• Nenhum resultado encontrado

Segundo a IATA (2021), a indústria aeronáutica está confiante que tecnologias, melhor infraestrutura, medidas operacionais e biocombustíveis contribuirão positivamente para a sustentabilidade da aviação no longo prazo, porém, medidas de mercado devem ser tomadas para cobrir as lacunas de emissões no curto prazo. Segundo o IDESAM (2018), para essa contribuição no curto prazo, a agência da ONU responsável pela regulação da aviação civil internacional (ICAO), composta por 191 países, definiu diretrizes com o objetivo de limitar as emissões da aviação internacional a partir de 2021, almejando o compromisso de crescimento “carbono neutro” a partir de 2020.

Durante a 39a Assembleia da ICAO, realizada em outubro de 2016, foi aprovada a Resolução A39-312, que deu origem ao “Esquema de Redução e Compensação de Emissões da Aviação Internacional” (em inglês, Carbon Off-seting and Reduction Scheme for International Aviation – CORSIA/ICAO). O CORSIA se configura como o primeiro mecanismo de mercado voltado à compensação de emissões setoriais, em nível global. Inicialmente o CORSIA irá vigorar entre os anos de 2021-2035. (IDESAM, 2018, p. 9)

De acordo com o Ministério da Infraestrutura (2019), o CORSIA visa assegurar que aviação civil cumpra sua responsabilidade no esforço global do combate à mudança climática, com a aquisição de créditos de carbono, esses créditos são emitidos por outros

setores da economia que possuem formas mais eficientes e baratas de reduzir suas emissões de CO2 do que o próprio setor aéreo.

O principal objetivo do CORSIA é mitigar as emissões de GEE na aviação civil internacional e limitar qualquer aumento de emissão de CO2 acima dos níveis estabelecidos no ano de 2020. Com esse mecanismo será mais viável atingir a meta proposta conforme podemos observar no gráfico a seguir:

Figura 11 - Contribuição das Medidas para Reduzir as Emissões Líquidas de CO2 da Aviação Civil Internacional

Fonte: IDESAM (2018)

Segundo o IDESAM (2018), o CORSIA será implementado em três fases. A primeira e a segunda fase serão voluntárias por países e companhias aéreas (havendo uma fase de testes entre 2021 – 2023, seguida pela fase inicial entre 2024-2026). A partir de 2027, as medidas e metas de redução de emissões valerão para todos os países, com exceção aos menos desenvolvidos, pequenas ilhas e países que não atinjam um percentual mínimo na contribuição das emissões totais de CO2 no setor.

De acordo com o Ministério da Infraestrutura (2019), o Brasil faz parte do escopo do CORSIA e iniciou o processo de monitoramento das emissões internacionais de CO2 em 2019. A ANAC é o órgão responsável no Brasil pela implantação do CORSIA e pela fiscalização dos operadores aéreos. Nas fases voluntárias, apenas o monitoramento, reporte e verificações das emissões são realizadas pelos operadores aéreos. A partir de 2027, as emissões internacionais de operadores brasileiros, acima dos níveis estabelecidos deverão ser compensadas com a aquisição de créditos de carbono ou pelo uso de combustíveis

sustentáveis autorizados. O fórum de discussão das medidas baseadas em mercado que ANAC participa é o Comitê de Proteção Ambiental da Aviação (CAEP) da ICAO. O CAEP possui diversos subgrupos, dentre os quais um é responsável pelas discussões do tema. O resultado das discussões é avaliado e, caso seja aprovado, é incorporado ao Anexo 16 da Convenção de Chicago, sendo posteriormente incorporado à regulamentação da ANAC.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O efeito estufa foi descrito oficialmente pela primeira vez pelo físico francês Joseph Fourier no ano de 1824. Este efeito natural da Terra, não permite que todo o calor absorvido pelo sol volte para o espaço e mantém o planeta em temperaturas habitáveis. Sem este efeito o planeta que hoje tem uma temperatura média de 15 graus Celsius, teria uma temperatura média de -18 graus Celsius, porém um efeito tão benéfico, que permite a vida como conhecemos hoje em todo o planeta, tem grande potencial para se tornar catastrófico em determinadas condições.

