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2   A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO BRASIL 25

2.5   COMPETÊNCIA/CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA 54

Entre os termos “competência” e “capacitação”, não há diferenças rigorosas, conforme explicou Christensen (apud MARZANI; FURTADO, 2003). Não obstante, neste trabalho, optou-se pelo uso apenas da palavra capacitação.

O conceito de capacitação tecnológica foi criado para traduzir, de modo amplo, “a mudança técnica que ocorre, principalmente, nos países periféricos.” Segundo a teoria convencional, o progresso técnico, situado essencialmente no nível das inovações primárias, as quais são associadas a mudanças de função de produção, coloca os países periféricos na condição de “meros receptores passivos da tecnologia que é gerada pelas nações capitalistas líderes” (FURTADO, 1994, p. 9).Mas autores como Katz e Lall (apud FURTADO, 1994, p. 10), que se dedicaram ao estudo da industrialização periférica, enfatizaram a “existência de esforços tecnológicos endógenos com a finalidade de alcançar o domínio de novas tecnologias através de melhoramentos, adaptação, absorção e até de inovações”.

A capacitação tecnológica constitui, portanto, um desafio para os países, para as regiões, localidades, empresas e para a sociedade, representando a pré-condição para o sucesso de produção e comercial. A capacitação representa o esforço para a inserção produtiva no comércio mundial, indo de encontro ao processo de integração excludente, por meio do aumento do conteúdo de conhecimento científico e tecnológico nos bens e serviços (DINIZ, 2007).

Muniz (2000) abordou a capacitação tecnológica no contexto da difusão, explicando que essa ocorre em um processo incremental e contínuo de mudança tecnológica, a qual promove a adaptação da inovação a inúmeras situações, bem como o aperfeiçoamento contínuo de suas características e desempenho. Como as inovações continuam ocorrendo durante o processo de difusão, os respectivos processos não devem ser considerados

independentes21. Empresas e nações têm se esforçado arduamente, tanto para elevar sua capacitação para produzir com mais eficiência, como também para desenvolver sua capacitação para inovar. Essa é entendida como o conjunto de atividades, cujo objetivo é o desenvolvimento e a absorção das novas tecnologias, sendo que essa (absorção) não ocorre automaticamente só com a elevação da anterior; a capacitação para inovar implica uma atividade que demanda ações, investimentos, habilidades, experiências, equipes e inter- relações voltadas para a geração e a gestão da mudança tecnológica, por envolver um elevado conteúdo de conhecimento especializado.

Na mesma linha, Marzani e Furtado (2003, p. 2) definiram capacitação tecnológica como o “conjunto de habilidades que sustenta as rotinas de produção e de melhoramentos da empresa. Essas habilidades localizam-se nas linhas de produção e em departamentos especializados.” Os autores citam outras definições importantes para o escopo desse estudo:

• capacidade tecnológica é a habilidade de aplicar os conhecimentos tecnológicos em atividades de produção, investimentos futuros e inovações, de forma a adaptar-se ao contexto onde se vive [...] aptidão para assimilar e utilizar uma tecnologia, passando pela habilidade de adaptar e modificar e até de gerar novas tecnologias. [...] capacidade de modificar a tecnologia, de propor novos conceitos, de encontrar melhores soluções é fator relevante para a competitividade empresarial (KIM apud MARZANI; FURTADO, 2003, p. 2).

• capacidade tecnológica são os recursos necessários para gerar e gerir aperfeiçoamentos incrementais em processos e organização da produção, produtos, equipamentos e projetos de engenharia até o desenvolvimento de novos produtos, processos produtivos ou novas tecnologias que permitem a empresa explorar melhor mercados existentes ou novos mercados. Tais recursos se acumulam e incorporam nos indivíduos (habilidades, conhecimento e experiência) e nos sistemas organizacionais (BELL; PAVITT apud MARZANI; FURTADO, 2003, p. 3).

• capacidade tecnológica significa saber usar o conhecimento disponível no processo decisório, na produção doméstica, na imitação, na transferência, na difusão ou em qualquer outro mecanismo que traga incremento à produtividade e à qualidade dos produtos (MARCOVICTH apud MARZANI; FURTADO, 2003, p. 3).

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Neste ponto cumpre considerar o entendimento de Guimarães (1997) a respeito de difusão tecnológica, vista como o processo de gerenciamento da transferência de tecnologia, essa sim responsável pela efetiva absorção da tecnologia pela empresa que a desenvolveu ou contratou.

Para Santos (1992), a expressão “capacitação tecnológica” diz respeito à capacidade da firma para adquirir, assimilar, usar, adaptar, mudar ou criar tecnologia, em suas três esferas: nas atividades de rotina; na realização de investimento e na implementação de

inovações.

Neste trabalho, adota-se a definição de Santos (1992), haja vista que a pesquisa realizada procurou enfocar a capacitação de empresas na geração de inovação.

Segundo Marzani e Furtado (2003), os primeiros estudos voltados para o desenvolvimento da capacitação tecnológica em nível de empresa datam dos anos 70, na América Latina e na Ásia. Buscava-se enfatizar a importância da aprendizagem e da capacitação tecnológica para a inovação nas empresas, ao tempo em que demonstravam mecanismos de aprendizagem utilizados nas empresas, para promover a capacitação tecnológica.

Nos anos 90, a ênfase dada foi à importância do conhecimento como forma de as empresas criarem e manterem sua competência tecnológica, diante de uma crescente concorrência no mercado mundial. Deixava-se claro que as empresas, para se tornar competitivas e alcançar uma tecnologia de ponta, deveriam, primeiro, acumular conhecimento para criar sua própria capacitação e engajar-se num processo maior de aprendizagem tecnológica. Com isso, entendia-se a capacitação tecnológica como um elemento fundamental para a competitividade de uma empresa no mercado em que atua, apesar de não ser o único.

