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4 ECONOMIA MINERAL NO BRASIL

4.2 COMPENSAÇÃO FINANCEIRA PELA EXPLORAÇÃO DE

A CFEM é uma compensação financeira devida à União, Estados e Municípios pela exploração para fins econômicos dos recursos minerais, que são bens da União. Isto é verificado na Constituição Federal de 1988, em seu art. 20, § 1o, que assegura aos órgãos da União, aos Estados e aos Municípios a participação no resultado da exploração de recursos naturais, dentre eles os recursos minerais, ou a compensação financeira por essa exploração, justamente em razão de esses recursos serem bens da União.

                                                                                                                         

12 Importante ressaltar que essa vantagem não é absoluta, uma vez que os municípios sofrem com os efeitos negativos da degradação ambiental. Além disso, a indústria de extração mineral tem a característica de demonstrar baixo poder de encadeamento. Assim, um dos entendimentos para o royalty mineral é no sentido indenizatório ao dano ambiental e um incentivo ao investimento em outras atividades com maiores níveis de encadeamento. Como afirma Barreto (2001), os impactos negativos que a indústria mineral possui podem ser contornados com o devido planejamento e execução.  

A lei 8.876/94 autoriza o Poder Executivo a instituir como autarquia o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM)13, com as finalidades, dentre outras, de promover o planejamento e o fomento da exploração e aproveitamento dos recursos minerais, além de controlar e fiscalizar o exercício das atividades de mineração em todo o território nacional. O DNPM é o órgão responsável pelo controle de toda a atividade mineral no Brasil, à exceção do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis que são controlados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).

A lei no 7.990/89, art. 6o define que percentual da CFEM, para fins de aproveitamento econômico14, será de até 3% sobre o faturamento líquido resultante da venda do produto mineral, obtido após a última etapa do processo de beneficiamento adotado antes da sua transformação industrial. Esse faturamento líquido se refere ao total de receitas de vendas, excluídos os tributos incidentes sobre a comercialização do produto mineral, as despesas de transporte e as de seguro, segundo especifica a lei no 8.001/90.

Os parágrafos 1o e 2o desta lei ainda estabelecem o percentual da compensação, que é dado de acordo com as classes de substâncias minerais, além de estipular a forma de distribuição da compensação entre os entes federativos. Desta forma, os percentuais da CFEM devido por aqueles que exploram a atividade mineral serão: i) 3% para minério de alumínio, manganês, sal-gema e potássio; ii) 2% para ferro, fertilizante, carvão e demais substâncias minerais, a exceção do ouro; iii) 0,2% para pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonados e metais nobres; e iv) 1% para ouro, quando extraído por empresas mineradoras, sendo os garimpeiros isentos. Já o parágrafo 2o trata da distribuição da compensação entre os entes que será feita de forma tal que os Estados e Distrito Federal recebam 23%, aos municípios produtores seja devido 65% e 12% à União15.

                                                                                                                         

13 Apesar do estabelecimento do DNPM como uma autarquia federal vinculada ao Ministério de Minas e Energia ter sido dada pela Lei n0 8.876/94, o Departamento foi criado pelo Decreto n0 23.979/34 (SILVEIRA, 2010).   14 De acordo com o art. 14 do Decreto no 01/91, entende-se por atividade de exploração de recursos minerais, a retirada de substâncias minerais de jazida, mina, salina ou outro depósito mineral para fins de aproveitamento econômico. Dessa forma, tanto a transformação industrial do produto mineral, quanto o consumo do mesmo por parte do minerador constitui fator gerador da CFEM.  

15 Dos valores recebidos pela União, 2% é destinado ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT, e 10% ao Ministério de Minas e Energia, que repassará tal valor integralmente ao DNPM, o qual destinará 2% desta cota-parte à proteção mineral em regiões mineradores, por intermédio do IBAMA.  

O pagamento da CFEM16 pelo devedor será efetuado, mensalmente, diretamente aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e aos órgãos da Administração Direta da União, até o ultimo dia útil do segundo mês subsequente ao do fato gerador, com os valores devidamente corrigidos. A CFEM é recolhida através da Guia de Recolhimento da União (GRU) pelo DNPM, que posteriormente credita os devidos valores nas contas movimento dos Estados, Distrito Federal e Municípios no prazo anteriormente explicitado.