Em 1861, o físico irlandês John Tyndall mostrou que o dióxido de carbono (CO2) pode causar alterações no clima. Sabendo que emissões de dióxido de carbono na atmosfera por atividades vêm se intensificando ano após ano desde o início da revolução industrial e que o CO2 é um dos principais gases de efeito estufa que contribui diretamente para o aquecimento global, o desafio se desenhou.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), criado em 1988, veio com a missão de mostrar para o mundo as ações e práticas corretas contra o aquecimento global e suas consequências através de relatórios, compostos pela análise de inúmeros artigos e publicações científicas relevantes de toda a literatura. O IPCC veio para direcionar as ações globais e também para colocar fim a dúvida e incerteza que muitos cientistas negacionistas implantaram, pelo benefício das indústrias de combustíveis fósseis, que é há décadas peça chave do sistema capitalista atual. O Painel publicou seu último relatório, AR6 (2021), e gerou grande repercussão na mídia internacional, trazendo que, além do fato da crise ambiental ser considerada grave, a contribuição humana para o aquecimento é inequívoca e as ações contra a crise precisam ser tomadas de forma urgente.

Todas as áreas responsáveis por emissão de gases de efeito estufa, em todos os níveis, precisam conter suas emissões e nesse contexto, entraram os objetivos desta pesquisa.

A aviação civil internacional, segundo dados da IATA (2021), contribui com 2% do total de emissões de CO2 no planeta, embora não pareça uma contribuição significativa, estimativas apontam que as emissões atinjam pelo menos 3% nas próximas décadas com o crescimento da aviação. Todos os setores precisam conter suas taxas de emissão, independente da sua parcela de contribuição, para fazer parte do esforço global contra o desafio da mudança climática.

Acordos foram firmados ao longo dos anos por diversos países engajados no enfrentamento da crise, o acordo vigente em 2021 é o Acordo de Paris, do qual o Brasil faz parte. Entre as principais metas do acordo, está a de manter o aumento da temperatura média

global até dos 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, o que segundo o IPCC (2021) será muito difícil caso ações não sejam tomadas rapidamente. Segundo o Ministério da Infraestrutura (2019), a ICAO definiu no ano de 2010 como meta global a melhoria de eficiência energética em 2% ao ano e crescimento neutro de carbono a partir de 2020.

Como formas de reduzir a emissão de CO2 no âmbito aviação civil, a IATA (2021), apresenta medidas, através do desenvolvimento motores elétricos e movidos a hidrogênio, biocombustíveis, formas de as empresas compensarem suas emissões através da compra de créditos de carbono e diversas melhorias de infraestrutura aeronáutica e procedimentos operacionais. Além desses, outros caminhos para a redução das emissões de gases de efeito estufa existem, mas é necessário iniciativa.

O alerta nos é dado todos os dias, seja pelos jornais, seja pela própria natureza, nós temos um grande desafio e não podemos agir como se nada estivesse acontecendo. Muitas lacunas ainda precisam ser preenchidas por estudos e pesquisas, principalmente os referentes à implementação de biocombustíveis, otimização de tráfego aéreo, motores alternativos, infraestrutura e processos que redesenhem a aviação como é conhecida. As pessoas vão voar cada vez mais e o mundo estará cada dia mais conectado, mas o desenvolvimento precisa acontecer com responsabilidade. A boa notícia para a sustentabilidade da aviação é que os recursos existem.

REFERÊNCIAS

ADAPTA CLIMA. Acordos Internacionais e Políticas Públicas, 2017. Disponível em:

<http://adaptaclima.mma.gov.br/acordos-internacionais-e-politicas-publicas>. Acesso em: 10 ago. 2021.