Nesse sentido, Furtado (1994) destaca em seu trabalho que a importância da capacitação tecnológica está na possibilidade de ela proporcionar vantagens dinâmicas, em contraposição às vantagens estáticas. Entre os fatores estáticos (das respectivas vantagens) estão os associadas à abundância de recursos naturais, a uma posição geográfica favorável ou à mão-de-obra barata. Entre os dinâmicos (das vantagens dinâmicas) está a evolução das estruturas de oferta e de demanda. Neste mundo de alta competição internacional, tais vantagens têm destaque.

uma abordagem unívoca, ou seja, só na perspectiva isolada de uma ou de outra. Isso porque pode haver uma relação positiva ou proporcional entre elas, mesmo em face de fatores estáticos. Há distinções: a capacitação tecnológica necessária para se exportar, por exemplo, não é exatamente aquela necessária à inovação. Do mesmo modo, há distinção entre várias capacitações com vistas a se alcançar um bom desempenho empresarial diante das transformações do mercado.

A relação entre capacitação e competitividade pode ser traduzida nos seguintes aspectos: a capacitação tecnológica constitui um elemento fundamental para a competitividade de um setor ou da economia, apesar de não ser o único. A contribuição da capacitação para a competitividade vai depender do contexto setorial, isto é, das especificidades tecnológicas requeridos pelo setor (FURTADO, 1994).

Lall (1992) apresenta um modelo que identifica o processo de capacitação tecnológica das empresas, descrevendo vários tipos de atividade que caracterizam a capacidade tecnológica das empresas. Tais atividades são agrupadas pelo autor em: a) investimentos, representando a habilidade para identificação e obtenção da tecnologia do projeto, de equipamentos e de gerenciamento. São divididos em investimento inicial e execução de projetos; b) produção, correspondendo ao potencial da empresa para lidar com o conhecimento do processo, do produto e da gestão industrial; c) relacionamento com a economia, aspecto necessário para desenvolvimento da capacidade de transmitir e receber informações, habilidades e tecnologias. As atividades desse grupo são: obtenção de bens e serviços da região troca de informações com fornecedores, transferência de tecnologia dos fornecedores locais para a empresa, entre outros.

Para distinguir a intensidade e os tipos de esforço tecnológicos realizados pela empresa, bem como o grau de acumulação e de sedimentação do conhecimento nas atividades que dão sustentação à empresa, Furtado (1994, p.11) distinguiu formas de capacitação tecnológica, localizadas dentro da empresa. Inicialmente, definiu a capacitação como o “conjunto de habilidades que sustentam as rotinas de produção e de melhoramentos da empresa.” As habilidades se encontram nas linhas de produção e em departamentos especializados, como já mencionados nessa dissertação.

Nessa distinção, a capacitação tecnológica foi separada segundo a intensidade, os tipos de esforços tecnológicos realizados pela empresa e o grau de acumulação e de sedimentação dos conhecimentos que sustentam as atividades de cada empresa. A categorização adotada é basicamente funcional, englobando atividades executadas somente para aprimorar o conhecimento tecnológico da empresa. Na categorização funcional, busca-se associar determinadas funções às formas de capacitação tecnológica. As formas de capacitação tecnológica foram assim classificadas por Furtado (1994):

• capacitação em produção: um conjunto de habilidades associadas à operação de plantas produtivas ou a um sistema de produção. Essa capacitação pode ser de processo e de produto. A primeira se refere às atividades de manutenção, planejamento da produção, controle, entre outras; a segunda é orientada para o domínio, melhoramento e adaptação dos produtos finais da empresa;

• capacitação em projeto: conjunto de habilidades voltadas ao empreendimento de novas unidades produtivas. Envolve uma gama de conhecimentos, desde a identificação e a negociação da tecnologia, passa pelo desenho básico e de detalhe e até a implantação do projeto. Essa capacitação implica a determinação dos custos em capital do projeto, do mix de produtos, das tecnologias e dos equipamentos selecionados;

• capacitação em P&D: conjunto de habilidades desenvolvidas pela empresa, visando à geração de novos conhecimentos científicos e tecnológicos. Essas habilidades encontram-se nas atividades de pesquisa básica, pesquisa aplicada ou de desenvolvimento, realizadas em departamentos com pessoal especializado; • capacitação em Recursos Humanos: conjunto de habilidades acumuladas pelos

recursos humanos da empresa. A empresa desenvolve (ou contrata) atividades de treinamento, adota sistemas de carreiras, políticas de contratação e de manutenção da força de trabalho, qualificada ou não. Essas atividades são centralizadas no Departamento ou Área de RH e estão presentes em todos os níveis da atividade produtiva e inovadora da empresa.

As diferentes condições de capacitação tecnológica não se encontram dispostas em uma seqüência cronológica, nem podem ser classificadas por ordem de complexidade crescente intra e intersetorialmente, apesar de estarem fortemente relacionadas entre si (FURTADO, 1994).

Verifica-se que o contexto no qual se implementa a inovação tecnológica, não só no Brasil, como em todo o mundo, é complexo, e a depender das estruturas internas, o processo de inovação apresentará mais ou menos dificuldades para operar seus instrumentos, incluindo

os direcionamentos de P&D, e mecanismos, entre eles o engajamento do setor privado no processo.

No Brasil, em termos gerais, pode-se citar as micro e pequenas empresas como o segmento que mais apresenta dificuldades de implementação das inovações, em função de uma série de debilidades inerentes a esse segmento, mas principalmente em razão de sua estrutura diversificada cultural, econômica e política.

3 PRODUÇÃO, INOVAÇÃO E AMBIENTE DAS MICRO E PEQUENAS