coletivos Organização Impacto de um ator sobre

outro ator por meio das interações.

Impacto dos atores individuais em uma rede.

Rede Impacto de uma rede nos

atores Individuais.

Toda rede ou nível de interações de rede.

Fonte: Adaptado de Provan, Fish e Sydow (2007).

Primeiro e de maneira informal, o conhecimento seria compartilhado entre atores individuais. Um ator identifica outro ator dentro da rede com visão e objetivos comuns aos seus, além de possuir uma linguagem e pensamentos semelhantes. Essas características os levam a perceber o outro como mais confiável e mais propenso a compartilhar informações. Essa relação pode acontecer por meio de conversas informais dentro da rede ou em contatos pessoais devido ao elo de confiança gerado entre os atores.

Em segundo lugar, embora seja mais raro, o conhecimento seria compartilhado de uma organização individual e suas ações para a rede. Como consequência um único ator seria capaz, por si só, de alterar os resultados da rede, que afetariam a estrutura, a estabilidade e a eficácia da rede (JARILLO, 1988; SYDOW e WINDELER, 1998) e consequentemente os outros atores. Essa abordagem seria mais provável de ser encontrada, quando uma rede interorganizacional é liderada por uma única empresa, sendo as demais apenas coadjuvantes do processo cooperativo.

Em terceiro lugar, o conhecimento seria compartilhado dentro da rede por meio de processos formais, onde atores individuais seriam beneficiados com informações e conhecimentos da rede, ou seja, a rede impactaria nas ações e no comportamento de cada organização individualmente. Esses processos fariam parte do objetivo da rede em contribuir

com o desenvolvimento e ganhos sustentáveis às empresas parceiras, ajudando-as no aprendizado e na inovação.

E o último processo de compartilhamento de conhecimento também aconteceria de maneira formal dentro da rede. Nesse processo o conhecimento seria gerado e transformado por todos os integrantes da rede, ou seja, as ações de vários níveis e estruturas da rede impactariam sobre os resultados da própria rede.

Nessas relações acontece a troca de ativos tangíveis e intangíveis gerando novas aptidões e levando os atores a uma prática de desempenho superior e intransitável até então. Khvatova et al. (2016), complementam que as interações sociais e a partilha de conhecimento são ações conjuntas caracterizadas pela reciprocidade, ou seja, todas os participantes devem perceber que o processo de compartilhamento é benéfico a longo prazo, caso contrário, é improvável que seja repetido.

Block (2013) complementa que a decisão de compartilhar conhecimentos, baseia-se na percepção pessoal ou, melhor, nas expectativas de resultados. Se o processo de compartilhamento de conhecimento é percebido como positivo, esse processo possivelmente continuará. Se o compartilhamento de conhecimentos for frequentemente repetido, uma atitude positiva em relação a ele também será interiorizada

Através das interações na rede o conhecimento compartilhado entre os parceiros, ocasionará mudanças internas para algumas empresas. Essas mudanças serão mais bem aproveitadas quando a capacidade absortiva do membro da rede for mais apurada. Essa capacidade consiste na habilidade de adicionar novos conhecimentos aos pré-existentes, e está relacionada com a habilidade de absorção de conhecimento da entidade receptora em um processo de compartilhamento (NODARI et al., 2014). Cohen e Levinthal (1990) definem a capacidade absortiva como a capacidade de uma organização em reconhecer o valor de uma informação, assimilá-la e então poder utilizá-la com uma finalidade comercial. Esta capacidade pode estar relacionada a trajetória histórica da firma, ao conhecimento acumulado e aos seus processos de aprendizagem.

Cohen e Levinthal (1989, p. 570) destacam que a capacidade absortiva é “[...] importante elemento na habilidade da organização criar novo conhecimento [...]”. No entanto, esse processo ainda é complexo e as organizações diferem em suas capacidades, resultando em desigualdades, onde nem todas as empresas efetuarão com êxito o compartilhamento e a absorção de conhecimento (COHEN e LEVINTHAL, 1990).

Dentro de uma rede de cooperação, essas considerações exigem das firmas investimentos específicos. Segundo Milagres (2008), esses investimentos podem ser, por

exemplo, o desenvolvimento de uma linguagem comum, canais de comunicação e códigos que possibilitem a circulação de conhecimentos e informações, fóruns para mediação de conflitos, criação de procedimentos etc. “Estes podem ser resumidos em funções, processos, instrumentos, rotinas, ou seja, mecanismos para a disseminação de práticas que permitam a absorção de conhecimento no âmbito da firma e da rede” (MILAGRES, 2008, p. 35).

A capacidade de somar conhecimento e transformar as habilidades individuais, dispersas ao longo das organizações, é cada vez mais percebida como uma capacidade estratégica da empresa (BALESTRO et al, 2004; GRANT, 1996). Esse novo conhecimento pode então ser combinado com as experiências para criar novas práticas de gestão, novas rotinas e recursos que forneçam a base para uma vantagem competitiva sustentável (SQUIRE, COUSINS e BROWN, 2009).

Essas novas rotinas surgem como uma necessidade de adaptação e ajustamento da empresa aos procedimentos e normas da rede, ou simplesmente, pelas empresas terem acesso a informações e adquirirem novas aptidões, que sustentarão e promoverão o crescimento da empresa individualmente e dentro da rede. Se inovadoras, as rotinas geradas através da cooperação interorganizacional, promovem a sustentabilidade e permitem a constante dinâmica e transformação dos processos administrativos das empresas.

O tema rotinas organizacionais é abordado tópico 2.3 deste trabalho e possibilita um maior entendimento do que são as rotinas, qual a sua importância para as organizações e quais os indícios que podem ocasionar as suas mudanças ao longo do tempo.

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