AIRBUS. Hydrogen: An importante pathway to our zero-emission ambition. 2021.

Disponível em: <https://www.airbus.com/innovation/zero-emission/hydrogen.html#ove>.

Acesso em: 02 out. 2021.

ANAC – AGÊNCIA NACIONAL DE AVIACÃO CIVIL. Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas da Aviação Civil, 2019. Disponível em:

<https://www.anac.gov.br/assuntos/paginas-tematicas/meio-ambiente/arquivos/inventario-nacional-de-emissoes_v6.pdf>. Acesso em: 25 set. 2021

ANGELO Claudio; MARENGO Antonio. IPCC AR6: Resumo Comentado. Observatório do Clima, 2021. Disponível em: <https://www.oc.eco.br/ipcc-ar6-wg1-resumo-comentado/>.

Aceso em: 11 set. 2021.

BNDES – BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL.

Aquecimento Global: Acordos Internacionais, Emissões de CO2 e o Surgimento dos Mercados de Carbono do Mundo, 2018. Disponível em:

<https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/handle/1408/16043>. Acesso em: 18 set. 2021.

BOEING. Aviões Elétricos. 2021. Disponível em:

<https://www.boeing.com.br/inova%C3%A7%C3%A3o/avi%C3%B5es-el%C3%A9tricos.page?>. Acesso em: 02 out. 2021.

EMBRAER. Plano de Voo para Biocombustíveis de Aviação no Brasil: Plano de Ação, 2013. Disponível em: <https://fapesp.br/publicacoes/plano-de-voo-biocombustiveis-brasil-pt.pdf>. Acesso em: 25 set. 2021.

HAWKING, S. Breves Respostas para Grandes Questões: 1 ed. Rio de Janeiro: Intrinseca, 2018.

IATA – INTERNACIONAL AIR TRANSPORT ASSOCIATION. Aviation and Climate Change: Fact Sheet, 2021. Disponível em: <

https://www.iata.org/en/iata-repository/pressroom/fact-sheets/fact-sheet--climate-change/>. Acesso em: 10 ago. 2021.

IDESAM – INSTITUTO DE CONSERVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA AMAZONIA. Esquema de Redução de Emissões da Aviação Civil Internacional (Corsia/Icao): DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA O BRASIL, 2018. Disponível em: <https://idesam.org/publicacao/corsia-oportunidades-para-o-brasil-v2.pdf>. Acesso em:

01 out. 2021.

IPCC – INTERNATIONAL PANEL FOR CLIMATE CHANGE. About the IPCC. 2021.

Disponível em: <https://www.ipcc.ch/about/>. Acesso em: 10 ago. 2021.

IPCC – INTERNATIONAL PANEL FOR CLIMATE CHANGE. AR4 Climate Change 2007: Synthesis Report. Disponível em: <https://www.ipcc.ch/report/ar4/syr/>. Acesso em:

18 set. 2021.

IPCC – INTERNATIONAL PANEL FOR CLIMATE CHANGE. AR6 Climate Change 2021: The Physical Science Basis. Disponível em: < https://www.ipcc.ch/report/sixth-assessment-report-working-group-i/>. Acesso em: 10 jul. 2021.

JUNGES, Alexandre Luis et al. Efeito Estufa e Aquecimento Global: Uma abordagem conceitual a partir da física para a educação básica. Experiências em Ensino de Ciências, Porto Alegre, v.13, n. 5, p. 126-151, nov.2018. Disponível em:

<https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/194261>. Acesso em: 15 ago. 2021.

LACERDA, Paulo Nobre. Aquecimento Global: conceituação e repercussões sobre o Brasil.

Revista Brasileira de Geografia, v.3, p. 14-17, mar. 2010.