Cumpre ressaltar, novamente, o caráter indenizatório que possui CFEM em razão dos danos ambientais que podem incorrer devido à exploração mineral. Dessa forma, a União ao transferir parte da sua receita patrimonial originária – CFEM – aos Estados, Distrito Federal, Municípios e órgãos da Administração Direta visa compensar os entes federados pelos prejuízos ambientais, de maneira tal que estes cumpram sua função constitucional de preservação e proteção dos recursos naturais, garantindo um meio ambiente equilibrado (SILVEIRA, 2010). Esse caráter indenizatório é o entendimento do DNPM, e por isso a CFEM não pode ser entendida como tributo17, tendo sua natureza jurídica de preço público. A CFEM pode ser considerada como um royalty ad valorem, por ser uma tarifa calculada levando-se em consideração que a base de cálculo é o valor de venda do mineral.

Os recursos provenientes da compensação financeira, contudo, não possuem sua aplicação restrita à redução do dano ambiental. Em conformidade com o art. 8o da Lei no 7.990/89 em redação dada pela Lei no 8.001/90, é vetada a aplicação desses recursos em pagamentos de dívida e no quadro permanente de pessoal, podendo, entretanto, serem utilizados para capitalização de fundos de previdência. O DNPM, em seu endereço eletrônico, afirma que os recursos do CFEM devem “ser aplicados em projetos, que direta ou indiretamente, revertam em prol da comunidade local, na forma de melhoria da infraestrutura, da qualidade ambiental, da saúde e educação”. Contudo, essa é apenas uma recomendação, já que o texto constitucional não vincula a aplicação dessa receita.

                                                                                                                         

16 Dias (2010) resume como é feito o cálculo da CFEM: 𝐶𝐹𝐸𝑀 =

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟  𝑑𝑎  𝑜𝑝𝑒𝑟𝑎çã𝑜 − 𝑇𝑟𝑖𝑏𝑢𝑡𝑜𝑠 𝐼𝐶𝑀𝑆, 𝑃𝐼𝑆, 𝐶𝑂𝐹𝐼𝑁𝑆 + 𝑇𝑟𝑎𝑛𝑠𝑝𝑜𝑟𝑡𝑒 + 𝑆𝑒𝑔𝑢𝑟𝑜𝑠 ∗ 𝐴𝑙í𝑞𝑢𝑜𝑡𝑎  𝑑𝑎  𝐶𝐹𝐸𝑀  𝑑𝑎  𝑠𝑢𝑏𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎  𝑐𝑜𝑚𝑒𝑟𝑐𝑖𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑎

17 Por ser os recursos minerais bens da União, a CFEM é recolhida pelo DNPM, que depois distribui para os demais entes federativos. Contudo, essa arrecadação não exclui outros tipos de cobrança, como as taxas, que não necessariamente acarretaria sua distribuição para os municípios explorados.  

4.3 EVOLUÇÃO DA ARRECADAÇÃO DA CFEM

A arrecadação da CFEM em 2011 foi de 1,54 bilhões de reais, aproximadamente. Tomando o ano de 2004 como ano base, a arrecadação da CFEM teve um crescimento de 621%, pulando da ordem de aproximadamente 295 milhões em 2004 para quase 2 bilhões de reais em 2012. A arrecadação do ferro teve um crescimento de 3857%, passando de 24 milhões para aproximadamente 1 bilhão de real. A figura 4 apresenta a evolução na arrecadação total da CFEM e da arrecadação das duas principais substancias: ferro e minério de ferro.

Figura 4. Evolução da arrecadação da CFEM no Brasil

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do DNPM, 2013

Os estados de Minas Gerais e Pará foram os maiores arrecadadores. Minas Gerais arrecadou 788 milhões de reais e Pará 462 milhões, correspondendo a uma participação sobre a arrecadação total de, respectivamente, 51% e 30%. A tabela 1 apresenta os estados que mais arrecadaram CFEM no ano de 2011. Verifica-se que a participação de Minas Gerais e Pará somadas corresponde a mais de 80% de toda a CFEM arrecadada no Brasil, resultado bastante considerável.