MIGUEL, Carlos Hochsprung. Negacionismo Climático no Brasil. Revista Coletiva, São Paulo, abr. 2020. ISSN 2179-1287. Disponível em:

<https://www.researchgate.net/publication/341522386_Negacionismo_climatico_no_Brasil>.

Acesso em: 20 set. 2021.

MINISTÉRIO DA INFRAESTRUTURA. Governo do Brasil: Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation, 2019. Disponível em:

<https://www.gov.br/anac/pt-br/assuntos/meio-ambiente/corsia>. Acesso em: 01 out 2021.

MINISTÉRIO DA INFRAESTRUTURA. Plano de Ação para a Redução das Emissões de CO2 da Aviação Civil Brasileira, 2019. Disponível em:

<https://www.anac.gov.br/assuntos/paginas-tematicas/meio-ambiente/arquivos/PlanodeAo2019ptbr.pdf>. Acesso em: 25 set. 2021.

NASA - NATIONAL AERONAUTICS AND SPACE ADMINISTRATION. GISS Surface Temperature Analysis. Disponível em: <https://data.giss.nasa.gov/gistemp/graphs/>. Acesso em: 22 set. 2021.

OLIVEIRA, Marcos Fernando. Tráfego Aéreo e CNS/ATM. 21. ed. Palhoça:

UnisulVirtual,2019.

OLIVEIRA, Rafael Schafhauser; HENKES, Jairo Afonso. Uma Análise Sobre a Possibilidade de Uso dos Motores Elétricos em Aeronaves Comerciais. Revista Brasileira de Aviação Civil e Ciências Aeronáuticas, Florianópolis, v. 1, n. 2, p. 112-141, mai. 2021. Disponível em: <https://rbac.cia.emnuvens.com.br/revista/article/download/27/23>. Acesso em: 01 out.

2021.

ONU – ORGANIZACÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas: Acordo de paris 2015, 2015. Disponível em:

<https://brasil.un.org/pt-br/node/88191>.Acesso em: 15 set. 2021.

PETIT, Jean Robert, et al. Climate and Atmospheric History of the Past 420,000 Years from the Vostok Ice Core, Antarctica. Macmillan Magazines, v. 399, n. 6735, p. 429-436, jun.

1999. Disponível em:

<https://www.researchgate.net/publication/224962710_Climate_and_Atmospheric_History_o f_the_Past_420000_Years_from_the_Vostok_Ice_Core_Antarctica>. Acesso em: 02 ago.

2021.

PIVARO, Gabriela Fasolo; GIROTTO, Gildo Junior. O Ataque Organizado à Ciência como Forma de Manipulação: do Aquecimento Global ao Coronavírus. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Campinas, v.37, n. 3, p. 1074-1098, dez. 2020. Disponível em:

<https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/view/74968>. Acesso em: 20 set. 2021.

RIBEIRO, Nathan Fraga; RIBEIRO, Elones Fernando. Redução na Emissão de Dióxido de Carbono (CO2) Através da Implementação de Biocombustíveis na Aviação Comercial Brasileira. Conexão SIPAER, RS, v. 10, n. 1, p. 45-55, 2019. Disponível em:

<http://104.236.28.163/index.php/sipaer/article/view/605>. Acesso em: 28. set. 2021.

SIEBERT, Silvânia; DALTOÉ, Andréia da Silva. A Ciência Resiste. Linguagem em Discurso, Tubarão, SC, v. 21, n. 2, p. 179-184, ago. 2021. Disponível em

<https://www.scielo.br/j/ld/a/jrWhTBYv4gHr8DQfzGtdkdg/?lang=pt>. Acesso em: 20. set.

2021.

WMO - WORLD METEOROLOGICAL ORGANIZATION. Greenhouse Gas Bulletin 2013. Disponível em: <https://public.wmo.int/en/resources/library/wmo-greenhouse-gas-bulletin>. Acesso em: 18 set. 2021.

Documentos relacionados